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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2008-10-31


von Clausewitz now. A tropa não é roque e role, é coisa séria, bazucas, os comandos, continência, estratégia, fardas, gam, granadas, marchar, o Rambo, os rangers, recruta, os sargentos, sentido, veículos blindados e tácticas. Por isso há piadas de caserna que não são piadas apenas, são avisos também, avisos de generalado a anunciar os disparates eventuais das patentes baixas do castro. Aliás, quem avisa amigo é. Amigo da democracia, pois claro. Até porque convém não esquecer que a eventualidade dos disparates a cometer pela malta das fardas é quanto basta para conferir-lhe realidade. Ainda bem que a pátria tem forças armadas e um senhor ministro da defesa nacional para não haver ou para resolver problemas complicados. Nicky Florentino.

Referência



Teses sobre um regime, v.iii.i. O processo democrático é um processo pop off. Nicky Florentino.

Referência



Apocalipse, mon amour. Gostava de ter mais tempo. Faz uma pausa de reflexão. Não sabe se é mais tempo o que gostaria de ter. Talvez seja paciência o que necessita e deseja. Estar atrasado, ser, quem sabe?, é fodido. Segismundo.

Referência



Portugalé. Das Narrenschiff ou, em língua morta, stultifera navis. Segismundo.

Referência



melancolia zündapp

# xv
. se público, o coração é um beco. se privado, o coração é uma cave. pelo que o apelo ao coração de alguém, solicitação necessariamente domiciliária, é o apelo ao seu subterrâneo, ao continente da sua repressão e dos seus recalcamentos, ponto onde acontece a redução trágica de si. não é por acaso que no coração não há expiação dos sopros. Edgar da Virgínia.

Referência



© Francis Picabia, Jésus-Christ Rastaquouère, Paris, 1920.

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2008-10-30


Hardbodies fitness center. É provável que a criatura que encaixou uma norma manhosa sobre o regime de financiamento dos partidos políticos no orçamento do estado para dois mil e nove não exista. Como toda a gente sabe, os orçamentos do estado, este e qualquer outro anterior, incluindo os rectificativos, são gerados espontaneamente, sem mãe e sem pai. O parlamento aprecia-os e vota-os só para dar-lhes ares. Ares de coisa. E tal. Nicky Florentino.

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Teses sobre um regime, v.iii. O processo democrático é sobretudo um processo político, não tanto um processo popular. Ou seja, o mais que existe da democracia está relacionado mais com poder do que com povo. Nicky Florentino.

Referência



De Amesterdam. A Ana. Segismundo.

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Escala d’the lone ranger, i. Felatio in ore é companhia, não é algazarra. Segismundo.

Referência



manual de sobrevivência. rodou o copo entre as mãos, fazendo balançar os dois dedos de bourbon. tens frio? ele levou o copo aos lábios, depois respondeu não, estou bem. uma e outro recostaram-se. ontem estive a falar com a filha dele, pareceu-me desanimada. levaram muito tempo a descobrir a doença de que ele padecia, afinal era um mal daqueles sem importância, que, se detectado logo ou quase logo, teria tratamento, que não teve, porque o diagnóstico foi tardio. a demora do processo agastou-a tanto quanto vê-lo sofrer, sem cura e sem paliativos, a definhar dia após dia, hora após hora. o homem desmoronou-se diante dela, ela testemunhou toda a degradação dele, a física e a moral. um dia era um homem possante e activo, lúcido, severo, mas lúcido, e no dia seguinte estava retido na cama de um hospital, doente, fragilizado, sem reacção e ânimo, a desejar a morte. ele interrompeu-a. sofreu muito? ela passou a mão pela franja e pelo cabelo escorrido e prendeu-o atrás da orelha direita. julgo que sim, pelo menos ela deu a entender isso, deu a entender que foi uma jornada de calvário longa. após um compasso de espera, ela embalou o elogio. ele era um homem notável, sabes?, empreendedor, honesto, ajudou muita gente. há muita gente que está-lhe agradecida, muita gente, mesmo, empregados, vizinhança, os moços da associação, os outros do grémio, a Clementina, o Arnaldo, o Horácio, o Abílio, a Mercedes - recordas a Mercedes?, recordas a história da tomada da herdade? -, o filho da Mercedes, o Paulo, muita gente, muita gente.

veio uma trupe de moscovitas do alandroal, do redondo, de reguengos, de portel e até do alvito e da vidigueira. vieram com forquilhas e espingardas, como cães. os desgraçados pareciam mastins atiçados pela raiva ideológica, com um de reguengos a incentivar a seita, dizendo esta terra e tudo o que há nela pertence-vos, é do povo, coitados. entraram na herdade e destruíram tudo, incendiaram os tractores, a cortiça, destruíram tudo, tudo, até os currais e a cavalariça. fizeram trinta por uma linha, mas ele não saiu de casa. quando o quiseram expulsar, tiveram que ir buscá-lo. aqueles que foram à frente recolheram a boina na mão e limparam os pés no tapete antes de entrarem na casa, ainda traziam o respeito, mas a canzoada que os seguia, os que vinham atrás, entre eles o tal de reguengos, começaram a empurrar e aos gritos. com dois tiros, que rebentaram o estuque do tecto, lembram-se daquele arranjo bonito que havia no hall?, e com a voz dele, quem é que está a entrar dentro da minha casa sem ser convidado?, deteve-os ali. entretanto chegou a gnr e, como o comandante estava feito com eles, os arruaceiros, quis que ele entregasse a arma. ele não só não a entregou como ordenou à gnr que fizesse aquela gentalha sair da casa dele. sempre de arma em riste, para o que desse e viesse. tomaram-lhe as terras, não a casa, terras que ele recuperou mais tarde, porque os preguiçosos, com a mania das sestas, dos descansos, das folgas, das regalias e mais não sei o quê, não foram capazes de dar conta do recado, de as amanhar como deve ser. sem tractores, mal conseguiram arranhar a terra, cresta pelo sol. também abandonaram a maior parte da vinha, porque só sulfataram as áreas próximas dos pontos onde havia água. não admira que o raio da cooperativa tenha falido. aquela gente precisava de mando, não tinha orientação. quantos não gastavam a jorna, pequena que fosse, em vinho e deixavam os filhos e as mulheres entregues à fome e à miséria?, quantos? desorientados, assim deus os fez. mas não os fez a eles apenas. providente, porque é divina a sua providência, deus também fez outros, os capazes, para lhes dar sentido e sustento, na mesma terra, mas terra que, ficou provado, não era e não podia ser propriedade deles. deus entregou a terra a quem é capaz de arrancar dela proveito, para si e para outros, porque os proventos da terra não são para sustento exclusivo, são para outros também, para suprir igualmente as precisões alheias. mas vieram os tontos com a mania da igualdade e da fartura, querendo tudo para todos, e deu a desgraçada que deu. acaso tal ordem fosse possível, deus teria-a providenciado assim desde o princípio. se não a fez assim e assim não a concedeu aos homens, não foi por ingratidão, porque deus quer o melhor para os seus filhos, todos os seus filhos. se não a fez assim e assim não a concedeu aos homens, aos homens e às mulheres, foi porque só alguns têm capacidade de aproveitar a fortuna da natureza, através das artes do mando e da lavoura.

