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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2004-07-31


Há festa na paróquia. Durante o período reservado aos ensaios, ainda sem gentios derramados na praça, quase ninguém, uma inominável criatura faz o número habitual da circunstância, projecta a voz, um, dois, três, para afinar. Às tantas, depois de tanto repetir um, dois, três, tenta nove vezes nove oitenta e um, sete macacos e tu és um. A festa, que é do povo, pelo povo e para o povo, promete... Segismundo.

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Perguntou quem são os Hedningarda? e onde é que fica Sendim? Há respostas que não se dão. Para além disso, é um desperdício de todo e qualquer recurso rotular quem, como ele, coloca perguntas de alimária. Pois é a mesma criatura que, há aproximadamente vinte anos, quando alguém lhe disse que ia (ou)ver os Iron Maiden, perguntou os Iron Maiden contra quem? Desde, então, o destino da estupidez ali domiciliada, nele, tem vindo a confirmar-se. Há coisas que não mudam. Há fados de que se não pode fugir. Segismundo.

Referência

2004-07-30


É de cabrão dizer sim e dizer não?, perguntou um. Na dúvida, o outro não respondeu. Não sabia o que responder, se sim, se não. Segismundo.

Referência



"Não senhor", disse o senhor dr. Alberto João Jardim à hipótese de, num futuro próximo, ser candidato a senhor presidente da República. Que fazer?, perguntam os gentios, como quem acabou de ouvir a notícia que o circo não vai descer à cidade. Fica, permanece, nos arrabaldes. Nicky Florentino.

Referência



A política é também um fosso. Os mesmos que antes se revelaram assanhados contra o senhor eng.º José Sócrates, por, enquanto ministro, lhe haver dado na veneta de instalar a co-incineração na cimenteira de Souselas, agora estão dispostos a carregá-lo na padiola da entronização como senhor secretário-geral do rebanho socialista. Nada mudou. Apenas o perfume. Cheira-lhes, aos idolatras do momento, portanto, a proveito. E vão esperançados no seu encalce. É nesse pormenor que não se distinguem dos ratos. Nicky Florentino.

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2004-07-29

 
O Filipe, que é belenense, sabe que o que é relevante num jogo de futebol é o que se vê. Segismundo.

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2004-07-28

 
O senhor Diamantino André, senhor presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, eleito por lista do PSD, abraçou-se ao senhor eng.º José Sócrates e foi fotografado com ele. Ora, como “isto não podia cair bem”, a comissão política paroquial do PSD decidiu “fazer um reparo” e remeter queixa ao conselho de jurisdição nacional dos Autarcas Sociais-Democratas. Seguro, nada disto se passaria se o homem tivesse ido às gajas. Pois, isso, sim, só podia cair bem. Segismundo.

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O senhor dr. Manuel Alegre decidiu reatar relações de bem com o senhor eng.º José Sócrates. Que a co-incineração em Souselas seja motivo para arrufos e amuos compreende-se. Ele há criaturas atreitas a este tipo de desinteligências. Agora que a candidatura a senhor secretário-geral do PS seja causa suficiente para tréguas e o retomar de simpatias entre um e outro é que está para além de qualquer limiar de compreensão. Quem sabe da vida, sabe que não há amizades fáceis. Fáceis só as conveniências. Segismundo.

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Disse o senhor dr. Bagão Félix, “caso, nos próximos dois anos, haja possibilidade orçamental – condição sine qua non – tudo se fará para racionalizar e reduzir ou eliminar algumas deduções à colecta por forma a permitir ainda que gradualmente um ajustamento dos escalões – que não das taxas – que oneram excessivamente rendimentos baixos e médios”. É comovente o modo como o fulano jinga e joga, faz zigue e faz zague, não promete prometendo. É isto o sofisticado ofício do engano. Praticado por uma criatura que se benze com água benta. E que, por isso e convenientemente, acredita na redenção dos pecados e dos pecadores. Nicky Florentino.

Referência


 
O Governo é uma espécie de trupe a dançar com hula hoop. Sinistro, o jogo de cintura que revela ter. Parece, antes, estar a tentar jogar ao pau com os ursos. Ou isso ou a tentar arremessar o frisbee, como quem joga chinquilho. Nicky Florentino.

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2004-07-27

 
No passado domingo, o senhor Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, no jeito típico de papagaio que corre na volta à França em bibicleta e sabe a missa de cor, sustentou que, se a vontade era nomear uma mulher para a secretaria de Estado da Defesa e afins, melhor era que, ao invés de propor a senhora dr.ª Teresa Caeiro, tivesse sido proposta uma auditora do curso de Defesa Nacional. Acontece que a desgraçada fulana tem o dito curso. E, sublime, é sócia dessa trupe chamada Associação de Auditores dos Cursos de Defesa Nacional. Ninguém é perfeito, sabe-se. E, para além disso, sabe-se também que a mania de inventar não é bom socorro do juízo das coisas certas. Segismundo.

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Falou-se das supostas incompatibilidades do senhor dr. Nobre Guedes, que o impediriam de assumir cabalmente o ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território. Teria ele, enquanto advogado, representado umas empresas em pleitos judiciais em torno de matérias relacionadas com ecologias. Ora, se essa é a única experiência que o fulano teve com os domínios da pasta ministerial que lhe foi outorgada, o que é de relevar não é a putativa incompatibilidade, mas o facto de essa experiência ser o pouco que o torna adequado, portanto compatível, com a honra de senhor ministro que lhe foi emprestada. Nicky Florentino.

Referência


 
Ninguém, nenhum homem, nenhuma mulher, a desejava, lhe ambicionava ou gabava o corpo. Imaginou, então, nos cuidados do seu pouco ocupado juízo de donzela sem ofício grave ou certo, a melhor forma de ultrapassar a vergonha e (con)vencer a atenção dos outros, em particular dos homens que a desdenhavam. Para tanto, primeiro fez constar, pelos jeitos e caminhos da intriga, que recusara abordagens afoitas de dois moços bem vistos na vila. Depois, não muito depois, fez constar também que obstou às pretensões de um rico rapaz domiciliado numa cidade próxima, varonil de bom brasão, cuja família lhe propusera, em inversão das regras e da lógica das coisas, um afortunado dote. Apesar da congeminada manobra, ninguém, nenhum homem, nenhuma mulher, mudou de vontades ou apreços em relação ao seu corpo. Em derradeira aposta para melhorar a respectiva cotação no mercado das paixões ou das vaidades, fez ela, então, constar que, durante a confissão, sem o seu consentimento, os dedos do padre lhe devassaram o segredo guardado pela saia, acto com que o maldito prior lhe alagou irremediavelmente e para o resto de sempre as intimidades a que o destino ainda não tinha proporcionado estreia. Generalizado o boato, após as vésperas da última terça-feira, para gáudio do rebanho que no domingo anterior, depois da missa, tinha sido devolvido ao mundo em paz e na companhia do senhor, o padre foi lapidado até à morte, com as pedras destinadas a calcetar o adro da igreja. Só o sangue permite vingar a dor da honra perdida sem vontade, foi a regra aplicada ao caso. Ela, porém, ainda preservada e intacta, tal como na origem, para que a inaugurassem - facto desconhecido pelos crédulos vizinhos -, gozou uma dor que nunca antes lhe tinha sido permitida. Experimentou o extâse por perceber a dor a inscrever-se noutro corpo, num homem, num dos que nunca lhe ambicionaram a carne. Naquele dia, descobriu ela, pois, uma outra forma de felicidade. E ficou-lhe entranhada a necessidade de repetir semelhante prazer. O Marquês.

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2004-07-26

 
Quão vale um programa de Governo? Nada. Acaso valesse - e fosse garantia mínima contra falsas promessas e desmandos -, não seriam necessárias eleições. Bastava uma comissão de avaliação para auditar, num exercício isento de hermenêuticas e demais vícios de engano, a taxa de realização do programa voluntário de cada Governo. Nicky Florentino.

Referência


 
Disse o senhor dr. Alberto João Jardim, essa espécie de Nemo que ninguém procura, "o Estado português deve vinte e seis milhões de contos à Madeira". Não é de discutir a existência ou o tamanho da dívida. Sequer é de discutir a unidade monetária em que é referenciada tal dívida. O que é de discutir é se o arquipélago da Madeira não é, de facto, uma jangada à deriva no Atlântico. E se se justifica (ou não) apelar a Noé que resgate a infeliz fauna autóctone, antes do naufágio chamado orfandade de Estado. Nicky Florentino.

