2005-06-30
O maior entre os maiores. O senhor presidente da República, com o jeito assanhado que às vezes lhe pulsa, não vislumbra legitimidade em quem invoque o seu pensamento no que ao aborto respeita. Claro está que o problema não é de legitimidade. Se o fulano tem os olhos abertos, o problema ou é miopia ou é coisa pior. Nicky Florentino.
Página do livro dos googlemas. Coisas que não temos neste tugúrio, slides com homens bons ou, o que é o mesmo, imagens de mulher mineira. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xxv. E é-se um pêndulo entre a cidade pequena e a cidade grande. Segismundo.
Página do livro das companhias, vi. Não é simpático simpatizar com demonífugos. Os demónios são nossos amigos. Segismundo.
Invisibilidolor. Noite, carne e espasmos. Sangue não, não é ingrediente desta receita. O Marquês.
2005-06-29
O Guerreiro. Com maiúscula, chamava-se Emídio. Nicky Florentino.
O que é nacional é bom. Portugal, como qualquer outra pátria, é uma comunidade imaginada pela história, pela palavra e pelo sangue. Não espanta, pois, que por cá tenha vingado um slogan publicitário às bolachas e ao esparguete, em que, ao mesmo tempo que se celebrava uma marca de mercearias, celebrava-se a nacionalidade. Aliás, é sob este juízo que se podem decifrar as palavras ditas pelo senhor ministro da Presidência, “as alterações à lei da nacionalidade vão ser feitas com conta, peso e medida”. Ou seja, tlim, tlim, tlão, tocam os sinos a rebate. É preciso continuar a imaginar que os autóctones são autóctones, os de fora, esses, é que são estraga-albardas com visto de turista. Nicky Florentino.
O fim do mundo doméstico. A interrogação poderia ser, em casa dele quem é que come tudo e nada deixa? Mas a interrogação, assim, está mal formulada. As pequenas bestas devoradoras, a resposta correcta qualquer que seja a formulação da pergunta, nunca comem tudo. Deixam sempre uma sobra. Hoje, por exemplo, deixaram uma embalagem de Tulicreme de duzentos grama, vazia, na prateleira da cozinha. E outra embalagem, de semelhante vívere e igual capacidade, também vazia, no armário dos mantimentos, na despensa. Claro que a bonomia do liberal old fashion domiciliado naquela casa morreu no instante em que foi notada a manigância. E, nesse mesmo instante, nasceu uma criatura irascível. Ainda assim, tudo estava bem e em ordem. Piorou, piorou muito foi quando ele se apercebeu que lhe tinham esgotado os iogurtes Yoplait com pedaços de maçã. Aí, sim, foi um ensaio do apocalipse. Que durou até as pequenas bestas devoradoras, a expensas suas - a avózinha não lhes valeu, estava ausente -, terem tido o discernimento de ir adquirir iogurtes dos tais para sossegarem o tio. Pois ou era isso ou eram lesões. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xxiv. Embora a vida, talvez mais do que nunca, seja lhadaputa. Segismundo.
Todos os nomes. É sintomático que, enquanto denominador, Jesus e Judas valem tanto no singular quanto no plural. Segismundo.
Les uns et les autres. Ele não tem orgulho em ser rapaz. Também não concebe esse acaso como infelicidade. Mas algo, ainda que não domine essa incógnita, suscita-lhe o juízo que é melhor ser rapaz do que rapariga. Entre outros motivos, porque as raparigas ovulam, têm gatas e dormem muito e mudam o nome do blogue com frequência. Não são como o Filipe ou o Rui. Rapazes. Simplesmente rapazes. Segismundo.
A improbabilidade da comunicação. Antes eram raras as hipóteses e as formas de não resposta. Agora, dispondo-se de tantos gadgets e dispositivos de mediação, multiplicam-se tais hipóteses. As formas, essas, permanecem invariáveis. Ou seja, reconhecíveis. O que significa que, formalmente, o desencontro é o que sempre foi. Um silêncio cujo motivo se desconhece. Segismundo.
2005-06-28
Política in furs. Não há poder. Há poderes. O poder mais eficiente não é o poder da força. Forçar permanentemente, à bruta, desgasta. E se todo o esforço tem um custo, um esforço contínuo é superlativamente custoso. Importa, por isso, evitar o uso permanente da porrada. O engano é uma boa via. Activado, permite legitimidade. Porém, a ilusão não é o poder mais eficaz. O ilusionismo ilude alguns, muitos, muitos, mesmo, mas não ilude todos. Para além disso, há sempre quem não acredite em bruxas e tenha a mania de suspeitar. Disto e daquilo. Contra esses recalcitrantes era bom poder usar-se a força. Mas, assim, às vistas, dentro da ilusão, não é legítimo. Eles têm direitos. E resistem. E reclamam. E votam. É por isso que não há ordem possível nas greis do noroeste. E subsiste o almofadado retábulo chamado democracia. É agreste e como as urtigas, mas, pela mansidão induzida pela civilização - sob a forma de ilusão de encerramento das outras hipóteses, das alternativas -, sente-se como se fosse a pelagem de um musaranho. É por isso que a democracia é sempre a
Embustar. Em termos políticos, incorrecção está para erro assim como bestial está para besta. Nicky Florentino.
