Estava o badalo a percutir a campânula de bronze da capela, a anunciar a homilia para daí a pouco menos de metade de hora, quando ele, cambaleante, regressado da estúrdia, chegou a casa. Ela fingiu que não o viu. Mas viu-o, estava à espera dele. Ele, alheio ao mundo e ao mais que fosse, dirigiu-se ao quarto e deixou-se cair, peso quase morto, sobre a cama. Começou a ressonar no instante imediato. Ela, decidida, foi no encalço da câmara de intimidade que partilhava com ele. Entrou no quarto. Puxou o cordel do arrancador e o motor da moto-serra ficou igniscente. Ele, estremunhado, com uma voz entaramelada pelo vinho, balbuciou "ó Maria!, deixa estar isso, o Inverno ainda vem longe. Eu mais logo vou tratar disso, da lenha". Foram as suas últimas palavras de atenção. Depois ela carregou no acelerador da máquina, a corrente correu sobre a lâmina, trinchou-lhe o corpo, cabeça, tronco, membros, disse "acabou-se-te a esbórnia, meu grande malandro" e abalou para a missa. Era dia de procissão também. E certamente que o povo deitaria foguetes. O Marquês.