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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2004-05-31


O sangue tem um segredo chamado plasma. Segredo que só a dor permitiu revelar. O Marquês.

Referência



O senhor Ferro pode ser o Breve. Mas o senhor Portas não é o Eterno. Pois até as pilhas Duracell, que são o que são, acabam. Segismundo.

Referência



O senhor presidente da JC disse num comício que viu o senhor Prof. Doutor Sousa Franco a ser perseguido por dois cobradores do fraque. Até é de acreditar que sim. Seja como for, as alucinações são experiências íntimas. Não devem ser partilhadas. E interessante, verdadeiramente interessante, era saber se a criatura já alguma vez viu veados a comer coelhos. Pois isso, sim, seria uma revelação. Há pós que a ajudam. E ácidos também. Segismundo.

Referência



O artigo do senhor presidente da República estampado na edição de hoje do Diário de Notícias visa aliviar-lhe a consciência de uma responsabilidade. Nada mais. É equivalente ao comportamento daqueles que, com o marfim das mandíbulas em mau estado, um bafo de onça e nenhum costume profilático, lavam os dentes antes de irem a uma consulta no odontologista. Não faz qualquer diferença. Mas julgam e parece que faz. Nicky Florentino.

Referência



No embalo de um ritual de galopinagem, disse o senhor dr. Miguel Portas, “todos os votos contam, de Bragança ao Funchal”. E ainda bem que o disse. Muitos há que não sabiam dessa verdade. Sabiam apenas a outra. Toda a abstenção não conta, do Funchal a Bragança. Nicky Florentino.

Referência



Acusou o senhor dr. Paulo Portas o senhor cabeça de lista da candidatura socialista ao Parlamento Europeu, “ele não é apenas o pai do défice. É o pai, a mãe, o avô, a avó, o gato e o periquito do défice”. Ora, surge importante que os assessores do fulano lhe expliquem que nem todas as criaturas da plateia conseguem acompanhar tão afadigado raciocínio. É muita coisa. E, já agora, défice?, o que é isso? Nicky Florentino.

Referência



Ontem, durante a inauguração da nova ponte sobre o Mondego, em Coimbra, o senhor primeiro-ministro disse “vamos deixar as polémicas para os tribunais”. O que significa que, no caso, vale não apenas o princípio da separação de poderes, mas também o princípio de separação dos problemas. Ao Governo a cerimónia e a festa. Aos tribunais as polémicas. É boa e feliz doutrina, a do dr. Durão Barroso. Nicky Florentino.

Referência

2004-05-30


Entende o senhor dr. Ferro Rodrigues que a eleição do próximo dia treze de Junho constitui a oportunidade para “castigar aqueles que estiveram acefalamente ao lado do senhor Bush e do senhor Aznar”. Amanhã, o dito senhor dr. ou alguém do cerco ainda há-de sentir-se ofendido com algo que seja dito pela concorrência. Merece(m). É pela dor, não pelo juízo, que melhor se aprende. O Marquês.

Referência



Em exercício de propaganda e galopinagem, disse o senhor secretário-geral do PS que “os portugueses perceberam que têm de utilizar a sua maior arma, que é o voto”. Esqueceu-se talvez de um pormenor, porém. Utilizar essa arma significa ficar desmuniciado. O que em qualquer circunstância é má, muito má, política. Nicky Florentino.

Referência

2004-05-29


O senhor deputado Manuel Alegre conseguiu materializar o significado da palavra nada. Para ele, é a forma e o conteúdo do que foi o congresso do PSD. É lenta a faculdade de materialização do senhor dr. Alegre. Pois congressos do PS houve que em nada se diferenciaram politicamente deste último congresso do PSD. Podia já ter apreendido nessa ocasião o que é o nada, em facto. E não depois. Nicky Florentino.

Referência



Em entrevista ao Expresso, disse o senhor dr. Miguel Portas, “cada vez mais, em política, não basta ser, é preciso parecer”. Um democrata não se engana assim. Um populista sim. Nicky Florentino.

Referência



Escreveu o João, “o que entendemos nós por arte? A pergunta é mais velha do que o sexo”. O que quer que isto signifique, é provável que não seja verdade. Segismundo.

Referência



A fronha da edição de hoje do Expresso é sintomática. O cartoon de António denuncia o aproveitamento político feito pelo primeiro-ministro em relação à vitória do Futebol Clube do Porto na final da Champions League. Ao mesmo tempo, no topo da página, sob o logotipo do Expresso, surge estampado um cachecol, aberto, do Futebol Clube do Porto. O que é feio o senhor dr. Durão Barroso fazer, o jornal do senhor arq.º faz também. Mas para parecer bonito. Segismundo.

Referência



Entende o senhor cardeal patriarca de Lisboa que "o advogado é o homem do discernimento". É simpático o senhor dom José Policarpo, quando se esquece que o que o motiva, ao advogado, é sobretudo a fungibilidade dos honorários e não tanto a verdade ou a justiça. Segismundo.

Referência

2004-05-28


O Vasco ainda há-de chegar ao dia de Pinochet e de outros simpáticos facínoras dextros... Segismundo.

Referência



Começa hoje uma campanha eleitoral. A eleição é dia treze de Junho. É para o Parlamento Europeu. Mas, chiu!, é segredo. Ou grau zero. Não interessa. Segismundo.