Referência


 
Estava absorta, parecia entretida apenas com o copo que segurava. Rodou o cocktail entre as mãos. Ergueu-o até ao lábios. Admitiu um pequeno trago, para procurar o mix com a língua. Revolveu-o pacientemente na boca. Enquanto absorvia o sabor do cocktail, deixou o corpo embalar-se com a música. Entre os outros, notou-se o seu abandono à dança. Mas ninguém percebeu o que, no mesmo instante, lhe preenchia o espírito. Se, segundo a lenda, o sangue obrigado de jovens havia tonificado a pele da condessa de Bathory, seria o sangue ingrediente recomendado para um refresco?, perguntou-se ela. Na dúvida, decidiu não tardar a experimentar. Pelo que, no cerco, imediatamente começou a sondar os corpos dispostos à sedução. E investiu sobre uma vítima exacta. Chamava-se Maria. O Marquês.

Referência

2004-07-25

 
Se o juízo ordinário operasse segundo os princípios de sugestão e articulação que parecem subjacentes aos raciocínios do senhor dr. Santana Lopes, hoje alguém teria sustentado que a canícula é obra do Calígula. Segismundo.

Referência

2004-07-24

 
Depois do café e do pastel de nata, perguntou o gentio ao jeitoso, ouve lá, o que é um esteta? Respondeu o jeitoso ao gentio, é um camafeu que não sabe que é filisteu. Segismundo.

Referência


 
Última pergunta do ou da jornalista do Expresso ao senhor eng.º José Sócrates, "beleza, para si, é fundamental?". Respondeu ele, "está a citar Vinicius de Moraes, «Receita de mulher»: 'As feias que me perdoem / Mas beleza é fundamental'. Sim, também sou um esteta". Com o devido acompanhamento para as causas, talvez que o fulano ainda um dia consiga ouvir os concertos para violino de Chopin. Segismundo.

Referência


 
Fixo a ingenuidade aristocrata da senhora dr.ª Teresa Caeiro, a sua inocência, e troa-me por dentro la donna è mobile. Segismundo.

Referência


 
Disse o senhor eng.º José Sócrates, “quando acho que tenho razão sou um animal feroz”. Na circunstância, portanto, só o achamento da razão entre as respectivas propriedades o distingue das bestas. Será suficiente?, é a dúvida. Segismundo.

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O senhor dr. Santana Lopes tem dezasseis guarda-costas, o dobro dos que tinha o senhor dr. Durão Barroso. O seu problema, pelo que transparece, porém, não são as costas largas. É, antes, a cervical de gelatina. Ou isso ou a súbita cifose de Estado, as costas vergadas pelo peso do poder que lhe pende nos ombros, sem o contra-peso garantido pelo siso, essa faculdade que faz tudo pesar menos do que pesa. Nicky Florentino.

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Em artigo estapado na edição de hoje do Diário de Notícias, a senhora Helena Sacadura Cabral anuncia que em Setembro recomeçarão as sessões da Assembleia Nacional. É verdade que a actual situação política é algo entre o fungagá da bicharada e o sítio do pica-pau amarelo. Que o tempo parece ter voltado para trás. Ainda assim, a marcha à ré, se a houve, não chegou a tão atrasadas épocas. A Assembleia da República ainda é a Assembleia da República. Venha Pedro. Venha Paulo. Venha Pedro & Paulo. Ou o raio que os parta. Aos dois. Nicky Florentino.

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Por que é que, de entre as diversas promessas relativas à composição e à organização do Governo, o senhor dr. Santana Lopes insistiu em cumprir justamente aquela a que o lapso de trambelho emprestou uma inclinação mais pronunciada para o desatino? Não sei a resposta. Mas arrisco que, como no seu juízo deslocalização rima com descentralização, para o fulano deslocalização é descentralização e vice-versa. Ponto final. Siga para bingo. Ora, aí está uma amostra escatológica do sôfrego folclore populista, um dos nomes elegantes da estupidez franca. Nicky Florentino.

Referência

2004-07-23

 
Pode ser-se inocente, ingénuo ou manso, como um cordeiro oferecido para a degola. Mas falta adjectivo para qualificar quem, uma e outra vez, consciente e antecipadamente confessa um erro. Não é gesto republicano. Não é gesto laico. Não é bonito. E, sobretudo, pela poética aposta anunciada, não é previdente. Assim como não é ecológico. Segismundo.

Referência


 
O senhor dr. João Soares, que já afiançou ser o futuro senhor secretário-geral do PS - o outro também dizia que ia ser senhor primeiro-ministro, embora, então, desconhecesse a data em que assomaria a tal honra -, andou a exibir o mais recente acrescento da prole, o petiz Jonas. Pretendia ele que o seu filho fosse visto, certamente como prova da virilidade que ainda o apoquenta. Mas o que se viu, de facto, foi o neto do avô. Nicky Florentino.

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O senhor dr. Manuel Alegre é candidato a senhor secretário-geral da trupe socialista. O que a História encontra, a História também ultrapassa. É essa a fatilidade que ela transporta. Nicky Florentino.

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2004-07-22

 
A confirmar-se a aposta do Neptuno - a secretaria de Estado da Administração Local localizada em Coimbra -, isto significa que já se chegou ao ponto de haver secretarias de Estado que são instaladas à porta de casa do respectivo titular. Melhor, o Estado, não poderia ser. Já era deles, agora passa a ser em casa deles. Nicky Florentino.

Referência


 
Como nas demais reservas da vida, em política as experiências devem ser feitas com gente, não com o Estado. Este elementar princípio não parece ter sido assimilado pelo senhor dr. Santana Lopes. Parece que o fulano tem dificuldade em conter o alquimista de enganos que pulsa dentro de si como o cio perturba uma gata em telhado de zinco quente. Nicky Florentino.

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Quando um senhor ministro beija uma senhora secretária de Estado na testa, isso é afecto. Afecto político. O que é mau. Pois o Estado deve ser uma besta. Não uma casa de mansos que trocam mimos e simpatias entre si. Nicky Florentino.

Referência


 
Aos jornalistas, disse o senhor primeiro-ministro, em tom sentencioso e de recriminação, “se preferem que eu passe a falar só de certezas adquiridas, eu deixo de falar de possibilidades”. Adjudicado!, por o horizonte do silêncio ser preferível a qualquer outro. E, já agora, se ao silêncio for possível juntar a quietude tanto melhor. Há quem esteja disposto a dar alvíssaras em proporção dos ganhos de salubridade política conseguidos. Monumentais, portanto, as alvíssaras. Nicky Florentino.

Referência


 
Depois do estouvado exercício que foi a nomeação das criaturas titulares das secretarias de Estado, falou, assim, o senhor dr. Santana Lopes, “o primeiro-ministro sou eu e tomo as decisões que entendo serem as mais correctas para a eficácia do Governo”. Quanto ao que o fulano entende ser o mais correcto para a eficácia do Governo nada há a conjecturar. O que se sabe é que os seus gestos e as suas palavras não suscitam temor, convencimento ou sequer engano. E, assim, não há autoridade que se lhe reconheça. Ou exista. Nicky Florentino.

Referência


 
O Segismundo pode saber de juízos e do modo requintadamente opaco como operam. Mas não percebe puto da lógica dos futebóis. Acaso percebesse, saberia que ter seis jogadores convocados para a selecção olímpica da modalidade não é uma honra. Mas uma forma subtil de engano. Para além disso, os títulos importantes a conquistar para a pátria serão, se forem, pelo Futebol Clube do Porto. Não pela selecção portuguesa olímpica de futebol. Que não existe. E, como existe, é uma mera ilusão do folclore nacional. Nicky Florentino.

Referência


 
O homem olhou, mirou, observou de modo demorado o copo. Fechou e abriu os olhos repetidamente, como se esse gesto lhe permitisse esclarecer a embriagada visão. Ao mesmo tempo, em vário ensaios, treinou os lábios, como se estivesse a preparar o beijo da vida. Em determinado momento balançou aparatosamente o corpo, junto com a mesa, mas sem derramar o conteúdo do copo. Cerveja preta. Sagres. Reconquistado o equilíbrio, sorveu a sobra do lúpulo fermentado. Confirmou o fundo do copo vazio. Constatou a garrafa de zero trinta e três também vazia. Indiferente ao cerco, embalou, então, a cabeça ao som da música de um spot publicitário que passava na televisão. Saciado, celebrava a vitória, a sua vitória. Era-lhe indiferente o anúncio, chegava-lhe, para satisfação, o friso musical que preenchia o ar morno da tarde. Não demorou, porém, a apertar a sede uma outra vez. Nesse instante, suspendeu o ritmo a que embalava a cabeça. Compôs-se na cadeira. Reencontrou o jeito, os modos. E mais uma cerveja, se faz favor, pediu, com o braço levantado e o indicador a apontar para o tecto, a chamar a atenção. Preta, uma cerveja preta, precisou, ele, o pedido. Depois, tornou a encontrar-se com a música. E recomeçou a balancear a cabeça. Como quem tenta espantar a tristeza que se lhe percebia pregada no corpo e na idade. E que a cerveja, preta, mesmo no seu excessivo excesso, não conseguia afugentar ou iludir em disfarce. Segismundo.

