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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2003-08-30


Para todos os efeitos que aqui e agora interessam, o senhor Joaquim Fitas, não sei se dr., eng.º ou portador de qualquer credencial académica, é porta-voz da EPAL. E, enquanto tal, o fulano expôs ao espesso Expresso que "mesmo que a qualidade da albufeira [de Castelo de Bode] desça dois patamares, a felicidade dos três milhões de pessoas que a bebem será mantida". Pois. Seja como for, à cautela, que mantenham lá a qualidade da água a um nível decente. E se alguma coisa tiver que baixar algum patamar que seja o juízo do senhor Joaquim Fitas, que parece já estar abaixo do chão. Poucos notarão a diferença de profundidade, pois o que enterrado está, sob os nossos pés, tende a passar despercebido. Pelo menos se não falar. O Marquês.

Referência



O espesso Expresso tornou à vanguarda da estupidez, sob a certa batuta do senhor arq.º que nos editoriais escreve parágrafos de uma frase só. Na capa, o alerta, ai, ai, ui, ui, a rubicundo tom, "Metade das notas tem droga". É lá. Mas, adiante. Primeiro zoom para os pormenores, ainda na capa, a negro, "mais de 45% das notas que circulam em Lisboa apresentam vestígios de cocaína". É o quê?, quase metade?, em Lisboa?, bom... Segundo zoom para os pormenores, já na página treze, também a negro, "metade das notas que circulam na zona ribeirinha de Lisboa contém vestígios de cocaína. É o quê?, só na zona ribeirinha de Lisboa?, ã... Time out.
Seja lá o que for, a peça publicitada pelo espesso Expresso é uma autêntica merda. Como a dita, sem pés ou cabeça. Não sei como foi, mas imagino a sua concepção. Concerteza, uma rapaziada lá da redacção armou-se em inspector francisco esperto. Assoou-se, lavou as mãos - é o mínimo que a higiene e o rigor metodológico exigem -, calçou umas luvas de cirurgião, finas, e meteu-se ao sacrifício de cirandar por restaurantes, bares e discotecas in, por acaso junto à margem do Tejo, e por um supermercado do centro da cidade, algures entre a Almirante Reis e, sei lá, o Chiado ou o Colombo. Os missionários retiveram apenas espécimes de cinco e dez euros. Não nas algibeiras, mas em envelopes, o continente adequado ou quase para este tipo de matérias. Depois um laboratório da Europa, algures entre o Cabo da Roca - os Açores não entram nesta geografia - e os Urais, analisou a remessa. Quantas notas foram mandadas para análise?, isso é informação irrelevante. Umas quantas é quanto basta saber-se. A pesquisa foi apurada, certinha e direitinha. E o que é que se veio a saber? Que, como já foi referido, quase metade das notas recolhidas, mais de quarenta e cinco por cento, apresentavam vestígios de cocaína. Ou seja, ... Qualquer besta, no sentido ruminante do termo, percebe que isto não tem puto de fundamento ou coisa que lhe seja próxima. Mas lá que tem a aparência de ciência é verdade. Aliás, a aparência de ciência é tudo quanto a manipulada experiência tem de ciência. O resto são delírios. Ou alucinações. Ou lapsos metodológicos. Ou apenas tontice. Tão pura quanto a cocaína de melhor estirpe. E tão evidente quanto a manchete que o espesso Expresso, hoje, traz estampada na fronha. Nicky Florentino e Segismundo.

Referência

2003-08-29


Uma confirmação para a regra «ajoelhou-se, então vai ter que rezar», regra pela qual eu nutro uma particular simpatia, embora pouco literal. Ipsis verbis, confessou o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa, a propósito da sua assistência a uma eucaristia em Mação, "comportei-me como qualquer outro dia em que vou à igreja. Quando vou rezar, ajoelho-me". Há até fotografias que comprovam o dito. Mas será que lhe doeu?, muito?, estou curioso. O Marquês.

Referência



Disse o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa, "nunca me tinha acontecido durante a comunhão ter câmaras fotográficas à minha frente". Há sempre uma primeira vez para tudo. E estranho, verdadeiramente estranho, seria se as câmaras fossem frigoríficas. Nicky Florentino.

Referência



Disse o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa que "estar na igreja é um acto pessoal, entre nós e Deus". Tem ele muita razão. Mas para azar dele consta que a dita entidade divina tem o dom da ubiquidade. Está em todo o lado, inclusive na objectiva dos fotógrafos. Para mais, fotografar quem quer que seja nos actos de fé é, aposto, uma boaventura. Pois da fé, que é verdadeira fé, não deve ter-se vergonha, mas dar-se publicidade. É isso o respeito. Segismundo.

Referência



Hoje o poder é pouvoir sur scènes. Esse facto sabe-o, e bem, o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa. Quando a coisa lhe corre bem sussura ele "ora, toma, chupa e embrulha!", só para si, e fica todo contentinho, com o rabinho a dar, a dar. Mas, agora, parece que a coisa não lhe correu tão bem. As fotografias que lhe surpreenderam as poses seráficas em Mação denunciaram uma aura nada ovina, de cordeiro. Então aquela polaroid que fez a capa do Público, a não sei quantas colunas, com o senhor dr. ministro, em genuflexão, com a mão esquerda cerrada sobre o joelho, enquanto que com a mão direita corria os quatro cardeais da cruz, é excessiva. Pois ou se está com deus ou se está com o diabo. De outro modo, morre o carácter que eventualmente exista. E não há fotografia que o (as)segure. O Marquês.