muita gente, muita gente. ele repetiu a pergunta, sofreu muito? surpreendida com a repetição, ela procurou-lhe os olhos, como se tivesse necessidade de confirmar a presença dele ali, naquela sala. já te disse que sim, julgo que sim. não tenho a certeza, mas, pelo que a filha dele disse, julgo que sim, sim, sofreu muito, quase de certeza. ele apertou o queixo com o anel formado pelos indicador e polegar da mão esquerda. ainda bem, sussurrou. ela ouviu o sussurro porém não o percebeu. tens frio?, insistiu ela o seu cuidado. não. ele tornou a rodar o copo entre as mãos, avançando-as e recuando-as alternadamente sobre a superfície vítrea. queres mais?, interrogou-o ao mesmo tempo que esboçou um gesto que pronunciava a intenção de alcançar a garrafa de cristal. ele recusou a oferta com um sinal, recolheu o copo sobre o colo. eram poucas as suas virtudes, menos do que as viúvas que lhe sobreviveram, reagiu ele ao elogio que ela havia desfiado. dizem que era um bom rapaz, apesar dos seus mais de setenta anos. bem, bom não era, rapaz também não. era um, um apenas, acrescentou ele. ela levantou-se incomodada com aquele discurso e virou-se, oferecendo-lhe as costas como manifesto do seu desagrado. ele seguiu-a e disse em perfeito, ele foi um. em mais do que perfeito, ele teria sido um. ela ouviu-lhe a aproximação e, sem o enfrentar, permanecendo de costas voltadas para ele, corrigiu-o, ele foi mais do que um, ele foi. depois sentiu um calor súbito que susteve-lhe as palavras, estancando-as no silêncio. algo interrompeu-lhe abruptamente a fala, calou-a. o sangue, solto pela lâmina que ela não constatou, escorria-lhe pelo pescoço. O Marquês.

Referência



© Francis Picabia, Jésus-Christ Rastaquouère, Paris, 1920.

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2008-10-29


Teses sobre um regime, v.ii.ii. Multidão não é povo, do mesmo modo que populismo não é democracia. Nicky Florentino.

Referência



Safari, vi. A liberdade de alguém começa na sua consciência do cárcere, na percepção e na sensação de que algo impede-lhe movimentos ou expressões. A vontade de sair do domínio compressor é o primeiro sintoma da emancipação. Segismundo.

Referência



La joueuse de go. Haverá algures o teu fim e o teu final. Na melhor das hipóteses serão coincidentes no lugar e no nome, página. Segismundo.

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As minhas confissões a um triturador de papel, viii

Os lábios do meu amor correspondem à perfeição instituída por deus nosso senhor amén. Essa é que é essa. Por aqueles lábios só a beleza, a verdade e, espero eu - já cansada de tanto esperar -, os meus beijos. E, se querem saber, ela tem toda a razão para dizer o que disse sobre a mosca da fruta. São os mesmos tontos que dizem que o meu amor descende do macaco que pretendem que conhecer a mosca da fruta permite saber alguma coisa sobre o autismo. Força, go, go, my love, és muito melhor do que o Karl Rove. E és a candidata melhor vestida. Não há outra candidata à coisa, está bem, mas és a melhor vestida à mesma.
Miquelina Abóbora dos Santos

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© Francis Picabia, Jésus-Christ Rastaquouère, Paris, 1920.

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2008-10-28


Teses sobre um regime, v.ii.i. População não é povo, do mesmo modo que demografia não é democracia. Nicky Florentino.

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Exercício de banda desenhada. Quando é que regressas à realidade? Qual realidade? À nossa realidade. Mas pode regressar-se à nossa realidade? Claro. Regressar, regressar?, mesmo. Sim, regressar, regressar à nossa realidade. Mas há realidade outra além da nossa? Não, além da nossa não há, há aquém. E essa outra?, é de quem? É nossa também. Então regressar para quê? Porque é preciso regressar. Regressar à realidade, tu disseste regressar à realidade, não disseste regressar apenas. Pois disse, disse regressar à realidade para facilitar o regresso, porque a realidade é o destino mais próximo para qualquer regresso. Parece-me que temos um problema. Se regressares, verificarás que temos muito mais do que um problema. Muitos problemas? Não, mais do que um problema. Porquê? Porque a realidade é mesmo assim. Segismundo.

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Trabalhos (es)forçados. Confessa, o teu nome é ausência? Segismundo.

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© Francis Picabia, Jésus-Christ Rastaquouère, Paris, 1920.

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2008-10-27


Teses sobre um regime, v.ii. O povo não existe. Nicky Florentino.

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cabaret rimbaud

# v
. madrugada vaga, ainda o prolongamento e o nevoeiro da insónia. a perturbação dos acontecimentos domésticos continua. é a ressonância das vésperas, do sangue combinado com o engano e com a insânia, com os gritos e com as vozes. acordado, o corpo inteiro, o corpo como inteiro, constitui o seu mistério maior. a sua doença também. Edgar da Virgínia.

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© Francis Picabia, Jésus-Christ Rastaquouère, Paris, 1920.

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2008-10-26


© Francis Picabia, Jésus-Christ Rastaquouère, Paris, 1920.

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2008-10-25


O amestrador de matraquilhos. Disse: “a equipa está muito bem, sabe perfeitamente o que tem a fazer para ganhar o jogo”.* E, apesar da equipa estar muito bem e saber perfeitamente o que tem a fazer para ganhar, disse também a sua esperança: “espero que os jogadores interpretem bem o nosso processo, com muito rigor e com liberdade para tirar proveito da qualidade técnica”.* O amestrador de matraquilhos é o mister Jesualdo Ferreira, a equipa referida é a do Futebol Clube do Porto, o jogo mencionado foi o que aconteceu hoje no seu estádio contra o Leixões Sport Club. Este portento futebolístico venceu. Intendente G. Vico da Costa.
__________
* in Diário de Notícias, n.º 50.974, 25.Outubro.2008, suplemento DN Sport, p. 4.

