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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2007-10-31


Regime. Na prática e pela prática, a democracia é uma aristocracia constituída por eleição, para disfarçar a ilusão. Nicky Florentino.

Referência



Página do livro dos googlemas. Ora bem, cardápios após festa são conforme a vontade do freguês. Quanto a simpatias para amansar o chefe, insistimos, nada a declarar. Segismundo.

Referência



Escala de Mauss César das Neves, xi. Ninguém dá abraços ou xicorações. Segismundo.

Referência



Dias incomuns. São muitos, marcados pelo hábito de não render o sono, de esticar a carne além do limite do dia e das horas, de morrer em câmara lenta como na teelvisão, como estúpido. Segismundo.

Referência



Máquina macia, i. Neste assento a sociologia é soberana, não admite apelo ou recurso. Toda a trasfega implica mais sociedade do que manipulação. Aliás, não por acaso, relação rima com felação, não com mãozinha. Segismundo.

Referência



Aquela máquina. Era uma máquina sem dono e sem função reconhecida ou útil, um mecanismo adiposo que exercia um fascínio difícil de explicar. O mais aproximado que pode ser invocado para aclarar o caso é o efeito de uma espécie de magnetismo orgânico, que atraía vigorosamente a carne. Sem domínio, o corpo cedia. A resistência era impossível. O corpo era arrastado, inteiro ou parcelarmente, até à máquina. Uma vez tangida, o corpo era envolvido pela máquina, dentro da qual era destroçado, literamente destroçado, por uma força centrífuga brutal, para garantir a sua lubrificação. Após cada corpo, porque a máquina não podia parar, sucedia outro. O Marquês.

Referência

2007-10-30


Pódio. Afinal parece que o senhor dr. Luís Filipe Menezes não se irá alcandorar no conselho de estado. É pena, porque era bom para os dois, o fulano e o órgão. Quanto mais não seja porque se merecem. Nicky Florentino.

Referência



À la cão. Desculpem lá, mas que porra de estudo sobre a opinião dos portugueses relativamente à administração pública é esse baseado numa extrapolação a partir de uma amostra constituída por trezentos inquiridos? Não podiam ser menos? Nicky Florentino.

Referência



Rankings à la Derrida. Os rankings das escolas, nos termos em que têm sido calculados e publicitados, são o mesmo que uma carrada de mato. Olha-se e percebe-se, é uma carrada de mato, sim senhor. Por qual raio é uma carrada de mato não interessa, porque uma carrada de mato é uma carrada de mato, urze, tojo, carqueja, alcachofra, cardo, et cætera, aos molhos. Para além disso não são poucas as criaturas que admitem que os números valem por si. Mais ou menos como as carradas de mato. Pois valem. Porque pensar a sua construção e o significado resultante de tal construção é muito difícil. E o que interessa mesmo é o ranking, não o que o ranking significa ou revela. Até porque para isso é necessária uma teoria. Uma teoria para decifrar os espectros correspondentes aos números. Porém em Mato Miranda nada disto é necessário. É a olho e a palpite. Como as carradas de mato. Só que com tabelas, quadros e, para ser mais bonitinho, gráficos. Nicky Florentino.

Referência



Ó lobinho nódoa ou assim, que vês ursos onde não há urso - nem com pêlo na venta -, já começou a ser exibida com legendas a terceira temporada da série The L Word, embora não em horário para meninos olarilolelas tipo «ai não posso, estou com muito sono, amanhã tenho que me levantar cedinho». Pancrácio. Segismundo.

Referência



Escala de Mauss César das Neves, x. Já ninguém dá calduços ou belinhas ou piparotes ou fodas à galo. Segismundo.

Referência



Controlo remoto. Nem consolo nem remorso. Segismundo.

Referência



O viés da senda. Sentir uma espécie de saudade em relação a David Hume sem antes lhe ter concedido atenção demorada é capaz de não ser bom sinal. Por isso, para obviar equívocos, antes de se começar a lançar chaves-de-fendas ao alvo, insista-se em Isaiah Berlin. Segismundo.

Referência



Hell privé. O sangue compactado numa haste da carne. A força concentrada num ponto, para além da aliança. O arrombo até aos rins. A continuação. Os corpos nunca aliados. Um que geme, magoado, servido por movimentos bruscos de possessão, não pelo ritmo balanceado do outro. A sensação de alojamento e aconchego naqueles rins. A continuação. O plano fundo dos rins maçado. O pénis também, porém modo baioneta. Os corpos como sólidos, sem renúncia a si. Uma ferida aberta. Mais. Mais. Mais. Mais. Mais. Mais. Mais. O impacto. A continuação. A continuação da força, do impacto, do rasgo. Os corpos sem cedência, um em conquista, o outro inclinado, em recusa. Aí a dor sem consolo, sem esquiva. Ali um corpo sem remorso, aquele. A colonização. As marcas imprimidas no outro, as equimoses. A força exposta. O derrame e o odor da conjura. O domínio fechado. O fim. A continuação. E tudo isto ainda não lhe é memória porque é o que está a acontecer. O Marquês.

Referência

2007-10-29


Tratado novíssimo sobre o método certo do ludopédio e dos matraquilhos no hectare, iv. O futebol é uma ciência novíssima. Sabe-se isto lendo as legendas da colecção de cromos oficial da superliga da temporada presente. Da Panini, claro. Casos relativos ao Leixões Sport Club. Beto, “infunde uma confiança sem limites à defesa que o protege; solvente entre e longe dos postes”. Marco Cadete, “copioso nutridor do ataque com o conta-quilómetros a deitar fumo no final dos noventa minutos”. Elvis, “prestações imaculadas a darem azo a que os avançados reflictam o porquê de terem saído de casa”. Paulo Machado, “a bola suplica pleo tratamento de estrela que lhe é conferido por este prometedor médio”. Jorge Gonçalves, “ziguezagues venenosos, constantes trocas de posição e uma reconfortante veia goleadora”. Três pontos. E oito vezes três vinteequatro, mister Jesualdo Ferreira incluído. Intendente Giambattista V. da Costa.

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Escala de Mauss César das Neves, ix. Ninguém dá uma no cravo e outra na ferradura. Segismundo.

Referência



Let it be, let it bleed. A ideia de combater o tempo através do relógio implica uma acção trôpega - ou frívola, mesmo. Porque o sangue tem um ritmo próprio e não é por arrasto da hora, com atraso ou adiantamento, que a máquina macia que um gajo é se desabitua. Segismundo.

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Estúdio realidade, i. Deus é o seu próprio fracasso, a correspondência à nossa pressa. Segismundo.

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2007-10-28


O fosso consultivo. Vagou um assento no conselho de estado. E, segundo notícias recentes, parece que andam com arranjinhos para que seja o senhor dr. Luís Filipe Menezes, agora senhor presidente da confraria social-democrata, a ajustar as repectivas nádegas à cadeira vazia, embora, segundo as regras vigentes, não haja como. Como o estado português é o que é, o senhor dr. Menezes cai bem no conselho aludido. E cai melhor no modo como lá cair, a jeito, torcendo, com uma ajudinha, torcendo mais, sem pudor. Ainda bem. Somos o que somos e o respeito que merecemos. Nicky Florentino.

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Falar verdade de Garrett. Ontem, a propósito do tratado não sei quê da união europeia, o senhor eng.º José Pinto de Sousa disse: “a ratificação pelo parlamento é tão válida quanto a ratificação por referendo”. E mais disse: “não sou dos que acham que só a ratificação por referendo é legítima, isso seria contra as normas da nossa democracia representativa”. E disse: “compreendo todos os que acham que foi feita uma promessa por dois partidos de que haveria referendo, embora [agora] as condições sejam muito diferentes”. E disse: “naturalmente as duas possibilidades estão em cima da mesa”. E disse: “depois de assinado o tratado, no dia treze de dezembro, o governo tornará pública a sua opção, a sua vontade”. Afinal onde é que mora o coxo? Nicky Florentino.