Referência



A cosmopolítica está domiciliada muito lá longe. É por isso que a democracia, na sua órbita doméstica, não a alcança. Nicky Florentino.

Referência



O senhor presidente da Assembleia da República, numa próxima conferência de líderes parlamentares, irá suscitar a discussão sobre a escalada de violência verbal que se tem verificado nos debates parlamentares. É isso o que preocupa a sua beata sensibilidade, problemas que eles próprios, os deputados e os membros do Governo, inventam. A política é também isto, o sturm und drang da cidadela que os políticos habitam. Nicky Florentino.

Referência



Segundo a edição de hoje do Público, o governo anunciou ter criado o SistemaNacionaldeGestãodeCrisesGovernamentais, um dispositivo orientado para a resposta política imediata a cenários não estimados e imponderáveis. Uma espécie de supositório para qualquer crise que se manifeste e que faça eriçar os pêlos dos membros do core governamental, é o que é. Nicky Florentino.

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2004-05-27


De acordo com crónicas recentes, o debate parlamentar terá baixado a um nível que raia o ground zero. Entre os gentios, ninguém se apercebeu. O hábito, como o ópio, tem este efeito entorpecedor. Nicky Florentino.

Referência



No terceiro capítulo das suas reflexões sobre «podem hoje as democracias conduzir uma guerra?», estampado na edição de hoje do Público, escreveu o José, “pode ser uma ingenuidade, uma perigosa ingenuidade, mas a democratização, mesmo manu militari, aparece hoje como uma solução preferencial para garantir a estabilização do mundo, em particular no Médio Oriente”. Até pode ser que sim. Mas subsiste um problema. Presumindo que o mundo não se esgota hoje e continua amanhã, que fazer? Qual o alcance da democratização manu militari? Até onde a democratização manu militari democratiza? Pelo acumulado de experiências accionável, o que se sabe é que a democracia é uma forma política volátil. Se pode ser exportada num pack que, na montagem, inclui o recurso a operações bélicas, não consta que a democracia se sedimente sob o uso continuado dessas operações. Pois provavelmente acontece que a democratização manu militari tende a não permitir que a democracia se entranhe ou sequer que se estranhe, porquanto as condições do seu assentamento são outras, de longa e paciente fermentação histórica. Por isso, só faz sentido a ingenuidade do José se ele a reportar a um lastro de tempo mais longo, não à urgência de hoje. Que, ainda assim, existe. É esse, au grand complet, o problema. Nicky Florentino.

Referência



Por mais audaz que seja a hermenêutica da tradução do relatório da Amnistia Internacional sobre os direitos humanos, em nenhuma passagem foi aí afirmado que a situação actual é a pior dos últimos cinquenta anos. Por isso, tão necessário quanto ter a noção das proporções, como exorta – e bem – o director do Público no editorial da edição de hoje – pois o domínio da escala é uma das primeiras condições do juízo –, é não reagir, como os cachorros de Pavlov, à neocon e saber ler Inglês. Para além disso, a relevância do relatório da Amnistia Internacional reside no facto de ser, como sempre foi, um relatório político. Que o último desses relatórios inclua os EstadosUnidosdaAmérica no rol de casos objecto de libelo, cruzes!, credo!, não é suficiente para o desqualificar. Pois o mundo não é tão consoante a vontade quanto é o que é. Nicky Florentino.

Post-scriptum. O Vital zurziu informada, valente e elegantemente no «arranjo» editorial do director do Público.

Referência



O Rui chamou epistemólogo a Wes Craven. Por platónica consideração a Neve Campbell, a Julia Salinger de Party of Five, podia ter-lhe chamado nome pior, muito pior. Segismundo.

Referência



A propósito das armas de destruição em massa iraquianas que não foram detectadas e encontradas, escreveu o José, “os que falam levianamente de «mentira» deviam estudar os factos com mais atenção e menos propaganda”. Bom conselho. Porém, bom conselho tanto para uns, os que falam levianamente de «mentira», quanto para os outros, os que falam convictamente de «verdade». Segismundo.

Referência

2004-05-26


Será a cor da noite, esta, azuli branca? ou miséria? Gregório R.

Referência



Onde é que te procuras?, perguntou eluma. Em mim-mesma, respondeu eloutra. Porém não me encontro, acrescentou. Eluma, súbito, com uma bofetada, agrediu eloutra, que se queixou da ofensa. Eluma disse, mas estás aí, em ti. Pois é aí que sofres, é aí que te sofres. O Marquês.

Referência



Em Gelsenkirchen, gentios, trajados de azuli branco, tomados por um frenesim que não faz parte do kit-natureza da condição humana, agitam-se perante a câmara da RádioTelevisãoPortuguesaUm. O povo, mesmo quando festeja, é medonho. E consegue ser pior do que o que a imaginação permite alcançar. Segismundo.

Referência



Segundo a edição de hoje do Público, mais de vinte e cinco por cento das crianças nascidas em Portugal em dois mil e dois não têm pais vinculados matrimonialmente. O senhor Prof. Doutor João Carlos Espada e o senhor Prof. Doutor João César das Neves, para além de terem encomendado umas quantas missas pela alminha de tais crianças, vão colaborar numa campanha de abrenunciação do fim do mundo. Este é apenas mais um prenúncio. Segismundo.

