Sentia-se a enfraquecer e a arrefecer. A noite começava a cerrar-se. Uma cortina de névoa assentava sobre o lugar. O vento corria o frio, espalhando-o pelo chão. Foi por essa altura que ouviu um som ao longe. Anunciava a aproximação de corpos. Ergueu a cabeça e percebeu, cortado entre o escuro, o brilho dos olhos de quem se aproximava. Sentiu-se aliviado. Os pedidos de socorro tinham surtido efeito. Embora prostado e esgotado, incapaz, intermitentemente ia gritando aqui!, estou aqui!, para orientar quem lá vinha, ao seu encontro. Quando já sentia o calor dos corpos próximos, mas ainda não os discernia, disse, ofegante, muito obrigado... já julgava que... não me vinham acudir... Dito isto, por um instante fechou os olhos, vergado pelo cansaço e autorizado pelo sossego. Ao levantar a cabeça para encarar quem dele se aproximara mais, depois de um último suspiro, os seus olhos vincaram uma expressão de terror. Nada teve oportunidade de dizer. As mandíbulas de um lobo destroçaram-lhe a traqueia. E o sangue do Pedro derramou-se infrene sobre a terra, aquecendo-a brevemente. Mais lobos, depois, se precipitaram sobre o cadáver, rasgando-o, para o devorar. Enquanto um, em celebração, fez ecoar o uivo da alcateia. Uivo que soava a triunfo. O Marquês.