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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2006-04-27


Memória do lugar do morto numa estrada de terra batida. Às vezes, para nos inclinarmos sobre a própria estupidez, a nossa, não é necessário corresponder aos estúpidos. Basta admitir a sugestão de alguém com a camisa aberta, sem gravata, e o casaco desabotoado, farda de uma banda filarmónica de um cu de judas serrano qualquer. E os dois ou três quilómetros prometidos, entre São Jorge da Beira e Sobral de São Miguel, com passagem por Vale Cerdeira e Casal de Santa Teresinha, transformam-se em treze quiómetros, sem vislumbre de qualquer cabra, mas com memória justa do cabrão que sugeriu aquele caminho. Segismundo.

Referência



Os graffiti do pátio Beckett, xi. As improbabilidades que nos cercam exigem rotinas que nos consomem e enxugam. Segismundo.

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2006-04-25


Tragam a Bula. O senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva não é o senhor presidente da República e vice-versa. No instante em que isto for evidente, deixarão de acontecer os espantos e os enganos pelos pensamentos, pelas palavras e pelas omissões. Nicky Florentino.

Referência



À lapela. Cravo é coisa de Bach, não coisa de cerimónias, disse A., quando, numa pausa da operação de aprumo para corresponder ao protocolo, tamborilava os dedos da mão direita na têmpora e tentava raciocinar sobre o que aconteceria se também ele fosse capaz de ouvir os concertos para violino de Chopin. Segismundo.

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Dias perpétuos de ser der Mann ohne Eigenschaften, vi. © Cornelius Cort. Segismundo.

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2006-04-22


Glory days. Não discutimos a cor azulibranca da glória porque não somos daltónicos. Nicky Florentino.

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2006-04-21


Títulos que fazem uma vida, mas não todos os dias, xxxi. Le Diabe au Corps. Segismundo.

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A escolha. Em movimento descendente, Red light indicates doors are secured? ou Cheated hearts? Segismundo.

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Página do livro dos excursos, x. Somos constituídos por camadas de nós, épocas sobre épocas, o que somos sobre o que fomos, o que seremos sobre o que somos, o que fomos sobre o que seremos, o que somos sobre o que seremos, fim e princípio nosso, memória, caso e projecto. Segismundo.

Referência



Arqueologia do futuro que se pressente. Os bilhetes de comboio ou de metropolitano deixados, como marcadores, entre as página dos livros assustam-o. Assusta-o, por exemplo, saber quando leu pela primeira vez O Bosque Harmonioso, de Augusto Abelaira, ou A Maçã no Escuro, de Clarice Lispector, ou O Livro das Comunidades, de Maria Gabriela Llansol, ou Photomaton & Vox, de Herberto Helder. Os tais bilhetes, como elementos arqueológicos, fazem-no cheirar a sua morte. Talvez essa sensação seja apenas uma decorrência circunstancial, produto de um fulgor da impaciência ou de insolência. Talvez. Mas é sobretudo o tempo, a sua marca, o seu ferro, deixado entre as páginas daqueles e outros livros, que o perturba. Desconhecia ele que pudesse sobreviver a determinadas distâncias, resistir sobre elas, e enfrentar as cicatrizes da passagem por aí. Com a memória há uma morte que se aproxima, pressente ele. Que se foda. Há muito tempo que ele deixou de utilizar bilhetes de comboio ou de metropolitano como marcadores de livros. O stock acabou sabe lá ele quando. Para saber tinha que fazer contas, pensar. E isso não é ignorância que o inquiete. Assim como não o inquieta o facto de os recibos da auto-estrada e do combustível para o automóvel serem elementos que a contabilidade não dispensa para servirem de marcador dos seus intervalos de leitura actuais. O rasto de tempo branco que vai ficando nos livros mais recentes inspiram-lhe uma sensação de imortalidade, presença permanente, como se não tivesse antecedentes. Envelhecer por ler, isso, é que não. Antes morrer novo. Segismundo.

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2006-04-20


Circo das representatividades. Avulsam - mais do que avultam - as soluções para os desmandos das senhoras e dos senhores a quem foi emprestada a honra e a missão de deputar. Os remédios sugeridos para tal mal vão desde a reforma do sistema eleitoral até à assinatura várias vezes ao dia do livro de presença no parlamento, passando, claro está, pela diminuição do número de criaturas em representação da nação. Todas estas medidas lá terão o seu valor terapêutico. Mas seguramente nenhuma alcança a potência e a virtude destoutra: a cativação proporcional dos assentos parlamentares em razão da abstenção eleitoral. Pois, se assim fosse, devido ao escrutínio mais selectivo, é provável que a fauna parlamentar fosse de melhor estirpe. Acaso não fosse, haveria intacta uma solução derradeira, a solução com nome de código Otelo: a praça de touros do Campo Pequeno. Ou isso ou o Parque Mayer. Nicky Florentino.