Referência


 
O mais exótico no solto e sôfrego espírito do senhor dr. Santana Lopes é ser como é, em estado sóbrio. É por isso que é um caso. E, também, a cobaia certa para a experiência do (des)Governo da pátria. Segismundo.

Referência


 
Lapidar, o senhor secretário-geral do PSD madeirense disse, “não conheço o dr. Paulo Porta. Não sei se merece resposta, se merece desprezo”. De onde promana o dito, é provável que qualquer uma das hipóteses seja honrosa. Fica-se sem saber, porém, para qual das duas criaturas. Facto que, convenhamos, sendo quem são, é absolutamente irrelevante. Segismundo.

Referência


 
Dizer que o senhor dr. Durão Barroso está ao nível de George Walker Bush é um autêntico enigma. Em tal ideia, quem é que é rebaixado ao nível de quem? Ou, por outras palavras, com tal comparação, quem é que é (o) ofendido? Segismundo

Referência


 
Ontem, pelas vinte e duas horas, no Fórum Lisboa, não aconteceu o concerto dos Mão Morta que a edição do Público anunciou nas páginas do suplemento Local - Lisboa. Comparado com isto, o escrutínio desatinado das criaturas a nomear para as secretarias de Estado é uma anedota frouxa, nada. Segismundo.

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2004-07-21

 
Esse insigne cavalheiro chamado Reinaldo Teles, leal administrador da SAD do Futebol Clube do Porto, entende que a convocatória de futebolistas para a selecção olímpica foi vergonhosa. A razão de tal sentença deve-se ao facto de terem sido convocados seis jogadores das insígnias do dragão e apenas um jogador do Benfica. Não lhe ocorreu que as coisas são assim mesmo, os clubes com bons jogadores é que, honra, são espoliados. Não os outros. Mas está bem. O jogo que ele joga é outro. Segismundo.

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O décimo sexto Governo constitucional iria ter mais mulheres, mais provincianos e menos membros do que o anterior, sugeriu o senhor primeiro-ministro. Porém, nem tem mais mulheres, nem mais provicianos, nem menos membros do que o décimo quinto Governo constitucional. Oportunidade teve, pois, o senhor dr. Santana Lopes para estar de boca fechada, sem deixar entrar mosca, mas não resistiu. A língua é-lhe demasiado solta. Pelo que se vislumbra, desprendida, mesmo, do trambelho que o possa habitar. Não é bonito. Segismundo.

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É indiferente se sorteiam secretarias de Estado. O Governo é uma espécie de cartel de circo, com malabaristas, ilusionistas, contorcionistas, palhaços. Só não se sabe se também tem bestas amestradas. Mas é uma hipótese que, antes do exame de confirmação, a ironia não permite descartar. Nicky Florentino.

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Não se deve(m) discutir a(s) competência(s) da senhora dr.ª Teresa Caeiro, se fala Francês, se toca piano. Depois de ter sido senhora Governadora Civil de Lisboa, foi senhora secretária de Estado da Segurança Social. Isso é que é relevante. Entretanto, por instantes, parece ter sido prometida a senhora secretária de Estado-adjunta e dos Antigos Combatentes. Mas vai ser nomeada senhora secretária de Estado das Artes e Espectáculos. Quando se é capaz de tanto ofício é porque, seguro, a(s) respectiva(s) competência(s) excede(m) o necessário. O que é bom para ela. Mas talvez não seja bom para o Estado. Nicky Florentino.

Referência


 
A acção política, como qualquer acção, é uma acção condicionada, condicionada por factores e contingências de ordem ou prioridade vária. Por isso, condicionada é também a escolha das criaturas a nomear como titulares das secretarias de Estado. Porém, pela amostra, em alguns casos o trambelho não parece ter sido grande condicionador. Foi mais a necessidade de lotear e ratear. É isto ao que o poder obriga. Ao desatino. Nicky Florentino.

Referência


 
O lugar dos animais políticos é no jardim zoológico. É esse o lugar exacto para as bestas exóticas, quaisquer que elas sejam. Nicky Florentino.

Referência


 
Em relação às manobras da trupe da aba esquerdista do PS, disse a senhora dr.ª Maria de Belém Roseira, “queremos partir das ideias. A metodologia é muito importante para a qualidade da democracia”. Em política também é assim, quando não se tem cão(didato) caça-se com gato(logias). É esta a firme e constante epistemologia da puta da vida. Nicky Florentino.

Referência


 
Segunda a edição de hoje do Público, ontem, na reunião da comissão nacional da tribo socialista, o senhor dr. Jorge Lacão, esse insigne ribatejano de Abrantes – Abrantes é tão Ribatejo quão Portugal é África –, falou enquanto porta-voz da esquerda do PS. Pobre esquerda. Nicky Florentino.

Referência


 

© Frida Kahlo, Unos quantos Piquetitos!, 1935.
O Marquês.

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2004-07-20

 
Página onze da edição de hoje do Público. Uma polaroid revela um friso de personagens bisonhas a benzer-se. Não merece consideração o facto de o senhor secretário-geral do PSD estar a fazer pose enquanto gesticula o sinal da cruz. O que é pungente na cena é o facto de tais personagens supostamente estarem a celebrar a alma de alguém que se destacou por feitos de Estado. O que significa que, mais do que rememorar o malogrado pelos seus feitos políticos, em lugar devido, os fulanos excursionaram até ao ritual da missa como outros vão aos morangos ou aos gambuzinos. Aliás, em rigor, salvo as baias do protocolo, tudo lhes é permitido, a tais senhores. Pois crêem eles, garantidos pela fé que ostentam e exibem, que qualquer dos seus eventuais erros foram já, por antecipação, perdoados pelo desgraçado do filho do carpinteiro que, em estertor na cruz, disse, com boa vontade, perdoai-lhes, senhor... Foi no que deu. Nicky Florentino.

Referência


 
Segundo a edição de hoje do Público, o primeiro acto oficial do novel senhor primeiro-ministro foi visitar a campa de Sá Carneiro. É isto que o populismo tem de mais ordinário e infame. A incapacidade de diferenciar manias pessoais encenadas para propaganda, o tal estilo, do respeito que o Estado e os mortos merecem, o pudor. Nicky Florentino.

Referência


 
Disse o senhor ministro de Estado e da Presidência, “este Governo não tem de responder pelas suficiências ou insuficiências do anterior”. Em política, província onde abundam os armadores ao pingarelho, é isto a continuação e a palavra honrada. Nicky Florentino.

Referência


 
Quando a silly season começa sem, como costume, se vislumbrar no horizonte o seu cabo, isso quer dizer Impulse. Com a diferença que, neste caso, nenhum estranho é subitamente apossado de vontade de oferecer flores. Apenas haverá, para impressionar os gentios, floreados. Gregório R.

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2004-07-19

 
Segundo o senhor dr. Paulo Portas nada se deve temer por as rédeas do ministério do Ambiente estarem nas mãos de quem estão, um fulano do CDS/PP. Disse ele, em argumento do seu juízo, “um partido que preza a vida é um partido que defende a natureza”. Poderia igualmente ter dito, pois também rima com o seu desatino, que era um partido político de gente que insiste em marrar com o comboio. Para confirmar que é rijo, o comboio. Segismundo.

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Constato que, como o José, também a Ana leu e releu, leu e releu, leu e releu, et cetera, o início d'A Morgadinha dos Canaviais. Sei de outralma em quem ressoa sobretudo o quinto parágrafo, o das diferenças de quem caminha arriba acima, por uma estreita e sinuosa vereda, sob os rigores da chuva e do frio do Dezembro minhoto. Que é assim,
 
"Um, o mais moço e pela aparência o de mais grada posição social, era transportado num pouco escultural, mas possante muar, de inquietas orelhas, músculos de mármore e articulações fiéis; o outro seguia a pé, ao lado dele, competindo, nas grandes passadas que devoravam o caminho, com a quadrupedante alimária, cujos brios, além disso, excitava por estímulos menos brandos do que os da simples e nobre emulação". 