Referência



Existe montada no imaginário social tardo-moderno do noroeste uma ilusão que obriga os poderes à autenticidade. No entanto, o exercício da mentira, seja ela conveniente, manhosa ou piedosa, é constitutivo da acção política. Não há poder ou autoridade que, nalgumas das suas dimensões, não seja coisa dissimulada, vaga, sombra. É da ordem das coisas assim ser. Porém, sendo a acção política uma acção condicionada, como qualquer outra acção, é condição do seu sucesso que a mentira não seja percebida. Daí que os arautos da transparência e os que a reclamam insistentemente sejam uma perniciosa praga moralista. No limite, têm eles o intento de desapropriar a política da sua própria identidade. A política é política, não é moral. O código que define e regula uma não é o código que define e regula a outra. E é conveniente velar pela diferenciação entre ambas, pois isso é condição da própria sustentabilidade da modernidade e da democracia.
É um facto que Norberto Bobbio escreveu há aproximadamente vinte anos, n’Il Futuro della Democrazia, que a transparência é uma das promessas não cumpridas pela democracia. Todavia, é improvável que alguma vez o venha a ser. A opacidade é uma necessidade do próprio exercício político, inclusive democrático. Blair, o maioral do ten of Downing Street, sabe tudo isto. Por isso joga o jogo. Talvez até fingindo que não o joga, mas jogando-o. É essa a ironia e a illusio dramática do jogo político. Longe, muito longe, portanto, da tragédia. Nicky Florentino e Segismundo.

Referência



Os insondáveis mistérios da vida fizeram-me saber que, num lugar do mapa português, em tempos houve um senhor presidente de Câmara Municipal que prefixava ao seu nome a respectiva profissão. Conhecido era ele, e ainda hoje é, por senhor professor fulano tal. Assim, o pormenor até soa bem. Mas soaria muito melhor se a criatura fosse um serralheiro mecânico de primeira. Suponha-se o anúncio, senhor presidente da Câmara Municipal serralheiro mecânico... E lá se ia o equívoco, a profissão por uma espécie de certificado académico. Segismundo.

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2003-08-28


O senhor Carlos Cruz, do seu retiro, mandou uma mensagem, linda, linda, por via da senhora sua esposa, que, numa das crónicas que assina, a estampou no diário VinteeQuatro Horas. É curta a prosa, assim, “gosto de saber que este ano há Verão de S. Martinho em Novembro. Alguém irá à prova de água-pé fazer novos amigos”. Amigos, não amiguinhos... Por isso o grande mistério é saber quem é que vai levar as castanhas e quem é que as vai assar. Só no divã, depois de se lhe revolver os baixios da alma, é que se conseguirá aceder a uma gramática de decifração da mensagem e esclarecer o enigma. Ou isso ou a Bota Botilde. Segismundo.

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Corre consternação e desolação pela pátria além. O insigne senhor dr. presidente do Governo Regional da Madeira já não goza a hipótese de arribar a ser comissário da União Europeia. A ingratidão devia ter limites. Não se faz a um homem que há tanto merece descanso pretender mandá-lo apenas a senhor eurodeputado. Nicky Florentino.

Referência



Facto por demais consabido é que o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa não mente. Mente menos ainda à OrganizaçãodoTratadodoAtlânticoNorte. Se a despesa em coisas da Defesa, tropa fandanga, aviadores, marinheiros e materiais afins, é um vírgula quatro do Produto Interno Bruto, é isso mesmo, não é dois vírgula três. Até porque, como acontece com outro alguém lá do seu gabinete, dessas contas é provável que o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa não perceba. Pois os algarismos e as suas estranhas formas de combinação são, seguro, obra do demónio. Segismundo.

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Enunciou a senhora dr.ª ministra de Estado e das Finanças um desejo, que cada um de nós se transforme em fiscal fiscal do próximo. Pois acontece que conheço gente disponível, porém não muita, que cobra pouco pelos seus ofícios e préstimos, dez por cento da renda arrecadada por via das respectivas denúncias. É a utilidade que se junta ao agrado de, pelo bufo, fazer sofrer os outros, os canalhas que não cumprem os seus desígnios fiscais, consta que, na maioria, anafados empresários. O Marquês.

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A propósito do bloqueio do acesso a lugares da administração pública, confessou a senhora dr.ª ministra de Estado e das Finanças, “foi uma medida que eu tomei muito constrangida. Foi uma medida necessária, não a mais correcta. Foi a medida mais estúpida que tomei e irei tomar”. Ora, como se não tivesse bastado a estupidez de, mesmo que apertada pelas circunstâncias, ter decidido o que decidiu quando decidiu, a senhora dr.ª ministra de Estado e das Finanças reincidiu na estupidez, reconhecendo publicamente a estupidez da decisão tomada antes. Que, caridosamente, alguém informe a senhora dr.ª ministra de Estado e das Finanças que, chiu!, ó senhora, isso é demais, assim como o défice do Orçamento do Estado. Pois é norma categórica, em política e não só, que a estupidez deve ser disfarçada ou calada. Não, nunca, ostensiva ou confessada. Nicky Florentino.

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Num e em qualquer domicílio doméstico de bem, existe ou é propósito ter o Tratado Lógico-Filosófico, de Lüdwig Wittegenstein, em edição da Fundação Calouste Gulbenkian, de capa azul. Pois faz a fortuna haver no mesmo volume as Investigações Filosóficas do mesmo fulano. É uma espécie de lugar-central de círculo nenhum, mas comum. Neste assunto, pouco importa que a Charlotte vá à FNAC do Chiado ou que o José se engrace mais com a FNAC do Colombo. Não é caso para divã. Segismundo.

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2003-08-27


Por mando da Direcção-Geral da Saúde, quatro epidemiologistas estão encarregues de uma macabra empreitada, analisar todos os certificados de óbido, um por um, que, desde um de Junho, deram entrada nas conservatórias de registo civil da pátria. O propósito é verificar que causas fizeram os defuntos, se a canícula, se outro qualquer motivo. Pois suspeita-se que, segundo estimativa, os recentes calmosos celsius terão sido razão de mil trezentos e dezasseis acabamentos de vida em Portugal. Discute-se até já o domicílio onde os cadáveres aconteceram assim, para apurar se o aumento extraordinário da mortalidade foi intra ou extra-hospitalar. No limite, porém, do que a missão trata é da produção de uma estatística mórbida. Que nem ao diabo interessa. E que aos outros, designadamente à malta metida em gente do Estado, interessa por permitir classificar os mortos sucedidos, não por os evitar. Pois acontece que a morte apenas se acautela antes, nunca depois, sentença insofismável tenha-se lido o primeiro Heidegger ou não. Nicky Florentino.

