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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2003-12-31


Nada é como devia. Ele está preenchido dela. Ela, ela, ela, ela, é o que ele pensa. Não nela, a de hoje, mas na outra, a de antes. Até que se decidiu, se ela me é uma recordação, que assim seja para todos e para ele, o de hoje, também. Começou aqui, pois, a desenhar-se o que o horizonte anunciava já homicídio. E assim foi, conforme anunciado. Ela morreu, confirmando-se, em comum, a memória solitária que era. Muitos a choraram. Ele não. Há muito que ela morrera para ele e era o que é hoje para todos, uma recordação. O Marquês.

Referência

2003-12-30


O senhor dr. Isaltino Morais, enquanto senhor presidente da Câmara Municipal de Oeiras, pôs-se a hermenêuticas e a favores com uns ditos empresários de construção civil. Venha a nós o vosso reino... começa assim a oração de que esta fauna mais gosta. Nicky Florentino e Segismundo.

Referência



Segundo a edição de hoje do Público, “um grupo de jovens socialistas católicos considerou «lamentável» o indulto concedido na semana passada pelo presidente da República à enfermeira da Maia condenada pela prática de abortos”. Jovens socialistas católicos... nenhuma das propriedades desta fauna é merecedora de simpatia. É mesmo de presumir que ser-se habitado por um cocktail de juventude, socialismo e catolicismo seja o máximo possível de miséria humana. Dificilmente se descortinará desgraça maior. Segismundo.

Referência

2003-12-29


Falar em qualidade da democracia é um destempero de juízo. Quando se apregoa a qualidade de algo é porque há motivos razoáveis para duvidar do seu estado de conservação. Nicky Florentino.

Referência



O povo, essa mole de gentios figurada em juízo e ordem, na sua acção ordinária tem já suficiente capacidade de destruição. Conceder-lhe o direito de voto e tornar equivalente qualquer voto foi, portanto, um erro. Acentuou a propensão ao colapso das composições sociais, no sentido em que, ao massificar o voto, potenciou e estendeu o poder popular e ecológico de destruição. Em última instância, entenda-se, o povo é uma arma de destruição em massa. Ou seja, uma desgraça. Nicky Florentino.

Referência

2003-12-28


Parece que o dr. Santana Lopes disse que não foi dispensado pela SociedadeIndependentedeComunicação, em razão das baixas audiências televisas que a criatura proporcionava. Ele, sim, muito homem, decidiu abandonar o comentário que fazia habitualmente às terças-feiras, no Jornal da Noite. O motivo, segundo o próprio, deve-se ao seu descontentamento com o formato da sua intervenção televisiva. Neste pormenor, concedo, concordo com o fulano. E digo-o com a autoridade de quem não se prestou a ser audiência de tais prestações. Vácuo por vácuo, é preferível o autêntico, o do catedrático, o daquele que, ao domingo, mostra a capa de livros que, confessa, leu na diagonal. Segismundo.

Referência

2003-12-27


No próximo dia doze de Janeiro, o senhor dr. Pedro Santana Lopes irá apresentar, no Grémio Literário, o seu novo livro, Causas da Cultura. O título diz tudo. Soa a violinos de Chopin. E cheira ao ressuscitado autor de Dom Casmurro. Estes são, aliás, os maiores feitos culturais da criatura, ouvir o que não há para ouvir e ressuscitar o que já nem cadáver é. E por ser capaz de tais feitos, agora a libido de tal criatura caldeia inflamadamente o desejo de assomar a senhor presidente da República. Se houver deus, que livre a pátria de tamanho cálice ou martírio político. Segismundo.

Referência



Espantoso. A edição de hoje do espesso Expresso anuncia que tanto o senhor presidente do Futebol Clube do Porto quanto o senhor dr. presidente da Câmara Municipal do Porto aceitaram o convite para estarem presentes na cerimónia de inauguração do novo estádio do Bessa. Sobre se o senhor dr. presidente da Assembleia da República foi ou não convidado nada foi dito. Não é, nunca foi, fenómeno que importe. Nicky Florentino.

Referência

2003-12-26


Consta que, em razão de avaria técnica - se esta avaria é técnica, supõe-se que as há não-técnicas -, o Antonov fretado pelo Estado português ficou retido no hangar e, portanto, os gêéneérres em campanha no Iraque viram-se privados do bacalhau na consoada. Não é acontecimento bom. Sequer é bom augúrio. Ninguém deve ser privado das suas tradições assim. Nem mesmo os soldados da GNR, esse bons rapazes. Nicky Florentino.