Referência



Disse o senhor dr. Miguel Portas, “encaro esta campanha para as europeias como o grau zero da política”. Aí está, este é o máximo de consciência possível de um candidato a eurodeputado. Segismundo.

Referência



A propósito da eleição para o Parlamento Europeu, disse o senhor eng.º João de Deus Pinheiro, “é virtualmente impossível em quinze dias fazer uma informação e sensibilização que devia ter sido feita durante anos”. Por isso prometeu envidar todos os esforços no sentido de, no futuro – é sempre tudo no futuro que se cumprem as promessas –, fazer propaganda em prol da União Europeia. Aposto, dobrado contra singelo, em como nesse desafio o senhor eng.º não chegará ao segundo buraco, qualquer que seja o número de pancadas abaixo do par. Pois o golf da puta vida é mais sinuoso. Segismundo.

Referência



Segundo o senhor dr. Isaltino Morais, o seu sucessor no décimo quinto Governo constitucional “era uma espécie de extraterrestre no Ministério do Ambiente”. Vai daí, aconteceu a revolta das águas... Nicky Florentino.

Referência



A senhora patroa das finanças públicas esqueceu-se de declarar umas mais valias, tal como uns inscrevem os custos de aquisição de shampoo no item das despesas com a saúde. Para além disso, consta que a senhora ministra de Estado e das Finanças foi poupada à coima que impende sobre todos os relapsos fiscais. É nestes pequenos pormenores quer Portugal se confirma exacto. Nicky Florentino.

Referência



Em respeito pela sua identidade, a Assembleia da República devia ser um lugar cercado, interdito ao povo. Se em democracia se elegem representantes é justamente para que o parlamento funcione como o cordão sanitário que impede a turba da rua de governar. Nicky Florentino.

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2004-05-25


Disse o senhor Prof. Doutor Sousa Franco, “os portugueses não são estúpidos e quem julga que eles são estúpidos é que é estúpido”. Pelo que, se quem julga que os portugueses são estúpidos é um português, das duas uma, ou não é português ou não é estúpido. Segismundo.

Referência



O líder da bancada parlamentar do CDS/PP tem a intenção de impedir que os fulanos que, antes, protestaram galharda e convictamente nas galerias do hemiciclo da pátria possam voltar brevemente a acompanhar os trabalhos parlamentares. Pelo que, em conformidade, à entrada da Assembleia da República, em local visível, será afixada, por certo, uma placa com a seguinte inscrição, a gerência reserva o direito de admissão. Como em qualquer discoteca. Nicky Florentino.

Referência



O senhor dr. Alberto João Jardim advertiu. Se o senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva se perfilar como candidato a presidente da República, ele mesmo investirá contra tal hipótese. Dispensa, inclusive, que seja agitado qualquer trapo vermelho. Pois entende ele, na sua suma doutrina e parca imaginação, que "é necessário afrontar o regime, em busca de um novo regime". Como quem marra contra o comboio, esse demónio em movimento. Nicky Florentino.

Referência



A propósito de um madrugador raide sobre uma tenda onde se festejava um casamento, disse o general Mark Kimmit, porta-voz militar norte-americano estacionado no Iraque, “os maus também têm festas”... O mundo parece estar andar ao contrário. A farsa acontece antes da tragédia. O que faz com que, por assim ser, a comédia seja já, ela-mesma, origem de dor. O Marquês.

Referência

2004-05-24


A propósito do ostracismo a que Valentim Loureiro terá sido votado no magno encontro da trupe social-democrata, disse o senhor dr. Isaltino Morais, “estamos a cair num excesso de comportamentos politicamente correctos, em que certas pessoas do PSD parecem ter medo de conviver com alguém que tenha um problema num tribunal”. Ainda bem, pois, que há ainda uns quantos resistentes e audazes camaradas que não se deixaram cativar por franciscanos pudores, que sabem que essa coisa chamada lei é mais dúctil do que plasticina e que se atreveram a votar na lista guê que o tal fulano que é tio de um taxista na Suíça encimou para o Conselho Nacional da confraria. Nicky Florentino

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Gabou-se o dr. Durão Barroso, “nunca me viram a mim, e ao PSD, a lançar processos de intenção”. Pouco antes a mesma criatura, a propósito do Eurodoismilequatro, tinha proferido a seguinte sentença, “responsabilizo directamente o partido comunista por alguns problemas que venham a ser criados”. Coerência?, processos de intenção? o que raio é isso? Tino não é certamente. Nicky Florentino

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Ser pulha dentro de um quarto com janelas para fora é ser pulha todos os dias. Nicky Florentino e Segismundo.

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2004-05-23


George Walker Bush caiu de uma bicicleta animada. Um acidente num acidente, é o que é o tal Bush júnior. O Marquês.

Referência



O senhor presidente do PSD disse que elas, as mulheres, eram importantes à causa. E, de facto, são. Em oitenta e duas criaturas eleitas para os diversos órgãos da respectiva pandilha, catorze, tantas!, são mulheres. O que significa que a sua relevância não é, como nunca foi, estatística. Mas de uma qualquer outra extraordinária ordem. Segismundo.

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O Luís, ternurento, chamou ao dr. Pedro Santana Lopes o príncipe da acefalia coroada de gel. Provavelmente não se enganou. Segismundo.