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2003-08-26


A democracia é um fenómeno sui generis, porém nos EstadosUnidosdaAmérica é-o ainda mais. Prova-o a espécie de eleição para governador da California que acontecerá lá para sete de Outubro. Atente-se.
Constou recentemente que, nos idos dos trinta do pretérito século, o senhor Gustav Schwarzenegger se alistou voluntariamente na trupe mau-mau dos «camisas castanhas», uma seita paramilitar nazi. E constou tal informação nestes agoras porque o Arnold, o filho do senhor Gustav, é um dos candidatos republicanos à coisa de ser governador da California. Ora, uma interrogação tempestiva, o que é que o sémen do senhor Gustav tem a ver com a actual candidatura do Arnold? Antes o handicap político era ser-se filho da mãe, não, nunca, ser-se filho do pai. Mesmo que ele tivesse o desgosto inclinando para camisas cor de terra. Parece que, infortúnio, a tradição mudou. Nicky Florentino.

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2003-08-24


Estava o badalo a percutir a campânula de bronze da capela, a anunciar a homilia para daí a pouco menos de metade de hora, quando ele, cambaleante, regressado da estúrdia, chegou a casa. Ela fingiu que não o viu. Mas viu-o, estava à espera dele. Ele, alheio ao mundo e ao mais que fosse, dirigiu-se ao quarto e deixou-se cair, peso quase morto, sobre a cama. Começou a ressonar no instante imediato. Ela, decidida, foi no encalço da câmara de intimidade que partilhava com ele. Entrou no quarto. Puxou o cordel do arrancador e o motor da moto-serra ficou igniscente. Ele, estremunhado, com uma voz entaramelada pelo vinho, balbuciou "ó Maria!, deixa estar isso, o Inverno ainda vem longe. Eu mais logo vou tratar disso, da lenha". Foram as suas últimas palavras de atenção. Depois ela carregou no acelerador da máquina, a corrente correu sobre a lâmina, trinchou-lhe o corpo, cabeça, tronco, membros, disse "acabou-se-te a esbórnia, meu grande malandro" e abalou para a missa. Era dia de procissão também. E certamente que o povo deitaria foguetes. O Marquês.

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Ontem, noite avançada, no palanque do comício de rentrée, em Portimão, o senhor dr. secretário-geral do PS afirmou que, com ele como homem do leme, intrépido timoneiro, a arca socialista não virará a bombordo - é de crer que a viragem a estibordo esteja fora de hipótese, embora nestas coisas da política doméstica nunca se saiba o que mais irá acontecer. Com ele, prometeu em penhor de palavra, é sempre a direito. Convicta e determinadamente. Até ao fundo. O que, neste particular pormenor do modo, o faz tão como o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa, convicto e determinado. E, extraordinário, sem escafandro. Quase motivo para dizer, má sorte não ser pardilho. Nicky Florentino.

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2003-08-23


Ontem, early morning, depois de uma traição provinciana na véspera, o José apostou que não há "«dirigentes moderados» numa organização terrorista". Tem toda a razão, o José, os terroristas são imoderadamente maus, maus. De outro modo maus não seriam. Mas, ó José, olhe que também não há "política de assassinatos selectivos". Há assassinatos. E alguns deles são tão selectivos que, cabuuum!, até vitimam os próximos do alvo seleccionado. Não é?, ou não se vê? Segismundo

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2003-08-22


O antena boy e a menina dancing

Próximo de Ponte da Barca. No instante apenas percebi que ela lhe ordenou para ele se colocar próximo da antena do carro. Nessa circunstância a emissão da rádio acertou-se, o que tornou mais nítido o som debitado pela telefonia, uma melodia d’The Smiths. Enquanto ele esteve estacionado, hirto, junto à traseira do carro, ela agitou-se convulsivamente, em dança, junto à porta direita do automóvel. A cena durou o exacto tempo da música. Depois ela ordenou-lhe que fosse buscar a toalha. E ele, manso, foi, mas não voltou. Pelo menos que eu visse. A vergonha obriga a recato. Se não antes, pelo menos depois do que envergonha. Nicky Florentino.

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O açougueiro non stop

Baixa-se do Campo do Gerês para Vieira do Minho, passa-se pelo santuário de São Bento da Porta Aberta. À saída do lugar, com a albufeira de Salamonde à esquerda, percebe-se um talho diferente dos outros. Uma placa, castanha, anuncia-o “aberto todos os dias e domingos”. Fica-se sem se saber, porém, o horário respectivo. Talvez aberto todo o dia e à noite. Nicky Florentino.

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O lugar submerso que ainda procuram à tona

Brufe. Um Peugeot duzentoseseis afrouxa, pára. A matrícula da viatura era indígena, a pronúncia das criaturas era do Sul. Ele perguntou “sabe-me dizer se ainda falta muito para chegar a Vilarinho de Furnas?”. A canícula carregava. A aldeã olhou-o surpresa e respondeu-lhe “ó senhor, olhe que já vem tarde. Vilarinho ficava lá atrás, mas agora está debaixo de água”. Reage ele, desarmado, “á!, então é por isso que passámos por lá e não vimos nada”. Concerteza. Voltou lesto o inocente casal ao carro e tornou no sentido de Vilarinho de Furnas, sem se tocar pelo arrebate a que Brufe obrigava. Talvez, ela e ele, fossem olhar a albufeira e espreitar as águas, para ver se conseguiam vislumbrar o que já não está de ver sem mergulho. Nicky Florentino.

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2003-08-21


Lágrimas por bem saber

N’A Carvalheira, em Arcozelo, às portas de Ponte de Lima. Três, nenhum deles certamente com mais de cinco anos de idade, o Afonso, o André e o Eduardo – Piriquito, como o pai carinhosamente lhe chamava –, acompanhavam os progenitores na refeição do jantar. Faziam muito barulho pelos motivos mais incertos, mas apenas uma vez a comoção me chegou. Conto porquê.
O Afonso decidiu sobremesear um gelado próprio para infantes, um daqueles servidos em copos abonecados. Cada vez que levava uma colher de gelado à boca, o Afonso largava-se num desabrido choro durante alguns segundos, depois saboreava o gelado. A cena repetiu-se tantas vezes, muitas, até o gelado já não ser sobra. O pequeno tinha um dente a abanar, particularmente sensível ao frio. Por isso ele chorava. Mas o doce da sobremesa impeliu-o a comer a dita até ao limite. Grande miúdo, certo danado. Sofreu, mas por prazer maior do que a dor. Nicky Florentino.