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Escala de Mauss César das Neves, viii. Ninguém dá uma volta no carrossel. Segismundo.

Referência



I love the sky

© rg animation studios

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2007-10-27


Escala de Mauss César das Neves, vii. Ninguém dá sopa aos pobres. Segismundo.

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Sopa com requiem. Acordou sem acordar - como é que se explica isto?, não se explica: levantou-se, ponto final. Levantou-se perturbada, a julgar que o requiem era uma espécie de pó para acrescentar à sopa, para a tornar mais espessa. Havia gengibre e uma faca sobre a bancada da cozinha. Havia outros ingredientes também, porém não interessa a sua discriminação, por ser fastidiosa. A faca sobressaía, lâmina larga e romba, sem brilho. Já tinha ido à amazónia e voltado e lá, quando a fome apertou, serviu para amanhar sapos e macacos, que foi o que se conseguiu arranjar para a dieta. Mas agora a faca estava ali, posta como morta. não, o requiem não é bem uma espécie de pó, é mais uma espécie de caldo knorr, para temperar a sopa. Eles famintos e eu angustiada, sussurrou para si. Contornou a bancada, olhou outra vez para os ingredientes, mais próxima. Batatas, cenoura, cebola, azeite, sal, gengibre... Calou-se e assentou as mãos sobre o bordo da bancada, com os polegares encontrados, e deixou a cabeçar pender, como se estivesse extenuada. Não estava. Não me apetece fazer sopa, não vou fazer sopa, determinou. Pegou a faca, sentiu o rebite mal cravado do seu cabo, e afundou-a no peito. Não gritou, não gemeu, nada. Retirou a faca, pousou-a sobre a tábua, colocada no limite da bancada, imediatamente ao lado do fogão. Um golfo de sangue saiu de si, precipitando-se sobre o fogão, atingindo também a panela sobre ele. Depois outro golfo, mais outro e mais outro ainda, ao ritmo da sua respiração. Baixou-se e estendeu-se no chão. Sob ela havia já uma mancha grená líquida alastrada. o requiem... Hoje... o requiem... não vou fazer sopa... o requiem... com gengibre, disse. As últimas sílabas foram pronunciadas com demora e cortadas, como se ela segredasse à morte a sua decisão. O Marquês.

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2007-10-26


Auto de fé. O Pedro escreveu: “a desejabilidade da democracia, relativamente a qualquer outro regime político, é, em última instância, um acto de fé cristã”. Atenção, não é um acto de fé, meramente de fé, é um acto de fé cristã, de fé com predicador adequado. Mas, atenção outra vez, é em última instância. O que significa que até lá, ao último apelo, há sempre a hipótese do juízo. Amén. Nicky Florentino.

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Além homília. O João. Segismundo.

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Escala de Mauss César das Neves, vi. Ninguém dá flores à namorada. Segismundo.

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Reclamação por extenso. Diziam as línguas supersticiosas dali que o restolhar e o estremecimento da terra sentidos durante algumas das últimas madrugadas mais enevoadas correspondiam ao arrasto do diabo pelo chão. Que era assim porque sobre ele pesava a culpa da gravidez de uma das moças castas do lugar. Que ela estava de esperanças embora nenhum homem alguma vez se lhe tenha chegado, afiançava e atestava o pai dela por penhor de honra sua, pelo que, se ela estava como estava e deus providencia virtude apenas, a respectiva prenhez só podia ser empreitada do mafarrico. E que, porque o pai e a mãe da cachopa rogaram tal praga ao demónio, praga com patrocínio divino e intercedência celeste, eram os cornos da besta, posta cabisbaixa, a lavrarem fundo e às cegas, sem luz ou orientação, que provocavam aquele pandemónio nocturno. Provariam esta teoria os sulcos e os regos que muitas vezes foram encontrados no dia seguinte nalgumas parcelas de terra perto, sem que alguém as tivesse lavrado. Que nem formão nem enxada haviam conhecido tais chãos na véspera ou antes. Porém, na verdade, o diabo nada tem a ver com o fenómeno. Foi um tolo, que passa os dias a aperfeiçoar a caligrafia e o ofício de matar, uma espécie de sniper local, que explorou a crendice do lugar, incentivando a disposição dos seus vizinhos a ver o ofício do diabo em tudo quanto os incomoda ou prejudica. O que ele fez foi movimentar os vagões da mina que antigamente existia naquele local e que à qual todos os outros julgavam já não haver acesso desde a derrocada acontecida há mais de trinta anos. Para além disto, à superfície de alguns terrenos próximos ele arrojou uns ferros, para dar aparência de ter passado algo estranho por ali. Mas não foi ele que engravidou a moça. Daí que, condicionado a sazão, tenha resolvido esventrá-la. Foi assim que ela foi encontrada ontem, com o bucho revirado e as tripas expostas, desenhando em caligrafia impecável a mensagem «o autor disto não se chama diabo». O Marquês.

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2007-10-25


Da (des)confiança. O conceito «confiança política» assenta sobre um equívoco. É que, se há política, há política justamente para permitir estar aquém da confiança. É óbvio que, em situação democrática, a ficção «representação política» complica a analítica do caso, no sentido em que se presume que o representante, porque constituído pelo representado, é escrutinado em função do crédito fiduciário que suscita. Outro equívoco. Porque, em democracia, os representantes não carecem de uma procuração dos representados, emitida por motivo de confiança, para serem representantes. Por maior que seja a abstenção eleitoral, o rateio das honras representativas faz-se à mesma. Portanto, a confiança não é política. Aliás, o conceito «confiança política» é um oxímoro. Política é a política, ordem da força e do engano. O resto é sobejo. Nicky Florentino.

Referência



Página do livro dos googlemas. Por uma vez este alçapão atraiu criaturas com sentido de orientação. Sim, albergue XXX (gay) e meretrizes, é aqui, sim senhor. E pau, para jogar com os ursos. E shampoo, para dar banho ao cão. Segismundo.

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Página do livro das interrogações, xviii. A carne é um despojo da morte? ou uma cápsula da vida? Ou seja, a carne é para enterrar? ou para dançar? Segismundo.

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Escala de Mauss César das Neves, v. Ninguém dá à sola. Segismundo.

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Os passadores. A vida tornou-se mais fácil sem a malta se aperceber. Antigamente havia uma linha que nos orientava, que nos referenciava, e também prendia. Agora não, nada. Não há linha e a voz que dizia a linha calou-se. Presentemente somos soltos, levados pela vontade. Com a diástole passamos melhor. É como a malta quiser, embora tenhamos perdido a orientação e muito do seu sentido. Que se foda, o adágio é velho. O que não mata engorda. E amanhã há mais. Segismundo.

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2007-10-24


Galos de Marseille. Será que o mister Jesualdo Ferreira anda a ouvir ruídos estranhos? Intendente G. Vico da Costa.