Segismundo.

Referência


 
Existe um senhor ministro da Segurança Social, da Família e da Criança. Da criança... Concerteza, é para dar vazão à pedopolítica que pulsa infrene dentro do senhor dr. Negrão. Nicky Florentino.

Referência


 
Ao senhor dr. Paulo Portas deve ser dito que, em determinados assuntos, os tais, não se deve confundir mar com ultramar. Nicky Florentino.

Referência


 
Uma das piores espécies de gentios é a daqueles que insistem em reproduzir ad nauseum a propaganda do partido político do qual são sócios ou em relação ao qual penhoraram incondicionalmente a sua simpatia. Porque tendem a comportar-se como criaturas desassisadas, não há diálogo possível com tal gente. Tais criaturas apenas debitam monólogos. E com uma convicção tal que fazem arrepiar e corar de embaraço o mais fundamentalista de qualquer seita mau-mau. Nicky Florentino.

Referência

2004-07-18

 
Segundo a edição de hoje do Público, no final da cerimónia de entronização do novo Governo, como cumprimento ao senhor primeiro-ministro, "a ex-ministra das Finanças deu dois beijinhos. Santana tentou envolvê-la num abraço, mas Ferreira Leite fez questão de manter as distâncias. Ficou apenas por um gesto de cortesia o que o novo chefe do Executivo gostaria que fosse um cumprimento afável. Santana ainda lhe fez uma festa no braço, como a seguir faria a Teresa Gouveia, outra ex- ministra que criticou o processo de sucessão de Durão Barroso no PSD". É isto a novela... Enfim, quando a vida não se reclina, haverá terapia mais exacta para o juízo? do que inventar «filmes». Segismundo.

Referência


 

© Ingmar Bergman, Det Sjunde Inseglet, 1957 (slide de uma cena).
O Marquês.

Referência

2004-07-17

 
Hoje, em cerimónia oficial, confirmou-se o início da silly season dois mil e quatro. Que, por ora, se prenuncia diferente da dos anos anteriores por um prosaico motivo. Parece que não irá acabar com a rentrée. Nicky Florentino.

Referência


 
Olha-se para a fronha da edição de hoje do Expresso e, no conjunto de todas aquelas faces, percebe-se, ali, a Junta de Salvação Nacional ou o Instituto de Socorros a Náufragos. Não é, mas não faz mal. De Governo, o décimo sexto constitucional, a tal trupe também só tem o rótulo. Nicky Florentino.

Referência

2004-07-16

 
Se o elenco do décimo sexto Governo constitucional for o que que o Público (online) divulgou e o Daniel apostou,

primeiro-ministro: Pedro Santana Lopes;
ministro de Estado, das Actividades Económicas e do Trabalho: Álvaro Barreto;
ministro de Estado e da Defesa Nacional: Paulo Portas;
ministro de Estado e da Presidência: Nuno Morais Sarmento;
ministro das Finanças e da Administração Pública: António Bagão Félix;
ministro dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas: António Monteiro;
ministro da Administração Interna: Daniel Sanches;
ministro das Cidades, Administração Local, Habitação e Desenvolvimento Regional: José Luís Arnaut;
ministro da Justiça: José de Aguiar Branco;
ministro da Agricultura, Pescas e Florestas: Carlos da Costa Neves;
ministra da Educação: Maria do Carmo da Costa Seabra;
ministra da Ciência e Ensino Superior: Maria da Graça da Silva Carvalho;
ministro da Saúde: Luís Filipe Pereira;
ministro da Segurança Social, da Família e da Criança: Fernando Negrão;
ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações: António Mexia;
ministro da Cultura: Maria João Bustorff Silva;
ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território: Luís Nobre Guedes;
ministro do Turismo: Telmo Correia;
ministro-adjunto do Primeiro-Ministro: Henrique Chaves;
ministro dos Assuntos Parlamentares: Rui Gomes da Silva;
secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros: Domingos Jerónimo,
  
o Governo da pátria, pátria que é uma espécie de jangada de pedra, é o que tem que ser. Com estilo. É como uma força que nada ou ninguém, excepto o fundo do mar, pode parar. Nicky Florentino.

Referência


 
Ouvi na TelefoniaSemFios. O senhor dr. Luís Nobre Guedes será o futuro ministro do Ambiente. Embora o fulano não perceba puto do assunto e talvez até pareça um boi a olhar para ele, é seguramente boa, acertada, escolha. Se a política do anterior Governo é para continuar, é para continuar. Nicky Florentino.

Referência

2004-07-15


Ó José!, a importância não está na surpresa, no supreender ou no surpreender-se. Está na diferença, no diferenciar e no diferenciar-se. Segismundo.

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O José disse não num mundo. Mas não foi por, com o rabinho a dar a dar por dentro, ter dito sim no outro. Como os outros. É isso que o distingue e não permite confundi-lo com a demais fauna do cerco. Segismundo.

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Vi. Sob o sol inclemente, duas velhas, uma delas apoiada numa bengala e na companheira, atravessaram demoradamente a praça. Entraram. Dirigiram-se à vitrina dos bolos. Entre a extensa oferta de iguarias, escolheram bolos convencionais. Um pão-de-leite com pouca manteiga para uma, a que arrastava os pés. Um queque para a outra. Radical, porém, foi a resposta que deram à pergunta, e desejam mais alguma coisa?, do garçon. Uma coca-cola, disse a que tinha escolhido o pão-de-leite com pouca manteiga. E uma imperial, disse a que tinha pedido o queque. Por instantes, ali, o tempo pareceu suspenso, a ordem do mundo pareceu revista e contida numa bolha. O encanto poético da cena durou até ao momento em que uma das velhas, a do queque, imediatamente depois de pousar o copo vazio, arrotou. Com um subsídio de ressonância gutural. Que ecoou até à esplanada. Segismundo.

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Em França, uma jovem estouvada à solta fingiu ter sido violentada, junto com o seu filho de treze meses, por uns quantos árabes e negros, por, assim lhe pareceu plausível, eles a terem presumido uma moça judia. Foi o escarcéu previsto para casos do género, incluindo declarações do senhor presidente da República, o tal Chirac. O motivo para a requintada encenação, com golpes no corpo e cruzes suásticas esboçadas nos seios, foi singelo. A cachopa desejava uma desculpa que lhe permitisse libertar-se da promessa de comprar um carro a um amigo. Conseguiu. Segismundo.

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Segismundo.

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Na aposta «Se isto é boneco, iii» não há boneco para ver. É assim mesmo. Porque o boneco sugere engano. Nada tem a ver com a ironia, embora tenha a ver com Sócrates. E tem a ver com a tragédia, embora não seja grego. Nicky Florentino.

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Nicky Florentino.

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A polaroid estampada na página cinco da edição de hoje do Diário de Notícias é do domínio das revelações. A pose quase angelical do senhor dr. António José Seguro, lider da cambada parlamentar socialista, com as mãos encontradas em justaposição, como se fosse uma infante criatura a ver um círio mariano a pairar sobre uma azinheira, permite perceber que ele é um homem capaz de dizer não. Circunstâncias há em que a fé em divindades inclina para aí. O problema, porém, é que o problema não se resolve com rezas. Ou com a maiêutica de engenheiros. Nicky Florentino.

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A sugestão do senhor dr. Santana Lopes de instalar o ministério da Agricultura em Santarém e aí por diante foi um sucesso. O extenso rol de pedidos de instalação de um ministério ou de uma secretaria de Estado lá para a paróquia, feitos pelas mais diversas vozes, aí está para o provar. O desatino é uma autêntica fonte de imaginação. É de suspeitar, mesmo, ao contrário do pretendido por Hegel, que é o factor que maior dinâmica garante à História. Nicky Florentino.

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2004-07-14


O processo de constituição do novo Governo, tal como está a ser animado e conduzido pelo senhor dr. Pedro Santana Lopes, em silêncio, em segredo, é mau, muito mau prenúncio. Não por o fulano andar a fazer as coisas com reserva e recato. Mas justamente por, ao fazer as coisas às escondidas, sem estrépito, sem publicidade, estar a fazer as coisas como ele não sabe. E sem estilo. Segismundo.

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A propósito da eventual instalação da secretaria de Estado do Turismo em Faro, disse o senhor líder parlamentar socialista da Assembleia Regional da Madeira, “o novo Governo da República, ao agradar a um lobby que representa a região do país com o maior número de camas, o Algarve, está a violar a equidistância necessária entre as várias regiões turísticas nacionais”. Para uma proposta prenha de quanto vácuo político é possível, uma reacção estouvada, com referência ao lobby regional com o maior número de camas... Anda tudo doido, a ver espectros a dançar, é o que é. Segismundo.