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Via descendente

Vai-se de Arcos de Valdevez para Ponte da Barca, passa-se pela Jolda. Não nos arrabaldes, mesmo no coração do lugar, encontra-se um cruzamento, acanhado, apertado. Hesito. E hesito porquê? Rio Cabrão para a direita, a subir, Paço da Glória para a esquerda, a descer. Inclino-me para o plano mais baixo, por ironia propriedade de Braga Gonçalves ou que foi dele. Não sei porquê, mas desce-se de Cabrão, embora rio, à Glória, ainda que paço da dita. Nicky Florentino.

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Danado na raia

São Gregório é o ponto mais a norte do mapa português. A fronteira está escancarada, novidade que a União Europeia trouxe. Não há vigilantes do bordo português, apenas uns guardas galegos na outra banda, mas que aparentam não querer ser incomodados. Pois... Verificada a situação, alguém avançou com o carro, rodeou imediato em Espanha para voltar a Portugal, rodeou imediato em Portugal para tornar a Espanha, outra vez o mesmo e vice-versa, uma vez mais o mesmo e vice-versa e, derradeira manobra, avançou para Espanha, puxou o travão-de-mão em território espanhol, o carro rodou meio círculo, à Fangio, aproximadamente, mais ou menos, cento e oitenta graus, em agudo ruído. Seguro o veículo, já em chãos de Portugal, o condutor abriu a porta e entregou um exemplar d’Os Passos em Volta, de Herberto Hélder, ao incrédulo guarda galego, que saiu avisado pelo barulho da guarita em que estava. Pela reacção do hombre, ele não compreendeu puto do gesto. Também não era para compreender. Mas o livro era para, ele, ler. Nicky Florentino.

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Contra todos os princípios da solidariedade entre danados, O Marquês e Segismundo requisitaram como prova da minha ausência desta guarida a reportagem de algumas cenas das minhas viandanças pelo Alto Minho. É, porém, constrangido e danado que me remeto a tal ofício, sem cuidar muito de satisfazer o raio da curiosidade alheia de sádicos ou psicanalistas, esses sacanas com ou sem má mãe. Nicky Florentino.

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As minhas simpatias inclinam-se para os implacáveis, em particular para aqueles que gostam de magoar os outros. Confesso isto a propósito de uma tirada do senhor dr. Francisco Pinto Balsemão, difundida pela RádioTelevisãoPortuguesa. Se o ouvido não me falhou, o dito cujo teve o atrevimento de sugerir que o intrépido terceiro canal de televisão, o único de Carnaxide, está disposto a colocar em antena programas orientados para minorias étnicas, mas a horas que correm de madrugada. Pelo prosaico motivo, segundo ele, de ser por essas horas que muitas gentes dessas minorias étnicas estão habituadas a arribarem do leito do ressono. Tem toda a razão. Agora, ó malta da Cova da Moura!, é madrugar. Para além das obras a erguer contra os céus ou dos chãos para varrer há outra razão para enfrentar a aurora ou o que a antecede. E passa em qualquer televisor devidamente sintonizado, depois de ligado. O Marquês.

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2003-08-20


Sem cerimónia ou encenação, Nicky Florentino, O Marquês e Segismundo voltaram hoje ao lugar de partida. Como prometido. À chegada pouco mais disseram do que, com esgar à Jack Nicholson a fazer de Jack Torrance naquela célebre cena do Shining, com a fronha metida pela frincha da porta aberta a toque de machado, "we're baaaaaaaaaaack!". Depois disso dito, consta que foram relaxar, os danados, em banhos turcos. Para amanhã prometem prosa. O que não é bom prenúncio ou augúrio melhor, anuncio eu este vaticínio. Um danado completamente diferente dos outros, Gregório R.

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2003-08-14


Fala-se em crise, em carteiras pouco abonadas, em cartões com pouco crédito, mas parece-me conversa lamurienta. Pelas ruas do Minho são moles de gentios que nunca mais acabam. Era suposto, se a crise fosse mais do que apenas suposta, não haver assim tanto povo liberto, nas ruas, a exibir, eles e elas, os ombros torrados pelo sol. É assustador. Mas é o que é, triste paisagem. E isso assusta qualquer danado. Para além disso, é impressionante o império popular por estas paragens minhotas. Dentro das muralhas das fortalezas de Valença e de Monção o povo, sempre excessivo no (ab)uso da liberdade, descaracterizou completamente os lugares. A fauna e os casarios erguidos soterraram todo o espírito dos sítios, levando a memória sabe-se lá para onde. É mau, mau, mau. E confrange. Suspeito que o desgosto popular tenha uma capacidade predatória superior às dantescas labaredas que andam a consumir a pátria. Hic et nunc estou bravamente danado. Estou que nem posso. E devia estar melhor, danado de melhor saúde. Nicky Florentino.

Post scriptum, esta interrupção pouco deliberada do silêncio deste tugúrio é apenas o que é, um lapso. O silêncio torna por uns dias mais. Há mais Minho para desbravar.

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2003-08-11


Estão suspensas nesta pouco salubre caserna as manifestações de Nicky Florentino, O Marquês e Segismundo, em virtude de irem os danados espreitar o mundo in loco. As janelas deste tugúrio ficam abertas não para que a luz aqui penetre, mas apenas para que o ar circule. Tornarão aqui os danados quando for tempo disso, embora, segundo as estimativas, não antes de vintes deste augusto mês. Qualquer eventual interrupção do calendário de ausência será não premeditada, pelo que acontecerá sem o conforto do aviso prévio, mesmo à la danado. "We'll be back" foi o que balbuciaram os três danados no instante da despedida. E encarregaram-me os dito cujos de instalar aqui um relógio descrescente, do tipo daqueles da Exponoventaeoito, do Polis ou do Eurodoismilequatro, a anunciar a distância do seu regresso. Porém, por me haver parecido intenção e manobra amaricadas, esquivei-me deliberadamente a tal encargo. O que quer dizer que o que fica fica como está, ponto final, não sei se parágrafo ou não. Um danado completamente diferente dos outros, Gregório R.