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Talim talão e assim sucessivamente até se esgotarem as cores do arco-íris entre o infravermelho e o ultravioleta. As manias são uma coisa complicada. Não porque sejam coisa, mas porque são complicadas. Vamos ao caso. Parece que James Watson, cientista reputado e emérito, fez afirmações e teceu considerações sobre a inteligência de não se sabe bem quem. À luz do que é sabido, tais afirmações e considerações fazem parte do catálogo da estupidez. Ainda assim, James Watson proferiu-as. Parece que posteriormente demarcou-se da respectiva pronúncia, mas isso pouco releva. Também Galileo Galilei se desdisse, consta que por força das circunstâncias e não por renúncia à sua (cons)ciência. Seja como for, depois vieram as consequências. Uns quantos convites para conferências em academias da europa foram cancelados. E James Watson tornou a casa. Vamos agora à parte mais complicada, após um breve interlúdio. Aqui advoga-se até ao limite o direito à estupidez. Mesmo os estúpidos têm direito a pronúncia. No entanto há uma diferença significativa, que se chama juízo e decência, entre reconhecer o direito à estupidez e caucionar a estupidez. Pode haver adeptos e devotos da estupidez, se alguém quiser ser isso. No plano dos princípios, nada há a objectar. Mas os adeptos e os devotos da estupidez têm que arcar as consequências da respectiva estupidez. Até aqui é tudo muito claro. Vamos lá ao caso então. O caso é complicado porque as afirmações e considerações estúpidas tecidas por James Watson serem de foro pessoal e as sanções sofridas serem de foro académico. Watson tem direito à ciência e a ver as hélices do dna. Tem direito à estupidez e a ser racista. Tem também o direito a beneficiar e sofrer por isso, os seus direitos. Do que resulta que no plano embrulhado que é a puta da vida não há isso a que se chama ciência pura, tipo «ai eu já não quero continuar a brincar aos racistas e a dizer mal dos pretos, eu agora quero ser cientista e dizer umas verdades». A ilusão da separação dos planos da ciência e da vidinha é bonita na teoria, mas, para além de determinados limites - a estupidez é um deles -, não tem adesão empírica. Ora, terminada esta lengalenga, sai uma sentença. A racionalidade axiológica é uma coisa fodida. Mais uma vez, não porque seja coisa, mas porque é fodida. Aprende-se isto com Weber ou com Boudon, entre outras criaturas, geralmente desgraçadas, porém decentes. E é aqui que a coisa fia fino. A decência tem como condição a ponderação. Obriga a que nem se exorbite nem se condescenda. É por isso que não se deve ser complacente com o racismo de Watson. E que também deveriam ter deixado o homem falar sobre o que sabe, permitindo-lhe concretizar as conferências agendadas. Não aconteceu assim. É porque a inteligência dele, no que concerne às relações e interacções sociais, é como a inteligência que, à cão, ele reconheceu a outros. Aguente-se. Já tem idade para ter juízo. E quem surgiu a sugerir que os dislates dele são mera insensatez, desvalorizando-os, também. Até porque, não sendo coisas, uma coisa é a decência, outra coisa é a conveniência de polemista. Ou a desfaçatez. O que significa que, numa ordem decente ou que se deseja decente, o cancelamento das conferências para as quais Watson havia sido convidado, sendo grave, não tem a gravidade das afirmações e considerações sobre a inteligência de determinadas pessoas que ele fez. Segismundo.

Referência



Dois em um. Se fosse mulher, o Jack Bauer chamar-se-ia Deolinda. Segismundo.

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Ser arquipélago. Por contingência e condição (também contingente), um gajo é uma espécie de compêndio de fragmentos que exige uma lealdade simultaneamente gregária e dilacerante. É por esta e por outras que um gajo devia nascer equipado com um kit de costura. Para, remendando-se com suturas de primeiros socorros, poder ser o que uma cicatriz é, carne revista e cuidada, carne marcada mas garantida, não carne apenas, lisa, tenra, à espera de ser destroçada ou moída. Segismundo.

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Escala de Mauss César das Neves, iv. Ninguém dá tiros. Segismundo.

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Spleen reset, i. O modo como se vestia, a blusa e as calças justas, e caminhava, as pernas jogadas como se estivesse na passarelle, acentuava-lhe a silhueta, o corte curvilíneo do corpo. A blusa e as calças bastante justas. não sirvo para esta vida agarrada e ridícula, mereço mais, pensou ela e surpreendeu-se com o seu pensamento, no instante em que se cruzou com um par de jarretas, que se desviou para ela passar. Imagina-a quando chegar à idade da madame Bovary, disse um para o outro. Ela ouviu o comentário trocado pelos velhos, mas fingiu não ter percebido a provocação. Prosseguiu, testemunhada à distância por eles, agora parados no passeio, a contemplar o afastamento do corpo que os havia perturbado. a vida deve ser absurda e obscena, devemos ter a prerrogativa de nos libertar da espécie, da sua mediocridade, da normalidade, do regime de ser sem palpitação, sem ruído, sem mal, continuou ela a pensar. Entretanto susteve os passos. Colocou as mãos nos bolsos de trás dos jeans. Parecia estar a meditar. E estava. os homens são animais fracos, incapazes de superar a sua condição de mamíferos. nunca esquecem que mamaram. quando vêem uma mulher, esse facto atraiçoa-os. é sempre assim, não conseguem disfarçar. nem a velhice lhes lava a memória da mama. deve ser um fenómeno somático. Entretanto virou-se, para enfrentar os vetustos que a miravam. olha para aquilo, os cabrões dos velhos a babarem-se, como se fossem crianças. O mais tímido bateu duas, três vezes a bengala no chão e retomou o ritmo trôpego, começando a andar. Embora, a puta topou-nos. O outro, resignado, seguiu-o. O Marquês.

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2007-10-23


Ditados democráticos. Se percebi, no juízo de Vital a hipótese de realização de um referendo sobre o tratado europeu novíssimo depende da literacia política que os gentios revelam em relação a tal matéria. Está bem. Mas, atendendo à raça dos gentios lusos, ele devia ter sido mais consequente e perguntar: não será tempo de deixar de brincar às eleições? Porque o problema é um problema para todos os sufrágios, não exclusivo dos referendos. Para o resolver, tem que começar a fazer-se ditados e exames escritos. Apenas os habilitados poderão votar. E sete não dará acesso à salvação por oral. Porque o voto é escrito. Nicky Florentino.

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Página do livro dos googlemas. Pá, vampiro salubre é um oxímoro, no mínimo, e cocktail bloody mary é coisa de frouxos. Segismundo.

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Página do livro das omissões, i. Um dia ainda se arrependerão por não terem escrito um poema com o título «Jack Bauer, meu amor». Segismundo.

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Página do livro das sentenças, xliii. Tudo começa por contaminação e, depois, disso não há regresso. Segismundo.

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Escala de Mauss César das Neves, iii. Ninguém dá o corpo ao manifesto. Segismundo.

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Subjecte vocelência também. Quando alguém diz «isso é muito subjectivo», um gajo fica desarmado, porque não sabe quanto é muito naquela subjectividade. A partir daí, sem escala comum, está tudo fodido ou em vias disso. Segismundo.

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2007-10-22


Sem sombra, sem agá. Depois d’o ombro do teu cão, o irudoid. Segismundo.

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Weather systems. O outro, e lembras-te das meninas da meteorologia? Ele, vagamente, agora o meu meteorologista chama-se João Miranda. Segismundo.