Referência



No dia imediatamente após o Natal, o vetusto Diário de Notícias dedica atenção a um dos desafios que se perfilam em dois mil e quatro. E qual é ele? A credibilidade da classe política e a respectiva remuneração. Ainda a tenda do circo natalício está armada e já há quem se mostre tão perspicaz e audaz. O problema é sempre o mesmo, plural, dinheiro e políticos. Nicky Florentino.

Referência



Lê-se no vetusto Diário de Notícias, "nasceram este ano menos mil trezentas e setenta e cinco crianças". Este é, pois, mais um motivo para se ser frontalmente contra o aborto: diminui a vitalidade demográfica da pátria. Segismundo.

Referência



Depois da orgia natalícia, a incredulidade do day after. Menino Jesus?, mas qual menino Jesus? O Marquês.

Referência

2003-12-25


O homem é uma besta diferente das outras. Não só distingue a água benta da demais água, como distingue os dias uns dos outros. Não obstante isso, a água que é água é, sempre e só h2o, e os dias são todos iguais. Experimente-se a celebrar o vinte e cinco de Dezembro a vinte e cinco de Novembro e vice-versa e perceber-se-á que não há puto de diferença que seja significativa. Segismundo.

Referência

2003-12-24


É patético o desejo de um santo Natal. O mais admissível é o desejo de um «santo» Natal. Assim, exactamente, entre aspas. Pois acontece que não há santos que não estejam entre aspas. Para além disso, as aspas são um dos mais eficazes mecanismos de desliteralização. Por outras palavras, santos não há. O que há é Natal. Assim como outrora houve menino Jesus. O Marquês.

Referência



Sou um desses tantos miseráveis que possui telemóvel, confesso. Não são muitos os que dispõem do seu número e, por isso, raros e criteriosamente escrutinados são aqueles que me podem contactar por via dele. Seja como for, para evitar as derrapagens a que a época convida, há dois dias que o telemóvel está posto em sossego, desligado. Quem me quiser desejar boas festas, que me procure na rua ou que me mande um postal. De outro modo, não estou disponível, não estou acessível. Nem quero estar. Segismundo.

Referência

2003-12-23


Para tudo há limites, embora nem sempre esses limites sejam explícitos. O João, solicito, embrenhado no cristão espírito da época, fornece – o predicado é exactamente este: fornece –, em forma, aos eventuais interessados, uma via para o desejo de boas festas ao senhor George Walker Bush, ao senhor Donald Rumsfeld ou ao senhor Paul Wolfowitz. Não havia necessidade. O Natal tem outro significado. Nicky Florentino.

Referência



A época natalícia, esta em particular, a de dois mil e três, é a mais recomendável para se discutir o tópico aborto. Antes de mais, porque por estas alturas se celebra o nascimento do menino Jesus, a mais improvável criança, fruto da mais implausível fecundação. Depois porque se ficou a saber que, conforme suspeitas havidas, a senhora princesa Di ou ex-princesa Di estava grávida quando pereceu. Este é, pois, o zeitgeist, o tempo propício para a reflexão e para o debate sobre o aborto. Melhor não há. Segismundo.

Referência

2003-12-22


As mulheres são um (a)caso. O mais das vezes do outro mundo, o mundo delas. O Marquês.

Referência

2003-12-15


Gripe, rinite alérgica e sinusite significam danados em baixo, não de baixa ou por baixo. Por isso, a emissão segue dentro de momentos. Quando a puta da saúde lhes conceder. Pobres coitados, é o que eles, Nicky Florentino, O Marquês e Segismundo, são. Sofrem, mas não morrem, as atoleimadas criaturas. Apenas a mim o mal não me alcança. Daí que raramente me domicilie neste tugúrio. Gregório R.

Referência

2003-12-14


O senhor Paulo Bremmer, administrador do Iraque, assomou ao palanque, catarreou para limpar a voz e disse "ladies and gentlemen...". Por instantes houve quem o confundisse que o inenarrável Fernando Rocha. Depois acrescentou "we got him"! Ele?, quem?, sugeriu-se o mistério. Até que, projectadas algumas imagens, se vê uma criatura com barba, a fazer lembrar o novo look viril do senhor dr. ministro de Presidência. Nenhuma novidade. Segismundo.

Referência



A memória é um demónio. Por isso é que existe o esquecimento e existem os arquivos, para a conter. O Daniel ressuscitou uma imagem que confirma o aforismo. Mas o mais engraçado é o debate que foi travado entre ele e outra criatura na caixa de comentários. Mais, muito mais engraçado do que a captura de Saddam Hussein ou a evangélica barba que ele tinha quando foi capturado. Segismundo.