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2003-08-10


Não discuto deus, não discuto o diabo e raramente discuto essências. São os pormenores, os detalhes, sobretudo os pequenos detalhes, os pequenos detalhes escondidos, que me interessam. É neles que há mais vida condensada, maior densidade vital, aprendi isso com danados como Diógenes, Vico, Montaigne ou Simmel. Mas, agora, quem eu sigo a propósito habita mais próximo, o João, o José, o Carlos. Alheio-me da origem e respectiva autoria dos aforismos, para me remeter a outra trincheira do problema.
Sinceramente, deus não está nos detalhes. Provável é, mesmo, que nunca lá tenha estado. Deus é grande, monumental, maior, pormaior, mas padece de indolência. Ao sétimo dia partiu para descanso e abandonou os pormenores às suas circunstâncias, a si mesmos, dentro da sua ordem original e liberdade. Depois, depois foi a maçã. Eu prefiro nêsperas, mas saiu a maçã. E esse é talvez o primeiro detalhe. Lá esteve o diabo. Deus apenas observou e fez-se presente somente na hora do castigo. Por isso, hoje, só vê deus quem consegue. A mim, confesso, essa danada visão nunca me tocou. Mas adiante.
Creio que a verdadeira discussão não é em torno da entidade que está nos detalhes, mas ao redor do tempo do predicado estar aí. E, sinceramente, se o juízo não me atraiçoa, deus esteve, mas o diabo está. Este é o único aforismo em que me encosto, no entanto não tempo demais. Mas isso é apenas um detalhe, sem a mínima relevância. Quem quer que esteja nos peanuts, calha que eu também o mastigo quando os mastigo. E não me incomoda quem lá pôs quem nas minudências. Confesso, embora, que a deus lá cheguei por Flaubert e que ao diabo lá cheguei por Perot. Esta é a razão fundamental por que, para mim, the devil is in the details. Ainda que, claro está, admita o contrário, pois o diabo está também onde menos se espera, raio de mania a dele, essa. Segismundo.

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2003-08-09


Ele há uma figurinha, entre tantas outras, que se insinua insidiosamente nas páginas dos jornais, tentando marcar ostensivamente a atenção, que é o senhor secretário de Estado da Administração Local. Ele já afirmou alfa e com a mesma fra(n)queza e convicção, sobre rigorosamente o mesmo assunto, afirmou ómega. No que concerne às matérias por ora sob sua alçada o tino político não é muito. Por isso, é provável, muito provável, mesmo, que, lá nos recônditos do seu íntimo, a criatura ande a nutrir a esperança e o desejo de arribar a ministro, em substituição do actual titular da pasta das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente. Tem um único senão, o senhor secretário de Estado da Administração Local não é senhor dr., embora em tudo o mais também não seja muito recomendável, digo eu. Nicky Florentino.

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2003-08-08


"Ai!, não sejas bruto", afastou-o, em imperativo, ela. As palavras foram poucas, mas tonificaram-lhe, a ele, em reforço, a vontade de a morder. Mais. E, ordenado pela frémita vontade, não se fez rogado. Agarrou-lhe os cabelos, puxou-os, obrigando a cabeça dela a inclinar-se para o lado de que estava mais afastado, e cravou-lhe os incisivos na carne do ombro. Ela gritou, ela chorou, ela implorou para que ele estancasse o acto, mas tudo isso apenas lhe atiçou o gozo e o obrigou ainda mais ao sangue dela. Rasgou-a. Ele não sabe se foram as lágrimas ou o sangue, mas vê-la assim, sofrida, felicitou-o. Percebeu-se-lhe a satisfação estampada no rosto depois do esgar. O Marquês.

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2003-08-07


Paira uma confusão danada para aí, no plano da vida dos gentios. É tempo de festas e romarias e o povo quer festas e romarias. E festas e romarias é automaticamente sinónimo de chegar fogo ao cabo dos foguetes e esperar que, pum!, pum!, pum!, estrilhem sonoros estampidos lá nos altos. Festa que é festa é assim mesmo. Por isso, senhores do mando, não obstem ao povo o suado prazer de lançar e ouvir foguetes. Se assim fosse, certamente que o povo deixaria de se sentir confortável na sua condição. E talvez até começasse a cismar em trepar a sulista, elitista e liberal. O que não augura sossego ou ordem. Que ardam as florestas, mas que a identidade da ralé seja preservada!, esse, sim, o verdadeiro património da pátria. Assim como o portento da nacional indústria de pirotecnia. É só ver os lumes que por aí ruminam. Nicky Florentino.

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O senhor dr. director-adjunto do vetusto Diário de Notícias, a propósito dos frementes incêndios que lavram aí pelos territórios nacionais além, entende que "o fascínio da palavra, do dossier e da análise deixa pouco espaço para a acção. Pôr em práticas teorias é bem mais difícil do que elaborar interessantes estudos que nunca saem do papel e do arquivo morto das repartições". Vai daí, no impulso que segue, sugere que "neste frenesim, talvez fosse interessante ouvir o que têm a dizer as principais celuloses do país. Até porque a maior, o consórcio Portuce-Soporcel, ainda é do Estado...". Como está bem de ver, um verdadeiro teórico não sentenciaria melhor ou sequer de modo mais interessante o assunto. Será que o homem está a necessitar de ir ao divã? Segismundo.

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“Enquanto a questão dos fogos não estiver debelada e enquanto for necessário o contributo das forças armadas e do exército para debelar os fogos eu não falarei sobre mais nada”, entende-se, assim, o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa. E tem razão, o dito cujo. Assim sempre cuida de preservar fôlego para agitar o seu chassi de carbono junto à senhora Cinha Jardim numa qualquer danceteria in. É que isso de dar troco a figurões, uns que o julgam um morbo, outros que o julgam pouca coisa e outros ainda que o pretendem fleumático, é de esgotar os recursos de paciência de qualquer homem. Vai daí que o melhor, mesmo, é deixar arder. Pois que o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa, por ora, está é com diposição para tocar lira e cantar como quem assobia para o lado. Cantar em tom de falsete, claro está. Porquanto é assim que mais dói, como sempre dói, ouvir o fruste, ai, ai, ai. O Marquês.