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2004-05-22


Entende o senhor presidente do PND que num cenário em que a abstenção na eleição para o Parlamento Europeu atinja os sessentaecinco por cento se deveria repetir tal eleição. A ideia, embora peregrina, é interessante. Mas pior do que uma outra. A de considerar o contingente abstencionista como tendo direito a representação política em Strasbourg. Se assim fosse, no cálculo da distribuição de mandatos segundo a média mais alta d’Hondt, o número de lugares afectos à abstenção ficariam por ocupar. O que seria provavelmente a reforma que mais garantias de salubridade política do colégio de eurodeputados proporcionaria ao povo, essa mole de gentios iludidos numa ordem. Nicky Florentino.

Referência



Durante o discurso de abertura do vigésimo quinto congresso do PSD, clamou a voz do senhor dr. Durão Barroso que a coligação Força Portugal!, enquanto proposta eleitoral para o Parlamento Europeu, é constituída por “uma lista de gente nova encabeçada por João de Deus Pinheiro”. Ou seja, é um exército de joviais eucaliptos, incapazes de jogar golf, que é prática de gente vetusta, que finge não arrastar o chinelo. Segismundo.

Referência



Segundo o senhor presidente do PSD, “não há completa liberdade de expressão no Açores”. É isso e outra coisa, as vacas lá do arquiélago não dão manteiga. O anticiclone não deixa. Segismundo.

Referência

2004-05-21


Ontem, em Viana do Castelo, no âmbito das comemorações do dia da Marinha, o senhor ministro de Estado e da Defesa foi valentemente vaiado. Comentou ele o facto nestes exactos termos, “apupos houve, e eu tenho muita experiência disso, mas também houve muitas palmas, graças a Deus”. Graças a quem foram os apupos, não se sabe bem. Parece que, em relação a esses, deus, o omnipotente, nada tem a ver. Pois deus que é deus não existe sempre. E também tem direito às suas ausências. Nicky Florentino.

Referência



Manhã cedo. Alguém informa, foi substituído o ministro das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente. Quem?, pergunta um coro de gentios. Um qualquer..., respondeu, em suspenso, o tal informador madrugador. Como é que um Estado pode ser respeitado?, se não é reconhecido por aqueles que lhe devem respeito. Nicky Florentino.

Referência



Uma trupe de animadas gentes desse mar-chão de todos que é a sociedade civil entende que os portugueses devem resgatar a sua auto-estima, supostamente perdida. Para quê? Para aprenderem que não é necessário andar a correr as etapas da história, uma a uma. Podem dar-se as mesmas voltas com economia de passos e boa disposição. Basta convencer os outros, das outras pátrias, que eles é que são uns degraçados e deviam andar embrulhados na tétrica miséria que disfarçam de desenvolvimento. Segismundo.

Referência



O congresso do PSD, que se realizará por estes dias, em Oliveira de Azeméis, será uma espécie de peep-show, com uma diferença apenas. Dispensa a moeda. Em tudo o mais, o que vai ser visto, já se sabe antecipadamente o que é. Por isso, o que for visto é apenas para, como Tomé, confirmar que é como se esperava. Nenhuma surpresa acontecerá. O ritual cumprirá o destino de se cumprir. E, como qualquer ritual, cumpre-se nada sendo, sendo apenas encenação e coreografia. Gregório R.

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2004-05-20


Segundo consta, o manifesto eleitoral da coligação Força Portugal! argumenta em favor de um referendo sobre a dita Constituição europeia. Segundo as palavras do cabeça de lista da referida coligação, o senhor eng.º João de Deus Pinheiro, “seria uma excelente ocasião para debater a Europa e por isso preconizamos um referendo para debater a aprovação do novo tratado”... Para debater a aprovação do novo tratado, não para debater o novo tratado. Está dito por qual raio em tempos, ainda não muito idos, o PSD defendia afanosa e afincadamente que a data da realização do referendo fosse a mesma da eleição dos representantes portugueses para o Parlamento Europeu. O povo, cruzes!, credo!, é um álacre colectivo de insanos, do qual a política deve ser preservada. É o que é. É o que sempre foi. Pois a democracia, louvado seja quem ordena, é apenas uma ilusão. Nicky Florentino.

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A edição de hoje do Público estampa um artigo do senhor ministro da Administração Interna sobre a política de segurança. Qual é a sua utilidade? Ficamos a saber que o senhor dr., para aquém de Figueiredo Lopes, se chama António Jorge de. Apenas isso e nada mais. Nicky Florentino.

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Schröeder levou uma bofetada de um gentio. Blair foi atingido por um saco com pó estranho. Afinal, o mundo, cá fora, não é muito diferente de Abu Ghraib. Ele há corrécios por todo o lado, a desafiar a ordem escrita nas regras e nas convenções e a abusar até de primeiro-ministros. Na prática, o mundo está (demasiado) solto, mas não tanto que permita cumprir-se essa inevitabilidade que é a selecção natural dos espécimes. No caso concreto, verifica-se que, em razão da imperial democracia vigente, os abusos ainda são indiscriminados e pouco selectivos. Pelo que, neste instante, ainda não se sabe quem são, afinal, os bons (e os maus) desta história. Segismundo.