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© Francis Picabia, Jésus-Christ Rastaquouère, Paris, 1920.

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2008-10-24


Teses sobre um regime, v.i. No âmbito do projecto democrático, povo significa um colégio que voluntária e consentidamente admite uma ordem, na qual participa sob várias formas, em que é constituída uma autoridade equidistante, que dirime litígios, e forte, que garante segurança. Nicky Florentino.

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Safari, v. O que em instância derradeira constitui a liberdade?, o combate, o combate de alguém consigo antes de mais e todas as batalhas que daí decorrem, porque as consequências do combate irradiam para a identidade assim como para o espectro e o modo da sua afirmação. Segismundo.

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melancolia zündapp

# xiv
. uma pedra na cave do peito. o que significa? ou esquecimento ou espera. porquê? porque a superfície da laje não foi punçada pelo cinzel. portanto, ou um nome foi esquecido ou um nome ainda está para ser talhado na pedra. a única certeza é sobre o que está na cave do peito. uma pedra. ou, para apontar o caso com rigor, uma lápide. uma lápide na cave do peito. não há exílio cardíaco. Edgar da Virgínia.

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© Francis Picabia, Jésus-Christ Rastaquouère, Paris, 1920.

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2008-10-23


Teses sobre um regime, v. O povo é um pressuposto não verificado do processo democrático. Nicky Florentino.

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De filha/filho da puta, riscar o que não interessa, mas deixar o da puta porque é aplicável. Um gajo esforça-se por e para ser liberal old fashion, no entanto o mundo não colabora. Pela segunda vez, uma filha ou um filho da puta, de quem desconhece-se se a mãe é ou não é puta, mas a filha ou o filho que for, isso é certo, é da puta, roubou-lhe a antena da cápsula automóvel. Como as antenas para carros custam a todos, ele deseja que aconteça a quem cometeu a proeza as mesmas desgraças que ao gajo da intifada dos Smix Smox Smux. É mau? Não o suficiente. A filha ou o filho da puta que vá roubar antenas de carro para a puta que a ou o pariu. Segismundo.

Post scriptum. A propósito deste caso prático de filha ou filho da puta, algumas e breves considerações sobre a dissertação da Fernanda sobre filhas ou filhos da puta. Não é necerrário invocar o Discurso sobre o Filho-da-Puta (Lisboa, Editorial Teorema, 1977), de Alberto Pimenta, para perceber que, em princípio, a mãe é quem menos tem a ver com as filha ou os filhos da puta. É um facto que, em qualquer filha ou filho da puta, a mãe é um assunto de princípio. Porém a filhadaputice de filhas ou filhos da puta é uma questão estrita de filhas ou filhos da puta, de ninguém mais, excepto as vítimas das filhas ou dos filhos da puta, justamente quem, para além das filhas ou dos filhos da puta, constitui o motivo das filhas ou dos filhos da puta. Ou o caralho que as ou os foda.

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As minhas confissões a um triturador de papel, vii

O meu amor não é o lugar sobre onde foi lançada a primeira bomba atómica, é a face da verdade, só a verdade, nada menos e nada mais do que a verdade, no máximo possível da beleza. O meu amor é lindo. Mais do que a distância atlântica que nos aparta, talvez seja a sua beleza plena, plena porque em todos os aspectos, o que impede e impedirá a nossa felicidade. Juntas poderíamos dominar o mundo, o nome dos arredores do Alaska. Mas as forças, a das circunstâncias e a dos interesses negros e inconfessos, parecem não querer deixar que assim seja. Já choro pela falência do amor que era possível entre nós. Porém ainda não desisti. Como o meu amor também não.
Miquelina Abóbora dos Santos

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© Francis Picabia, Jésus-Christ Rastaquouère, Paris, 1920.

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2008-10-22


Teses sobre um regime, iv.v. No âmbito do processo democrático, a diversidade expressa-se e manifesta-se enquanto pluralidade política inscrita no tempo e no espaço. O que significa que, sem prejuízo do princípio de representação política, o processo democrático é histórico e local. Nicky Florentino.

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Portugalé. Uma carta de aval e desconforto. Segismundo.

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Prémio Paulo Teixeira Pinto na modalidade de poesia. Apesar de tudo, que não demorem a atribuir um prémio literário a quem roubou o computador portátil do senhor dr. Miguel Sousa Tavares. Segismundo.

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O mundo a acontecer. O excesso de crédito gera descrédito. O descrédito gera défice de crédito. O que é preciso?, confiança, porque o carrossel é mesmo assim. Segismundo.

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primavera de mil novecentos e setenta e sete. o varrão estava sob mira. mais próximo, sete podengos faziam-lhe o cerco. antes correram no encalço da presa sem obedecer a qualquer formação. os ladridos da perseguição levantaram um cenário atroz no bosque e o seu eco chegou às casas imediatamente depois da última linha de árvores. os cães venceram em velocidade o javali, alcançando-o no meio de uma clareira. à primeira tentativa para o filar, o porco-bravo investiu sobre o cão mais próximo, obrigando-o a recuar. depois tentou retomar a corrida, mas entretanto os outros cães cobriram-lhe os diversos flancos de fuga. rosnavam, ladravam, mostravam os dentes, avançando alternadamente sobre o javali, fazendo-o rodar de modo a expor-se às mandíbulas dos que se posicionavam atrás de si. em determinado momento, o javali inverteu o sentido de rotação, atingiu e desequilibrou um dos cães, avançou e afocinhou sobre ele, cortando os ganidos lancinantes do canídeo, e esventrou-o com as suas presas. ao mesmo tempo, os outros cães precipitaram-se sobre o lombo e os quadris traseiros do javardo, cravando aí os dentes, tentando rasgar-lhe a carne e derrubá-lo. grunhidos agudos silvaram na clareira, fundindo-se com os latidos de um dos cães. o javali desenterrou o focinho das vísceras do cão agonizante e, reagindo ao ataque, curvou-se sobre a sua esquerda. livrou-se de dois cães, ferindo um deles, mas o peso e o modo como estava filado pelos restantes fê-lo ficar imobilizado. cedeu uma pata, depois outra. caiu. levantou-se novamente e o vórtice do combate, envolvendo o porco-bravo e os cães, tornou a preencher violentamente aquele chão, levantado pelos grunhidos e pelos ladridos. do rodopio de carne, do embalo e do embaraço dos corpos dos animais, do modo como um se tentava esquivar e os outros o tentavam tomar, saltava sangue, que, em forma de mancha e de salpicos, tingia a vegetação circundante, a erva, as azedas, os trevos. subitamente cinco podengos, um - aquele ferido - estava mais afastado e parecia limitar-se a incentivar com latidos, estavam sobre o varrão, mordendo-o com aferro, a trincar-lhe o lombo, o pescoço, as orelhas, os quadris. a resistência do javali diminuiu até cessar. acompanhou-a o estrépito da batalha, triunfou o silêncio. ele baixou a espingarda, abriu-a, retirou o cartucho e guardou-o no bolso mais largo das calças. depois colocou a arma aberta, como quebrada, sobre o antebraço esquerdo, entre o cotovelo e o carpo, e foi ao encontro dos cães. desceu o plano inclinado da vertente a nascente da clareira. a doze passos da cena começou a assobiar, para acalmar e atrair a si os cães. a oito passos parou. agachou-se e verificou o ferimento do único cão jacente e a ganir. ergueu-se e, acto contínuo, ao mesmo tempo que avançou mais um passo, tornou a carregar a espingarda. colocou o cartucho na câmara, levantou o cano da arma até o encontrar com a coronha, destrancou a patilha de segurança, apontou e premiu o gatilho. o estrondo do disparo ecoou antes do silêncio tornar a preencher a clareira. lacerado, o javali jazia a sete passos. dois cães mortos. um tiro apenas. O Marquês.