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Dia cê. Isto é recorrente, apetece-lhe dizer caralho. O caralho isto, o caralho aquilo, o caralho é que é. Ninguém acredita, ninguém quer saber porquê. Ele chama-lhe disposição. Quando está mais eufórico chama-lhe boa disposição. Outros chamam-lhe falta de educação. Em rigor, falta de educação não é, não pode ser, porque tem excesso de academia no currículo. Também não é má criação. Desde pequeno o apetite nunca lhe faltou e alimento igual. Falta-lhe é gosto, mas isso é outra conversa, não é para aqui chamada. Os gostos discutem-se, sim senhora e sim senhor, mas o problema nem é de criação nem é de gosto. Será de filosofia?, filosofia moderna? Ele quer crer que não. Já empinou Gadamer, Habermas, Heidegger, Foucault, Lévinas e até um bocado de Derrida. E Ricoeur e Austin e Goodman e Rorty e Putnam. E o caralho. E Wittgenstein também. Não adiantou. Poderia julgar-se que a disposição remete a Bourdieu, mas, sinceramente, o caralho é que é, nada disso. Bourdieu está morto, é deixá-lo em paz, cadáver. O caso é seguramente menos visceral. É apenas uma propensão como outras propensões, neste caso a dizer caralho. Será grave? Se for, que se foda. Nenhuma vida é inteira. E, já agora, para que conste, não lhe apetece dizer caralho a torto e a direito. Tem dias. Mais concretamente tem tardes e tem noites. Manhãs não, não tem manhãs, porque, tanto quanto pode, passa-as a dormir. Ainda bem. As manhãs são preciosas demais para lhe apetecer dizer caralho. Talvez o diga em sonhos, mas o que é que isso interessa? Durante a manhã quem é que sonha? e, cúmulo, quem é que sonha dizer caralho? Em juízo perfeito, ninguém. Mas o que é isso o juízo perfeito? Outro problema, não é? Com um caralho. Daqui ninguém sai vivo. Pelo menos tão vivo quão aqui chegou. Mais valia estar quieto, não é?, colocar baias ao espírito peregrino. Talvez. Mas hoje é dia cê. Cê de carapau de corrida, cê de laranjina cê, cê de comer massa às colheres. Ou o caralho. Que nada disto interessa um caralhinho sequer. É apenas motivo do que é, dizer caralho em html também. Segismundo.

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Escala de Mauss César das Neves, ii. Ninguém dá abébias. Segismundo.

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Chegar ao ceo. Miquelina andava abúlica. Era já caso de dias e dias, marcado por oscilações de humor, surtos de impaciência e suores frios. Ao fim de duas semanas, como o triturador de papel novo, com maior capacidade de destruição, tardava em chegar, ela decidiu vingar-se. Num dos dias seguintes foi notícia a tortura do presidente do conselho de administração de uma empresa famigerada. Foram-lhe amputados quatro dedos, os polegares e os indicadores. Ao pénis sucedeu o mesmo. Tudo esmagado e destroçado na máquina de triturar papel que equipava o gabinete do sujeito, modelo igual ao da que era esperada no departamento administrativo. Miquelina tinha uma afeição extremosa - pode considerar-se obsessiva, mesmo - ao algarismo cinco. O Marquês.

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2007-10-21


Escala de Mauss César das Neves, i. Aos domingos, ninguém dá missa. Segismundo.

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Gloomy thunder day

© rg animation studios

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2007-10-20


Página do livro dos googlemas. Pá, simpatia para ganhar uma partida de futebol, é mais com essa espécie de bacilo da bola chamada mister Jesualdo Ferreira, que também é muito bem capaz de saber qual é o nome técnico do apalpa-folgas. Quanto a pormenores sobre o mistério raças de canhes - canhes?, foda-se, o que é? - nada há a declarar aqui. E, abrenúncio, sou devoto de santa bárbara quero saber sobre a vida e a história dela, o que é que isto quer dizer? Aqui somos devotos do Jack Bauer. Apenas e só. Segismundo.

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Escala de Espada, § único. O meu Tocqueville é em inglês, como o molho e o chá das cinco. Segismundo.

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Défice da virtude de Job. O mundo estava naquela ordem quieta da madrugada, quando ele começou a praguejar. Deus, concerteza demasiado ocupado, não acudiu. Ainda bem. Porque sem o socorro dele o caso já era suficientemente grave. Segismundo.

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2007-10-19


É um touro que há-de levar a irmã de Cadmo. Quando após a recauchutagem de um tratado alguém diz «porreiro, pá» é porque alguém está a precisar de halibute, e não o da dieta. Nicky Florentino.

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Escala de Baudrillard, iii. Se interessa proteger algo de alguém, que seja o seu simulacro. Segismundo.

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Eixo. De manhã a mãe pergunta ao pai embora?, à noite o pai diz à mãe vamos. Segismundo.

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Der Steppenwolf. A diferença acrescenta a margem, que é ainda continente, porém limite. Segismundo.

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A aproximação de Salomé ao idílio. A brisa cálida, que veio vingar a chuvada, já tinha desaparecido. Aconteciam as primícias da noite. É quase hora de jantar, vem. O tempo foi passando. Quando entrou em casa, ele segurava as chaves na mão suada. Olá, disse com a voz quase calada pela rouquidão. Por que vens tão tarde?, o que há para jantar?, as perguntas dela e dele, respectivamente, interceptaram-se, vibrando uma na outra. Ele pousou as chaves no móvel do hall de entrada. Vens com muito apetite?, quis ela saber. Ele dominou o telecomando e ligou o televisor. Por acaso estou com fome, disse, continuando sem justificar o atraso. Ela elevou a voz, fiz arroz de carqueija, para acompanhar o lombo assado, para superar o ruído provocado pelo exaustor da cozinha. Ele demorou a reagir, sim, serve, pode ser. Depois dirigiu-se à casa de banho, onde foi lavar as mãos. No regresso, no instante em que ela saía da cozinha, levando na mão a travessa com o lombo, encontraram-se. Ela pousou a travessa sobre a mesa. Ele puxou a cadeira para sentar-se. Antes beijaram-se. Ela tornou à cozinha para ir buscar o arroz. Ao passar pelo limiar da porta da sala, ainda não me disseste por que é que chegaste tão tarde, João, insistiu na interpelação. Não comeces, retorquiu ele em tom ríspido, agravado pela rouquidão. Não precisas ser bruto, só queria saber se aconteceu alguma coisa, mais nada, não costumas atrasar-te sem motivo, fingiu ela a curiosidade em cuidado, ao mesmo tempo que assentou o arroz ao lado da travessa com o lombo. Não, Salomé, nada aconteceu, atrasei-me, só isso. Serviram-se e começaram a comer em silêncio. Ouvia-se o som do televisor. A soturnidade da cena foi interrompida apenas por uma declaração dela, acho que vou fazer mioleira para amanhã. Ele olhou-a com indiferença. Com esparregado, gostas de esparregado, não gostas?, acho que com esparregado combina bem. O Marquês.

Referência

2007-10-18


A globalização na óptica do utilizador. Sobre o tópico globalização o que ele sabe é escasso, para não dizer nada. Ainda assim, estranha que, sem sair de casa, demande via uns franciús de paris, uma caterva grande de compact discs e, passado um número de dias raro, três ou quatro ou cinco, o senhor carteiro entregue no seu domicílio a correspondente caterva de envelopes amarelos e almofadados, remetidos desde auckland, nos quintos da oceânia, em nome de uma empresa com sede em thorofare, lugar encavado na tangência baixa entre new jersey e pennsylvania - américa, portanto -, com um custo - portes incluídos - entre trinta a cinquenta porcento inferior ao que ele conseguiria nas lojas da especialidade do rectângulo - que têm catálogo deveras limitado -, isto sem contabilizar o custo da deslocação às ditas lojas. Viva o empório em casa, pois. Segismundo.

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Sangrar. Desde “It’s alright, ma (I’m only bleeding)”, de Bob Dylan, até “Happy and bleeding”, de PJ Harvey, a mesma lâmina sobre a mesma carne, mais de quatro décadas de oxidação da mesma ferida. Segismundo.

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2007-10-17


O que faz a falta de bases. À hipocrisia dos senhores os gentios respondem com cinismo. Não por acaso a democracia pátria possível é um regime sulfuroso. Nicky Florentino.