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Não há melhor regime do que a balbúrdia e os mistérios que suscita. Que durante um período de votação no parlamento não haja quorum, é como diz o outro, acontece. Que o sistema de contagem electrónica reporte mais votos do que as senhoras e os senhores da deputação com as nádegas assentes no hemiciclo, é também como diz o outro, shit happens. Mas, na Assembleia da República, durante da repetição de uma votação, que porra é que é um quorum dinâmico? Nicky Florentino.

Referência



A zooesfera e os seus satélites faunianos. Se o José reporta ou não reporta justamente o fenómeno das comentadoras e dos comentadores de blogues pouco releva. Até porque os daqui, deste tugúrio umbroso, exultaram com o título do artigo, “A fauna das caixas dos comentários”, estampado na edição de hoje do Público. Não diz tudo, mas quase. Segismundo.

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Estórias da carochinha, v. Ela, destino: minas da Panasqueira. Ele, quê?, isso parece-me o mesmo que ir a Brokeback mountain, mas em versão buraco. Ela, lá estás tu a ser preconceituoso... o que não é romântico. Segismundo.

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Os graffiti do pátio Beckett, xii. Nem drama nem tragédia, suicídio apenas. Segismundo.

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Os feitos e os defeitos de Lazy González, ii. Ela calçou os sapatos de dança e, lasciva, bateu os pés, como se exaltasse a culpa dos judeus. Lazy González não gostou. Pregou-lhe os pés ao soalho, enquanto o grupo de mariachis tocava rancheras, que ela já não podia dançar. O Marquês.

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2006-04-19


Títulos que fazem uma vida, mas não todos os dias, xxx. O.D., Rainha do Rock & Crawl. Segismundo.

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Quem és tu? Alguém olhou para o acumulado de compacdiscs d’The National e perguntou-lhe és nacionalista? Segismundo.

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Os feitos e os defeitos de Lazy González, i. Disparou três vezes sobre ele, para acertar mas não matar. O quarto tiro foi para refinar-lhe e sublimar-lhe a agonia, a morte lenta. O Marquês.

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2006-04-18


Antes pelo contrário. Há um problema de perspectiva na generalidade das tomadas de posição sobre o que aconteceu na pretérita quarta-feira na Assembleia da República. É que, bem vistas as coisas, o mal político é em todas as outras sessões ter havido quorum durante o período das votações. Nicky Florentino.

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Au revoir. Porque o Nuno foi-se, o Márcio disse à dona Bina que estava como os danados, melãocósmico. Segismundo.

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Dias perpétuos de ser der Mann ohne Eigenschaften, v. © Cornelius Cort. Segismundo.

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O calvário das palavras e dos outros. Hesitou. Naquele momento da oração sentiu inadequadas uma de duas palavras, demónio e domínio. Por necessitar de abreviar a hesitação, como solução, escreveu domónio. E prosseguiu ao encontro da próxima vítima. O Marquês.

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2006-04-17


Página do livro das sentenças, xxxi. Fazer perguntas não é necessariamente procurar respostas. Segismundo.

Referência



Strip times. Uma das consequências da modernidade é a franquia do acesso a mistérios e a redutos outrora reservados. A verdade desta afirmação raia desde o canalizador até ao ginecologista, passando pelo psiquiatra ou pelo funcionário bancário. Pois às mãos profissionais, aos oficiais e especialistas da coisa, devidamente credenciados ou com competências reconhecidas pelos necessitados dos seus préstimos, tudo se mostra, na esperança de uma terapia para um mal. Segismundo.