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Essa coisa chamada Santa Sé é um epifenómeno institucional a que se justifica devotar alguma curiosidade. É que, para além de aconselhar as senhoras católicas e de bons costumes e actos a não contraírem consórcio com sarracenos – por haver melhor e mais saudável doença para contrair voluntariamente –, recorda a dita casa que nos termos da douta e santa doutrina respectiva os laços e nós matrimoniais são indissolúveis, o oposto do açúcar, portanto. Segundo a canónica doxa, a quem disse sim apenas a morte, provavelmente a forma mais sublimada e tardia de amor, pode apartar. O que faz do casamento simultaneamente um destino e um serviço sem qualquer tipo de garantia. Onde, independentemente do jogo que se tenha na mão ou do naipe de trunfo, se é obrigado a assistir. Ou a perder. O que não é muito diferente. Segismundo.

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Quando se cobiça uma mulher não é apenas pelo seu corpo que se anseia. A cobiça é uma forma de demanda exigente. Se cobiçoso, o que se deseja é a entrega incondicional ou indefesa, a mulher toda, integral, demónios incluídos. Para vergar e descobrir sob a pedagogia pela dor. O Marquês.

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Embora muitos o façam, poucos são os que estão autorizados a falar de tortura. Pois acontece que há modos de mortificação que não se compreendem sem a respectiva experiência. O Marquês.

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2004-05-19


O Daniel classificou o senhor dr. Bagão Félix. Chamou-lhe piranha de água benta, que é o que ele é naquele aquário colegial, chamado Décimo Quinto Governo Constitucional, onde quem mais ordena é um cherne. Nicky Florentino.

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Disse o senhor dr. António Costa, candidato socialista ao Parlamento Europeu, “somos gente de bem e cumprimos as regras. Enquanto houver uma maioria no parlamento, o PS entende que este Governo tem legitimidade para governar”. Mansos, é o que estes socialistas revelam ser. E dispostos a esperar. Quando bravos e impacientes é o que a pátria necessita já e cada vez mais. Urgentemente. Nicky Florentino.

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O número três do artigo décimo quinto da Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa foi lavrado nos termos que se seguem, "A República Portuguesa, reafirmando os princípios do direito civil sobre o dissolubilidade do vínculo matrimonial, recorda aos cônjuges que contraírem o matrimónio canónico o agudo direito que lhes assiste de não se obrigarem à ideia de que lhes está vedada a faculdade civil de requerem o divórcio". Pois deus, na sua omnibondade, tudo perdoa. Segismundo.

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O senhor dr. Pedro Santana Lopes entende que é despropositada e desproporcionada a atenção que alguns órgãos de comunicação social concedem ao lado privado da sua vida. Não entende e percebe ele que é apenas isso-mesmo, uma personagem de novela, envolvida numa intriga de enganos e equívocos. Nada mais. Segismundo.

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2004-05-18


Em defesa da construção do aeroporto da Ota, declarou a senhora presidente da Câmara Municipal de Lisboa, “acho que os lisboetas não gostam de ter um avião a passar-lhes por cima da cabeça”. A fauna gentia e afim da Ota e arrabaldes, essa sim, deve julgar em justo juízo a dita edil, é que gosta de ter jumbos e boingues a evoluir estrepitamente sobre o respectivo toutiço. Ninguém compreende estes anseios de modernidade que afligem os rústicos... Segismundo.

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No lamuriento tom que lhe é habitual e de dedo em riste, acusou o senhor presidente do PND estar a ser objecto de uma torpe campanha que o impede de pleitar com os grandes e, por isso, o condena a permanecer no lodo dos pequenos. Como se não bastasse o facto de umas quantas criaturas não responderem às epistolas que o senhor dr. Manuel Monteiro lhes remeteu – e, portanto, não lhe prestarem puto de atenção –, agora, para gáudio desses acossados, o dito cujo foi desconvidado, pelo que, em consequência, já não irá participar num debate organizado pela AntenaUm. O motivo é prosaico, cada símio no seu galho. Pois as bananas e os amendoins, como o tempo de antena fora das campanhas eleitorais, não chegam para todos. Nicky Florentino.

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2004-05-17


Boa fé... má fé... será isto fé? Segismundo.

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Ele disse Red Hot Chili Papers. E repetiu, Red Hot Chili Papers, uma e outra vez. Às vezes a ignorância revela-se sem o tempero certo. Segismundo.

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Segundo o senhor presidente do PND, “a política portuguesa tornou-se rasca”. O que não é novidade de qualquer género. Pois acontece que até ele-mesmo, insigne fulano da política portuguesa, subsidia sobejamente o estado da dita. Nicky Florentino.

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2004-05-12


Dois dos danados deste tugúrio, Nicky Florentino e Segismundo, foram, em ciranda, para o Minho. Tornam na próxima semana, depois de, a pretexto de um ritual cortejo profissional, cumprirem uma farta dieta de pecado em diversas casas de pasto recomendadas. Por esse motivo, as apostas, aqui, estão suspensas até essa oportunidade. O que não é ausência que sugira saudades ou qualquer tipo de afecto manso. Eles vão, mas, para miséria de quem fica, tornarão. Gregório R.

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2004-05-11


Nicky Florentino.

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Segismundo.

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Choras!, porquê?, perguntou o algoz. A vítima tardou a responder. Balbuciou apenas, não sei. O carrasco, então, olhou-a sem ódio ou raiva, apenas administrativamente, e disse, se estás a chorar e não sabes o motivo pelo qual choras, terei de fazer com que encontres o motivo das lágrimas que vertes. Depois, sem palavras ou anúncio, assestou-lhe no corpo, vergado pelos sucessivos impactos, mais uns quantos golpes de mão e pé, fazendo amadurecer nele, o torturado, o sofrimento, até a dor se derramar num fio ténue de sangue. O diálogo, nome do interrogatório, foi a fase seguinte do ritual. O Marquês.