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A condição de órfão de pai. Por muito que custe admitir e encaixar, Jack Bauer existe e é humano, não é o janízaro que para aí apregoam. Prova irrefutável disto são as suas últimas palavras, dirigidas a uma mulher - Audrey - desfalecida e em convalescência, faltavam menos de cinco minutos para as seis da manhã, estas palavras, I love you from all my heart... and I always will. Um mau, seja ou não seja órfão de pai, não diz estes disparates. Segismundo.

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Esfola. A amizade dita só não terminou cerce, sem remissão e futuro, porque a contrição, ou será que ele vai ter que matar o pai?, se for necessário, ele é capaz de o matar, não é?, foi súbita e voluntária. Segismundo.

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Mata. Estava a correr o último episódio da sexta temporada de 24. É o último episódio, será que o Jack Bauer vai morrer?, perguntou ela. E o que poderia ter sido uma amizade airosa e proveitosa, com direito a descendência incluído, terminou naquele instante. Segismundo.

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Dominatrix. Tal como as conhecíamos, elas estão a acabar. Segismundo.

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Página do livro dos equívocos, xiii. Por causa de uma história de Christian Andersen, alguns patos julgam que, quando crescerem, com ou sem laranja, não serão patos. Segismundo.

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Vaudeville onze. Sem alguém, outrem jamais será um estranho. Segismundo.

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O idílio de Salomé. Deus é um lugar estrangeiro, demasiado afastado da minha fronteira, tão afastado que não sei se existe, murmurou ela, ao mesmo tempo que imaginou-se a decapitá-lo, a agarrar a cabeça decepada, a livrar-se da pasta encefálica através da cavidade occipital e a remover todos os tecidos envolventes da cabeça, para, limpa, colocá-la no congelador, ao lado da caixa de Häagen-Dazs com cookies & cream. O Marquês.

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2007-10-16


Neo e o comprimido vermelho. Muitos dos que defendem uma constituição nova encostam-se ao argumento da necessidade de proceder a uma limpeza da tralha ideológica que foi inscrita na constituição de milnovecentosesetentaeseis. Que os amanhãs já não cantam, que já não vamos para o socialismo, que vale apenas marchar contra os canhões. Em suma, fazendo a higiene da constituição em vigor, neutralizando-a, chegar-se-ia a uma constituição perfeitinha, curtinha, prática, porreirinha, com os fundamentos necessários e básicos apenas, sem fins, sem programação. O senhor director do Público, em editorial na edição de hoje, dá uma achega. Por exemplo, limitar constitucionalmente “os défices públicos a todos os níveis”. Porque isto, está bem de ver, não é um fim, não obedece a um programa. Também não limita o espectro de acção possível da política. Não, isto é um princípio fundamental. Em prol dos vindouros. Natural, mesmo, que vem da natureza. Foda-se. Não há uma saída fácil da estupidez. Nicky Florentino.

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A sedimentação. Acusam que um dos sintomas da putativa viragem folclórica do psd é a aventada proposta de uma nova constituição. Em parte é. Mas tal parte é justamente parte que vem de antes e é partilhada com outros partidos políticos. Note-se que o frenesim dos senhores do famigerado arco governamental atinge tais zénite e frequência que a consolidação institucional - não tanto das pessoas quanto dos processos e procedimentos e das orientações que norteiam tais processos e procedimentos - tem dificuldade em acontecer. Mas é um expediente barato para iludir os gentios. Dizendo que o problema é de fundamento, que é necessário refundar, alterar tudo, fazer tudo de novo, desde o princípio afonsino ou quase, os senhores furtam-se a uma responsabilização relativamente no que concerne às suas decisões e aos seus actos. Quando algo não corre conforme a propaganda e as expectativas fomentadas por promessas ou compromissos, a culpa não é deles, os senhores, não senhor, é do fundo, do lastro que herdaram. É, pois é. Mas é o caralho. Nicky Florentino.

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L’art de se persuader em mirandês. Esqueça-se aquela, do senhor Prof. Doutor Louçã, de alguém ver um porco a passear no campo e pensar em dois presuntos. Porque esta, “vamos partir do princípio que um determinado investidor desenvolveu um modelo matemático do bcp”, é melhor. Segismundo.

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Página do livro dos googlemas. Ó mistério, ó ministério, o que significa o nome deolinda? O mundo nem está fácil nem é perfeito. Segismundo.

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Dasein design, vi. A dúvida sobre a condição da sombra que o acompanha, se é uma parte suja de si, se não é parte. Segismundo.

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Página do livro das sentenças, xlii. O estilo é um limite, não tanto no sentido matemático quanto no sentido da privação. Segismundo.

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2007-10-15


A democracia e os democratas. Não referendar tratados é bom. Não referendar tratados depois de ter comprometido submetê-los a referendo é melhor. Em última instância porque fica a saber-se quem é propenso ao ranço ou tem vértebras de plasticina. Nicky Florentino.

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Perguntam na república dos matombos. Mas, com uma constituição nova, quando é que isto do que tem que ser tem muita força acaba e começa um regime diferente? Nicky Florentino.

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Um, dois, três. A questão pode ser redundante, mas, mesmo em política, a hipótese de dicefalia não implica duas cabeças? Nicky Florentino.

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Wir wollen zusehen, wie die Welt zum Teufel geht. A vida do senhor dr. Pedro Santana Lopes é tão cheia de excepcionalidade que, do mesmo modo como foi e deixou de ser senhor primeiro-ministro, o fulano vai passar a ser o senhor chefe de fila do colégio parlamentar do psd. Ainda bem. Com a carga fiscal que existe em Portugal não há motivo para o circo indígena não ser decente. Nicky Florentino.

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Wer füttert die Maschinen mit seinem eigenem Fleisch? Os partidos políticos são máquinas políticas sem mecânica. Nicky Florentino.

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Per capita. O senhor dr. Menezes é uma espécie de overhead do psd. Nicky Florentino.

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2007-10-14


Livrete dos anjos sujos, ii. Enquanto acariciava o gato sentado sobre o seu colo, Anna Fitzgerald disse, à medida que me confronto e testemunho os outros, a sensação do humano amarga-me mais do que a sensação da realidade. Sinto que somos demasiado reais para podermos ser diferentes, humanos. Passados alguns dias Anna Fitzgerald foi encontrada sem vida. Quando preparavam o seu cadáver, para o colocarem no caixão, descobriram que ela tinha três asas. Para acondicionarem a sua carcaça mais facilmente, cortaram-lhe-as mas não as meteram no féretro. Quanto ao motivo porque assim foi há declarações desencontradas. Há quem diga que o procedimento foi o que foi por falta de coragem, por ninguém daquele lugar atrever-se a sepultar uma criatura angélica. E há quem diga que a omissão das asas no interior do ataúde ficou a dever-se a pormenores de tramitação, decorrentes do facto de a empresa lutuosa contratada para as exéquias, uma empresa de fora, não estar credenciada para proceder ao enterro de gente alada. Eliz B.

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2007-10-13


Earth to Doris
realização © Christoph Simon

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Requiem pela estação das aparições.* De onde emana essa necessidade grave?, necessidade de cravar, de esconjurar, de abortar a carne, de abandoná-la, como se não fosse tua, como se não fosses tu, something’s inside me, de onde?, unborn and unblessed, não sabes, não queres saber, disappears in the ether, mas tens que saber, tenho que fazer algo, tenho que encontrar-te, this world to the next, tenho que dilacerar-te, mostrar-te tudo aberto, disappears in the ether, fazer-te saber o que de outro modo não saberias, one world to the next, para ficares a saber como foi, como é, como nunca foi, como nunca poderia ter sido, como imaginamos que não será, até sermos e podermos ser autênticos, porque, como sabes - a sentença é antiga -, tudo o que é sólido dissolve-se no ar. Segismundo.