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© Francis Picabia, Jésus-Christ Rastaquouère, Paris, 1920.

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2008-10-21


Teses sobre um regime, iv.iv. Por resultar também do processamento político da diversidade, o produto do processo democrático é incerto. Ou seja, o mais que existe da democracia é um regime de incerteza assente sobre princípios que pretendem augurar-lhe certeza. Nicky Florentino.

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We’ll always have Київ. Consta que o mister Jesualdo Ferreira é professor. De quê? Estacionamento de matraquilhos? Intendente G. Vico da Costa.

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Vintage future. Amanhã, amanhã. Há tempo. Ou depois de amanhã. Ou no dia a seguir. Há esperança sem esperança. Segismundo.

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mole, ela chamou-lhe mole. o caso meteu porrada. mão levantada e depois assente, bofetadas, murros. pontapés e arrochadas também. cacetadas zurzidas até a carne dela roxear. que haveria o pudor poder agora?, perguntava-se ele, por não ser-lhe conveniente o escândalo derramado na rua. que haveriam dizer de si?, moço cujo entusiasmo dependente da sugestão de losangos pfizer azuis. embora prostrada, ela tentava reprimir o choro. não conseguia. traços tépidos escorriam-lhe na face, bordeando-lhe os lábios. soluçava. ele recuperou o fôlego e retomou a sova. a culpa é do teu coração estouvado e rameiro, sua..., sua..., e irritado por sentir-se incapaz de terminar a frase, ele encerrou-a, toma, com mais um soco. O Marquês.

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2008-10-20


Teses sobre um regime, iv.iii.iii. No âmbito do processo democrático, a representação política não significa necessariamente consonância entre representados e representantes. Exige apenas que os princípios fundamentais do regime sejam partilhados e concretizados a um nível mínimo, o nível que permite suportar a ficção da unidade entre uns, entre outros e entre uns e outros. Nicky Florentino.

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There will be blood, sete dias. Eu jugulo, tu jugulas, elas e eles jugulam, fins e princípios. Segismundo.

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Love too soon. A antecipação ao tiro pode ser algo diferente da partida falsa, pode ser a morte. A vida compreende a triagem dos momentos, das oportunidades. Compreende também o seu desperdício. Há uma economia de ânsias, urgências, embaraços, adiamentos que qualquer pessoa gere através das suas decisões e dos seus gestos. Há também as omissões. Seja como for, o que acontece cedo demais tende a constituir-se como cofre do desencanto. De tal modo que a experiência precoce transforma-se numa espécie de bagagem que perseguirá a sua vítima até ela aprender a capacidade de demorar, até ela ser capaz de esquecer. O suicídio é outra hipótese. Segismundo.

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hotel michaux

# i, quarto 3.14
. este rapaz, porque o corpo pertence a um rapaz, seguramente que ele não é mais do que um rapaz, está a ponderar a hipótese de matar-se. outros chamar-lhe-ão suicídio, mas suicídio é semântica estatística e de repartição pública, não é isso que ele pretende. ele não quer suicidar-se, ele quer matar-se. na recepção fez menção clara ao quarto que desejava, nenhum outro, o 3.14. o quarto é duplo, como são todos os quartos do terceiro andar. por o seu pedido ter sido específico, desejo o quarto 3.14, julgaram que ele queria ficar num quarto onde já tinha estado antes e sentira-se bem. não fizeram perguntas indiscretas, apenas quiseram saber se, por o quarto pedido ser duplo - esta informação foi-lhe prestada em tom de aviso -, ele estava à espera de alguém. ele respondeu sim, mais tarde virá alguém encontrar-me, após o que desejaram-lhe uma estadia boa. o rapaz está junto à janela, que oferece uma paisagem bucólica espraiada pelo parque da cidade. está com as mãos nos bolsos das calças. continua absorvido nos seus raciocínios. se fossem cavalos, os seus pensamentos trotariam. por instantes admito interceder, interpelá-lo, talvez dialogar com ele. não sei como ele possa reagir. temo que a minha intromissão nos seus pensamentos possa sugerir-lhe algum gesto drástico, sem remissão. não tenho intenção de acelerar-lhe a morte ou, por algum motivo, ser acusado de a ter provocado. vou ficar a testemunhar, testemunhar apenas, que é agora o ofício divino. percebo que o raciocínio do rapaz é aritmético. escolheu um quarto do terceiro andar numa alusão ao triunvirato que consubstancia deus, o pai, o filho e o espírito santo. escolheu o quarto catorze por replicar, em dobro, o sete, o sete dos sete selos, das sete trombetas, dos sete cálices da ira, dos sete flagelos. tudo isto é-me familiar. mais do que familiar, é-me íntimo. por isso neste momento julgo que não devo evitar-lhe a lucidez que lhe recomenda a morte. é uma solução como qualquer outra. pode não ser uma solução definitiva, depende da consequência do que ele tentar. talvez devesse conversar com ele, instruindo-o quanto ao melhor modo de matar-se. mas, percebo, tal assistência retirar-lhe-ia o carácter voluntário que ele deseja. o rapaz quer sentir-se livre no momento em que há-de tentar tanto a aventura quanto o fim. só espero que ele não demore muito. quero saber como é que ele fará. o catálogo não inclui muitas hipóteses. os rapazes costumam preferir e tentar modos aparatosos. no entanto ele parece recatado e reservado, avesso a espalhafato. espero que ele não demore muito. Edgar da Virgínia.