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2004-05-10


Disse o senhor presidente do CDS/PP, em conselho, “não vamos deitar fora dois anos de sacrifício que muito custaram ao país e aos portugueses”. Pois não. Aliás, mesmo que houvesse vontade para aí apontada, como é evidente, não é possível deitar fora o passado, tempo já tatuado no corpo. O que se pode deitar fora são, tão só e sempre, alguns dos futuros. Pois acontece que o poder é justamente isso, a selecção de uma entre várias hipóteses. Nicky Florentino.

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Disse o senhor presidente do PSD, no final do décimo congresso regional do PSD-Madeira, “a autonomia é a forma de afirmar o patriotismo de Portugal no Atlântico”. Ora, este é um dos raros axiomas da doutrina política contemporânea que a fauna marinha autóctone, chernes e chocos incluídos, desconhecia. Nicky Florentino.

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Perguntou o Luís, "porque será que há tanta foto de torturados iraquianos? Quem as terá tirado? Os próprios? Os torturadores?". Como é óbvio, as polaroids publicadas, todas, são da autoria dos próprios torturados. Mais, aquela fotografia estampada na fronha da última edição d'The Economist é o paradigma do expressionismo sublimado da vítima. Devia ter até a seguinte legenda, auto-retrato de torturado narcisista. Segismundo.

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Sentenciou o senhor dr. Paulo Portas, fulano que, muito antes do meio do respectivo mandato, se descartou da condição de eurodeputado e de vereador da Câmara Municipal de Lisboa, que, tunga!, “quem fugiu a meio do mandato não merece o prémio, muito menos o voto”. É isto, a auto-contradição, o efeito boomerang que vitima os desabonados de siso. Segismundo.

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Em relação à próxima eleição para o Parlamento Europeu, disse o senhor dr. Ferro Rodrigues, “o grande inimigo do PS é a abstenção”. Depois, acrescentou, “a direita e a abstenção são duas faces da mesma moeda”. Adeptos da causa!, todos, portanto, ao casino, jogar o mal nas slot-machines. Até não sobejar qualquer dessas moedas e que o que restar da fortuna seja apenas e só dinheiro cartonado. Pois é assim que os socialistas tentam a sua sorte eleitoral. Segismundo.

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2004-05-09


O senhor dr. Dias Loureiro, insigne dirigente social-democrata, disse que gostaria que a pátria, de cabo a raso, fosse “uma imensa Madeira”. Como recomenda uma chã doutrina estética, gostos não se discutem. Pois acontece que alguns, mais do que gostos, são desgostos. Nicky Florentino.

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A ofensa, a agressão são dispositivos de emancipação, no sentido em que é pelo acto de obrigar os outros à dor que se define e percebe fenomenologicamente a distância entre a identidade e a alteridade, distância, essa, que é condição da consciência. Quando a dor se domicilia nos outros – e é notada –, a consequente devolução de nós a nós-mesmos permite revelar que nos conquistámos e, por essa revelação, experimentar a propriedade que nos faz ser diferentes dos outros, a propriedade que nos confere ser(iedade) e singularidade. É por isso que magoar (os outros) nos liberta. O Marquês.

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2004-05-08


Perguntou uma jornalista do Expresso ao senhor eng.º João de Deus Pinheiro se a coligação eleitoral que cuja lista ele encabeça não é uma coligação contra-natura. Respondeu o dito cujo, “pertencia a um Governo de Bloco Central, a um da AD, a um de maioria exclusiva do PSD e sempre me preocupei mais com as políticas seguidas do que com as questões filosóficas subjacentes”. O que significa que a criatura segue para onde a mandarem seguir. Imagine-se, agora, que a direcção que lhe apontam é um horizonte escatológico? Vai bem guiado... basta orientar-se pelo cheiro. Segismundo.

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A regra é simples, as desculpas não se pedem, evitam-se. Esta até o pato Donald sabe. Rumsfeld, porém, não. Por isso limitou-se a assumir responsabilidade, a pedir desculpa e a não resignar às honras de senhor secretário da Defesa dos EstadosUnidosdaAmérica. Pois a responsabilidade não pesa assim tanto que o arraste para o gentio chão da desgraça. Segismundo.

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O senhor dr. Durão Barroso disse, “faz falta a experiência e a sensibilidade das mulheres na política”. Provavelmente o fulano, pela parte que lhe toca, tem razão. Foi uma mulher que lhe chamou cherne. Os homens, esses, gentios soltos, apodam-no com termos mais rústicos, de cavalo marinho para cima. Ou para baixo. Depende da perspectiva. Nicky Florentino.

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O senhor dr. António Costa, leal deputado socialista e candidato ao Parlamento Europeu, escreveu um artigo, estampado na edição de hoje do Público, onde argumenta que, desde a adesão de Portugal à, então, ComunidadeEconómicaEuropeia, o direito europeu prima sobre o direito pátrio. Se assim é, por qual raio é que os senhores deputados se deram ao trabalho de, na última revisão constitucional – a tal revisão flash –, redigir um artigo que afirma o óbvio? Não era preferível terem estado quietinhos? Ou será que os fulanos, em colégio, padecem de bicho-carpinteiro? Nicky Florentino.

