O triunfo dos porcos. Em Portugal nenhuma crise é maior do que a miséria do espírito, que é uma constante, particular e pública. De cima, de baixo ou medíocre, os exemplos são superiores, os exemplos são inferiores, os exemplos são medianos. É nesta miséria, execrada pelo colégio de todas as almas lusas, que os portugueses são mais iguais entre si e a si. Quase todos participam na pungência activa e passivamente. A desgraça é flagrante para uns e outros, sobretudo nos outros de uns e outros. O mais curioso é que no âmbito deste lodo quase todos beneficiam, na classificação escolar, no domicílio facultado generosamente pela autarquia local, na classificação de serviço, na promoção ou no escalonamento profissionais, no concurso público - que o mais das vezes tem de público apenas o que não conseguem fazer que tenha de privado, o nome -, no lugarzinho, na sinecura, na honra, no subsídio, na comparticipação - o nome obtuso do subsídio que não pode ser chamado subsídio -, no jeito, no jeitinho, na simpatia, na ajuda, na tolerância- que não é tolerância, é jeitinho -, no apoio, na justiça - que não é justiça, é complacência ou cumplicidade -, no favor, na deferência, enfim, porque é deferimento o que é pretendido. À custa de quem beneficiam quase todos? À custa de si, obviamente. Ora vem disto algum mal para o mundo? Vem. Todavia o mundo é deveras grande. E quem nunca mamou, incluindo quando era pequeno, que lance a primeira pedra da calçada. Sim, que isto, a pátria, é um curral, porém calcetado. À portuguesa. Segismundo.
said...
Está tudo bem neste país de bananas. Todos vivem como querem. Dos favores. Porque como diria o José Adelino Maltez, "continuamos sem assumir que a questão é, acima de tudo, moral e cultural, numa terra onde continua a vigorar o bem pregas frei tomás e a moral do sapateiro de braga, porque enquanto o pau vai e vem folgam as costas..."