Lágrimas por bem saber
N’A Carvalheira, em Arcozelo, às portas de Ponte de Lima. Três, nenhum deles certamente com mais de cinco anos de idade, o Afonso, o André e o Eduardo – Piriquito, como o pai carinhosamente lhe chamava –, acompanhavam os progenitores na refeição do jantar. Faziam muito barulho pelos motivos mais incertos, mas apenas uma vez a comoção me chegou. Conto porquê.
O Afonso decidiu sobremesear um gelado próprio para infantes, um daqueles servidos em copos abonecados. Cada vez que levava uma colher de gelado à boca, o Afonso largava-se num desabrido choro durante alguns segundos, depois saboreava o gelado. A cena repetiu-se tantas vezes, muitas, até o gelado já não ser sobra. O pequeno tinha um dente a abanar, particularmente sensível ao frio. Por isso ele chorava. Mas o doce da sobremesa impeliu-o a comer a dita até ao limite. Grande miúdo, certo danado. Sofreu, mas por prazer maior do que a dor. Nicky Florentino.