* este post é interceptado por versos do tema «When under ether», incluído no álbum White Chalk (Island Records, 2007), de PJ Harvey.

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2007-10-12


Sim, senhor. O poder resulta da capacidade vigorosa de administrar - não necessariamente no sentido burocrático - as fraquezas alheias. Ou seja, o poder é uma forma de gestão das privações dos outros. Que é mais ou menos o que é a influência. Sendo que esta distingue-se daquele por não estar imediatamente associada à ameaça de porrada. Nicky Florentino.

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O vinteecinco da democracia. Não faz sentido afirmar que a democracia é o regime da transparência, porque não é. Quanto muito, a democracia é um regime tendente à transparência - mas a força de tal tendência, que não é pouca, é subvencionada sobretudo pela retórica emproada das senhoras e dos senhores com o corpo emprestado a uma honra pública qualquer. Porque o que a democracia é de facto é um regime de opacidade dirigida. Quem quer ver tem que pagar, tipo peep show. Nicky Florentino.

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Malmaior. A eventual saída do senhor Doutor José Rodrigues dos Santos da rêtêpê constitui um risco ecológico grave. Quantas árvores inocentes serão abatidas? para resultarem em blocos de páginas com a proporção de um tijolo, editados convenientemente, com a impressão da literatura do fulano. Segismundo.

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But if you’re gonna dine with them cannibals. Sob tanta estranheza, não o espanta a trempe santíssima. Ele já viu muitos filmes e sabe que há criaturas com o dom divino da partição e da mesmidade em simultâneo. Mesmo quando chamam carne ao pão e sangue ao vinho, isso, não o espanta. O que o espanta é nenhum nome teologicamente certificado chamarem ao petisco e à cerveja. Segismundo.

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Hino do ofício. Este sujo que corre nas veias, este sujo do corpo fechado, este sujo da mortificação, este sujo a céu aberto, este sujo que vem do tempo em que o vinil rodava e nele picava uma agulha, este sujo concreto e da consciência, este sujo não pertence à nossa senhora da nossa morte. Segismundo.

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2007-10-11


Pesca nova. Parte significativa do exercício político concretiza-se como domínio e edição de pormenores. Sessentaequatrovírgulaoito do produtointernobruto é muito distinto de sessentaequatrovírgulaquatro apenas. Isto não é propaganda. É rigor estatístico, arredondado às décimas. Nicky Florentino.

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Prodígio. Um dia ainda seremos todos assim, felizes, eternamente felizes, atentos à dimensão que perseguimos e provocamos. Segismundo.

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Página do livro dos googlemas. Vamos espreitar o armazém, mas é provável que neste tugúrio não haja disso, simpatias para marido ficar manso e besta. Acresce que aqui não sabemos responder a esta interrogação que inquieta o mundo, pessoas com placas de platina no braço podem voar?, mas talvez devêssemos. Com placas de platina aí ou na cabeça. Segismundo.

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Vizinhanças. Passa-se entre tantas personagens do fim do mundo que, às tantas, perdem-se as sensações de lugar e de normalidade. Segismundo.

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O crepúsculo dos cabrões velhos. Fausto fechou o livro que tinha nas mãos, guardou-o no alforge, pegou no cajado, de que se socorreu para levantar-se, e assobiou. O rebanho convergiu lentamente em sua direcção, demora que ele aproveitou para concertar a samarra. Ao aproximarem-se as primeiras reses, ele iniciou a caminhada, conduzindo-as até ao limite do pasto, encontrado com a fraga do planalto. O caminho pedregoso obrigou-o a um estirão demorado e difícil. Não obstante o sol estivesse baço e aquelas serranias não fossem território onde costumassem elementos amenos, ele transpirou. Os pés incharam-lhe dentro das botas. Ainda assim não deteve qualquer passo e prosseguiu, em andar sem descanso. Ao acercar-se do despenhadeiro, abrandou a marcha. No cabo do planalto, dois passos antes do abismo, deteve-se. Pode dizer-se que é definitivo, o fim. Que, como tudo, finda, termina acabando, sem remissão. E que depois já não é o que era, é o que é. É assim com todas as coisas. Será assim também convosco. Fausto pronunciou estas palavras como uma espécie de prece e de exortação às peças de gado, que, nada as sustendo, precipitaram-se para o sacrifício. O rebanho foi aniquilado por respeito a um protocolo cruel de celebração da vida, entendido como exigência divina. Naquele arrabalde do mundo julgavam que a liquidação das catorze reses velhas - e a consequente preservação exclusiva das mais novas - garantir-lhes-ia a fertilidade das cabras no próximo cio. Porém, visto sem escrúpulo antropológico, tal acontecimento é produto de amência, apenas e só. Mas os factos são o que são. Pelo que, depois, sozinho, sem qualquer cabrão velho como companhia, ele desceu para a aldeia, onde era aguardado para a glorificação final. Na aldeia não sabiam é que a natureza já estava a providenciar uma moléstia, nunca diagnosticada por ali, que viria a dizimar todos os exemplares machos da espécie antes da época de cobrição. O Marquês.

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2007-10-10


Da deliberação democrática. Não são poucos os que julgam que, no contexto da modernidade tardia, o que é - porque continua a ser - determinante em política é o conteúdo do escroto. Que quem tem teor aí manda, orienta, dispõe, faz - enfim, pode -, e quem não tem tal teor limita-se a assistir, nos vários sentidos da assistência. Equívoco. Porque agora e cada vez mais a política tem menos a ver com o que qualquer bolsa tem ou não tem do que com o juízo ou a sensatez e com a disposição a isso. Nicky Florentino.

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Faust arp. Os tons são demasiado íntimos para o combate. Desvanece-se o vislumbre. O próximo contrato será firmado com a vista, nada mais. Encerra as mãos. O combate será olho a olho. Segismundo.

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Written in blood. É quase a hora do silêncio, se as vozes deixarem, se for possível domesticar a culpa. Mas ainda falta arrefecer para essa hora ser o momento da vingança. Segismundo.

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The devil. Aprendeste a gritar com a PJ Harvey. Agora redimes-te, abafas o sopro, trancas as sístoles. Um modo de insânia persegue-te, foges de ti, afasta-te do corpo. Distante a tua carne, distante a tua pele, um murmúrio. Mas mesmo essa renúncia perderás. Segismundo.

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Hamlet magma. Haver uma tecla como a tecla del, cuja função é produzir invisibilidade, acelerou significativamente o processo de revisão e de eliminação dos destroços narrativos pelos quais nos conduzimos. Mais, por essa tecla ter aumentado o alcance do recuo possível e, consequentemente, viver-se sob o regime da hipótese de palimpsesto, hoje não faz sentido qualquer doutrina teleológica. O que o esquecimento por si não despistar, a elisão por delete consumará desmemória. Segismundo.

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2007-10-09


Circo de feras. Em política a situação complica-se quando o mandarinato em governo entende que tem mais direito a fazer o seu circo do que as oposições, sob qualquer forma, orgânica ou largada na rua, têm direito a fazer o seu. Que apareçam gêéneérres e pêéssepês à mistura serve apenas para alvoroçar as hostes implicadas. Como ninguém paga bilhete para o espectáculo, o caldo entorna-se, a açorda fica demasiado enxuta e a estupidez das partes é exibida com franqueza e esplendor circenses. Nicky Florentino.