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Olhando para as gentes do CDS, o senhor dr. Manuel Monteiro sentenciou, “aqueles que dizem querer representar a direita conservadora portuguesa estão mais preocupados com os «tachos» do que com a defesa de princípios políticos ou de valores”. Mas, na pátria, não é assim a direita conservadora?, toda?, mais dada à mercearia e à gastronomia - por isso a preocupação com os tachos - do que à doutrina. Nicky Florentino.

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Disse um senhor dirigente do PS que a declaração de ontem do senhor dr. António Vitorino “foi o seu fim político”. Há sempre alguém que se precipita, assim, a anunciar o cadáver político dos outros. E os que se precipitam são os zombies do marasmo, os intrépidos guardiães do fosso. Nicky Florentino.

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Em política, pouco mais do que o poder, as mãos ocupadas nas rédeas do Estado, evitam a orfandade, o desatino. Acaso o senhor eng.º António Guterres não tivesse rogado a demissão de senhor primeiro-ministro, na sequência das últimas eleições autárquicas, será que o senhor dr. Durão Barroso teria sobrevivido como senhor presidente do PSD? Nicky Florentino.

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Ele encontrou a besta com o alvo, uma maçã sobre a cabeça do filho, posto à distância de um tamanho número de pés. Precisou o acerto. No gesto, ponderou o efeito travesso do vento. Disparou, depois, seguro. A haste disparada silvou, cravando-se no crânio do rapaz, ceci n’est pas une pomme, a sua ponta, de metal afiado. Sob o impacto, o corpo estremeceu e vacilou. A maçã perdeu o equilíbrio, rolou e caiu no chão. A gravidade tem este efeito sobre os frutos. O Marquês.

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2004-07-13


Aos socialistas, o desejado sebastião na circunstância, o senhor dr. António Vitorino, disse que não, que não se sente capaz ou motivado para tomar as rédeas da trupe. Chegou, pois, a vez de as sobras avançarem. Que se abram alas. A rectaguarda vai avançar para diante. Para o abismo. É o que se vislumbra no horizonte. Que é outro nome do futuro. Gregório R.

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O senhor juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, o senhor dr. Luís António Noronha de Nascimento, diz que quando olha para o senhor bastonário da Ordem dos Advogados o assoma uma galeria inteira de personagens que, por respeito à condição dele, do senhor bastonário, não revela. O que obriga a exercitar a imaginação, a perseguir bonecos. E o que é uma injustiça. Pois, quando se poupa na paródia, não é bom para ninguém. Segismundo.

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És tu?, António, perguntam os social-sebastianistas, com o punho esquerdo cerrado e erguido e com uma rosa, sem espinhos, segura na mão direita. A diferença que eles acreditam que um homem faz. Porque o tamanho de um homem não se mede às polegadas, de baixo para cima. E porque um homem não é de Ferro. Nicky Florentino.

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Segundo a edição de hoje do Público, a criatura que sucederá em senhor(a) presidente da Câmara Municipal de Lisboa será anunciada oportunamente pelo senhor dr. Santana Lopes. Porquê? A pátria pode ser fartamente composta por gentios abúlicos e apáticos. Mas não consta que as regras que se aplicam ao caso, se as há inequívocas quanto à sucessão nos órgãos autárquicos, sejam as da lotaria da vontade do senhor dr. Santana Lopes. Ou as do arbítrio do seu desatino. Era só o que faltava. Mas, pelo que parece, irá deixar de faltar. Nicky Florentino.

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Nas tragédias participam as personagens mais improváveis. Algumas delas da forma menos plausível. Segundo a edição de ontem do Diário de Notícias, a propósito da eleição do futuro secretário-geral da trupe socialista, o senhor dr. João Soares disse, “é preciso que todas as candidaturas tenham igualdade de oportunidades. No PS não há tradição de moscambilhas em eleições externas, mas estamos a falar de eleições internas”. Teme ele, disse, “a intervenção da cacicagem”. O que, traduzido, quer dizer mais ou menos que quem com(o) Ferro mata, com(o) Ferro morre. Tão fatal quão ser-se filho do pai. Nicky Florentino.

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Na noite do passado domingo, na entrevista ao senhor presidente do PSD, rogou o entrevistador uma apreciação da manifestada intenção do senhor presidente da República mover uma dedicada vigilância às acção e manobras do próximo Governo. “Tomei essa declaração como um tónico”, foi o princípio da resposta do senhor dr. Santana Lopes. Tomou-a como um tónico... Até pode ser que, sim, assim tenho sido. Certo, porém, é que a sua administração pelo senhor presidente da República pareceu ter sido semelhante à dos supositórios. Pela via, a única, habitual. Nicky Florentino.

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A democracia só faz sentido com povo. O povo. Mas o que existe disponível não é o povo. É a multidão, a turba. São os gentios a granel, sem consciência ou sequer noção do que é a solidão que transpira o juízo. Nicky Florentino.

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Existe a ilusão de que, por via da eleição, do acto de dar o voto – é assim que o experimentam muitos gentios –, o eleito fica a dever algo ao eleitor ou que este tem um crédito sobre aquele. Na prática, a ficção da soberania do povo autoriza e nutre o desejo de tornar o eleito uma marioneta, um fantoche, que gesticula e verbaliza o que a vontade do eleitor lhe empresta. Os gentios só percebem a ilusão quando se desiludem. Quando constatam que nenhum dispositivo de controlo pessoal e particular detêm sobre a quem sentem que deram o seu voto. E, por aí, revolvem a própria miséria com a sensação de terem sido espoliados. Sem jamais abandonar, no entanto, a fenomenologia que os faz sentir parcela da entidade soberana. É por isso que nunca saem do engano que os engana. Uma fatalidade. Nicky Florentino.

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2004-07-12


O J. sepultou o Cruzes Canhoto!. Mas não fugiu. Apenas exige, porque o juízo é exigente, respeito. Segismundo.

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Se, como diz o José, o estilo do fulano é o costume, isso significa que o que aconteceu ontem, na entrevista, não foi o começo, mas a continuação. Ou não? Segismundo.

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Quando entrevistado na noite de ontem, o senhor dr. Santana Lopes disse também que não dorme descansado – “basta haver um desempregado para não dormir descansado”. Comovente. Mas uma dúvida. O que é que o sono dele tem a ver com o emprego dos outros?, todos. Quem é que, que gosta de trabalhar muito, condiciona o seu sono à classificação, para efeitos estatísticos, da relação dos outros com o trabalho? Não interessa. Interessa é que quem não dorme descansado não consegue, por muito que goste, trabalhar muito. A vida é assim. Só na imaginação é que não. Segismundo.

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Disse o senhor presidente do PSD, ontem, quando entrevistado pela SociedadeIndependentedeComunicação, “gosto de rir, de chorar e também de trabalhar muito”. Os desgostos, por tendência, não se discutem. E estes, em particular, não são bom augúrio. Sequer se percebe a unidade lógica que lhes subjaz. Segismundo.

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The mind is a terrible thing to taste, é o que se pode dizer sobre alguns espíritos. Ou isso ou recomendar o divã terapêutico. Nicky!, deita-te, deixa assentar o juízo. Um danado não se dana. Dana os outros. Ou isso ou cala-se. Que é outro modo de ser irónico e cínico. Segismundo.

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O senhor presidente da República decidiu indigitar um novo primeiro-ministro, dispensando a hipótese de eleições legislativas antecipadas. Fê-lo, no entanto, por motivos e juízos que não coincidem nem com as conveniências dos clubes políticos que escoram o Governo nem com as conveniências dos clubes políticos das oposições. Maior desgraça não pode haver para quem, posto em figura de Estado, chora como se fosse um dos anões da Branca de Neve e julga que a pátria é uma flor de estufa. Ainda bem que até para ele mesmo a decisão teve um sabor amargo. Os mansos não devem ser poupados. Nem por si mesmos. Nicky Florentino.

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Sem palavras, o silêncio confirma. Nicky Florentino.

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Três horas, pê.éme., quinze horas na volta dobrada. Apetece-me dizer, como canta o Luxúria Canibal, contra a pilhagem da volúpia, a volúpia da pilhagem. Ou isso ou que é mais bruto do que uma carrada de mato. Não digo quem. Mas sabe-se de que(m) é que eu estou a falar... Nicky Florentino.