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Referência

2008-10-19


Ofício de galopim. Com frequência diz-se que a democracia é isto, a democracia é aquilo. Porém o mais das vezes a política (e a democracia com ela) reduz(em)-se a uma questão de reconhecimento e (in)gratidão. O senhor José Francisco Fernandes, lavrador abastado, proprietário de chão e reses, e senhor presidente da junta de freguesia de Santa Cruz das Flores, resume o caso: “paguei a uma pessoa a telha e as portas e ela nas eleições seguintes estava na lista de outro partido. Há pessoas assim”.* De facto há pessoas assim. Nicky Florentino.
__________
* in Expresso, n.º 19877, 18.Outubro.2008, p. 11.

Referência



Vantage point. dEUS escreve-se com dê pequeno. Segismundo.

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2008-10-17


Teses sobre um regime, iv.iii.ii. No âmbito do processo democrático, a procuração pela qual é constituída a representação política não impede a participação directa, sob as mais diversas formas, em apoio ou crítica, de quem consignou procuração a outrem. Nicky Florentino.

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Actas para motosserra, vii. A sociologia é uma versão secular do refrão yes sir, I can boogie, boogie woogie e, depois, nada. Segismundo.

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Bless our tiny hearts. É menos o que cabe no coração do que o que cabe no cérebro. Não, não é uma questão de capacidade, é uma questão de incapacidade de selecção. Segismundo.

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cabaret rimbaud

# iv
. implante, transplante, desplante, a posição e o movimento, a promessa e o balanço, a sentença e o regresso do corpo pela sua via, a morte demorada. aceitam-se reclamações. os gestos não têm garantia. Edgar da Virgínia.

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2008-10-16


Teses sobre um regime, iv.iii.i. No âmbito do processo democrático, a procuração pela qual é constituída a representação política não é passível de revogação antecipada. Nicky Florentino.

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Fluxo nodoso. As horas entranham-se no corpo. Há silêncio e intervalos de Wagner nisto. Segismundo.

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As minhas confissões a um triturador de papel, vi

O meu amor dá luta, não ladra e não rosna o socialismo, vela pela família, protege a sua integridade moral, como um pit bull com baton, isto é, com bravura e beleza, como é evidente nos casos da gravidez da filha menor e da demissão do fulano que se recusou a demitir o outrora cunhado, que, pelo divórcio, atormentou-lhe e devastou-lhe emocionalmente a irmã. Porque alma do Alaska, telúrica, portanto, o meu amor resiste contra todas as adversidades, cabalas, campanhas, insinuações, orquestrações, políticas e sondagens incluídas. Mas o meu amor tarda a revelar-se, a corresponder aos meus sinais e anseios. Tanto pior. Estou a começar a ficar de olho na miss Parker. Muito melhor do que o Jack Bauer. Se ela quisesse, quisesse, mesmo, já teria capturado o Jarod há muito tempo e acabado a história, como uma vez Hegel, coitado, outra espécie de evolucionista, pretendeu que aconteceu.
Miquelina Abóbora dos Santos

Referência

2008-10-15


Teses sobre um regime, iv.iii. No âmbito do processo democrático, o princípio da representação política constitui-se em dois planos distintos, o da procuração (ou substituição consentida por outrem) e o da simulação (ou performance dramática para outrem). Nicky Florentino.

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Wälsungs. Não é boato - Siegfried é filho de Sieglinde e Siegmund, que são filha e filho de Wotan -, é um pormenor da tragédia, um pormenor de cladística apenas. Segismundo.

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Ou o romance contínuo. E tu?, hoje, por exemplo, quantos títulos já imputaste ao último livro de António Lobo Antunes? Segismundo.

Referência



as vinhas da ira, porque até ao lavar dos cestos é a mesma vindima de todos os dias e a solidão enraivece até um gajo chamado deus

“quem é esse, que vem de edom, de bosra, com as vestes tingidas de vermelho? quem é esse magnificamente vestido, avançando em toda a grandeza do seu poder?
- sou eu, o que luto pela justiça, o poderoso para salvar.
- porque, pois, são vermelhas as tuas vestes, a tua túnica, como quem pisa no lagar?
- eu pisei sozinho no lagar, e ninguém entre os povos me auxiliou. eu os pisei com ira, e os esmaguei com furor; e o sangue salpicou as minhas vestes; com ele manchei todas as minhas roupas. é que estava no meu coração o dia da vingança, era chegado o ano do resgate. olhei, e não houve quem me auxiliasse, espantei-me de não haver quem me ajudasse. então o meu braço salvou-me, o meu furor foi o meu apoio. esmaguei os povos na minha ira, calquei-os no meu furor, fazendo correr sangue pela terra”.
*
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* livro de isaías, capítulo sessenta e três, versículos um a seis.
o vírus santo.

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2008-10-14


Teses sobre um regime, iv.ii. No âmbito do processo democrático, a instituição do princípio da representação política corresponde à necessidade de ficcionar a unidade sobre a diversidade. Nicky Florentino.

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Página do livro dos googlemas. Sobre isto, tractores agrícolas ursos em Portugal, a informação não é abundante aqui. Mas poderia ser. Segismundo.

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Mais uma viagem, mais uma corrida. Um dos sintomas do tempo passado sobre o corpo é a diminuição das pressas. A maturidade gera uma sensação de soberania sobre o ritmo, uma sensação de senhor do tempo, do tempo que está e passa, do tempo que passou e do tempo que há-de passar. Com é evidente, tal sensação é uma ilusão, que serve apenas para iludir o atraso. Segismundo.

Referência



Diário de um dromocrata, v. Um rapaz foi feito para voar baixinho. Segismundo.

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o Emílio dos bombeiros voluntários. não sabe o que pode ser e prefere continuar assim, ignorando-se. começa a confiar que os beijos sabem a tristeza, os beijos, todos os beijos, incluindo os que não deu, mais aqueles que ela nunca lhe retribuiu. isto é morte demasiada, começo a cansar-me de morrer devagar. o estado dele é entre a esperança e o desespero, embora a aproximar-se deste termo. a elegia parece ser o destino a que foi sentenciado, se, pelo menos, pudesse torturar alguém, começa a ser difícil admitir a existência de um horizonte menos amaro, para aliviar-me, para consolar-me, que não seja a continuação do seu abandono, para eu não acontecer-me tão infeliz, só comigo. O Marquês.

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2008-10-13


Teses sobre um regime, iv.i. A totalidade do projecto democrático implica o princípio da representação política no processo democrático. Nicky Florentino.