Referência



O Neptuno, sendo criatura exigente, satisfez-se, embora pouco, com a captura do canalha do Saddam Hussein. A sua preferência, filosófica, moral e esteticamente referenciada, era outra. Como ele confessou, "o ideal teria sido a descoberta do cadáver de Saddam, meio decomposto mas perfeitamente identificável, numa sarjeta, vítima de linchamento pelos seus conterrâneos". Ou isso ou que deus, na sua omnivirtude, o tivesse feito ceguinho e entrevadinho, quando ele era pequeno. Pois, como bem lembra o Vasco, a interrupção voluntária da gravidez - este é dos mais mais ignóbeis aforismos! - por vontade da mãe quando esteve prenha do facínora, isso, não!, nunca!, seria pecado sem remissão. O Marquês.

Referência



Depois da ofensiva da coligação anglo-americana no Iraque, que depôs o regime tirânico personificado no canalha Saddam Hussein, o fulano transformou-se num ícone espectral do mal. Por isso, o regozijo reveladoagora em relação à sua captura é sobretudo isso, regozijo. Satisfação, mas, no tempo em que acontece, satisfação com a simbólica do acontecimento. Pouco mais.
Seja como for, o que realmente suscitou comoção generalizada foi a atenção dedicada às lêndeas ou a alguma entumescência sob o couro cabeludo, assim como o cuidado demonstrado com o esmalte do marfim incrustado nos maxilares do fulano e com as respectivas cáries. Isso, sim, faz compadecer o mais empedernido dos iconoclastas. Pois é por estes pequenos pormenores que se percebe a superioridade da civilização, dos vencedores e dos ordenadores. Há quem filme a inspecção sanitária da besta detida e revele fartamente as imagens. Não fosse dar-se o caso de algum cretino lembrar-se de suspeitar que a imagem apresentada fosse de um boneco de plástico e não de um barbudo e desgrenhado Saddam Hussein. Nicky Florentino.

Referência

2003-12-12


Luhmann definiu a democracia como sendo o resultado de uma bifurcação no topo do sistema político. Governo, para um lado, oposição, para o outro. Esta é uma concepção ajuizada. O oposto da conversa sobre os extremos nutrida habitualmente por sucelências, os políticos. Desta vez foi o senhor presidente do CDS/PP a dar subsídio para a estupidez. E não se fez rogado. Disse ele que, na pátria, o BE e o senhor dr. Mário Soares representam, ai!, ai!, ui!, ui!, cruzes!, credo!, a extrema esquerda. Será que não se podem tirar as pilhas ao fulaninho. É que os disparates que debita começam a ser incómodos. Nicky Florentino.

Referência

2003-12-11


Só as bestas, perante audiência, falam de filmes que não viram. É este o máximo possível da bestialidade. Mais, muito mais, do que urrar. O Marquês.

Referência



O altruísmo e a solidariedade são atitudes acessíveis apenas aos grandes, aos senhores, aos fortes. É por isso que Wolfowitz e o resto da trupe de falcões moinantes d'The Pentagon decidiu - e decidiu muito bem - partilhar os despojos da reconstrução iraquiana apenas com empresas dos países que estão, com tropas, já a subsidiar a reposição da ordem no Iraque. No plano das relações internacionais, isto é o máximo de solidariedade possível. Mata-se e destrói-se, primeiro, não se ressuscita, mas reconstrói-se, depois. E os sobreviventes e os herdeiros dos mortos pagam, em oil, a vida e o conforto de viverem. Pior do que isto, suspeita-se, só ser sodomizado e não receber a propina devida. Nicky Florentino e Segismundo.

Referência



Disse o senhor dr. presidente do Governo regional da Madeira, "deixem a Madeira em paz. Se quiserem ver-se livres de nós, com muito prazer, mas de uma vez por todas. Não me chateiem". Tem toda a razão, o pândego, em querer que não o chateiem. Quer ele e querem todos. Pois, se assim não for, não se é kantiano. É-se escroque, canalha. Ou projecto disso. Uma ameaça, portanto. Não um cartoon. Nicky Florentino.

Referência



Há uma razão maior do que qualquer outra pela qual se justifica que o senhor dr. Pedro Santana Lopes não arribe às honras de senhor dr. presidente da República. Ele não merece. É pouco para ele. Pelo menos a aferir pelo índice de insuflação do ego do fulano. A grandeza de tal índice é próxima, por excesso, da dimensão de tonterias como julgar que Chopin compôs concertos para violino. Nicky Florentino.

Referência



Tal como nunca se deve deixar que outros, ainda que amigos, decidam onde vamos jantar, também não os devemos deixar escolher que filme vamos ver. Há faculdades de que qualquer criatura jamais deve abdicar. Fazê-lo é precipitar-se voluntariamente para a miséria. Não há perdão. Seja-se europeu, seja-se subsariano. O Marquês.