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O senhor dr. bastonário da Ordem dos Advogados confessou-se ao Diário de Notícias fulano de conseguidas leituras. Ele é Dostoievski, ele é Greene, ele é Llosa, ele é Mann, ele é Pound, enfim, segundo a sua conversa, ele é homem de afinada competência literária. Para além disso, o que ele mais detesta, ipsis verbis, é “o rastejante, o manhoso, o que marra torto, o canalhazeco, o que morde pela calada, o merdoso, o boquista, o falso, o hipócrita, o traidor, o vendido, o corrupto”. Ora, tolere-se uma franca e directa interrogação, será por isso que o senhor dr. bastonário da cambada dos advogados, lúcido, confessa que o seu maior defeito é a obsessão permanente em tentar corrigir os próprios defeitos? Isto é, ... Nicky Florentino.

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O destemperado espírito de algumas criaturas tende-as ao dislate e relativamente a essa tendência, neste casebre de danados, não há indulgência, menos ainda complacência. Sobretudo por essas castas almas constituírem-se, mesmo que sem intenção – justamente o que é mais grave -, concorrentes dos danados aqui domiciliados, os únicos maus devidamente certificados. Um exemplo tempestivo do referido problema é o recém dito pelo senhor dr. em chefe da bancada parlamentar do PSD, “felizmente que apesar da extensão das coisas o número de vítimas foi relativamente restrito e portanto não há dúvida nenhuma que houve uma acção muito eficaz na protecção de vítimas e de bens”. Ora, não é de incinerar as partes pudibundas do homem?, não é de oferecê-las ao holocausto?, junto com umas trísias de eucalipto e umas resmas de tojos, pois que essas carnes são parte relativamente restrita do homem. E, acaso ele viesse a estrebuchar para além da medida restrita, não há problema de qualquer envergadura, porquanto alguma etérea entidade tratará de lhe franquear o acesso às siderais províncias, províncias essas reservadas ao descanso dos desabonados de espírito, essa esotérica espécie de boaventuras cuja leveza da psique os faz alados, quase anjinhos, bons alvos, portanto, para a mira de quem anda à caça. Por isso é que, circunstâncias há em que, esses passarões, pumba!, caem que nem tordos. Não em bando, mas em número relativamente restrito, pouco mais do que uma dúzia e não tanto quanto um quarteirão. Segismundo.

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Existe neste tugúrio quem, contra todos os danados princípios turcos aqui vigentes, nutra uma honorária simpatia pelo'Outro, eu. O facto tem óbvios contornos de foro patológico. A coisa raia de tal modo a metanóia que se gerou por aqui um pandemónio do caraças em razão das várias interpretações das Variações Goldberg. O caso que aqui merece registo, porém, em nada concerne à música, respeita, antes, isso sim, à aguçada e vigilante patrulha que o senhor Carlos faz das prosas que pairam na blogosfera. O homem é mesmo danado. Nesta última circunstância crispou-se com o arrivismo do senhor P. do Guerra e Pás e, dizendo-o, apostou-o. O senhor P., como quem não quer a coisa, superior, todavia, disse que o que disse foi com intenção de verberar o tom lamuriento dos autóctones gentios. E apenas porque, ainda que por embora, combata a sua própria superioridade, na resposta o mesmo senhor P. lá concedeu lamentar-se por a sociedade lá de casa, ele e a senhora sua esposa, pagar “vários barris de dinheiro de impostos” e de não ter herdado fortuna ou favores da família. Para além disso, lamentou-se também, ainda que em registo de prosápia denúncia, que ninguém da geração dele é assim, superior e tão capaz, quanto ele. E os incêndios que por aí lavraram, sim senhor, são coisa de fazer sofrer porque a malta não foi previdente nem segurou convenientemente o que é seu. Agora, continua o senhor P., é tempo de, sem demora, sepultar os que pereceram, virar os punhos da camisa para cima, até acima do cotovelo, e mãos à obra. Se acontecer haver pouca mão-de-obra disponível para a empreitada, então, o senhor P., no limite – atenção: apenas no limite! -, está na disposição de ajudar, não em medida do que for capaz, mas em proporção do que for necessário. É de operários assim que a pátria ambiciona, daqueles que não se deixam enganar, que têm tudo seguro, até a saúde dos catraios. Que isso de a vida ser mesmo assim, ser começar tudo outra vez, acontece apenas aos outros. Que, por mero acaso – a vida é isso mesmo, um cúmulo de acasos -, são justamente aqueles que não se podem conceder ao luxo de estar disponíveis no limite, apenas e só no limite, pelo prosaico motivo de que vivem já no cerco interior desenhado por esse limite, lugar onde não há seguro e onde viver é o maior acto de prevenção. Mas essa sorte é coisa que pode mudar. Bem vistas as coisas, exactamente como o senhor P. as vê, basta mudar a atitude, não resignar, mas também sem eriçar com facilidade extraordinária, pois nunca ninguém perde tudo, se sobreviver. Ou tiver um seguro. Enfim, a vida é mesmo assim, embora às vezes seja também ao invés. Como o lavrar de um incêndio. Quem tiver dúvidas que seja o primeiro a meter a mão no lume. Nicky Florentino.

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2003-08-05


Arguto, o senhor dr. presidente da comissão política distrital do Porto do PS Francisco Assis entende que o senhor dr. presidente da Câmara Municipal de Gaia Luís Filipe Menezes, o tal, "com as últimas posições que tem assumido, está a atingir a inimputabilidade política". Ora, está mal, mal, mal, muito mal. Seja qual for o feito de quem quer que seja isso jamais o deve preservar de um qualquer eventual castigo. Ser inimputável é não estar conforme as regras mínimas da grei. Poder castigar é um direito de que ninguém deve ou merece ser espoliado. Pois é quando submetemos os outros a um castigo que o fulgor, pelo prazer, nos permite calibrar a identidade que nos faz ser. E fazer sofrer o dr. Menezes é o secreto desejo do senhor dr. Assis. Só por abjecto pudor é que ele é incapaz de o reconhecer. O Marquês.