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O corpo de Cristo em migalha redonda. O Eduardo chama a atenção para o modus faciendi das hóstias servidas aos devotos da cova de iria. Que são manufacturadas, literalmente, por mãos nuas. Não se compreende o melindre. Os católicos apostólicos são ou devem ser criaturas rijas. Quem tolera um soco de três de três anos por amor, aguenta seguramente uma hóstia transubstanciada em carne de crucificado, mesmo que, se para tanto for exigido, feita de farinha amassada com os pés. A fé pode muito, arrasta montanhas e assim, não se detém por minudências de asseio ou de sacristia. Pelo que não é uma auérola de pão ázimo consagrada em homilía adequada que altera os cuidados das dieta e salubridade cristãs. Para além disso, é sempre possível o recurso à extrema unção. Segismundo.

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Onírica. Um auditório do tamanho do mundo. Ouvia-se uma voz a chamar por uma condição particular e a solicitar às pessoas dessa condição que se levantassem. Depois acontecia uma salva de palmas estrondosa. Tornado o silêncio repetia-se a cena, a voz, as pessoas levantadas, a ovação. A primeira vez que a sequência não foi exactamente assim ouviu-se a voz a pronunciar as seguintes palavras, estão aqui os administradores da Brisa, SA?, ergam-se, por obséquio. Os ditos levantaram-se. Neste instante a voz cortou o ritual, fogo, à vontade. E as palmas soaram após os disparos, repondo a ordem da cerimónia, que continuou sem qualquer outro incidente. Segismundo.

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Êxodo. Era um terrorista muito terrorista, o mais terrorista que possa conceber-se. Talvez até mais do que isso, porque no seu currículo constava a devoção a Charles Lee Ray (depois Chucky e abonecado), Freddy Krueger, Jason Vorhees e Michael Myers. Era um terrorista solitário, sem ismo e sem soldo, terrorista por convicção e mais nenhuma tinha, facto que o fazia não apenas ímpar mas também o mais temido dos terroristas. Durante muito tempo gizou o seu plano, porém apenas depois de ter despistado um conjunto significativo de hipóteses sobre o modo como o concretizar. Decidiu fazer explodir uma cidade, usando um dispositivo nuclear. Ansioso, avisou a população sobre o seu intento, para poder testemunhar o alvoroço. Era uma questão de perfeccionismo. Não lhe bastava induzir temor aos outros, sobreviventes, a viver nas outras localidades. Ele necessitava também de provocar e provar o medo daqueles que iria vitimizar. Por isso propagandeou a sua intenção bastante antes do instante da explosão. Quando a explosão aconteceu nenhuma pessoa estava na cidade. Mas, como uma epidemia, o terror estava disseminado por muitos dos outros lugares. A população daquela cidade, hospedeira do medo, contaminou a segurança dos outros que os acolheram, num efeito de cadeia, com progressão geométrica. O pavor tornou-se o nome da ecúmena. O terrorista, esse, tranquilo, entreteve-se a comer pão torrado barrado com manteiga. O Marquês.

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2007-10-08


Ai a democracia e tal. A democracia não é um regime para mariazinhas ou carolinas-ó-i-ó-ai. Se o senhor dr. Bernardino Soares, capanga parlamentar dos comunistas, admitiu que o regime nortecoreano era uma democracia - na verdade afirmou dúvida sobre que não fosse -, o senhor Prof. Doutor João César das Neves, plumitivo de segunda-feira no Diário de Notícias, pode muito bem pregar que o regime iraniano é “uma democracia há quase três décadas”. Glosando o degraçado com apelido Pessoa, cada um é do tamanho do que vê. E é também o que vê. Como em qualquer outro caso, a miopia é que não ajuda. O astigmatismo também não. Nicky Florentino.

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O Ken com ares de senhor primeiro-ministro. Em termos políticos o senhor eng.º José Pinto de Sousa é sobretudo a personagem que representa, facto que o faz depender das aclamações. É por isso que o arrelia quando o afrontam publicamente. É mau para a imagem. E para as forças de segurança. A sua. Quando o perturbam, o seu teatrinho parece que desaparece. Ele não consegue representar a personagem, limpinha, bonitinha, com fato e gravata a condizer. Ao ouvir ou ver algo que não lhe agrada, começa a ver comunistas e os comunistas começam a multiplicar-se. Está visto, não é com anseolíticos que o problema pode ser resolvido. Nicky Florentino.

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Ó, o populismo, vem aí, para os abrigos, para os abrigos. A gravidade do populismo depende das condições que o propiciam e em que grassa. Significa isto que há populismo e populismo. A matriz retórica pode ser semelhante, os valores vaga ou persistentemente afirmados podem ser os mesmos, mas isso não significa que a falange populista triunfe de modo inexorável. A sentença não muda de figura atendendo ao caso do senhor dr. Luís Filipe Menezes. Antes de mais, convém notar que o êxito da vertente populista no interior da seita social-democrata resulta do facto de essa espécie de noite de nevoeiro político chamada senhor dr. Luís Marques Mendes não oferecer a mínima esperança de vitória em eleições legislativas futuras. Ou seja, o senhor dr. Luís Filipe Menezes venceu porque os augúrios associados ao anterior senhor presidente do psd eram rés o chão. Depois, convém notar também que à medida que surgirem os desmandos e desatinos do senhor dr. Menezes não deixará de surgir quem faça o seu inventário e produza recensão adequada. Muito provavelmente vozes da própria seita tratarão de denunciar a orgia de estupidez, se acontecer - e é provável que aconteça. Por fim, os gentios tendem à estupidez - quem não salive como os cães de Pavlov erga o indicador. Mas têm osso. O que quer dizer que a maioria deles arrisca o osso sobretudo em circunstâncias de necessidade ou balbúrdia generalizada. É disto, aliás mais da sensação disto do que disto efectivamente, que depende a sorte do senhor dr. Luís Filipe Menezes. Azar dele. Nicky Florentino.

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O regime do tráfico das mãos dentro dos bolsos. Ai a mão invisível da corrupção, quase todos clamam, porque o coro é bonito. Pode parecer um coro de escravos, não faz mal. Em Nabucco, de Verdi, até soa bonitinho. Ai a mão invisível da corrupção, clama o bargante, clama o das manigâncias, clama o manhoso, clama o dos ardis com barbante. Clama também o pobre mas honrado, para disfarçar. Tem que se fazer alguma coisa, salvar a pátria. Mas o quê? Como ninguém está para mudar os respectivos comportamentos, insiste-se no discurso. Ai a mão invísivel da corrupção, ai ai. Nicky Florentino.

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Escala de Montag, i. Concedem-se facilmente as queimadas porque ninguém assume a responsabilidade pelas cinzas. Todos julgam que ao queimar algo o problema se resolve, como uma espécie de expiação. Porém há consequências. Alguém tem que varrer e colher as cinzas, para que não fiquem ali, a suscitar memória e, portanto, presença, como uma ruína do edifício que se pretendeu eliminar. Segismundo.

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Liberal. Atente-se, the l-word não é the l-world. O que significa que, por causa da distância entre definiens e definiendum, o combate continua a ser necessário, por palavras, actos e omissões. Segismundo.

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2007-10-07


Tratado novíssimo sobre o método certo do ludopédio e dos matraquilhos no hectare, iii. O futebol é uma ciência novíssima. Sabe-se isto lendo as legendas da colecção de cromos oficial da superliga da temporada presente. Da Panini, claro. Casos relativos à Associação Académica de Coimbra. Pedro Roma, “as suas firmes mãos acalmam toda a bola com desejos menos agradáveis”. Orlando, “pouco dado a adornos técnicos, é um gladiador que desconhece o verbo facilitar”. Vítor Cunha, “cumpridor na hora de tapar a lateral canhota e seduzido por cavalgadas atacantes”. Joeano, “uma pérola que dá feliz destino à mais vadia bola; artilheiro de estirpe”. Lito, “enguia que se infiltra pelo mais insuspeito buraco para lançar o pânico”. Três pontos. Intendente Giambattista V. da Costa.