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2006-04-16


In famiglia. Chegar atrasado a um almoço de família é algo que se tolera a quem seja diva ou ovelha negra. Seja como for, quem se atrasa merece sempre aquele olhar de soslaio reprovador e nunca falta uma voz que lhe sopra só agora?, pergunta que visa não tanto resposta quanto recriminar. Foi por expectar isto que, para garantir que se sentiria superior no momento da provável recriminação que sobre si iria pender - caso comparecesse ao conclave familiar agendado -, ele provou um quarto da tarte de maçã que descobriu na cozinha na madrugada anterior. O expediente resultou. A recriminação foi enfática e até reforçada por libelo maternal público. Todos ficaram a saber que a senhora sua mãezinha não levou o seu prometido contributo para a sobremesa porque o filho e a gula a que empresta o corpo lhe haviam consumido, sem qualquer autorização ou concessão prévia, parte de uma iguaria por ela confeccionada. Os outros, curiosos, quiseram saber o que não iriam comer. Ele, lesto, satisfez à sua curiosidade. E sentiu-lhes a inveja, dupla inveja. Ele não só já tinha comido parte da tarte de maçã como, depois, iria comer mais ainda. Portanto, ganho dobrado. Quando se é a diva ou a ovelha negra da família, não basta a má fama. É também necessário corresponder, amén, às expectativas de quem outorga tal fama. Segismundo.

Referência



Chiaro che se la vendetta non si fa, resta la tristitia. Os ajuntamentos de família, pascais ou quaisquer outros, são uma oportunidade de confisco de juízo. Vêm os ascendentes, os laterais, os respectivos apêndices, os descendentes, vêm outras e outros, as comadres e os compadres, as amigas e os amigos, o diabo et cætera. Tudo junto, às vezes, é colégio para mais de trinta cabeças. Ele como padece de aversão a tribos, habitualmente associa-se aos que com ele concorrem, o que significa que é comensal das pequenas bestas devoradoras. E não é por acaso que ele escolhe esta companhia. Os vinte ou mais anos de diferença são, claro está, uma vantagem. Com ela disputa o lugar e o que é colocado sobre a mesa, num jogo em que ele habitual e facilmente triunfa. Mesmo quando não triunfa ali, a quente, a faca e garfo, triunfa depois, a frio, na vingança. Segismundo.

Referência



Página do livro das tentações, ii. Aquele estendal de roupa com lençóis brancos, imaculados, com o perfume de lavado, como se clamassem por uma impressão de nódoa a que é imperioso corresponder. Segismundo.

Referência



Página do livros dos excursos, ix. A vida é o produto da composição, decomposição e recomposição - não necessariamente por esta ordem - de uma pluralidade de fragmentos, ordenados num único momento, a morte, numa narrativa chamada identidade. É por isso que autenticamente o verbo ser tolera apenas a conjugação em tempos passados, não em qualquer outro tempo. Segismundo.

Referência



Memorial. Nobody fucks with the Jesus.* Segismundo.
* © Ethan Coen e Joel Coen, para o filme The Big Lebowski.

Referência

2006-04-15


O povo versus a alienação democrática. O cinismo dos gentios, materializado em desconfiança e na atribuição de apodos não estimáveis aos agentes e às instituições do espaço político, não é indício de frouxidão moral, mas de realismo. É que, conforme a oportunidade, as senhoras e os senhores em gente de Estado e que, por essa condição, auferem as honras condizentes tendem a confirmar o juízo chão dos gentios. Que é, portanto, uma espécie de algodão que não engana. Nicky Florentino.

Referência



Rumos de quem ri. Ele disse, eu sou assim e recomendo, ao fundo, virar à esquerda, o lado do coração, e dispensar as maiúsculas que não estejam em nome de gente ou imediatamente após um ponto final. São estas, em verso, corrigidas, desconforme a prova da Conferência Episcopal Portuguesa, as palavras do credo niceno-constantinopolitano, palavras que nunca te direi, mas que inflamam o meu silêncio.

Creio em um só deus, pai todo-poderoso,
criador do céu e da terra,
de todas as coisas visíveis e invisíveis.

Creio em um só senhor, Jesus Cristo,
filho unigénito de deus,
nascido do pai antes de todos os séculos:
deus de deus, luz da luz,
deus verdadeiro de deus verdadeiro;
gerado, não criado, consubstancial ao pai.
Por ele todas as coisas foram feitas.
E por nós, homens, e para nossa salvação
desceu dos céus.

E encarnou pelo espírito santo,
no seio da virgem Maria,
e se fez homem.
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos;
padeceu e foi sepultado.

Ressuscitou ao terceiro dia,
conforme as escrituras;
e subiu aos céus, onde está sentado à direita do pai.
De novo há-de vir em sua glória
para julgar os vivos e os mortos;
e o seu reino não terá fim.

Creio no espírito santo, senhor que dá a vida,
e procede do pai e do filho;
e com o pai e o filho
é adorado e glorificado:
ele que falou pelos profetas.