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Em política, há mistérios que, por mais sofisticada e investida que seja a respectiva investigação, resistem e permanecem insondáveis. Tipo coisa de Mandrake. Por exemplo, por que é que os senhores detentores de cargos políticos – senhores como o senhor dr. Pedro Santana Lopes, segundo a edição de hoje do Público – entregam no Tribunal Constitucional declarações de rendimento que não coincidem com as suas declarações fiscais? Por uma questão de estilo, seguro. Pois nem todos têm sobrinhos que são taxistas na Suíça. Nicky Florentino.

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2004-07-11


O senhor dr. Santana Lopes irá ser indigitado senhor primeiro-ministro. Como se fosse um cuco. Não daqueles cucos que, domiciliados nos relógios, se limitam, em intervalos regulares, a cantar irritantemente cucu, cucu. Mas daqueles cucos políticos que se anicham em cama alheia ou feita por outros. É por uma questão de economia e de estabilidade, dizem eles. Aves raras. É por natureza, dizem os outros. Pássaros. Nicky Florentino.

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Revejo o que disse aqui sobre a decisão do senhor presidente da República de indigitar um novo primeiro-ministro para a pátria. Suspeito, agora, que, afinal, a referida decisão não foi uma decisão política, mas uma decisão de tipo burocrático. É que os valores invocados e o modo e a proporção como foram invocados pelo senhor presidente da República, o sossego, a estabilidade, a continuidade política, revelam que ele se pautou não tanto por fundamentos políticos quanto por fundamentos de negócio e de sistema. Isto é, de necessidades artificiais, de segunda ordem, mas que se experimentam urgentes e carentes de uma resposta dentro de uma banda de decisão estreita. Facto que, por sua vez, tende a reduzir a política ao exercício de escolha entre alternativas já estabelecidas e limitadas. O que, em rigor, não é política. É, sim, administração, gestão. É por isso que um burocrata não é necessariamente um democrata. Tão só um administrador, um gestor. O que é bom, quando é bom. O que é mau, quando é mau. Mas não é expectável de um senhor presidente da República. Eleito. Nicky Florentino.

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© Sergei M. Eisenstein, хБЮМ цПНГМШИ, 1945 (slide de uma cena).
O Marquês.

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2004-07-10



© René Magritte, 1948.
Nicky Florentino.

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Foi recebida neste tugúrio uma reclamação. Supostamente, notaram, falta a aposta «Se isto é um boneco, i» na sequência das apostas de ontem. Não, não falta. É mesmo assim. «Se isto é um boneco, i» existe, mas é como se não existisse. É como o amor que é fogo que arde. Não se vê. Mas chama-se Jorge. Nicky Florentino.

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A decisão do senhor presidente da República de indigitar um novo senhor primeiro-ministro, dispensando eleições legislativas antecipadas, é estúpida - do que tenha de virtuosa, a decisão, não interessa aqui falar, por motivos óbvios.
Ao exigir como garantia e colocar como condição para a indigitação de um novo primeiro-ministro a continuação da pauta política do décimo quinto Governo constitucional, o senhor presidente da República mete o bedelho onde sequer era suposto meter o nariz. Se é a lógica parlamentar que pretendeu preservar, como é que, depois, se insinua como vigilante da acção governativa?, armando-se numa espécie de tutor e miliciano, em tocaia, que se põe em paralelo ou sobrepõe à Assembleia da República.
A decisão tomada, na sua forma e no seu conteúdo, significa, pois, entre outras, duas coisas. Que a decisão foi, como devia ser, política. E que, se fosse outro o seu sentido, a decisão tomada não seria necessariamente melhor. Por isso, gratificante em todo este processo é a apenas a suspeita da angústia que afligiu o senhor presidente da República antes - e, se entidade divina houver com vontade assim, depois - da decisão. Pois é também para sofrer que se elegem fulanos. Se assim não fosse, o simulacro democrático seria insuportável para os (des)iludidos gentios. Nicky Florentino.

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Mas, afinal, o que é que interessa a decisão do senhor presidente da República? Nada. Siga a estúrdia! Siga a pândega! Vamos às nêsperas! e, depois, para a piscina! Nicky Florentino.

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Os socialistas, que se bateram por eleições antecipadas, conseguiram, vão tê-las. Só para si. Só no clube deles. Nicky Florentino.

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Palavras do senhor presidente da República, "estou certo que, mau grado a minha diferente opção, entenderão os argumentos que me levaram a escolher o caminho da indigitação de um novo primeiro-ministro". O senhor secretário-geral do PS foi o primeiro a revelar que entendia. Mas que não queria entender. Foi-se embora. Pois, segundo o que voga, ir embora é uma honra. Não titubear. Nicky Florentino.

Referência



O senhor presidente da República decidiu que vai indigitar um novo primeiro-ministro. E provocou a demissão do senhor secretário-geral do PS. O que significa que entre a estabilidade na situação e a balbúrdia numa das oposições há apenas a (in)decisão do senhor dr. Sampaio. Nicky Florentino.

Referência



Palavras do senhor presidente da República, "nesse regime - que não fiquem dúvidas - a nossa opção é pela democracia representativa, de que não sou o notário, mas sim o garante". Mas o que é que raio quer isto dizer? Nicky Florentino.

Referência



O João diz que isto, a pátria, é a Itália. Provavelmente, não se enganou. Segismundo.

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Na sequência da decisão do senhor presidente da República, o Nicky Florentino revelou-se excessivamente assanhado. Demais. Sem motivo outro diferente do desatino que o tomou. O que é contrário às regras e aos princípios deste tugúrio. O senhor presidente da República é um senhor presidente da República. E do senhor presidente da República espera-se o que é de esperar de um senhor presidente da República. Decisões graves. Como ele anunciou. E, parece, cumpriu. Segismundo.

Referência

2004-07-09



Nicky Florentino.

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Palavras do senhor presidente do PSD, "com maturidade, elevação, elegância e respeito saberemos caminhar no sentido de um Portugal que resolva os problemas daqueles que sentem a sua vida ainda muito difícil". É isto o estilo, o novo. Que, como o velho, não engana. Nicky Florentino.

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Palavras do senhor presidente da República, "a actual maioria garantiu-me poder constituir um novo Governo que permita dar continuidade e cumprir o programa do Governo anterior e essa maioria comprometeu-se a assegurar até ao final desta legislatura o mesmo apoio que deu ao Governo cessante". Ele acreditou. Ainda irá arrepender-se. Tarde. O arrependimento tem essa propriedade, acontece sempre tarde. A quem não lê as letras miudinhas das garantias. Mas do que eu gosto mesmo é de nêsperas. Apesar do caroço, enganam menos. Nicky Florentino.

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Ser manso não é ser pastor. Ou sequer cão que guarda rebanhos. É ser ovelha. É ser borrego. É balir, méééééé, pois MES tem outro significado. É ir com as outras. Nicky Florentino.

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De entre toda a fauna politicamente inconveniente, a mais deplorável não são os gentios abúlicos que compõem essa espécie de exército de zombies de reserva. Pungentes, verdadeiramente pungentes, são os mansos simpáticos que lacrimejam como a Maria Madalena e genuflectem como se não tivessem um mandato republicano. Nicky Florentino.

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Com o imbróglio político originado pelo trânsfuga que emigrou para ser senhor presidente da Comissão Europeia, ilustraram-se os pátrios gentios no pormenor que as eleições legislativas servem para eleger senhores deputados. Uns quantos, porém, estão agora a perguntar-se por qual raio se inventou a eleição de um senhor presidente da República. A pergunta faz pouco sentido. O problema não reside no facto de se eleger um senhor presidente da República. Reside, sim, no facto de ter sido eleito um manso para senhor presidente da República. Que prefere a estabilidade instável da forma, o engano iludido, a geometria em repouso, à instabilidade estável da substância, a vida do tira-teimas, o jogo da concorrência política. Nicky Florentino.

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Era para ser uma bomba atómica. Foi uma bomba antónia. O que significa que. O Jorge morreu. E o Pedro, não tarda, há-de começar a gritar. Olha o lobo!, olha o lobo! Que não é Xavier. Sequer é lobo. É fauna mais exótica. Delírio. Delírio sustenido. Ou o raio que o parta. Todo. Inteiro. Nicky Florentino.

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O semi-presidencialismo, na pátria, é um presidencialismo de primeiro-ministro. Como no tempo da longa noite. Nicky Florentino.

