A decisão do senhor presidente da República de indigitar um novo senhor primeiro-ministro, dispensando eleições legislativas antecipadas, é estúpida - do que tenha de virtuosa, a decisão, não interessa aqui falar, por motivos óbvios.
Ao exigir como garantia e colocar como condição para a indigitação de um novo primeiro-ministro a continuação da pauta política do décimo quinto Governo constitucional, o senhor presidente da República mete o bedelho onde sequer era suposto meter o nariz. Se é a lógica parlamentar que pretendeu preservar, como é que, depois, se insinua como vigilante da acção governativa?, armando-se numa espécie de tutor e miliciano, em tocaia, que se põe em paralelo ou sobrepõe à Assembleia da República.
A decisão tomada, na sua forma e no seu conteúdo, significa, pois, entre outras, duas coisas. Que a decisão foi, como devia ser, política. E que, se fosse outro o seu sentido, a decisão tomada não seria necessariamente melhor. Por isso, gratificante em todo este processo é a apenas a suspeita da angústia que afligiu o senhor presidente da República antes - e, se entidade divina houver com vontade assim, depois - da decisão. Pois é também para sofrer que se elegem fulanos. Se assim não fosse, o simulacro democrático seria insuportável para os (des)iludidos gentios. Nicky Florentino.