Armin Meiwes anunciou algures nessa extraordinária ecúmena chamada worldwideweb estar à procura de um homem para abater, como no açougue, e, depois de devidamente amanhado, comer. Um tal Bernd-Jürgen B. ofereceu-se voluntariamente. Meiwes não se fez rogado. Orientou a câmara de vídeo para o plateau da cerimónia, talhou-o com uma faca de cozinha, uma e outra vez, a pedido repetido e insistente de B., que sangrou por quase dez horas, até expirar. Meiwes terá deglutido aproximadamente vinte quilos de B., carne, supõe-se, doce. Na Alemanha discute-se agora se o que aconteceu foi um homicídio ou um suicídio assistido. O mais importante, o repasto, parece que não é tópico de grande celeuma. No sentido em que pertence, o respasto, à órbita da gastronomia. E isso não é crime. É apenas um prazer que, antes, supõe dor. Dor nos outros. Dor dos outros. O Marquês.