Página do livro dos googlemas. Sobre a origem da fome aqui, neste tugúrio, nada temos a declarar. Não temos habilidade demiúrgica. Segismundo.
Ilustração com enxofre, ou cosmorama de um lugar só. Embuste é o produto de embusteiro ou embusteiros. As palavras egrégio e leal são bonitas, mas a sua utilização justifica-se apenas em hinos ou odes. Embonar pode ser bom, mas emborcar é melhor. Isto, Portugal, tem perfume de cloaca e muitas das criaturas que se avistam, pelo galope, parecem comátulas. Há duas saídas. Ou o suicídio. Ou a emigração. Comer tremoços não é solução. Matar cavalos também não. Pois isto é a província dos yahoos inteligentes. Erros não são incorrecções. Provavelmente é assim também vice-versa. Há motivos para o nojo. Mas isso é luto. E os sinos ainda tocam a repique. Que se foda. Amanhã nem nemesis nem nihil novi. É o que promete o zodíaco. Segismundo.
He was a very decent chap. Escreveu o senhor Prof. Doutor João Carlos Espada na crónica estampada na última edição do Expresso, “Sir Isaiah pousou uma mão protectora no meu ombro. Caminhámos vagarosamente para o seu velho Jaguar, que nos iria levar a Oxford”. É isto uma declaração cavalheiresca de orgulho gay? ou quê? Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xxiii. E sabe-se que mandar alguém para o caralho não é o mesmo que mandar alguém foder-se. Segismundo.
Página do livro dos excursos, iii. Os olhos são o palco do mundo, por ser neles que o mundo se mostra. Segismundo.
Liber tragédia. Baixa madrugada. O corpo não corresponde. Está combinado com a fraqueza. Com o torpor. Nesse instante, confirma-se, a liberdade é uma mera hipótese metafísica. Assim como a vontade de poder é um dispositivo de vivificação insuficiente. O sono dobra a vontade. Segismundo.
2005-06-27
O rejackpot em política. Na Assembleia da República revêem a revisão da Constituição da República Portuguesa. No Governo rectificam o Orçamento do Estado rectificativo. E os gentios, como que refundidos em consciência, reconsideram as suas considerações anteriores. Este exercício de reconsideração, porém, é intempestivo. Por um lado, surge atrasado porque as eleições legislativas aconteceram em Março último. Por outro lado, surge adiantado porque ainda faltam quatro anos para as supostas próximas eleições legislativas. É por isso que os gentios são quem mais perde neste permanente jogo de enganos a que chamam democracia. Perdem sempre. E repetem a derrota. Nicky Florentino.
Poema fast news. Porto
Poema fast news. Forte explosão na cidade
Poema fast news. Há cerca de 10 minutos ocorreu uma forte explosão na cidade do Porto.
Poema fast news. A origem do rebentamento é ainda desconhecida.
Poema fast news. Não há, para já, notícias de vítimas.
Poema fast news. Os bombeiros já estão no local.
Poema fast news. 27-06-2005 | 21:22 © Rádio Renascença. Segismundo.
You've got mail. Depois do spam com insistentes recomendações da Bridget ao aumento da envergadura do pénis, o spam com mensagens da Jessica a propor a devolução da elegância. Segismundo.
Página do livro dos googlemas. A história dos três porquinhos, traduzida em alemão, não temos. Mas temos a do lobo mau. Segismundo.
Cenas da cidade pequena. O homem vende sapatos, numa loja situada na esquina de uma praça. Provavelmente vende sapatos desde os seus tempos de mocidade, ali, naquela loja, naquela esquina. A clientela, percebe-se pelos artigos expostos na montra, é modesta e rara naquele estabelecimento. Mas todos os dias, de manhã até ao crepúsculo, o homem, aquele homem, abre a loja e espera que entre um cliente. Hoje o homem rompeu a rotina dessa espera. Ao fim da tarde dirigiu-se ao café Central. Entrou. Aproximou-se do balcão. Pediu uma cerveja. E foi bebê-la, pela garrafa, para a porta do café, o lugar de onde podia espiar os clientes que não aparecem na sua loja. Indiferente, ele fingiu a atenção. Fingiu a eminência de alguém interessado em adquirir calçado, a entrar na sua loja. Ninguém se aproximou. É plausível que hoje ninguém tenha entrado naquela loja. E é plausível também que o homem, aquele homem, ao fingir, tentasse enganar a solidão. Mas a solidão, tão entranhada em si, não se engana. Ela habita-lhe já comodamente o corpo. Ele finge os seus clientes, mas não se liberta do espectro que o (pre)enche. É por isso que dobra os olhos sobre o chão e não diz boa tarde. Nem ao entrar nem ao sair do café Central. Segismundo.