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Há um mar, de pequena vaga a cavado, onde não navegam sereias, onde o lastro não tomba a bombordo ou se naufraga. Há um mar onde, há trezentos e sessenta e seis sóis, marujos e jangada mareiam contra e pro o jogo das marés. Nicky Florentino e Segismundo.

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2004-05-07


A propósito da celebração do trigésimo aniversário do PSD, disse o senhor dr. Durão Barroso, “o PSD é hoje o partido que lidera a sociedade portuguesa”. Tontice, claro está. Um partido político não lidera, menos ainda lidera a sociedade. Um partido político coloniza, coloniza sobretudo o Estado. Como se fosse um morbo. Nicky Florentino.

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O senhor ministro de Estado e da Defesa concedeu boleia, num helicóptero da ForçaAérea, entre as ilhas do Corvo e da Terceira, a dirigentes do CDS/PP do arquipélago, por forma a estes poderem participar num comício realizado em Angra do Heroísmo. O senhor dr. Paulo Portas também aproveitou para ir ao referido comício. Instado a comentar o facto, o ministério da Defesa Nacional, em comunicado, disse o que tinha a dizer sobre o assunto. Acrescentando, no remate, assim, “tudo o mais são manifestações de ressentimento político-partidário que o Ministério da Defesa Nacional não comenta”. Não comenta, mas classifica, como quem comenta. Como se o caso fosse uma situação de guerra. Limpa. Nicky Florentino.

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Quando se discutem polaroids – de mulheres e crianças assassinadas ou de homens torturados, seviciados e humilhados –, não são as polaroids que verdadeiramente interessam, mas os diversos pré-textos que se podem suscitar a seu propósito. É por isso que em tal discussão não há inocentes. O que aí há, na melhor das hipóteses, são afirmações de posição. Pois noutras hipóteses o que há são níveis variados de ruído. Segismundo.

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Confessou o senhor dr. Luís Nobre Guedes, eminente dirigente do CDS/PP, que irá sentir saudades quando o senhor Avelino Ferreira Torres deixar a política. Indício de que, não obstante se diga amigo do fulano, conhece-o apenas na política e em nenhuma outra circunstância o quer conhecer. Pois sabe ele, como sabemos todos, que a amizade tem as suas empanas. E vergonha, não saudade, é o que se chama a tais empanas. Segismundo.

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O Filipe descobriu que o tamanho das louras não engana. Antes, porém, elas, apenas por serem louras, enganaram-no. Foi, pois, uma aprendizagem difícil, a de que a nacionalidade das louras se mede aos palmos, a aprendizagem do Filipe. Segismundo.

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2004-05-06


Dois dos princípios fundamentais do juízo são a diferenciação e a articulação. Ou seja, são condição de tino a faculdade de distinguir e a faculdade de relacionar. Privada ou despojada delas, uma pessoa em pouco é mais do que uma besta. Sob este entendimento, não se percebe, portanto, o argumento do José - inscrito no artigo estampado na edição de hoje do Público -, segundo o qual, na prática, é pouco operativa a distinção entre Ariel Sharon e Israel ou entre George Walker Bush e os EstadosUnidasdaAmérica. É que não há raio de dificuldade em discernir a diferença entre uns, os fulanos, e outros, os países. Pelo que mais sensato surge afirmar que, na prática, pouco operativa - para evitar dizer não accionável - é, isso sim, a aglutinação conveniente de «coisas» tão diferentes. Ou quererá o José fazer-nos crer que, na prática, o senhor dr. José Manuel Durão Barroso é Portugal? e vice-versa? Por mais esforçada que seja a sua hermenêutica e investida seja a sua persuasão, o siso não lhe permite lograr alcance tão longo. Segismundo.

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Na página nove da edição de hoje do Público é dito que o senhor Prof. Doutor Vasco Pulido Valente foi ajudante - que é como quem diz secretário de Estado - num dos Governos de Cavaco Silva. Não, não foi. Nicky Florentino.

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Desde ali até aqui a jornada foi de trezentos e sessenta e seis dias, uma eternidade, se se é solto, como o José é. Nicky Florentino e Segismundo.

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Chamar ranhosa à pátria oposição é de prudente tino e inocente imaginação. Pois insulto autêntico e majestoso, como o Pedro descobriu, é este, “mata a tua mãe e faz um arroz de puta”. O Marquês.

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2004-05-05


Segundo a pena do senhor dr. Vasco Graça Moura, nesta pátria, a nossa, existe “uma oposição ranhosa e mixuruca, sem sentido de Estado nem dignidade, quer na sua obscena modalidade jacobino-socialista, quer na sua variante estalino-intersindical, quer na sua ignomiosa expressão lupen-trotskista. Não sabe nem quer discutir política. Anda a glosar há décadas as mesmas frases feitas. É incapaz de propor alternativas sérias. Quando diz trazer novidades, só cai na torpeza e na má-fé. Uma tropa-fandanga sem capacidade de entender o mundo, sem honestidade intelectual para análise dos problemas e das conjunturas, sem vergonha na cara, quanto às suas próprias responsabilidades, sem ideias na cabeça quanto ao futuro”. Que a oposição seja tudo isto, nada a objectar. As coisas são o que são. Agora pretender que a situação seja diferente – e, diferente, para melhor –, isso, é, no mínimo, tanger a dissonância cognitiva, o nome elegante do delírio. É que, neste chão chamado Portugal, os zeros à direita também nada valem. Vêm todos depois da vírgula. Daí que não decorra de salubre juízo o julgamento de que, cá, uma banda política é mais assoada do que a outra. Nicky Florentino.