Referência



A amizade tende a ser uma imprudência. Jamais se deve aceitar o convite de um amigo para ir jantar a um restaurante onde, na mesa ao lado, há homens a discutir os candeeiros adequados para a sala de um deles. Pois, uma vez no cenário, cercado por tal fauna, não há alheamento que se consiga. A refeição não será o que se deseja. E não há amizade que justifique tamanho suplícito. O Marquês.

Referência

2003-12-10


Lusíada ou Lusíadas? Minerva. Nicky Florentino.

Referência



Leio o que o José apostou a propósito do senhor dr. Paulo Portas e dou comigo a fulgurar-me. É mais forte do que eu, não sei. Mas acontece com frequência. Quando olho para o senhor dr. ministro de Estado e da Defesa, sucede recorrentemente, sinto-me a olhar para um palerma. Já coloquei a hipótese de ser consequência de miopia ou astigmatismo que me aflija, mas não sei. E, para ser sincero, não quero saber. Sinto-me bem com tais sentimentos. Nada me dói. Para além disso, os bons sentimentos são para ser guardados. O Marquês.

Referência



O José equivocou-se. Não é apenas a não recondução da senhora dr.ª Maria Barroso nas honras da Cruz Vermelha que é indevidamente considerada uma derrota do senhor dr. Mário Soares. Também a eleição do senhor dr. Jorge Sampaio como senhor dr. presidente da República não pode ser considerada uma derrota sua. É que, se assim não fosse, o senhor dr. João Soares jamais teria assomado a senhor dr. presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Nicky Florentino.

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2003-12-09


O que mais me aproximou do limite, quando vi Swimming Pool, foi a percepção do modo como a lente da câmara se projectava sobre os corpos, reportanto-os e narrando-os pelo que não podia ser dito pelas personagens. Segismundo.

Referência



Falar da confiança é como descascar cebolas. Quando se diz algo pertinente sobre a fidúcia, as lágrimas, obrigadas, irrompem. É por isso que o que se lê na edição de hoje do Público sobre tal matéria não suscita o derrame de uma unidade lacrimal, microscópica que fosse. Eram preferíveis espaços ou páginas em branco. Pois, assim, pelo menos sempre poderíamos ler nesses espaços ou nessas páginas o que a alada imaginação concedesse. Segismundo.

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2003-12-08


Confessou Lucinda Baptista, com jeito orgulhoso, “nunca cá houve uma mulher mineira, só a Santa Bárbara. A segunda fui eu. Sou a primeira mulher mineira e jumbeira”. Depois, ainda como heroína, acrescentou, “todos os dias quando aqui entro [na mina], entrego-me à Santa Bárbara”. A vida é uma implausibilidade. Confirma-se. O Marquês.

Referência



O senhor director do Público disserta na edição de hoje do referido periódico sobre a confiança. Em socorro, estriba o seu argumento em Francis Fukuyama. Pois é, pois é, se José Manuel Fernandes quer dizer alguma coisa confiável sobre a confiança que invoque outras criaturas, como sobeja autoridade na matéria, e não um mero curioso com dicurso irritantemente arrumado. Que invoque Hardin, que invoque Hollis, que invoque Luhmann, que invoque Sztompka, que invoque Uslaner. Mas isto, claro está, só depois de os ler. Segismundo.

Referência

2003-12-07


Deste tugúrio em forma de blog vê-se o cerco e o que se alcança para além dele, como se o para além do cerco fosse o mar longo, como se fosse toda uma pátria que não cabe em si ou na sua língua, o horizonte que nunca se tange. Há lá fora polaroids dessa paisagem imensa que aconchega a diferença ou a proximidade. Uma é do André. A outra é do Vincent. Apreciadas hoje, transportam o conforto vital que apenas a experiência da chuva é capaz de ultrapassar. Nada mais há a declarar. Segismundo.

Referência



A edição de hoje do Público noticia com escarcéu que, segundo os dados recolhidos por via da administração de um inquérito por questionário, os “portugueses são os mais desconfiados da União Europeia”. Existe aqui um problema de fundo metodológico. Se os portugueses são tão desconfiados quanto o apregoado isso significa que serão também desconfiados relativamente a quem lhes coloca perguntas sobre a confiança. E, assim sendo, é com desconfiança que respondem aos inquiridores, protegendo-se, assim, dos prováveis infortúnios que decorrerão das respostas dadas. O que quer dizer, então, que as respostas dadas não são de confiança. E que, portanto, não são confiáveis os dados que suportam a afirmação de que os portugueses são os mais desconfiados da União Europeia. Pelo que a verdade, a verdadeira verdade, talvez seja outra. Ou não. Segismundo.