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2003-08-04


Segundo o senhor tenente-coronel piloto-aviador na reserva João José Brandão Ferreira, a causa primeira e maior dos trágicos números que compõem o índice de sinistralidade rodoviária em Portugal é a indisciplina dos seus autóctones concidadãos. E, mais, diz ainda o mesmo senhor, "se nós quisermos aprofundar a questão teremos de ir às causas da indisciplina reinante que atravessa toda a sociedade portuguesa - e já não é só indisciplina é também a badalhoquice -, então teremos verdadeiramente um cenário que queima as mãos que se farta. E como last but not least, para acabar com este estado de coisas, dado que está provado à saciedade que campanhas de boas intenções não chegam, é preciso reganhar autoridade, voltar a hierarquizar a sociedade, organizar a sério e a impor a ordem no cumprimento das leis vigentes que têm que ser revistas à luz das idiossincrasias que temnos e não da que umas quantas luminárias gostariam que tivéssemos. Face ao exposto, fácil é constatar que não é fácil, embora não seja impossível fazê-lo (e é tão urgente), mas não se vislumbra que se venha a fazer tão cedo. E, exposto isto, não é uma opinião subjectiva, é factual e baseia-se na actuação dos órgãos de soberania, na actividade dos partidos e na falta generalizada de intervenção cívica das instituições e dos cidadãos". Há instantes, não muitos até hoje, em que me sinto envergonhado da minha condição de danado. Quando li a prosa do senhor tenenete-coronel piloto-aviador, tóing!, foi um desses momentos. É confrangedora a minha mansidão, a minha leveza. Ai como eu desejava ser como ele, mas, não sei porquê, não consigo. Há algo, talvez essa rançosa indisciplina, talvez as más companhias que me escolheram, que me tolhe a lustre grandeza que ele, mesmo na reserva, consegue ostentar. Estou danadamente consternado. E a minha ignóbil pequenez danada é a causa. Nicky Florentino.

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Alguém havia já sugerido que o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa era um tumor governamental e, como tal, merecia ser extirpado. Agora, outro, também consabido ressabiado, o senhor Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, diz que o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa é "muito show-off e pouca substância". O que talvez signifique que, sim senhor, o homem é uma intumescência mórbida, mas, porque de pouca substância, ainda é só um tumorzinho. Deve ser isso. Pelo que pode ser até que uma injecção seja quanto baste para debelar o foco malsão, evitando-se, assim, que a moléstia afecte o governo, todo. Certamente que o senhor dr. Portas não se negará a uma injecção. E menos indisposição a isso terá se o convencerem que é pelo bem da nação. Ora, uma injecção pelo bem da nação... é só preciso baixar as calças e as ceroulas ou o que quer que as substitua. Se o senhor dr. Portas não for adepto desta solução há sempre outras. Um simples pontapé, pumba!, bem assente nas nádegas, também serve. O Marquês.

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2003-08-03


Parece que o senhor dr. eurodeputado e ex não sei quantas honras Mário Soares sugeriu que o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa é um tumor e que, como deve ser a sorte de qualquer tumor do género, merece ser extirpado, sem direito sequer a biópsia. É a sugestão típica de quem cuja esposa foi importunada. Para a próxima que o fulano raciocine duas vezes antes de se meter com a esposa de alguém, pois arrisca-se a que se adense a ala de despeitados maridos a rogar que lhe seja aplicada a solução do xisacto, zás!, mal laminado cerce. Não que eu, por mera curiosidade sádica, não apreciasse observar o acontecimento. O Marquês.

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Nas palavras debitadas pela senhora dr.ª delegada do Ministério Público no Tribunal de Família e Menores de Lisboa, "vivemos um período tão importante para os direitos das crianças, particularmente para os direitos das crianças em risco, que é um privilégio para mim poder contribuir para que este verdadeiro vinte e cinco de Abril das crianças seja o mais frutuoso possível". Ora, isto é uma descarada aldradice! Porventura alguém já viu as pueris criaturas a conduzir chaimites?, não, pois não?, também me parece. Segismundo.

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Disse o senhor dr. deputado Jorge Lacão que "é inaceitável que se coloque sob escuta um responsável político de primeira grandeza". Cobiça!, é o que se deduz das suas palavras. Como o senhor dr. deputado é de terceira, quarta, quinta ou sexta grandeza - depende do parâmetro tomado como unidade e referência -, o que ele quer, até porque com ele já é aceitável, é ser colocado sob escuta. Pois colocado sob outra coisa qualquer já não é necessário, ele já lá está, em baixo, o cobiçoso. Segismundo.

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Segundo o senhor dr. deputado Jorge Lacão, "é inaceitável que se coloque sob escuta um responsável político de primeira grandeza e que isso possa ser feito com completa indiferença relativamente aos valores que estão em causa, designadamente, a imprescindível protecção da liberdade da acção política". Apoiado! Mas quem é esse tal «responsável político de primeira grandeza»?, é que eu não vislumbro nenhum. E que acção política, essa, é que supostamente lhe foi estorvada?, é que eu também não vislumbro nenhuma actividade. Ora, será que não podemos, simplesmente, ir todos de férias?, de preferência em silêncio. Nicky Florentino.

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2003-08-02


A propósito da embaixada governamental que baixou esta semana à cidade invicta, disse o senhor dr. presidente da comissão política distrital do Porto do PSD, "não andamos a puxar pelas mangas dos ministros. Tem de desaparecer a ideia de que somos o Calimero da política portuguesa, sempre com queixumes. O Governo não veio satisfazer reivindicações, veio simplesmente resolver problemas estruturais". O advérbio de modo «simplesmente» anteposto à expressão «resolver problemas estruturais» é mesmo de homem rijo. Pois «satisfazer reivindicações», isso sim, é que é complicado... De tal modo que, com sotaque de Marco António, quase se pode dizer "e' un'ingiustizia però!". Nicky Florentino.