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2004-05-04


A senhora dr.ª Manuela Ferreira Leite terá dito no pretérito primeiro de Maio, “Deus nos defenda que os socialistas voltem ao poder, mesmo que seja daqui a muitos anos”. Ontem, segundo as crónicas, o senhor dr. Mário Soares reagiu, assim, a tal dito, “não está bem, até do ponto de vista da cordialidade democrática”. E porquê? Porque uma das inquebrantáveis regras da cordial democracia – que é o que é a democracia verdadeiramente democrática – é que Deus é de todos e é para todos, como se fosse de ninguém e para ninguém. Nicky Florentino.

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Também porque tem quarenta e dois anos de idade e não é parvo, o Vasco, confessou-o, incomoda-se com o senhor deputado Francisco Louçã, a quem chamou, com penhorada – e provada e reprovada - ternura, Pinóquio trotskista. Ao Daniel chamou-lhe afectuosamente esquerdóide, sem, presume-se, pretender afectar o crédito intelectual ou moral do Daniel ou tanger qualquer modalidade de piada fácil ou insulto gratuito. Como é óbvio, nada disto é relevante. O que interessa - por pândego ser - é a tal suposta «promessa» que o Vasco terá feito, de passear-se em nu integral no Rossio caso não fossem encontradas as famigeradas armas de destruição aos molhos, «promessa» que ele prometeu vir «clarificar» e «esclarecer» amanhã. O que se perde em curiosidade - não o vamos, chiça!, ver nu - ganha-se em salubridade - não o vamos, ufa, ver nu. Segismundo.

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Disse a senhora dr.ª Manuela Ferreira Leite, com denodada devoção, “Deus nos defenda que os socialistas voltem ao poder, mesmo que seja daqui a muitos anos”. Respondeu-lhe o senhor Prof. Doutor Sousa Franco, convicto, “Deus não se mete na política”. Como pouco se sabe sobre tal divina matéria, ajustado ao siso é que nem uma nem outro se ponham a invenções. Pois, se deus existe, seja o que deus quiser. Ou não quiser. Pois é da ordem das coisas que as bestas devem ser albardadas conforme a vontade do respectivo proprietário. Segismundo.

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O Marquês.

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2004-05-03


Segundo o senhor dr. Marques Mendes, o PS “só sabe fazer política com ressentimento, de uma forma azeda e crispada”. Por isso, logo avisa o fulano, “não vamos assistir impávidos e serenos a esta arrogância. Vamos agir e reagir com firmeza e convicção”. Foucault, enfim, tinha razão, ao inverter o célebre axioma de Clausewitz. A política é a continuação da guerra por outros meios. Ou seja, a política é uma espécie de wrestling. Onde quem for como o Tarzan Taborda é rei. E senhor. Segismundo.

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No último debate parlamentar mensal com o senhor primeiro-ministro – uma encenação típica dos pseudo-eventos políticos –, o senhor dr. Durão Barroso embirrou com uma senhora deputada do PartidoEcologistaOsVerdes e chegou, mesmo, a classificar esse partido político como sucursal do PCP, colocando em causa a sua legitimidade, por nunca haver ele submetido candidaturas exclusivas a quaisquer eleições. A doutrina do senhor primeiro-ministro até tem o seu sentido. Acontece, porém, que é um sentido estreito, porquanto existem essas coisas a que se chama coligações eleitorais, assim como existem essoutras coisas chamadas coligações governamentais. Daí que não seja lá muito curial o fulano pôr-se a vociferar contra o PEV, quando, ele mesmo, é o boss de um Governo que na sua composição tem criaturas de um partido político que foi tão só o terceiro mais votado e em relação ao qual, durante a campanha eleitoral, jamais publicitou a hipótese de uma eventual coligação. Por isso, nestas conversetas sobre a legitimidade, o decoro em adequada dose só lhe faria bem, ao senhor primeiro-ministro. Sobretudo porque lhe proporcionaria um ar de maior trambelho político. Mesmo que jamais tenha lido a célebre prelecção de Max Weber sobre o que é ter tino na matéria e arte da política. Nicky Florentino.

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2004-05-02


O Marquês.

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2004-05-01


As rapariguinhas do shopping jogam-se contra a paisagem, obrigando-a, a paisagem, a adequar-se à sua passagem. Jingam as ancas, mostram os ombros e o umbigo nus, passeiam a confiança nos pés, com um pisar exacto e cadenciado num ritmo lascivo – olhá-las não lembra d’the ground beneath her feet –, sorriem desprendidamente. Fazem-se desejadas. Insinuam-se, mas com a reserva que a publicidade dilui. O shopping parece o plateau, a vitrina onde se exibem. Elas passam. Passam. Mostram-se. Dão-se sem se darem. Pelo que o melhor é fingir que não se as vê. Que elas são invisíveis. Que são indiferenciadas. Indesejadas. Isso magoa-as. Ressente-as. Mata-as, ainda em flor. É esse um prazer que não se pode negar a um homem que jamais as irá ter. O Marquês.

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2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).