Creio na igreja una, santa, católica e apostólica.
Professo um só baptismo para a remissão dos pecados.
E espero a ressurreição dos mortos
e vida do mundo que há-de vir. Amén
. Dito isto, ele riu-se. E continuou a andar. Sozinho. Ciente que, no que às divindades respeita, mais vale andar só do que mal acompanhado. Segismundo.

Referência



Mr. Beast. No que concerne a alguns casos, ser bestial significa mesmo ser uma besta ou uma grande besta. Segismundo.

Referência

2006-04-14


A histerese em política. Aos catorze dias do mês de Abril na graça de seis mais dois mil anos sobre uma convenção chamada Cristo, na página nove do Público, a senhora arq.ª Helena Roseta assinou um artigo de opinião ainda na condição de “apoiante da candidatura [presidencial] de Manuel Alegre”. Nicky Florentino.

Referência



Casos de uma aristocracia democrática. O senhor presidente da Assembleia da República fez constar publicamente que irá aplicar o regimento aplicável às faltas das senhoras e dos senhores deputados às votações no plenário do parlamento. Permitam-se duas questões. É mesmo necessário fazer tal afirmação? Ou não é costume - porque norma escrita é - a aplicação das regras aplicáveis às criaturas em deputação? Nicky Florentino.

Referência



A miséria da representação política, ii. Durante largos períodos, o parlamento pátrio não existe. Existe o seu simulacro. Porque a Assembleia da República representa a nação é quando a fauna em deputação não finge e se comporta autenticamente à tuga, como se comportou recentemente, velando mais pelas respectivas vidinha e comodidade do que pela honra que lhes foi emprestada através do voto. Nicky Florentino.

Referência



A miséria da representação política, i. O problema da falta de quorum acontecido na Assembleia da República, é como o outro, releva-se, porque o povo no poder dá neste tipo de desfaçatez. Mas a assinatura da folha de presença, atestado de honra de corpo presente, que corresponde a ausência na câmara quando convocado o plenário, desculpem lá qualquer coisinha, faz lembrar acto expectável à canalha. Nicky Florentino.

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Paixão quando sexta-feira santa, ii. © Robert e Shana ParkeHarrison. Segismundo.

Referência



Paixão quando sexta-feira santa, i. © Jan Saudek. Segismundo.

Referência

2006-04-13


O exemplo não vem de cima, vem de baixo. Por falta de quorum a Assembleia da República não pôde realizar as votações programadas. É de enaltecer o caso e a coragem da casta daquelas e daqueles que se baldaram. Pois, sabendo-se que a fama da generalidade do titulares de cargos políticos é rés ao chão, foram maiores do que o preconceito e a desconfiança dos gentios. São estes pequenos e anódinos subsídios das criaturas em (suposta) parlamentação que dignificam o respectivo estatuto e permitem a ressurreição da República. Nicky Florentino.

Referência



O bom juiz de tribunal decide. Esta pergunta, “qual é o bom pai de família que, por uma ou duas vezes, não dá palmadas no rabo dum filho que se recusa ir para a escola, que não dá uma bofetada a um filho que lhe atira com uma faca ou que não manda um filho de castigo para o quarto quando ele não quer comer?”, foi lavrada num acórdão do Supremo Tribunal de Justiça. Repare-se, o princípio da pergunta é «qual é o bom pai de família que» e não «qual é a boa mãe de família que» ou, tão só, «qual é o pai que». Não adianta acrescentar prosa. A referida pergunta, por si, considerando as concepções subjacentes de paternidade, maternidade e ilustração infantil, é linha torta suficiente. Segismundo.

Referência



Títulos que fazem uma vida, mas não todos os dias, xxix. The Texas Chain Saw Massacre. Segismundo.

Referência



Os graffiti do pátio Beckett, xiii. O pecado existe apenas em dois corpos, a maçã e a mulher. Nenhum desses corpos amadurece como fruto nas mãos de quem o colhe. Segismundo.

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2006-04-12


A insustentável leveza da democracia, ii. Em termos doutrinários, a democracia tem um fundamento. Daí que, num plano duradouro, democracia e democratas se impliquem mútua e reciprocamente. Porém, as criaturas que abundam são os democratas de título. O que não é fauna suficiente. É que as inexistências não se tornam existências pela mera difusão da palavra ou pela simples adesão a um rótulo. As ilusões, essas, é que sim. Nicky Florentino.