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Livrete dos anjos sujos, # i. Vamos direitos ao miolo do mundo, afundamos a faca... Ernst tinha trinta e dois anos quando disse estas palavras. Era um jogador triste, que tentava a sorte em lotarias várias todas as semanas, sem que alguma vez tenha ganho qualquer prémio, ou consolação, que fosse. Vivia num quarto demasiado pequeno que o impedia de desentorpecer o corpo, agitar as asas, contraídas contra o torso. Suicidou-se, manifestou, por ter atingido o limite da compreensão da humanidade e não ter paciência para continuar a investigação sobre a própria condição. As coisas redundam na respectiva existência, que remete para o ser, eu redundo no meu corpo, que fazer?, terminou assim a sua última palestra, após a qual recusou responder a qualquer pergunta que alguém do auditório tivesse a intenção de formular, por pretender assistir à realização de um sorteio para o qual estava habilitado. Não foi sepultado. Eliz B.

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2007-10-06


Doutrina and God rides high up in the ordinary sky. Caso fosses mulher, considerarias que um soco de três em três anos é motivo de divórcio?, se, durante o interlúdio desses três anos, o homem continuasse a amar-te. Sim?, então necessitas de muitas caminhadas até ao santuário da cova de iria. Segismundo.

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2007-10-05


República democrática dos portugueses. Em Portugal é justa a observação de Shaw, democracy is a device that ensures we shall be governed no better than we deserve. Nicky Florentino.

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2007-10-04


Aum. A que classe de tristeza pertencem os homens sozinhos em clios, corsas ou saxos? Segismundo.

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Existencialismo, ii. Se houver solução para o que quer que seja, nem é por Camus nem é por Camões. Segismundo.

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Existencialismo, i. Se houver solução para a condição humana, não é por Sartre, o zarolho, é por Sastre, a Inès. Segismundo.

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Espectral. Cá por coisas que são da vidinha, a nossa, convém não confundir aparição com verificação. É que, está sobejamente recenseado, ser vidente decorre da vidência, não da evidência. Segismundo.

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2007-10-03


A saia da Carolina tinha um dragão pintado, ii. Não obstante o mister Jesualdo Ferreira, porque o que tem que ser tem muita força, hoje as coisas correram bem. Os turcos foram simpáticos e tal, mas levaram um toque quaresmal, que é para aprenderem. E não, não foi golpe de sorte. Golpe de sorte, minhas senhoras e meus senhores, minhas meninas e meus meninos, é não ter uma cabeça como a do ufano senhor Rui Santos. Com caracóis untados. Intendente G. Vico da Costa.

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Página do livro das sentenças, xli. Uma das vantagens de depois não é a solução, é a revelação da ignorância e do véu da ignorância anteriores. Segismundo.

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Suite. A besta que te fareja a ferida e persegue, atraída pela seiva doce e cálida vertida da tua carne, já trepa a escada. Como se fosse um fantasma, sem perturbar a quietação do hotel, sobe e aproxima-se da porta do quarto onde tentas o bálsamo para o golpe que levaste. Sangras e o perfume do sangue é-lhe um apelo demasiado forte. Nada a deterá. Ainda assim, para evitar denunciar-se, a besta modera a respiração, abafa-a tanto quanto pode. É grande a necessidade de não comprometer-se. Ela sente-a. Calcula o avanço, de modo a que o ataque que prepara seja sem aviso. Há uma honestidade estranha no seu movimento. A porta está fechada, o avanço é lento. Esta é a tua última oportunidade. Depois, porque prevalece a aristocracia das espécies, serás sem amparo. Verás tarde demais o assalto, apenas quando já sem hipótese de esquiva ou evasão. Ouvirás a respiração que se precipita sobre o teu pescoço, sem tempo para gritares. O teu sangue chama-a. O Marquês.

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2007-10-02


Eros und Thanatos. Se for, mais do que um erro sociológico, a definição de morrer é um lapso mais fundo, epistemológico ou anterior à metanóia. Segismundo.

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Tarde submersa. Estes dias de chuva são magníficos, lavam os putos do outro lado da rua, fazem o sossego. Segismundo.

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O ante meridium solar. Há quem tenha dificuldade com alturas - vertigens, diz-se. Ele, prosaico, tem também. Prova disto é que a determinadas alturas do dia ele não consegue andar levantado. Segismundo.

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Exercício de compreensão. Por sofrer deveras, por conta sua e dos outros, o enteado do carpinteiro andava cansado. Ser profeta é tolerável, dizem-se umas frases bonitas, contam-se umas parábolas, fazem-se uns números de ilusionismo - a multiplicação de víveres escassos, o alívio de moléstias de foro vário ou a ressurreição de mortos resultam sempre -, e as pessoas exultam e bradam aleluias. Mas ser mártir, isso, cansa. Cansado por sofrer, porém obstinado com uma missão dolorosa e fatal - redimir todos os pecados do mundo -, missão que ninguém lhe havia atribuído, ele decidiu comparecer a uma consulta de um especialista em maleitas da cabeça, para ver se havia reparação para o seu mal. Levou credencial, foi à vaga. E o diagnóstico do seu mal foi ditado nestes termos, existe em si mais alguém - outrem, pode dizer-se. Não é gravidez, é grave apenas. O resto da história, já se sabe, foi a confirmação de tal gravidade. O Marquês.

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2007-10-01


Nenúfares. O que é mais surpreendente na eleição do senhor dr. Luís Filipe Menezes como senhor presidente do psd não é a sua eleição. É a ressurreição dos putativos cadáveres políticos que andavam por aí, nomeadamente os chamados senhor dr. Arlindo de Carvalho e senhor dr. Nuno Delerue. Facto que é milagre - e mais ocorrerão sob o consulado do senhor das gaias, seguramente -, não é desgraça. Nicky Florentino.

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Questões que a noite trouxe. Ó Nicky, pode dizer-se que um tal senhor dr. Villas-Boas é uma espécie de senhor dr. Menezes do psd para as crianças? Não, pois não? Segismundo.

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Depois da morte de Salomão e de Job. Em situação de conflito ou disputa, porque a solução óptima para o problema da maternidade e paternidade de qualque criança é urgente, mais do que esportular recursos com psis que não se entendem e ou procrastinam ou têm a resolução antes do problema, importa decidir através do lançamento de moeda ao ar. Antiga, económica e expressão do máximo de racionalidade possível, a sugestão é de Jon Elster. Segismundo.

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Da falta de pedojuízo. Essa coisa os interesses tem muito que se lhe diga e mais ainda que se lhe não diga. Quanto a essa coisa os interesses da criança, ditos superiores, ditos supremos, então, valha-nos quem puder, conquanto a soberania de tal valer jamais seja penhorada a psi de qualquer raça. É que, para preencher tal conceito, se o império da lei é mau, o império da ciência é pior. Segismundo.

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Código da estrada. Um dromocrata é um fangio ambulante. Quer a velocidade para si - embora não exclusivamente para si -, deseja morte aos lentos - nomeadamente aos que estorvam -, porém não os atrasa ou prejudica. Os que assim procedem, causando atraso ou prejuízo aos outros, são os filhos da puta. Os que abusam da caução dos semáforos, como reporta o Cenas, são uma espécie desses filhos da puta. Deveria haver um céu só para eles. Segismundo.

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A civilização. Qual é a justificação do facto de haver criaturas que correm contra o tempo?, como aconteceu recentemente com Gebrselassie na maratona - uma das provas mais estúpidas e com a distância mais estúpida -, se cada vez mais há formas de transporte acessíveis muito mais rápidas e confortáveis. Sinceramente, ainda há muito por racionalizar neste mundo de corridinhas. Segismundo.

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2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).