Relativamente ao mester da política a panóplia de faunas é restrita. Existem quatro categorias de gente, importam apenas três delas, os apáticos, os estouvados e os assanhados. Os apáticos são zombies cívicos. Contam apenas para dois efeitos. Um é o recenseamento eleitoral. O outro é permitirem a plausibilidade da representação política. Eles não existem – ou, correcto, é como se não existissem –, mas têm uma existência imaginária. Só a partir dessa ficção é possível conceber que alguns exercem o poder em nome deles e dos outros, todos, o povo. Os estouvados, ao contrário dos inertes ou pusilânimes apáticos, mexem-se, agitam-se. Associam à sua prática e à sua retórica um efeito folclórico ou pândego. Neles, nos estouvados, não são tanto as convicções que se destacam, mas a embriaguez coreográfica que, por pulsão libidinal, emprestam aos gestos e às palavras. Os estouvados tendem a ter piada. Porém, são estouvados. Os assanhados, esses, são os que padecem de implacáveis e inabaláveis convicções. Afirmam e, no exercício da afirmação, afirmam-se. É aí, nesse exercício, que reside a respectiva força. Existem pela convicção afirmada, de modo cruel, se necessário ou imperativo for. Abaixo dela, da convicção, não existem. As convicções correspondem ao chão onde se estribam. O mundo pode ser diverso do que sentenciam as convicções. Porém, as convicções estão certas, o mundo é que está errado. Nicky Florentino e Segismundo.