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Estado que se acredite como Estado não tem Conselho de. Tem órgãos de soberania. Soberanos. E tem poder. Para não ser condicionado pelas influências. Sejam elas, as influências, dos gentios ou dos senhores conselheiros. Nicky Florentino.

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Será que o senhor presidente da República irá comportar-se conforme o juízo d’the Frisco Doll?, uma das personagens de Klondike Annie representada por Mae West, que disse, “whenever I'm caught between two evils, I take the one I never tried”. Segismundo.

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Parece que é hoje que o senhor presidente da República irá cair. Para que lado?, é a dúvida. Segismundo.

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Há mais uma esplanada no átrio desta esfera de Pascal. Estão lá o Filipe, o Rui e mais três. Com livro de reclamações. O que não é bom augúrio. Segismundo.

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O Rui apanhou um texto na revista quadrimestral do US Army War College, assinado por um tal Ralph Peters, oficial do exército norte-americano, reformado. O texto é comovente de cabo a raso, desde a epígrafe até ao derradeiro ponto final, sobretudo por ser orientado por um elevado princípio moral, “nothing says that wars of attrition have to be fair”. Traduzido, nas guerras pós-modernas, a tropa fandanga e os marines devem, pum!, pum!, matar cruelmente muitos maus, todos se possível. Se não for possível, zás!, exterminar essa sub-espécie, só há uma segunda melhor solução: pum!, pum!, matar muitos maus para impressionar os restantes e os amigos deles e, pimba!, minar-lhes a moral e a vontade de serem maus. Não há outra via. Ou os maus, tunga!, são mortos ou os maus, pumba!, vêm matar os bons. Ao longo de toda a prosa, é esta clarividência que suporta o argumento do autor. Ainda bem que há bons assim. Com espírito guerreiro. Aliás, se o homem foi feito para guerrear, devemos todos ser capazes de dizer em coro o que o outro disse tomado na sua solidão, "I love the smell of napalm in the morning". Ou isso ou de pão torrado com manteiga. Segismundo.

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2004-07-08


O Vasco pôs-se a raciocínios e a congeminações. Escreveu ele no princípio da sua quarta reflexão, “realizando-se eleições [legislativas antecipadas], imaginemos agora os resultados. Primeira hipótese: a coligação actualmente no governo ganha, que é o mais provável”. Que não se pergunte como é que ele fez o cálculo de tal probabilidade. Utilizando logaritmos ou ponderadores impressionistas o espaço de resultados é necessariamente contigente. E protegido de qualquer erro. Feitas as contas, a ele, ao Vasco, deu-lhe aquele resultado. A outro qualquer pode dar outro. É a liberdade. Nicky Florentino.

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Em política, a atracção do des(a)tino tende a ser mais forte do que o efeito da gravidade. Segundo noticia a edição de hoje do Público, as trupes do BE e do PS estimam eleições legislativas antecipadas e, previdentes, actuam já em conformidade com tal cenário e estão dispostos à galopinagem. O Luky Luke a disparar também é assim. Mais rápido do que a própria sombra do gesto. Nicky Florentino.

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Por estes dias tem-se falado prolificamente em legitimidade. Ele é legitimidade para ali, ele é legitimidade para acolá. Mas, o que é que raio é a legitimidade? Não há uma resposta. Há respostas. O que significa que a legitimidade é o que é consoante a perspectiva. Por ora, as criaturas dos partidos políticos que compõem o consórcio governamental e aqueloutras que com tais criaturas estão solidárias invocam sobretudo Niklas Luhmann. As criaturas das oposições e afins, essas, invocam sobretudo Jürgen Habermas. Umas e outras, porém, sem consciência desse facto. É isto, pois, o mais próximo que se pode chegar da racionalidade e do espírito santo. Exigir mais é exigir demais. É querer ser como o pai sideral do menino Jesus. Segismundo.

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Como acusou imediatamente abaixo o Nicky Florentino, a embaixada do CDS/PP que foi em excursão ao palácio de Belém revelou ser trupe de leitura molenga e mandriona das redacções presidenciais. E lembra, por isso, essa desatinada trupe, uma cena de I’m no Angel. Esta. Tira, a personagem representada por Mae West, pergunta a um fulano com posto, bem posto, composto, “what do you do for a living?”. O fulano, solícito, responde, “I’m a politician”. Tira, de imediato, remata cinicamente “I don’t like to work either”. E como quem diz trabalhar pode muito bem dizer ler... Segismundo.

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2004-07-07


Não sei o que inquieta mais na preguiçosa e cavilosa hermenêutica revelada pelos fulanos do CDS/PP que foram visitar ontem o senhor presidente da República. Se a falta de trambelho. Se a falta de pudor. Do senhor dr. Paulo Portas e dos epígonos que o escoltaram na peregrinação ao palácio de Belém. Pois, no conjunto, as criaturas parecem não ter interiorizado uma das mais elementares regras da leitura. Se é para ler o que quer que seja - e o que o senhor presidente da República escreveu por maioria de razão -, deve ler-se na íntegra. Não apenas o que foi sublinhado ou destacado pelo traçado a amarelo flourescente. Que é uma espécie de cor de burro quando foge. Nicky Florentino.

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O que está acontecer por estes dias na pátria tem uma iniludível virtude, serve para tornar evidente uma opaca evidência: por via das eleições legislativas elegem-se os senhores deputados e não o senhor primeiro-ministro. Ou seja, por outras palavras, as eleições legislativas não permitem censurar ou aclamar governos, apenas os seus esteios parlamentares, perante os quais supostamente os governos são responsáveis. Toda esta complicada trama de ligações indirectas visa suportar um esquema manhoso de segurança e salubridade política, destinado a prevenir os desassisados desmandos da deriva dos humores gentios. Mas serve também perfeita e convenientemente para enganar os álacres patetas que julgam que a democracia tem mais a ver com povo do que com poder. Nicky Florentino.

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Quem é que inventou essa ilusão legítima, porque generalizadamente aceite e consentida pelos gentios, segundo a qual, em democracia, os governos são eleitos? Nicky Florentino.

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O que significa a estabilidade política?, um Governo com a duração de quatro anos? ou uma legislatura completa? Nicky Florentino.

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Os gentios, (con)vencidos, começaram a recolher e a embrulhar discretamente os lençóis verde-rubros com uns pagodes estampados. Tudo tem um limite, um prazo de validade, como os iogurtes. Segismundo.

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2004-07-06


Sobejam os argumentos contra ou pro a convocação de eleições legislativas antecipadas. Porém, escasseia a integridade dos arguentes. Por um motivo simples, a política é um jogo, sem resultado antecipadamente certo ou sequer estabelecido. Vale tudo. E, quando vale tudo, nada tem valor absoluto. Neste momento, o que se joga são ilusões, de parte a parte. E isso é o que torna a democracia indolor e uma espécie de paródia. Mau, mesmo, é apenas o facto de os comediantes serem cabotinos. Nicky Florentino.

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Segundo o Vasco, a criatura responsável pela actual «crise» política, pelo caos, pela instabilidade, é o senhor presidente da República. Porque se pôs em bicos de pés antes da eleição do novo presidente do PSD. E porque se meteu a auscultar umas «personalidades» - assim mesmo, entre aspas -, escrutinadas segundo um critérios que o Vasco desconhece, sobre a «eventualidade» - assim mesmo, também entre aspas, vá lá saber-se por qual raio - de eleições legislativas antecipadas. Manobras evidentemente tontas, as do senhor presidente da República, quando, de acordo com o juízo do Vasco, a solução para o caso é óbvia e lapidar: indigitar um novo primeiro-ministro que, por sua vez, formará um novo governo. Afinal, política para quê?, se é tudo tão mecânico e exacto como um relógio suíço. Para inventar problemas, obviamente. Nicky Florentino.

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Ontem, durante a entrevista televisiva a que se dispôs, a entrevistadora perguntou ao senhor dr. Santana Lopes se ele se sentia incomodado quando o apodavam de dom Juan, como fez o diário espanhol El Mundo, na edição do passado sábado. Ele, com o estilo de um campino mariola habituado a tocar para diante os macilentos bovinos da lezíria, respondeu que não, que era preferível o epíteto dom Juan ao epíteto dom Quixote. Certamente porque lhe tilintou no juízo que um macho não confunde mulheres com moinhos de vento. E certamente também porque, no instante, não lhe assomou ao cérebro que preferível, mesmo, era ter o dom do tino. Segismundo.

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Um chefe de Estado que chora depois de uma derrota da selecção de futebol torna certos futuros legíveis. Na circunstância, sabe-se, agora, que o senhor presidente da República não irá convocar eleições legislativas antecipadas. Tão certo quanto o quadrado de dois ser quatro. Gregório R.