Referência



A insustentável leveza da democracia, i. O fenómeno democrático é apelativo e tolerável justamente porque não existe. Aliás, considerando os critérios e as condições que lhe definem a identidade, é da própria natureza da democracia a improbabilidade da sua materialização. Pelo que, como surge óbvio, apenas esta percepção redime e reencontra com o regime, sem estar cativo da ilusão, mas apenas da culpa. Nicky Florentino.

Referência



Títulos que fazem uma vida, mas não todos os dias, xxviii. Mann ist Mann. Die Verwandlung des Packers Galy Gay in den Militärbaracken von Kilkoa im Jahre 1925. Segismundo.

Referência



Machine à faire du cœur. Na origem o combate parece acontecer sob um regime de indiferença. As mãos são o primeiro elemento a precipitar-se para o plateau da contenda. O sobejo chega ao corpo da batalha depois, às vezes, is there anybody out there?, tarde demais. Segismundo.

Referência



Jogo de escalas. A cegueira adormece-lhe o que as vozes lhe despertam. A nitidez das coisas, dos actos e das relações torna-se velada. Esperar não é a solução. Fugir também não. E nele apenas uma inquietude, aferir distâncias com parâmetros de solidão, sem ver. Segismundo.

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2006-04-11


Pelo dogma. Em termos de ilustração, uma coisa é ler Norberto Bobbio. A mesma coisa é não ler o tão celebrado e publicitado livro de um senhor secretário de Estado sobre o liberalismo de esquerda. Porque há males que não vêm por bem. Nicky Florentino.

Referência



Povo que lavas no rio e ninguém vê. Há democracia onde há povo. O que, na prática, significa que a democracia não existe. Por isso espanta que espante o que sucedeu em França e em Itália. Em França o primeiro-ministro genuflectiu em razão da turba na rua. Em Itália a multidão, coglione incluídos, foi às urnas. Portanto, conforme exortação ao Casimiro, cuidado com as imitações. Democracia é outra coisa. Implica povo. Ou seja, gentios dispostos em juízo e ordem. Uma hipótese remota, é o que é. Porém feitiço. Nicky Florentino.

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O modo kiss kiss bang bang. A repetição dos gestos é uma forma de síncope, nada tem de refinação ou decantação. Por isso, entre eles, os beijos tornaram-se apenas a forma do beijo. Segismundo.

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Página do livro das interrogações, xiv. A partir de que instante é que pode afirmar-se que a última vez é a última vez? e não uma outra vez. Segismundo.

Referência



Where is my mind? Um dos problemas de hoje é simples, qual é o paradeiro do livro de Kierkegaard sobre a ironia? Segismundo.

Referência



Dias perpétuos de ser der Mann ohne Eigenschaften, iv. © Cornelius Cort. Segismundo.

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2006-04-10


Causas da decadência dos últimos três séculos e hoje. O senhor Prof. Doutor João César das Neves existe mesmo? Ou é apenas uma impressão alojada na destemperada imaginação cristã que nos aflige todos os dias? Nicky Florentino.

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A mecânica. O Estado não é apenas uma besta. O Estado é uma besta paranóica, com propensão a afirmar a sua presunção por via da juridicialização do mundo da vida, conforme testemunhou Habermas. Na pátria, os exemplos do tabaco e do álcool aí estão para confirmar a referida tese. Onde o juízo não alcança, pretendem os senhores, cativos de uma imaginação de mecânico, que alcance a lei. Como é evidente, a ilusão é a valvulina dos equívocos administrados. Nicky Florentino.

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Time out. Embora sem a precisão das marés, há dias em que a orgia chega na volta do correio. Segismundo.

Referência



As redes de sociabilidade que nos tramam. Alguém o informou que outro alguém, agora, conforme lavrado em Diário da República, é chefe. Ele felicitou esse outro alguém, através de mensagem de voz gravada. Em resposta, pouco depois, via shortmessageservice, recebeu algumas palavras - estas, vai dar banho ao cão - de devolução da simpatia. Segismundo.

Referência



Capítulos de uma sequência quaresmal.
O Marquês.

Referência

2006-04-09


Títulos que fazem uma vida, mas não todos os dias, xxvii. DICTIONNAIRE INFERNAL, ou BIBLIOTHÈQUE UNIVERSELLE, Sur les Etres, les Personnages, les Livres, les Faits et les Choses QUI TIENNENT AUX APPARITIONS, A LA MAGIE, AU COMMERCE DE L'ENFER, AUX DIVINATIONS, AUX SCIENCES SECRÈTES, AUX GRIMOIRES, AUX PRODIGES, AUX ERREURS ET AUX PRÉJUGÉS, AUX TRADITIONS ET AUX CONTES POPULAIRES, AUX SUPERSTITIONS DIVERSES, ET GÉNÉRALEMENT A TOUTES LES CROYANCES MERVEILLEUSES, SURPRENANTES, MYSTÉRIEUSES ET SURNATURELLES. Segismundo.