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2003-12-06


Os moçoilos do espesso Expresso decidiram dar destaque ao facto de George Walker Bush, quando visitou os militares no Iraque recentemente, ter posado para a polaroid com um peru de plástico. Como a visita relâmpago aos magalas norte-americanos foi ela mesma plástica, a armar ao pingarelho, por qual raio é que se estranha que o peru fosse de plástico? Preferiam lulas, não? Nicky Florentino e Segismundo.

Referência



Uma trupe de deputados eleitos pelo PSD decidiram promover um jantar de demonstração de solidariedade ao senhor dr. deputado Tavares Moreira, recentemente inibido, por determinação do Banco de Portugal, de exercer funções de gestão no sector bancário durante sete anos. Ora, não conta que dar publicidade da amizade a alguém com fama de ter cometido umas canalhices estugue ou estofe a honra de quem quer que seja. Pois se há coisa que não abona em favor é ser-se amigo de quem se ouve dizer que se meteu ou mete em falcatruas. Não é bonito. Não assenta bem. É de quem não tem pingo de vergonha na fronha. Nicky Florentino e O Marquês.

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Consta que o fulano chamado José Eduardo Moniz, marido dessa inominável Manuela Moura Guedes e capataz da TVI, obrigou umas quantas criaturas lá da estação a deixarem de colaborar com esse periódico de referência que é o vinteequatroHoras. O motivo deve-se ao facto de esse jornal ter ousado publicar um texto onde era denunciado um caso de uma noite só que a tal Manuela Moura Guedes teria tido com o senhor Carlos Cruz. Se se confirmar o facto, certamente que as criaturas que deixarão de contribuir com as suas excelsas crónicas para o vinteequatroHoras dirão, com mão solenemente colocada sob o peito, que assim decidiram por vontade e determinação própria. É conversa, são lérias. Sabe-se que a força da voz do dono não está no que o patrão balbucia ou ordena raivosamente, mas na vozinha de cachorro submisso que há domiciliada dentro de qualquer criatura. Esse demónio existe em todos, sem excepção. Mas naqueles cujo espaldar é mais gelatinoso, as inflitrações, por via panóptica, da voz do dono é muito mais eficaz e eficiente. É por isso que, como qualquer ordinário cão, a senhora Júlia Pinheiro e os senhores Pedro Pinto e Júlio Magalhães decidiram ser solidários com a putativamente ofendida senhora esposa do boss Moniz e, em consequência, suspenderam a remessa de crónicas para o vinteequatroHoras. Seja como for, a fidelidade demonstrada é mais uma propriedade de uma criatura amestrada do que criaturas com trambelho. Miséria maior não há. Segismundo.

Referência



Segundo a fronha da edição de hoje do espesso Expresso, o senhor dr. presidente do PND, que é sócio do Instituto Amaro da Costa, não foi convidado para a cerimónia e homenagem aos governantes que pereceram quando o Cessna caiu em Camarate. Os responsáveis do dito Insituto garantem que todos os sócios foram convidados. Mal feito. Estaline, pelo menos, sabia recorrer a este tipo de expedientes manhosos. Antes de deixar de remeter o convite às criaturas que considerava indesejáveis, tinha a hombridade de liquidar tais criaturas. Pelo que, com tal acto, poupava as personas non gratas ao opróbio público. Era brutal, porém honroso. Nicky Florentino.

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A actual redacção da Constituição da República Portuguesa estorva o quê? O avanço reaccionário? O recúo civilizacional? O Governo de ser melhor governo? As oposições de serem melhores oposições? Nicky Florentino e Segismundo.

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A Constituição da República Portuguesa não teve uma origem democrática, disse o senhor dr. primeiro-ministro. São factos. A dita não teve, de facto, uma origem democrática e o dito disse, de facto, o que disse. Agora, uma interrogação, qual é o raio da Constituição que teve uma origem democrática? Não se vislumbra, pois não? O mais provável, mesmo, é que, se tivesse tal origem, nem Constituição fosse. Nicky Florentino e Segismundo.

Referência



Uma Constituição nova, curta, seca, sem ideologia e não normativa, como pretende o senhor director do Público, pode ser nova, curta e seca, mas sem ideologia e não normativa não é seguramente uma Constituição. É que não há disso sem ideologia e não normativa. Pois é da natureza de qualquer Constituição ser ideológica e normativa. Ou isso ou não é Constituição. Nicky Florentino e Segismundo.

