Suite. A besta que te fareja a ferida e persegue, atraída pela seiva doce e cálida vertida da tua carne, já trepa a escada. Como se fosse um fantasma, sem perturbar a quietação do hotel, sobe e aproxima-se da porta do quarto onde tentas o bálsamo para o golpe que levaste. Sangras e o perfume do sangue é-lhe um apelo demasiado forte. Nada a deterá. Ainda assim, para evitar denunciar-se, a besta modera a respiração, abafa-a tanto quanto pode. É grande a necessidade de não comprometer-se. Ela sente-a. Calcula o avanço, de modo a que o ataque que prepara seja sem aviso. Há uma honestidade estranha no seu movimento. A porta está fechada, o avanço é lento. Esta é a tua última oportunidade. Depois, porque prevalece a aristocracia das espécies, serás sem amparo. Verás tarde demais o assalto, apenas quando já sem hipótese de esquiva ou evasão. Ouvirás a respiração que se precipita sobre o teu pescoço, sem tempo para gritares. O teu sangue chama-a. O Marquês.