Referência



Página do livro das vontades, ix. Ir ao Prado olhar de frente a tábua dos sete pecados mortais, por Bosch. Segismundo.

Referência

2006-04-08


Esta noite, apenas esta noite. Tau! Que interessa que Jorginho seja o sobrinho bastardo do pato Donald? Que interessa quem é Co Adriannse? Nicky Florentino.

Referência



Do ut des. Às vezes a reciprocidade é uma chatice. Não apetece dar. Quanto mais receber. Segismundo.

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Como é que diz que disse? Não, não, Little House on the Prairie?, não. Adélia Prado, p-r-a-d-o. Prado, não pradaria. Segismundo.

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2006-04-07


Dependências. Perguntou alguém, é possível prevalecer a razão quando o assunto é amor? Depende da razão, depende do amor. Segismundo.

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A judia fugosa fugida. Há delas que são assim, esquivas, conta o Afonso. Segismundo.

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Páginas de capítulos vinteedois. Hoje, aqui, estamos bíblicos. Comece-se pelo Apocalipse. Versículos catorze e quinze, “Felizes os que lavam as suas vestes, para terem direito à árvore da vida e poderem entrar, pelas portas, na cidade. Ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os impúdicos, os homicidas, os idólatras e todos os que amam e praticam a mentira”. Alcance-se, atrás, o Deutenónimo. Versículo oito, “Quando edificares uma casa nova, farás uma balaustrada à volta do tecto. Desta maneira não entrará sangue em tua casa, se alguém cair do tecto”. Recue-se até ao Levítico. Versículo vinteequatro, “Não ofereceis ao senhor um animal com os testículos pisados, esmagados, quebrantados ou cortados”. Por ora é tudo. Segismundo.

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Dies iræ. Uma entidade divina qualquer passou para além da linha amarela. Parecia prometer suicídio ou assim. Mas não, espreitou apenas para a galeria. O metropolitano demorava. E, para além da linha amarela, a tal entidade divina qualquer clamou a culpa é dos filhos da puta do costume! Não se sabe. Era e continua a ser uma suspeita. Segismundo.

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2006-04-06


Missão para os inspectores Patilhas e Ventoinha. O BE ainda existe? Ou hibernou? Nicky Florentino.

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Títulos que fazem uma vida, mas não todos os dias, xxvi. Sad Songs for Dirty Lovers. Segismundo.

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O desejo fáunico que há em cada um de nós. Aqui, na pátria, é tudo pequeno e ainda bem. Pois se, por maior, assim não fosse, ele não tinha a hipótese de desejar ser, quando for grande, como um rinonceronte. Furtivo e temperamental. Segismundo.

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Prontuário pessoal. Ele gostava de ser capaz de escrever palavras ou expressões como abrasivo de grão oitenta, Artemisia absinthium, aspersor, cadafalso, das Problem der Soziologie, desafeição, embreagem, esternocleidomastoideo, Фёдор Миха́йлович Достое́вский, há já muito tempo que nesta latrina o ar se tornou irrespirável, liofilizado, Macunaíma, Malus spp é uma especiaria, marsupilami, meteorologia, Moacyr Scliar, motocultivador, peclise digital, Philosophie des Geldes, polinsaturado, poliuretano, Rumsfeld, Sarcophilus harrisii, solstício e Wolfowitz. Segismundo.

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Idílio. Crescemos sob uma película de medo, porque, conforme disposição maternal, isso nos protege de chatices. Não saímos da casca. Dobramos a língua. Ainda assim o senhor funcionário público, anónimo como todos os outros, olha-nos com a autoridade da suspeita oficial. Dizemos sim senhor, muito obrigadinho, porque não trincamos a hóstia. E acrescentamos mas... O mas fica suspenso, porque, é-nos dito do outro lado balcão, não há mas nem meio mas. Mas - afinal há um mas - há o livro amarelo. O senhor funcionário público, que nos olha com a autoridade da suspeita oficial, fica fodido. Subitamente, metamorfose maravilhosa, descobre e revela em si simpatia e diligência que não tinham sido notadas anteriormente. Avisa, sorrindo, que não pode ceder a esferográfica porque necessita dela para o seu trabalho e não tem nenhuma outra que possa emprestar. Não faz mal. É provável que, mais providenciado, o chefe tenha. E o chefe tinha. Segismundo.

