Vi. Sob o sol inclemente, duas velhas, uma delas apoiada numa bengala e na companheira, atravessaram demoradamente a praça. Entraram. Dirigiram-se à vitrina dos bolos. Entre a extensa oferta de iguarias, escolheram bolos convencionais. Um pão-de-leite com pouca manteiga para uma, a que arrastava os pés. Um queque para a outra. Radical, porém, foi a resposta que deram à pergunta, e desejam mais alguma coisa?, do garçon. Uma coca-cola, disse a que tinha escolhido o pão-de-leite com pouca manteiga. E uma imperial, disse a que tinha pedido o queque. Por instantes, ali, o tempo pareceu suspenso, a ordem do mundo pareceu revista e contida numa bolha. O encanto poético da cena durou até ao momento em que uma das velhas, a do queque, imediatamente depois de pousar o copo vazio, arrotou. Com um subsídio de ressonância gutural. Que ecoou até à esplanada. Segismundo.