Referência



A instrução dos mortificados do e pelo costume. Várias histórias, que pareciam não fazer parte da mesma história, encontraram-se agora. Uma dessas histórias é a da inversão da preponderância da parcimónia e do conforto. Antes aquela tinha ascendência sobre este, do que resultava poupança, despesa frugal, precaução contra azares, imprevistos e o futuro que só a deus pertencia. Depois o conforto tornou-se preponderante e imperativo, surgindo a vida como manda a puta da sapatilha, com aquilo a que se tem direito, o cartão de crédito, o cartão continente, tem?, o cartão fnac, tem?, a hipoteca, o crédito facilitado, as prestações mensais, a euribor, o spread e o verde código verde. A casa, o carro, as férias, o lcd, o ipod, o telemóvel trêsguê, mais a sportêvê. Quando chega aquela fase do mês difícil, tanto as gajas quanto os gajos - há males que não reconhecem a diferença sexual - já não mandam atestar o depósito do automóvel, metem dez euros de combustível apenas. Há quem diga que este é o paradigma da vida acima das necessidades e das possibilidades - possibilidades, aqui, entendidas no sentido estrito de liquidez. A par do aumento do consumo, estimulado fartamente, porque o negócio é mesmo assim - a produção é para ser vendida -, os salários aumentaram, quando aumentaram, não muito e por ora raramente acima da inflação. O que significa que parcela não dispicienda do poder de compra é subvencionada por crédito bancário (ou outro). Antigamente, quando o mundo era mais certo, os créditos eram concedidos - «concessão de crédito» é uma expressão estúpida - por prazos breves. Por exemplo, caso limite, um crédito para aquisição de habitação estendia-se, no máximo, até aos vinte anos. Agora são contratados créditos para o mesmo efeito até os eventuais netos estarem em idade e condição de contribuírem para suportar a prestação mensal. Porque é necessário instigar ao consumo, porque as pessoas precisam de consumir, porque as empresas precisam de vender, porque os bancos existem, aumentou a contratação de crédito brancário. Portanto, já não basta confortar o espírito das gentes com orações e mistérios siderais. As gentes tornaram-se exigentes, actuais. O seu corpo habituou-se às modas novas, ao que se vê na teelvisão e nas revistas, ao que, porque não são nem mais nem menos do que os outros, lhes é devido. Para além disto, tais gentes passaram a crer e a querer que a sua salvação é e seja terrena, pelo que não estão disponíveis para delongas e aguardar o juízo derradeiro post mortem. Daí que, ao financiar crescentemente a satisfação de necessidades de ordens diversas - sobretudo os prazeres medíocres ou pequenos -, os bancos se tenham tornado paulatinamente organizações de concertação e mediação económica e social. Este era o panorama maravilhoso, o panis et circencis do fin de siècle e do new millenium, do qual todas as partes beneficiavam. As pessoas porque podiam adquirir e, assim, consolar-se com as suas aquisições e ver o episódio seguinte da teelnovela. Se não tinham dinheiro, se não aforravam, não fazia mal, os bancos emprestavam - «empréstimo» é eufemismo de crédito bancário. Os bancos, porque não emprestavam apenas, ganhavam com o serviço da dívida contratada. As empresas também beneficiavam porque, para além de não terem que aumentar os salários reais - na justa medida em que os bancos supriam parte as manias da pessoas -, aumentavam a facturação e escoavam os seus produtos, consumidos precisamente por quem cujos salários reais não eram aumentados, mas que tinha lá as suas manias. Por fim, beneficiava também o estado, sob a forma de tributos vários, desde o imposto sobre o valor acrescentado até ao imposto de selo, passando pelo irc, o imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas, e pelo isp, o imposto sobre os produtos petrolíferos, e ainda sob a forma de ilusão e mansidão social. Não obstante fingido, o tipo providente da administração pública também ajudava tais ilusão e mansidão. Até que, agora, consta, há crise. Parece que não há liquidez - o que, traduzindo, significa tanto sobreendividamento quanto sobreprodução e, claro está, estupidez geral. De tal modo que, parece também, o estado tem que dar o seu aval aos bancos subscritores de dívidas junto de credores outros. E parece ainda que, para não ser pior, a malta tem que preservar a serenidade e a fidúcia. A malta quer-se mansa, como as reses prometidas ao magarefe, porque, embora possa não parecer, o caso é de res publica. Acresce que, porque há amanhã e depois de amanhã, a bolha não pode parar. Ninguém está disponível para tornar aos tempos da sobriedade do pronto-pagamento ou para juntar dinheiro até que chegue para comprar o que é desejado e necessário. Se as crises passam, incluindo as crises agudas, a necessidade de consolo mantém-se, haja ou não haja liquidez ou poupança. Aliás, é para a satisfação da necessidade de consolo que serve o consumo e é para o consumo que serve a produção e o crédito. Isto está tudo ligado, é tudo a mesma história. Pelo que, como a alienação, a mortificação é comum. Mas o conforto também. É e será. Porque não é com aleluias ou améns que agora ou no futuro se alcança o consolo. Segismundo.

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Filosofia do dinheiro. Ele já não encontra o conforto na solidão que encontrava antes ou encontra-o com dificuldade maior. Agora há sempre algo a mais, um corpo, uma voz, uma ausência, uma epifania, um fim, um olá, tens uns trocos? Segismundo.

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melancolia zündapp

# xiii
. interditos, inter ditos, percebes? não é necessária a devolução, basta a face ou a ilusão. Edgar da Virgínia.

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2008-10-10


Teses sobre um regime, iv. O projecto democrático é total, o processo democrático é condicional. Nicky Florentino.

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Artesanato. Há-de haver algo no cérebro de quem considera o casamento de pessoas do mesmo sexo uma questão de direitos fundamentais, é contra qualquer forma de discriminação - e, portanto, a favor do casamento de pessoas do mesmo sexo -, e, mesmo assim, vota contra a hipótese do casamento de pessoas do mesmo sexo. O algo que há no cérebro desse quem?, não se sabe o que é. Segismundo.

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O prémio do segundo é maior do que o prémio do primeiro. Le Clézio, está bem. E Paulo Teixeira Pinto? Segismundo.

