No terceiro capítulo das suas reflexões sobre «podem hoje as democracias conduzir uma guerra?», estampado na edição de hoje do Público, escreveu o José, “pode ser uma ingenuidade, uma perigosa ingenuidade, mas a democratização, mesmo manu militari, aparece hoje como uma solução preferencial para garantir a estabilização do mundo, em particular no Médio Oriente”. Até pode ser que sim. Mas subsiste um problema. Presumindo que o mundo não se esgota hoje e continua amanhã, que fazer? Qual o alcance da democratização manu militari? Até onde a democratização manu militari democratiza? Pelo acumulado de experiências accionável, o que se sabe é que a democracia é uma forma política volátil. Se pode ser exportada num pack que, na montagem, inclui o recurso a operações bélicas, não consta que a democracia se sedimente sob o uso continuado dessas operações. Pois provavelmente acontece que a democratização manu militari tende a não permitir que a democracia se entranhe ou sequer que se estranhe, porquanto as condições do seu assentamento são outras, de longa e paciente fermentação histórica. Por isso, só faz sentido a ingenuidade do José se ele a reportar a um lastro de tempo mais longo, não à urgência de hoje. Que, ainda assim, existe. É esse, au grand complet, o problema. Nicky Florentino.