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Segundo o trigésimo quinto artigo do Código Penal, "age sem culpa quem praticar um facto ilícito adequado a afastar um perigo actual, e não removível de outro modo, que ameace a vida, a integridade física, a honra ou a liberdade do agente ou de terceiro, quando não for razoável exigir-lhe, segundo as circunstâncias do caso, comportamento diferente". Seja o que for que isto queira significar a propósito da destemperada revelação do senhor dr. João Pedroso, a poesia do discurso tocou-me fundo. Li e gostei, é o que é. Sobretudo daquela do «perigo actual, e não removível de outro modo»... Pois se o perigo fosse passível de ser removido a canivete suíço, à marretada ou a roleta russa persuasivamente induzida, a culpa, essa, já ninguém lha tirava. Era como se lhe tivesse sido tatuada na pele. Pela forma mais dolorosa. O que, confesso, aprecio, muito, muito, mesmo. O Marquês.

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Segundo o enunciado na capa do espesso Expresso, o resgatado ao limbo senhor dr. Manuel Monteiro disse que "a democracia vive um dos seus piores momentos". É uma evidência da própria coisa, a democracia está sempre a viver um dos seus piores momentos ou, então, não é democracia. Neste caso, porém, existe apenas um motivo de sobressalto ou angústia: a fundação dessa coisa chamada Nova Democracia é sintoma ou consequência desse momento? Pois, pois, também me quer parecer, é indiferente, não é? Nicky Florentino.

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A senhora dr.ª deputada Maria Elisa suspendeu o seu mandato por cinquenta dias, invocando estado de doença. Ora, daqui decorrem três problemas. Sem qualquer ordem ou prioridade entre eles, um desses problemas é que ela, durante a sua ausência, será substituída pelo senhor Ribeiro Cristóvão, um homem dos relatos da bola da Rádio Renascença. Um outro problema é que a senhora dr.ª Maria Elisa parece que, doente, está a preparar um novo programa para animar as emissões da RádioTelevisãoPortuguesa. O derradeiro problema é que, segundo consta, o senhor deputado Vicente Jorge Silva afirmou que, "se se verificar que a justificação [da senhora dr.ª deputada Maria Elisa] é falsa, a Comissão de Ética tem de proceder em conformidade", tendo a implicada e dita senhora respondido que se sentia vítima de perseguição política. Pois, parece que sim. Ou disso ou de alguma doença grave. Nicky Florentino.

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2003-08-01


A senhora dr.ª vereadora do pelouro do licenciamento urbano e reabilitação urbana da Câmara Municipal de Lisboa, relativamente a umas bolandas jurídicas com a empresa Maxirent/Refundus, confundiu a Ajuda com a rua das Chagas. Confessou ela, "às vezes, às dez da noite já estou morta... e fiz confusão". Mas como é que estando morta - e sabendo-se que estar-se morto é o contrário de estar-se vivo -, pode a mulher ser dada a confusões? Como é fácil de depreender, a senhora dr.ª vereadora Napoleão está necessitada de baixar ao divã, só pode ser. Ou será à cova? Segismundo.

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Não era expectável - e é muito provável até que não seja mais do que um lapso involuntário -, mas o senhor dr. José Pacheco Pereira, o homem do Abrupto, conseguiu uma prosa de revelação hardcore da pobreza de alguns portugueses, que muito apreciei. Assim, brutal, escreveu o dito cujo, "Visto «por baixo» , numa pequena aldeia deprimida, sem actividade económica, o RMG traçou um risco de separação entre os pobres, separando os mais “espertos” e que não trabalham e vivem do subsídio, dos que, tão ou mais pobres, procuram ter um emprego e se vêm com muito mais dificuldades e com uma vida mais pesada, por terem optado pela via de não viverem do RMG". Achtung, o destaque feito na citação é da minha e exclusiva responsabilidade, para se perceber, como deve ser, a crua prosa do homem. O Marquês.

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O senhor dr. Pedro Mexia encerrou o dossier de desavenças ou coisa que o valha com o senhor provavelmente dr. - sou sincero, neste caso particular não posso afiançar, não sei, embora suspeite que sim, que seja dr. - Carlos Vaz Marques e com o senhor Prof. Doutor José Bragança de Miranda. Estes, aquele outro e este, parece que também deram por encerrada a polémica. Ora, danadamente confesso, estou que nem posso. Estava a gostar da acompanhar o ritmo da novela. Não que fosse composta de dores pronunciadas, como eu aprecio, mas, enfim, era o que se podia arranjar. Agora, quase que me sinto uma espécie de órfão, pior, quase que me arrependo de ser danado. Mas, não!, não pode ser. Tenho de ser mais forte do que as malditas circunstâncias que me traem e tentam magoar. Por isso, ainda alguém há-de sofrer, apenas para me aplacar este insidioso sentimento que me está a tocar. Ó menina!, ó pequenina!, chega aqui perto de mim, para eu te poder ver, ouvir e cheirar melhor. A tua avózinha pode esperar, não te preocupes. O Marquês.

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Nos primeiros instantes do dia trinta e um de Julho de dois mil e três, o Abrupto, no último dos seus contadores instalados - o da Bravenet -, atingiu as cem mil visitas. O blog do senhor dr. José Pacheco Pereira é, portanto, um sucesso. Porém, feio, feio, parece que ninguém, cambada de ingratos!, lhe concedeu os merecidos parabéns. Daí que, aqui, se experimente alguma angústia. Por um lado, não é vontade dos danados deste tugúrio associaram-se à ingrata cambada, pois não é de danado ser solidário com quem quer que seja. Por outro lado, muito sinceramente, os danados não são de dar graças, quanto mais de dar parabéns. Em razão disso, decidimos fazer conta de que nada disto se passou. O que aconteceu, aconteceu. O que lá vai, lá vai. O grande horizonte, agora, são as seiscentas e sessenta e seis mil seiscentas e sessenta e seis visitas. Isso, sim, é que é um número bonito, diabos. O Marquês e Segismundo.

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2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).