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Uma questão de buracos. Aconteceu. O subprime, a bolha, pum. Engenho ou areia demasiada para a carroçaria, ganância ou excesso de ganância, défice ou ineficácia de supervisão e de regulação. Catrapum foi o resultado. Não obstante os apelos à serenidade feitos pelas autoridades competentes - competentes no que concerne à apelação, claro está, porque quanto ao resto é o que está à vista -, as bolsas de valores estão a bolsar. Encerram as jornadas com índices negativos. Perdas. Talvez perdas e perdas, sa. O costume. Acima, abaixo, um, dois, direita, esquerda, três, quatro, esquerda, direita, cinco, seis, going down, going seven up. Mercado, estado, estado, mercado, pim, pam, pum. Economia, dizem. É mesmo assim. Enfim, há narrativas que explicam o que não era possível prever.* Mas o que é que é possível prever?, não é? Nos buracos é que estão os ganhos. Segismundo.
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* É possível encontrar uma de tais narrativas, por exemplo, em dois livros de Ronald S. Burt, Structural Holes: The Social Structure of Competition (Cambridge, Harvard University Press, 1992) e Brokerage and Closure: An Introduction to Social Capital (Oxford, Oxford University Press, 2005).

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cabaret rimbaud

# iii
. o princípio é um lance, o corpo ainda quieto e a força que o precipita, de modo a enunciar o que é depois e o seu sentido, a conformação ou o erro, a equivalência ou o deslocamento, o destino ou a sedição, o encontro ou a perda, sempre em sangue. Edgar da Virgínia.

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2008-10-09


Teses sobre um regime, iii.iii. As garantias do processo democrático são institucionais - isto é, suportadas por corpos e procedimentos formais - e difusas - isto é, assentes em atitudes, orientações e valores com densidade cultural e nas acções e práticas individuais ou concertadas. Nicky Florentino.

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2008-10-08


Teses sobre um regime, iii.ii. Por si só e mesmo que integralmente, o povo não é o suporte do processo democrático. Nicky Florentino.

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2008-10-07


Teses sobre um regime, iii.i. As garantias do processo democrático não são exclusiva ou necessariamente democráticas. Nicky Florentino.

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Igualdade de oportunidades. De quando em quando, talvez porque o ps seja um partido político, as almas socialistas precipitam-se para a estupidez. Não por, sendo a favor, terem decidido, sob mandato disciplinado - e, portanto, imperativo e orgânico -, votar contra a hipótese do casamento de pessoas do mesmo sexo. Não, essa é a estupidez da coerência e do princípio apenas. A estupidez relevante é a que subjaz à argumentação do motivo invocado. Atente-se. O cabecilha da banda parlamentar socialista mandou dizer que o ps votará contra o casamento de pessoas do mesmo sexo em razão da oportunidade. Ou seja, o ps não é contra, mas o momento, entendem as luminárias socialistas, não é oportuno para ser a favor. Vamos por partes. Não custa admitir que o tópico casamento de homossexuais com homossexuais não é uma prioridade política da pátria. Demograficamente não é um problema modal, é um problema residual. No entanto, não sendo uma prioridade, certo é que tal matéria vai ser apreciada e objecto de votação no parlamento. Ora, deixando de lado a questão de saber se há ou não há um impertativo constitucional - imperativo liberal há - que impõe e justifica a hipótese do casamento de homossexuais, surge evidente que o ps decidiu desperdiçar ou não aproveitar uma oportunidade suscitada por terceiros, o be e o pev, alegando a inoportunidade da mesma. Claro que não foram os socialistas a inscrever o assunto na agenda. Mas, note-se, o motivo fornecido para o voto a granel do ps contra nada tem a ver com isso, com a autoria das propostas apresentadas ou até com o conteúdo das mesmas propostas, tem a ver, sim, com a oportunidade do seu agendamento parlamentar. Seguramente que a atenção dos socialistas está dedicada aos problemas da pátria, os autênticos, os verdadeiros, os colossais. Está sempre, está bem. Significa isto que, estando em missão de socorro à pátria, os socialistas são incapazes de ser sensíveis a qualquer outro problema e resolvê-lo oportunamente? Como a resposta é sim, é socialista, à ps. É procrastinar. É estupidez também. Porque as oportunidades não são para despediçar ou não aproveitar. Nicky Florentino.

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Arquivo morto. Nada perceber de política permite compreender melhor as coisas em Portugal. Como, por exemplo, o deslumbre do senhor presidente da assembleia da república em relação ao facto de os americanos gravarem tudo - conversas de gabinete e telefonemas inclusive -, para, pretende o fulano, por desígnio administrativo tudo ser dado à estampa posteriormente. Um espírito meridiano não terá dificuldade em admitir a hipótese do senhor dr. Jaime Gama. Mas meridiano é uma coisa, ingénuo ou ilusionista é uma coisa outra. Porque a gravação de tudo - promovida por quem quer que seja - não tem como objectivo maior possibilitar a devolução histórica de momentos anteriores, mas, claro está, o controlo - sob as mais diversas formas, o controlo de chantagem, o controlo de manipulação, et cætera. Pelo que convém não iludir que, não obstante o interesse histórico relativamente a tais tipos de arquivo e registo administrativos - muito diferentes dos apontamentos e dos documentos pessoais -, a vantagem que possa sobrevir depois pode ter tido um preço demasiado elevado antes. Nicky Florentino.

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2008-10-06


Teses sobre um regime, iii. O processo democrático é um processo condicionado e contingente. Nicky Florentino.

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melancolia zündapp

# xii
. estás onde tanto procuras a humanidade e não a encontras. a humanidade é um lugar onde nos procuramos e perdemos. Edgar da Virgínia.

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2008-10-03


Teses sobre um regime, ii.iii. Por si só, o processo democrático não garante a reprodução dos seus princípios, entre os quais a igualdade. Nicky Florentino.

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Se o fim é uma continuação. Mandrake é a última palavra d’O que Diz Molero. Segismundo.

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O melhor dos horizontes. Posto pela Sara. Segismundo.

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Telételé. Muito do vedetariado pátrio faz lembrar o Rufferto, o melhor amigo do Groo. Segismundo.