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Os graffiti do pátio Becket, ix. O anjo novo, com as asas encerradas contra o dorso, nidifica sobre a própria sombra, a sombra que vigia os destroços e as ruínas em espojo sob os seus pés. Segismundo.

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2006-04-05


O estado da arte retro. Em nome dessa confraria chamada CDS/PP, o senhor dr. Paulo Portas é o gajo certo para embirrar com a Constituição da República Portuguesa, classificando-a como “um erro histórico”. Está provado. Foi isso que sempre lhe tolheu o espírito empreendedor que, sabe-se, lhe pulsa desde as vísceras até ao hipotálamo. Foi isso que lhe equivocou os actos e as suas relações com os outros, nomeadamente quanto à sopa que foi sorvida ao jantar. E foi isso que, como um tapete voador, o levou dos meandros empíricos da sensatez hodierna para uma plataforma imaginária de outro tempo qualquer. Foi isso. Nicky Florentino.

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Voo de fomento e exterior. Uma comitiva governamental excursionou até Angola. Temerário, o senhor primeiro-ministro recrutou uma falange empresarial pátria para o acompanhar. E os senhores empresários, representando a granel um terço do produtointernobruto autóctone, à boleia, via aérea, a expensas do Estado, lá foram. É isto, este voo nacional ultramarino, o Estado mínimo a acontecer. Em desfaçatez, obviamente. Chamam-lhe diplomacia porque é mais elegante. Nicky Florentino.

Referência



Princípio de todos os dias. As maçãs são nossas amigas. Segismundo.

Referência



O prenúncio da trincheira. Em The Roaring Twenties, realizado por Raoul Walsh, mal começada a acção, James Cagney saltou e caiu sobre Humphrey Bogart. Depois veio o armistício. Depois veio o bootlegging. Depois veio a cachopa. Depois veio a tommy. E o caldo, como em qualquer tragédia trágica, entornou-se. Morreram os dois. Segismundo.

Referência



Até a um morto se muda a gravata. Porque o que importa é a maçã, sempre a m-a-ç-ã. Segismundo.

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2006-04-04


As longitudes da política em latitude. Fala-se e escreve-se amiúde de direita e de esquerda e sobre o que uma e outra são ou deviam ser. Ainda bem. Não há qualquer problema. É a linguajar que nos entendemos. Acontece, porém, que o mais das vezes o discurso sobre uma e outra é estereotipado e visa sobretudo o jogo ou o entretenimento. Não é que os fenómenos direita e esquerda sejam algo extraordinário, matéria insondável. Nada disso. O problema é sobretudo de lassidão. Para além da manifesta falta de cuidado a calibrar-se o sentido de tais categorias, poucas são as criaturas disponíveis para sofrer a angústia de descobrir o que, de facto e não apenas de paleio, são ou devem ser a direita e a esquerda. Uma das provas disto é a defesa de que a esquerda moderna deve preocupar-se sobretudo com a garantia da igualdade de oportunidades e não ater-se tanto com a redistribuição de rendimentos. É pândego este modo de afirmar a esquerda. Claro que é pungente que tantos gentios lusos creiam na sorte como via para melhorar a sua condição, porque isso é indício de um marasmo atávico que já tem bolor. E claro que a questão básica é esta: a audácia e o esforço devem ser recompensados. Mas até que limite é que o produto das vantagens daí decorrentes não alteram a estrutura de oportunidades e o acesso a essas mesmas oportunidades? Parece que os defensores da esquerda moderna não vêem o que é tão evidente, o embaraço dinâmico entre ganhos e perdas e a hipótese e a probabilidade, depois, no futuro, desses mesmos ganhos e dessas mesmas perdas. Também não é de estranhar. Os tempos não estão para grandes vistas. O nevoeiro anómico é muito. E a miopia e os astigmatismo dos videntes da direita e da esquerda não são menos. Valha-nos o facto de sermos rijos. E irmos sobrevivendo. Com a consciência, claro, que tudo isto merece ser mirado em perspectiva. E o consequente alento. Pois é provável que no Botswana ou no Việt Nam a situação seja muito pior. Quanto ao Vanuatu é caso que ainda tem que ser averiguado. Nicky Florentino.