Referência



O senhor director do Público, no editorial da edição de hoje, compara a vetusta Constituição norte-americana com a juvenil Constituição portuguesa. O exercício merece alguma misericórdia. Sobretudo porque o dito senhor director do Público se esqueceu do facto de que a cultura jurídica e constitucional nos dois países é tão semelhante quanto o alfa e o ómega. Tivesse ele comparado as resmas de papel que há de jurisprudência constitucional norte-americana com os acórdãos do Tribunal Constitucional português e evitaria suportar o seu argumento num disparate de calibre maior do que um comboio. Ou isso ou, então, que tivesse lido Dworkin. Segismundo.

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Ela, desculpa, mas tens de servir para alguma coisa, não é?, disse. Ele, desculpa, digo eu, mas não estou para ser a almofada dos teus alfinetes, disse, sem tom de paixão. O Marquês.

Referência

2003-12-05


Pior do que os gentios autênticos, apenas os edis. E o que são os edis? Os edis são gentios alapados ao poderzinho na paróquia. Não há miséria humana maior. Chamar-lhes homens bons é não ter o mínimo de discernimento moral. Eles são homens, bons é que não. E, como em tudo na vida, as raras excepções não confirmam a regra. Segismundo.

Referência



Há símbolos que transpiram a estupidez que sentiu a sua necessidade e, em consequência, os concebeu ou ordenou a sua concepção. Aquele ícone do «Portugal em acção» é isso mesmo, o produto da estupidez, a consequência da força eólica que anima a franja dos descerebrados. Se os poderosozinhos querem estilizar alguma coisa que comecem pelas respectivas mães. Nuas. Segismundo.

Referência



Nunca compreendi por qual raio é que as mesmas criaturas que papam umas rodelas panificadas a que chamam o corpo de Cristo se crispam tanto contra o uso de contraceptivos de latex. Também, confesso, não compreendo por qual raio é que agora alguns, da seita Catholics for a free choice, se lembraram de animar o slogan «os bons católicos usam preservativo». Tudo isto é de tonto. Também não espanta. Quando alguém ficciona como episódio de redenção o facto de uma rameira lavar com as suas lágrimas os pés do filho de deus e faz disso mensagem evangélica é porque não percebe puto de salubridade, higiene ou saúde pública. Era assim quando o menino Jesus nasceu, é assim hoje. Para além disso, a expressão «bons católicos» é um oxímoro do qual sequer se aproveita a poesia. O Marquês.

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Já se sabia que as mães de Bragança não nutriam simpatia pelas brasileirinhas meretrizes que andavam a disponilibilizar intimidades e alívios aos seus desviados consortes. Sabe-se agora que também não nutrem simpatias pelos ciganitos que parecem destinados a frequentar uma escola da cidade. Neste pormenor, porém, as mães de Bragança não se distinguem dos pais de Bragança. Seja como for, todos têm os seus gostos. Os pais gostam de putas, mas não gostam de ciganos. As mães não gostam seja de putas, seja de ciganos. Mais civilização do que isto não é possível. O Marquês.

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O senhor dr. presidente do Governo regional da Madeira, em jeito que não lhe assenta na honra, lamuriou-se por haver jornalisas “que se passeiam impunes nas ruas do Funchal sem que ninguém os castigue”. Não foi correcto, o senhor dr. Alberto João Jardim. As desgraçadas criaturas domiciliadas na Madeira que são correspondentes dos periódicos de dimensão nacional há muito que têm por missão dar eco aos dislates do fulano e às alucinações-banana que o afligem. E a isso não se chama impunidade. Chama-se martírio. Nicky Florentino.

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A estreiteza do espírito afere-se em termos da respectiva capacidade de diferenciação. No que ao espectro político – e não só – concerne, a tendência é para que tudo seja disposto no curto espaço de resultados que reconhece apenas a esquerda e a direita. Para qual lado seja a esquerda ou a direita pouco releva. E se já é sobejamente confrangedor pretender arrumar tudo em termos de esquerda e direita, agora instalou-se a propensão a afirmar-se banalmente os extremos da esquerda ou da direita. Como o alcance das vistas políticas é curto, para além de um limiar próximo tudo parece distante, no extremo. É por isso que a extrema direita é logo ali. E os radicais de esquerda pairam aqui tão perto. Os espíritos estreitos não são capazes de alcançar distâncias maiores. Mas insistem em ordenar tudo segundo os paradigmas e os sintagmas dos tempos em que a sensibilidade permitia a percepção da pluralidade. Uma verdade, porém, permanece, a preguiça e as vistas curtas nunca foi condição ou seguro de bom trambelho. Nicky Florentino e Segismundo.