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As minhas confissões a um triturador de papel, v

Vi-a na televisão e estou orgulhosa. O sorriso dela não engana, significa verdade, significa triunfo. É indigno de si quem pretende que o meu amor descende do macaco. Mente quem diz que o meu amor, mais do que não saber as respostas, não compreende as perguntas. A inveja constata-se nestas pequenas insinuações, na tentativa de arremessar o ultraje sobre o meu amor - sempre tão bem trajado -, na incapacidade de admitir agora que o mundo começou e começa no Alaska. Na verdade, o mundo constitui os arredores - parece que agora lhes chamam periferia - do Alaska. Deus queira e o meu amor há-de ter os números da bomba atómica. E, desejo eu, há-de ter-me a mim também.
Miquelina Abóbora dos Santos

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cabaret baudelaire

# iv
. não perdoes à fantasia. eu jamais concedi ou concederei indulto à corrupção obesa da realidade em imagens. nunca vi vampiros, conheço documentos e arquivos que reportam a sua existência e, portanto, informado, assim os creio. para mim são suficientes as notícias, as transferências. mas não sou inocente, tão pouco desejo sê-lo. vi flores mortas, sementes vertidas sobre a terra árida, sem capacidade de apodrecerem. vi mais, quase a plenitude, a natureza nas suas agonias e nos seus sangues, e senti a exaltação que me multiplica para a comunhão. isto não é mera sugestão, assim como não é projecção. é a realidade a realizar-se, o acontecimento a acontecer, o presente, como estar e como ser, agora, aqui. e agora, aqui, sentado, vejo uma manada a aproximar-se, vigorosa nos cascos que percute no chão, de onde ergue-se o pó. eu, que estou a ver a manada a aproximar-se, sou o destino que acolhe as reses, não me desvio. ao verificar a mole de carne animada a precipitar-se diante de mim e para mim, conforme revelada nas minhas retinas, aceito que a realidade nos faz e transforma nos que somos, ipse e idem. sou realista e, por conseguinte, fatalista. aceito que sou um hemisfério da revelação, o mesmo lado do mundo que é o hemisfério que me acrescenta e complementa, como a manada que vem em corrida solta. a minha unidade é a minha confirmação dobrada, não a minha remissão ou a minha resignação. à fantasia não perdoo. que tudo seja alucinação apenas, não mais do que alucinação. não sou capaz de perdoar à fantasia. prefiro o engano. Edgar da Virgínia.

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2008-10-02


Teses sobre um regime, ii.ii. Sob o alcance do processo democrático, a igualdade é consequência, quando é consequência, também da dinâmica política, não efeito ou propósito do regime. Nicky Florentino.

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Crashmania. Fala-se demasiado de crash, crash para ali, crash para acolá. Fala-se de crash com a mesma facilidade com que se fala de cash, do nasdaq, do psivinte, da euribor, do spread, do subprime. Parece que há uma relação entre crash e todo o resto. Fala-se de crash como se estivesse a falar-se de fome. Crash é um livro de Ballard. E dois filmes, um de David Cronenberg, outro de Paul Haggis. Esta é a realidade infanda. Segismundo.

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It’s the end of the world as we know it. Um dos efeitos da modernidade é o facto de o mundo estar sempre a acabar. O que significa também que o mundo está sempre a começar depois do seu fim. Segismundo.

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a Patrocínia do nono á. encostada à ombreira, com um sorriso rematado, disse-lhe que, para isso, precisava de um êmbolo, ela cochichava um segredo à sua confidente. apreciava-o à distância, olha para ele, até é girito, não é?, sem sentir-se arrebatada, mas parece um bocadito estúpido. ambas olharam para ele, constatando-o cabisbaixo e a falar com um colega. sim, disse-lhe que fazia, o diálogo entre elas estava animado, mas apenas para o envergonhar, cortado por gargalhadas abafadas com a mão, e ele ficou todo corado, coitadito. ela continuou a olhar para ele, depois, naquela, falei-lhe no êmbolo, na expectativa de que os seus olhos se encontrassem, e pareceu-me que ele não percebeu o que eu disse, que dos olhos dele viesse um sinal. ela apertava a pasta contra o peito, tentando segurar a agitação interior que sentia, quando a amiga a tornou a interpelar. claro que não vou fazer, respondeu com rispidez, achas?, como se a repetição da pergunta da amiga tivesse uma intenção ofensiva. depois rodou o corpo sobre o pé direito e, seguindo a professora, entrou no laboratório de química. O Marquês.

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2008-10-01


Teses sobre um regime, ii.i. Sob o alcance do processo democrático, para a igualdade concorrem tanto as políticas públicas quanto as iniciativas privadas. Nicky Florentino.

Referência



A ética como intenção. Faz sentido apelar à ética dos outros? Não, não faz. A ética é um dispositivo individual, não é evangélico ou comunitário. Faz sentido apelar à vergonha ou à honra dos outros? Também não faz, porque são dispositivos de grei e, portanto, potencialmente ofensivos, não liberais. Kant há muito tempo que foi “estudar a geologia dos campos-santos” e não voltou. E Apel?, quem caralho sabe quem é Karl-Otto Apel? Podemos morrer todos mais felizes. Tipo nenúfar. Segismundo.

Referência



O triunfo dos porcos. Em Portugal nenhuma crise é maior do que a miséria do espírito, que é uma constante, particular e pública. De cima, de baixo ou medíocre, os exemplos são superiores, os exemplos são inferiores, os exemplos são medianos. É nesta miséria, execrada pelo colégio de todas as almas lusas, que os portugueses são mais iguais entre si e a si. Quase todos participam na pungência activa e passivamente. A desgraça é flagrante para uns e outros, sobretudo nos outros de uns e outros. O mais curioso é que no âmbito deste lodo quase todos beneficiam, na classificação escolar, no domicílio facultado generosamente pela autarquia local, na classificação de serviço, na promoção ou no escalonamento profissionais, no concurso público - que o mais das vezes tem de público apenas o que não conseguem fazer que tenha de privado, o nome -, no lugarzinho, na sinecura, na honra, no subsídio, na comparticipação - o nome obtuso do subsídio que não pode ser chamado subsídio -, no jeito, no jeitinho, na simpatia, na ajuda, na tolerância- que não é tolerância, é jeitinho -, no apoio, na justiça - que não é justiça, é complacência ou cumplicidade -, no favor, na deferência, enfim, porque é deferimento o que é pretendido. À custa de quem beneficiam quase todos? À custa de si, obviamente. Ora vem disto algum mal para o mundo? Vem. Todavia o mundo é deveras grande. E quem nunca mamou, incluindo quando era pequeno, que lance a primeira pedra da calçada. Sim, que isto, a pátria, é um curral, porém calcetado. À portuguesa. Segismundo.

Referência



o Teodoro do nono cê. a voz em sussuro e alarme, pá, eu perguntei-lhe se ela me fazia um bico de Bunsen e, ele não estava à espera que ela compreendesse o pedido, ela disse-me que sim, pá, que fazia, na boa, menos ainda que ela lhe respondesse positivamente. as mãos transpiradas, o que é que faço agora?, pá, a expectativa em relação ao conselho do amigo, será que ela faz mesmo?, a dúvida, quero tanto que ela faça, o desejo. e os olhos dele, ainda inclinados para baixo pelo espanto, também pelo embaraço, viram os sapatos dela a entrar no laboratório de química. O Marquês.

Referência

2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).