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People try and hide the night underneath the covers. Há momentos em que perturba a necessidade de se tornar ao avesso, por já não saber-se qual é o avesso certo. Segismundo.

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Dias perpétuos de ser der Mann ohne Eigenschaften, iii. © Cornelius Cort. Segismundo.

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2006-04-03


Títulos que fazem uma vida, mas não todos os dias, xxv. Se questo È un Uomo. Segismundo.

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Modo mil-folhas. Pega-se no bolo, destaca-se a camada superior, come-se isso, come-se depois a parte inferior com o creme. Nele este deslumbramento ritual é anterior ao que, um dia, em Paris, aconteceu a Thurston Moore, dos Sonic Youth. Segismundo.

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O rapaz palimpsesto. Depois do regresso a vida foi-lhe dolorosa, porque, com obstinação, ela insistia em tatuar-lhe repetidamente a culpa, a mesma culpa, após, pouco antes, lhe a ter apagado do corpo. O Marquês.

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2006-04-02


I’m timeless like a broken watch. A Sara anda adiantada. Sete minutos. Segismundo.

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A sagração da inutilidade. O Vasco tem razão. Porque é isso ou pior. Segismundo.

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De entre todos os quirópteros, o único mocinho autêntico é o Morcego Vermelho. Na estória da Lidiane, ela não gostava do Batman. Segismundo.

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Não pelo pudor, mas pelo resto. Inês!, Inês! Segismundo.

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2006-04-01


Outro caso mental. O senhor Prof. Doutor João Carlos Espada decidiu evocar e citar Isaiah Berlin, para quem a liberdade não admitia qualificador. Liberdade é liberdade, não é liberdade xis ou liberdade ípsilon. Mas o insigne plumitivo, superior a estas lições, para além de dizer que concorda com Berlin, atestou a sua última crónica, publicada no suplemento «Actual» do Expresso, com este título: liberdade tranquila. De modo mais detalhado, a criatura verteu num parágrafo a seguinte prosa: “gostaria de observar que esse entendimento da liberdade como usufruto de modos de vida descentralizados é intrinsecamente inglês. Isaiah Berlin foi, no século XX, outro dos seus grandes teorizadores. Ele indignava-se genuinamente quando à liberdade era acrescentado um adjectivo: burguesa, ou proletária, ou progressista, ou reaccionária. Liberdade é liberdade, repetia o velho Isaiah”. Não há manifestação da vénia de acordo, mas ela transpira do discurso. Encerrado este parágrafo, o fulano inicia outro, assim: “esta liberdade inglesa, tranquila e não activista”... Porque liberdade é liberdade, apenas e só, mas é também inglesa, tranquila e não activista e não de qualquer outra raça. Nicky Florentino.

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Levanta-te e ri. Numa página da última edição do Expresso está estampada uma fotografia onde o senhor dr. Ribeiro e Castro e a senhora dr.ª Maria José Nogueira Pinto parecem rir sem freio. Riem de quê? Riem porquê? Nicky Florentino.

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Página do livro das invejas, ii. A vontade de tomar este sonho perto, se ela, que sabe isto tudo, descasca maçãs quando é madrugada, maçãs que não come. Segismundo.

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Da dinastia filipina aos filipinos que roemos com inveja. Desses, tipo Filipe, aqui, não há. Por isso allez!, allezi!, embora. Três, este, este e este, chegam. Segismundo.

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Página do livro das invejas, i. Aqui invejamos muito e em particular dois títulos, Mau tempo no canil e Tonel de Diógenes. O facto não é de hoje, pelo que não é mentira. Os motivos, como em tudo, são os óbvios. Segismundo.

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Página do livro dos googlemas. Aqui jazem muitos incautos, transviados. Uns procuravam a adega comparativa de Nelas. Outros queriam saber quanto tempo leva para dar a vouta au mudo de carro. Sobre tais tópicos, como surge evidente, nada há a declarar neste tugúrio. Segismundo.

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The x files. De todos os mistérios sem decifração, um, o carrossel jaiminho, fascina particularmente os deste tugúrio. Segismundo.

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Títulos que fazem uma vida, mas não todos os dias, xxiv. Stranger in a Strange Land. Segismundo.

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Isto não é mentira. Passada a oportunidade, ele não gosta que, à socapa, o tentem foder ou fodam. É uma mania como outra qualquer. Mas a esta, o desgraçado, manifesta um apego superior ao que é costume. Habitualmente a derrapagem para manso começa nestes pormenores anódinos. Segismundo.

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2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).