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O gesto foi breve. O aço laminado silvou. E o corpo tombou, decapitado. O extâse que ela sentiu, por isso, não se compreende. Nenhuma dor tão sumária, tão súbita, pode impressionar ou satisfazer. A dor que se pode gozar exige vagar. Facto que a morte por execução, por ser uma encenação rápida, uma forma cerimonial de vida celebrada aceleradamente, um espectáculo de curta duração, não permite. Na economia do sofrimento dos outros, a morte é um excesso que esgota imediatamante a hipótese do prazer. Os sofridos e os sofredores querem-se vivos. Pois, sendo outros, nenhuma outra forma há de sofrerem utilmente. Ou, o que é o mesmo, de viverem. O Marquês.

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2004-07-05


O senhor dr. Santana Lopes entende que, entre outros superiores motivos, as férias das pátrias gentes desaconselham a realização de eleições legislativas antecipadas. Pois, se ao contrário do que o juízo recomenda as coisas fossem, os enfadados gentios seriam suplementarmente supliciados com as fronhas dos candidatos e et cætera e tal, o folclore habitual de uma campanha eleitoral. Este é, talvez, o mais sensato de quantos motivos contra a liquidação da legislatura em curso existem. Sobretudo porque é um motivo profilático e constituicional. E porque vela pela salubridade e pelo bem estar do povo. Rousseau já tinha dito coisa parecida. Que a democracia era uma forma de governo adequada a deuses, mas não aos humanos. Esses, por padecerem da mania de jogar ao pau com os ursos, deviam contentar-se com o engano democrático. E - não disse Rousseau, mas podia ter dito -, de tempos a tempos, no estio, deviam ir a banhos, como quem põe o mundo entre parêntesis. Nicky Florentino.

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Esta noite o senhor dr. Santana Lopes foi entrevistado pela senhora dr.ª Judite de Sousa, num programa do CanalUm. O entrevistado representou o papel do fulano sensato, confiável, empreendedor, realizador, cumpridor, esteio e garante de estabilidade política. Estampa talhada para o efeito, voz serena. O estilo. O fulano que se mostrou na televisão, porém, não era o verdadeiro senhor dr. Santana Lopes. Era outro. Encenado. Coreografado. Dramatizado. Dissimulado. Ora, também foi assim que o lobo, com pele de cordeiro, enganou o rebanho. Nicky Florentino.

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Hoje, durante a recepção à comitiva da selecção de futebol da pátria e mais uns quantos fulanos afins, tipo senhor ministro e senhor secretário de Estado, o senhor presidente da República comoveu-se. Estas demonstrações públicas de emoção e vacilo são um mau exemplo e subsidiam o processo de erosão da autoridade do Estado. Pois o que se espera (e é próprio) de um chefe de Estado é que atemorize os gentios. Não que se revele manso ou choramingas, em razão de pieguices da bola. Nicky Florentino.

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Num exercício curioso, alguém do Público perguntou a um gentio, com vinte e oito anos sobre o corpo, empregado de mesa, “quem deveria ser o próximo presidente da Câmara [Municipal] de Lisboa?”. Respondeu o Marcial, o entrevistado, “Pacheco Pereira, que tem sido razoável dentro do seu partido. Também temos Narciso Miranda ou Marcelo Rebelo de Sousa”. Os gentios são um must. É por isso que a ordem democrática, sendo a menos má, é, ainda assim, extraordinária. Sobretudo no que, enquanto composto, preserva de ordem. Porquanto nada autoriza a expectativa que assim fosse. Nicky Florentino.

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Hoje, muitos gentios vão acordar com dois problemas. A dor, o orgulho tolhido pela derrota da selecção da pátria na final do EuroDoismilequatro. E a ausência do trânsfuga senhor primeiro-ministro. Preferível era, pois, que, nos futebóis, a rapaziada tivesse vencido a selecção grega. Pois, se assim fosse, o problema hoje seria apenas um. A ressaca. Ou a falta de guronsan. Nicky Florentino.

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Segunda-feira. Regressou a vida. E o Olimpo já não é, como nunca foi, aqui. Segismundo.

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2004-07-04


Zeus não dorme. Segismundo.

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2004-07-03


Segundo notícias de ontem, a senhora eng.ª Maria de Lurdes Pintassilgo foi a uma audiência com o senhor presidente da República e informou que, em seu juízo, actualmente a pátria está a passar pela crise política mais grave desde o Vinte e Cinco de Abril de Mil Novecentos e Setenta e Quatro. Pois... e, para qualquer eventualidade, o Noé já ancorou a sua arca no mar da palha. Nicky Florentino.

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2004-07-02


Sem lançar os dados, o senhor dr. Santana Lopes entrou em jogo e, sem passar pela casa de partida, avançou até à penúltima casa. Não é excesso de velocidade. É a ansiedade típica dos pirilampos mágicos. Segismundo.

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2004-07-01


O novo senhor presidente do PSD é um híbrido, parte Zandinga, parte Gabriel Alves. Disse o senhor dr. Durão Barroso. Nicky Florentino.

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No PSD, o primeiro senhor vice-presidente passou a senhor presidente. O segundo senhor vice-presidente passou a primeiro senhor vice-presidente. É ele, agora, também, um putativo candidato a senhor primeiro-ministro. Segundo a ordem das coisas, basta haver uma renúncia. E tudo se resolve em família. Nicky Florentino.

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Parte significativa da vida nas sociedades contemporâneas é suportada por ficções. Aparentemente as coisas parecem ser assim, substantivamente podem sê-lo ou não. É esta plasticidade simbólica que permitiu transformar as eleições legislativas no engano da eleição do senhor primeiro-ministro, embora, de facto, sejam a eleição de deputados por círculos eleitorais, através de listas fechadas submetidas a sufrágio por partidos políticos ou coligações eleitorais. Para a generalidade dos gentios, em Março de dois mil e dois, o que fizeram foi escolher, votar no primeiro-ministro. Isto não é política. Também não é direito. É, sim, ilusão. Mas ilusão conveniente e ajustada ao jogo político sur scènes, que é o jogo dos fulanos, das fronhas, das figurinhas, dos cromos. É por isso que neste intante parte significativa dos gentios clama por eleições. Os gentios estão iludidos de tal modo que pretendem continuar iludidos. Se vivem no engano, cultivam o engano e esforçam-se para que ele vingue. O que se compreende.
Alguém pode preferir um corneto a um supermáxi. Se não lhe dão o desejado gelado de bolacha, o corneto, esse alguém pode tolerar um gelado de pau, o supermáxi. Não tolera, porém, ao desembrulhar o anunciado supermáxi, deparar-se com um perna-de-pau. É agravo a mais. Pois se é supermáxi, o dado, não é perna-de-pau. Supermáxi é o senhor dr. Durão Barroso. Perna-de-pau é o senhor dr. Santana Lopes. Ou qualquer outra criatura diferente do senhor dr. Durão Barroso. O tal que, em transumância, abalou para melhores pastos, lá para a Comissão Europeia ou o raio que o parta. Nicky Florentino.

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Sentia-se a enfraquecer e a arrefecer. A noite começava a cerrar-se. Uma cortina de névoa assentava sobre o lugar. O vento corria o frio, espalhando-o pelo chão. Foi por essa altura que ouviu um som ao longe. Anunciava a aproximação de corpos. Ergueu a cabeça e percebeu, cortado entre o escuro, o brilho dos olhos de quem se aproximava. Sentiu-se aliviado. Os pedidos de socorro tinham surtido efeito. Embora prostado e esgotado, incapaz, intermitentemente ia gritando aqui!, estou aqui!, para orientar quem lá vinha, ao seu encontro. Quando já sentia o calor dos corpos próximos, mas ainda não os discernia, disse, ofegante, muito obrigado... já julgava que... não me vinham acudir... Dito isto, por um instante fechou os olhos, vergado pelo cansaço e autorizado pelo sossego. Ao levantar a cabeça para encarar quem dele se aproximara mais, depois de um último suspiro, os seus olhos vincaram uma expressão de terror. Nada teve oportunidade de dizer. As mandíbulas de um lobo destroçaram-lhe a traqueia. E o sangue do Pedro derramou-se infrene sobre a terra, aquecendo-a brevemente. Mais lobos, depois, se precipitaram sobre o cadáver, rasgando-o, para o devorar. Enquanto um, em celebração, fez ecoar o uivo da alcateia. Uivo que soava a triunfo. O Marquês.

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