Não discuto deus, não discuto o diabo e raramente discuto essências. São os pormenores, os detalhes, sobretudo os pequenos detalhes, os pequenos detalhes escondidos, que me interessam. É neles que há mais vida condensada, maior densidade vital, aprendi isso com danados como Diógenes, Vico, Montaigne ou Simmel. Mas, agora, quem eu sigo a propósito habita mais próximo, o João, o José, o Carlos. Alheio-me da origem e respectiva autoria dos aforismos, para me remeter a outra trincheira do problema.
Sinceramente, deus não está nos detalhes. Provável é, mesmo, que nunca lá tenha estado. Deus é grande, monumental, maior, pormaior, mas padece de indolência. Ao sétimo dia partiu para descanso e abandonou os pormenores às suas circunstâncias, a si mesmos, dentro da sua ordem original e liberdade. Depois, depois foi a maçã. Eu prefiro nêsperas, mas saiu a maçã. E esse é talvez o primeiro detalhe. Lá esteve o diabo. Deus apenas observou e fez-se presente somente na hora do castigo. Por isso, hoje, só vê deus quem consegue. A mim, confesso, essa danada visão nunca me tocou. Mas adiante.
Creio que a verdadeira discussão não é em torno da entidade que está nos detalhes, mas ao redor do tempo do predicado estar aí. E, sinceramente, se o juízo não me atraiçoa, deus esteve, mas o diabo está. Este é o único aforismo em que me encosto, no entanto não tempo demais. Mas isso é apenas um detalhe, sem a mínima relevância. Quem quer que esteja nos peanuts, calha que eu também o mastigo quando os mastigo. E não me incomoda quem lá pôs quem nas minudências. Confesso, embora, que a deus lá cheguei por Flaubert e que ao diabo lá cheguei por Perot. Esta é a razão fundamental por que, para mim, the devil is in the details. Ainda que, claro está, admita o contrário, pois o diabo está também onde menos se espera, raio de mania a dele, essa. Segismundo.