Arquivo morto. Nada perceber de política permite compreender melhor as coisas em Portugal. Como, por exemplo, o deslumbre do senhor presidente da assembleia da república em relação ao facto de os americanos gravarem tudo - conversas de gabinete e telefonemas inclusive -, para, pretende o fulano, por desígnio administrativo tudo ser dado à estampa posteriormente. Um espírito meridiano não terá dificuldade em admitir a hipótese do senhor dr. Jaime Gama. Mas meridiano é uma coisa, ingénuo ou ilusionista é uma coisa outra. Porque a gravação de tudo - promovida por quem quer que seja - não tem como objectivo maior possibilitar a devolução histórica de momentos anteriores, mas, claro está, o controlo - sob as mais diversas formas, o controlo de chantagem, o controlo de manipulação, et cætera. Pelo que convém não iludir que, não obstante o interesse histórico relativamente a tais tipos de arquivo e registo administrativos - muito diferentes dos apontamentos e dos documentos pessoais -, a vantagem que possa sobrevir depois pode ter tido um preço demasiado elevado antes. Nicky Florentino.