Existe neste tugúrio quem, contra todos os danados princípios turcos aqui vigentes, nutra uma honorária simpatia pelo'Outro, eu. O facto tem óbvios contornos de foro patológico. A coisa raia de tal modo a metanóia que se gerou por aqui um pandemónio do caraças em razão das várias interpretações das Variações Goldberg. O caso que aqui merece registo, porém, em nada concerne à música, respeita, antes, isso sim, à aguçada e vigilante patrulha que o senhor Carlos faz das prosas que pairam na blogosfera. O homem é mesmo danado. Nesta última circunstância crispou-se com o arrivismo do senhor P. do Guerra e Pás e, dizendo-o, apostou-o. O senhor P., como quem não quer a coisa, superior, todavia, disse que o que disse foi com intenção de verberar o tom lamuriento dos autóctones gentios. E apenas porque, ainda que por embora, combata a sua própria superioridade, na resposta o mesmo senhor P. lá concedeu lamentar-se por a sociedade lá de casa, ele e a senhora sua esposa, pagar “vários barris de dinheiro de impostos” e de não ter herdado fortuna ou favores da família. Para além disso, lamentou-se também, ainda que em registo de prosápia denúncia, que ninguém da geração dele é assim, superior e tão capaz, quanto ele. E os incêndios que por aí lavraram, sim senhor, são coisa de fazer sofrer porque a malta não foi previdente nem segurou convenientemente o que é seu. Agora, continua o senhor P., é tempo de, sem demora, sepultar os que pereceram, virar os punhos da camisa para cima, até acima do cotovelo, e mãos à obra. Se acontecer haver pouca mão-de-obra disponível para a empreitada, então, o senhor P., no limite – atenção: apenas no limite! -, está na disposição de ajudar, não em medida do que for capaz, mas em proporção do que for necessário. É de operários assim que a pátria ambiciona, daqueles que não se deixam enganar, que têm tudo seguro, até a saúde dos catraios. Que isso de a vida ser mesmo assim, ser começar tudo outra vez, acontece apenas aos outros. Que, por mero acaso – a vida é isso mesmo, um cúmulo de acasos -, são justamente aqueles que não se podem conceder ao luxo de estar disponíveis no limite, apenas e só no limite, pelo prosaico motivo de que vivem já no cerco interior desenhado por esse limite, lugar onde não há seguro e onde viver é o maior acto de prevenção. Mas essa sorte é coisa que pode mudar. Bem vistas as coisas, exactamente como o senhor P. as vê, basta mudar a atitude, não resignar, mas também sem eriçar com facilidade extraordinária, pois nunca ninguém perde tudo, se sobreviver. Ou tiver um seguro. Enfim, a vida é mesmo assim, embora às vezes seja também ao invés. Como o lavrar de um incêndio. Quem tiver dúvidas que seja o primeiro a meter a mão no lume. Nicky Florentino.