Referência



A criatura que não corresponder a qualquer dos tipos de homo politicus apostados imediatamente antes tende a não existir. Ou isso ou é cínico. Ou tem um basset. Ou come azeitonas e bebe água mineral. Ou é espectador de futebol sempre e só pela televisão. Ou não sabe o que é o Barnabé. Ou lê o Glória Fácil. Ou simpatiza com o Dicionário do Diabo. Ou acredita piamente no Guerra e Pás. Ou cita profusamente Rabelais, Montaigne e Vico. Ou não é daqui. Ou é sociólogo, como o João. Ou é antropólogo, como o Bruno. Ou acredita no menino Jesus. Ou julga que tudo se divide entre esquerda e direita. Ou que as palavras são mais transporte para a verdade do que o medo e a força bruta que o antecede. Nicky Florentino.

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Relativamente ao mester da política a panóplia de faunas é restrita. Existem quatro categorias de gente, importam apenas três delas, os apáticos, os estouvados e os assanhados. Os apáticos são zombies cívicos. Contam apenas para dois efeitos. Um é o recenseamento eleitoral. O outro é permitirem a plausibilidade da representação política. Eles não existem – ou, correcto, é como se não existissem –, mas têm uma existência imaginária. Só a partir dessa ficção é possível conceber que alguns exercem o poder em nome deles e dos outros, todos, o povo. Os estouvados, ao contrário dos inertes ou pusilânimes apáticos, mexem-se, agitam-se. Associam à sua prática e à sua retórica um efeito folclórico ou pândego. Neles, nos estouvados, não são tanto as convicções que se destacam, mas a embriaguez coreográfica que, por pulsão libidinal, emprestam aos gestos e às palavras. Os estouvados tendem a ter piada. Porém, são estouvados. Os assanhados, esses, são os que padecem de implacáveis e inabaláveis convicções. Afirmam e, no exercício da afirmação, afirmam-se. É aí, nesse exercício, que reside a respectiva força. Existem pela convicção afirmada, de modo cruel, se necessário ou imperativo for. Abaixo dela, da convicção, não existem. As convicções correspondem ao chão onde se estribam. O mundo pode ser diverso do que sentenciam as convicções. Porém, as convicções estão certas, o mundo é que está errado. Nicky Florentino e Segismundo.

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2003-12-04


Sinal um. Em Angola, foi assassinado Miguel Cafiteiro, lavador de carros, por membros da guarda presidencial. O Miguel cantou um rap que não tecia loas ao governo.
Sinal dois. No Brasil, Elcio Berti, edil de Bocaiuva, ordenou a publicação de um édito onde é proibido aos homossexuais ou a qualquer pessoa ligada aos homossexuais – seja lá o que isso signifique – comprar habitação ou residir em permanência. O edil terá justificado a sua posição depondo “o nosso município quer atrair indústrias, pelo que precisamos de pessoas com punhos fortes”.
Lê-se e acredita-se. Este mundo, onde também se fala Português, é uma paródia. Segismundo.

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O senhor Prof. Doutor Eduardo Prado Coelho, conforme enuncia no artigo estampado na edição de hoje do Público, julga que Se É mesmo um Homem é uma obra de Primo Levi. Não, não é. Pode ser obra. Mas, seguro, de Primo Levi é que não é. Talvez da imaginação. Ou do engano. Isso talvez. Segismundo.

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Disse o senhor dr. presidente da República, em Argel, que “nenhum país tolera hoje viver sob ocupação estrangeira, (...) muito menos um Estado com os pergaminhos e a história do Iraque”. Está equivocado o senhor dr. presidente da República. Ou isso ou desconhece a capacidade que a força estranha tem para induzir transigência aos autóctones relativamente a si mesma. O que sucedeu e está a suceder no Iraque é um exemplo paradigmático disso mesmo. Sob a ameaça da porrada, os iraquianos toleram a presença de toda a espécie de tropa fandanga, gêéneérres incluídos. São, aliás, hábitos inculcados pelos pergaminhos e pela história do Iraque. Nicky Florentino.

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O título é sugestivo, “Ferreira Leite cobre défice orçamental da Madeira”. A voz de um fulano boçal graceja, olha!, Manuela, a cobridora, enquanto aponta para a página oito da edição de hoje do Público. Responde a besta que o acompanha na circunstância, e eu que pensava que ela era a cobradora. E riem os dois como hienas esfaimadas, os Doutores. O Marquês.

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2003-12-03


No pretérito domingo, em artigo estampado no vetusto Diário de Notícias, escreveu o senhor dr. ministro do Trabalho e da Segurança Social, “este Código do Trabalho tem como trave-mestra a flexibilidade assente no personalismo, pois para nós as pessoas estão sempre primeiro”. Se as pessoas estão sempre primeiro por qual raio é que inventaram essa coisa chamada Código do Trabalho para as submeter? Se as pessoas estão sempre primeiro, é favor, como sugeriu o genro de Marx, reconhecer o direito à preguiça. Ou à baixa fraudulenta. Ou ao absentismo. Ou ao desemprego voluntário. Ou ao caraças. Isso, sim, seria respeitar esse estúpido princípio de que as pessoas estão sempre primeiro. Em todo o caso, reconheça-se, em rigor, quem está sempre primeiro é a primeira pessoa do singular. Para além dela o que existe é cerco. E o cerco é a negação da pessoa, do pessoal. Segismundo.

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Armin Meiwes anunciou algures nessa extraordinária ecúmena chamada worldwideweb estar à procura de um homem para abater, como no açougue, e, depois de devidamente amanhado, comer. Um tal Bernd-Jürgen B. ofereceu-se voluntariamente. Meiwes não se fez rogado. Orientou a câmara de vídeo para o plateau da cerimónia, talhou-o com uma faca de cozinha, uma e outra vez, a pedido repetido e insistente de B., que sangrou por quase dez horas, até expirar. Meiwes terá deglutido aproximadamente vinte quilos de B., carne, supõe-se, doce. Na Alemanha discute-se agora se o que aconteceu foi um homicídio ou um suicídio assistido. O mais importante, o repasto, parece que não é tópico de grande celeuma. No sentido em que pertence, o respasto, à órbita da gastronomia. E isso não é crime. É apenas um prazer que, antes, supõe dor. Dor nos outros. Dor dos outros. O Marquês.

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Ele, desculpa, pediu. Ela, não desculpo, disse. Ele, por que motivo não me desculpas?, perguntou. Ela, porque me magoaste, respondeu. Ele, mas é por isso que te rogo perdão, explicou. Ela, mas é por isso que não te concedo o perdão, explicou também. Ele, então, sem perdão, assassinou-a. Os seus polegares congestionaram-lhe a traqueia. Ele, e agora?, perdoas-me?, perguntou-lhe. O cadáver não lhe respondeu. Quem cala consente, foi o que ele raciocinou. Sentiu-se satisfeito. Depois sorriu. E pôs-se a ouvir Carla Bruni. Le toi du moi. Era o que no instante passava na rádio. O Marquês.

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Recordo com alguma simpatia a criatura, o senhor Prof. Doutor Mário Patinha Antão. Recordo porque um dia o fulano propôs à estampa num periódico da pátria um artigo onde, entre outras elocubrações sinistras, dizia que o senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva tinha decidido abandonar voluntariamente a vida política activa, omitindo, sem decoro, que este havia passado ao exército senatorial de reserva apenas depois de – contra a sua vontade – ter sido derrotado nas urnas aquando de uma contenda eleitoral para a presidência da República. Ora, acontece que hoje foram reforçados os motivos para recordar o fulaninho. Pois ficou a saber-se que o dito cujo viu ser-lhe perdoada indevidamente uma multa por excesso de velocidade. Bonito. E Antão. É este tipo de caridade que enoja. E justifica a inocência da canalha. Nicky Florentino.

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2003-12-02


A noite é quando alguém olha em torno e se apercebe da sua própria ausência contra a presença de um astro que não convive com o sol. Não é uma sensação de liberdade. É apenas um conforto, uma distância ao tempo. Segismundo.

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O senhor Doutor José Lamego vai fazer qualquer coisa na espécie de protectorado que existe actualmente no Iraque. Compreende-se. Qualquer homem tem as suas fraquezas. Qualquer fulano cede a tentações e comete pecados. Um homem não tem a têmpera do aço. Uma criatura padece de volições da vontade. É por isso que é de tonto o dito senhor Doutor, enquanto parcela da trupe socialista da pátria, pretender revelar a coerência existente nos seus actos. Ele decidiu o que decidiu conforme as suas vontade e conveniência. Não conforme as orientações do partido político de que é militante. Daí que, se lhe agrada enganar-se a si mesmo, que, por decoro, poupe os outros ao engano. Vá lá para o Iraque. E volte quando as saudades apertarem. Nicky Florentino.

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2003-12-01


Disse o senhor dr. presidente do CDS/PP no décimo quarto congresso da JuventudePopular, “eu tenho orgulho na história de Portugal, por que me hão-de impor que o Estado deve ser anticolonialista?”. Sendo consequente e coerente, o dito senhor dr. deveria ter questionado também por que lhe hão-de de impor que o Estado deve ser democrático? É que, em honra do mesmo passado que tanto o orgulha, concerteza que se sentirá incomodado por terem inscrito tão peçonhenta palavra na Constituição da República Portuguesa. Só pode. Pois que aquilo de andar a beijar velhas com farto buço nos mercados e nas feiras só pode ser por conveniência. Não há democrata de sã extracção e com noção do ridículo que se disponha ao mesmo. Nicky Florentino.

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