A causalidade segundo Weber. Em termos de escala de decibéis, Maria Sharapova, com um grito, consegue incomodar tanto quanto a sirene de um carro da polícia. Esta é a consequência. Ensaiando um exercício de regressão, surge como causa provável disso o facto de, entre outras matérias exotéricas e esotéricas, ela estudar sociologia pela internet. Segismundo.
Qui est «in», qui est «out». Embora apostassem na mesma casa, o Daniel não conhece o Bruno. Chamou-lhe Fátima Bonifácio, só isso. É que o Daniel não aprecia o estilo do Bruno, entre outro motivos porque ele, o Bruno, tem a mania de implicar consigo. Vai daí, adiós, adieu, auf Wiedersehen, goodbye, o Daniel abalou. Segismundo.
Catástrofe ecológica. Gentios, gentios em barda, são quase sempre um incómodo de duas ordens. Pois a eles mesmos acrescem os veículos em que se transportam. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xxii. E escreve-se em blogues. Segismundo.
2005-06-26
Ad nauseum. A democracia pressupõe povo, colégio de gentios em juízo e ordem. Assim concebido, o povo não existe. A democracia, por consequência, também não. Mas é confortável a ilusão da sua existência. Nicky Florentino.
Danações. “All would be heavenly - if the damned would only stay damned”. É assim que acaba o primeiro capítulo d'The Book of the Damned, de Charles Hoy Fort. Segismundo.
Lux mundi. © Enki Bilal. O Marquês.
2005-06-25
Declaração final da I Convenção Danada. O materialismo é mau. Primeiro porque reconduz a corpos. E, por mais mau que se seja, postas as pessoas em corpo acontece um entorpecimento das disposições. Tende-se à mansidão, à simpatia. Depois porque não permite que se beba consoante a vontade e durante o tempo desejado. Até ao limite. Até não haver mais. É a puta da vida. Segismundo.
Agenda. Hoje. À noite. Reunião à portaberta. Lá em cima. Nas alturas. Mercúrio, Vénus e Saturno. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xxi. E ainda, para sempre, o Futebol Clube do Porto, por extenso. Segismundo.
Checkpoint. Ao meio dia, perto do edifício da Câmara Municipal da cidade pequena. Segismundo.
2005-06-24
A equação da pátria como se fosse apenas a parte de cima. Hoje, durante o debate que aconteceu na Assembleia da República, disse o senhor dr. Alberto Martins, cabecilha da seita parlamentar socialista, “há um problema no funcionamento da democracia em Portugal: um certo tipo de oposição, a oposição do PSD, sem ideias, sem alternativa, sem rumo, imobilista”. Porém, para além deste, existe um outro problema. O actual Governo - como os que o antecederam -, não obstante abuse do parlapié das reformas estruturais e não sei que mais, entretém-se facilmente e sobretudo com o numerador e pouco ou nada com o denominador da equação. É por isso que, apurada a razão entre um e outro, o resultado é permanentemente Portugal. Governo e oposição. Que, junto com a chusma de gentios a que se chama povo, permanecem inoxidáveis. É por isso que, cá, aqui assim, na pátria, a tragicomédia é permanente. E os cabonitos rodam pouco. Nicky Florentino.
La recherche, i. Isto não é apenas a puta da imaginação. É uma demanda semelhante à do santo graal. Segismundo.
Voto por correspondência, com declaração de motivos anexa. Aqui ninguém se chama António. Mas sim. Há liberdades que são alheias às secreções que transitam pelas trompas de falópio. E o limite é a elegância do juízo. Não
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xx. E, se se conceder, alguém julgará ter descoberto um animal de estimação companhia. Segismundo.
Alegre casinha sem televisor. Apesar das alergias e manias, a sorte, sob a forma de um leitor de dêvêdê Sony, encontrou o Zé Vitório. Coisa que ele decidiu carregar para o lar e usar como base para uma jarra. Agora só falta comprar o ornamento. Flores. Segismundo.
La caravane passe. Às vezes é a vontade de habitar um farol, viver na encruzilhada entre o chão e o mar, estar alto, só, solto, apenas com os ruídos que quase já não se ouvem, apenas com o murmúrio das vozes que vigiam de dentro. O ponto de reencontro. De projecção também. Lá em baixo as rochas, o pontão. O frio e as vagas. Porque a nenhum lugar há regresso. Segismundo.
Quando a cidade pequena dorme. E se depois. Um guarda-nocturno. Um guarda-nocturno com perna-de-pau. Um guarda-nocturno com perna de pau a fazer a ronda, a patrulha. Um guarda-nocturno com perna de pau a fazer a ronda, a patrulha discretamente. Um guarda-nocturno com perna de pau a fazer a ronda, a patrulha discretamente num mercedes. Um guarda-nocturno com perna de pau a fazer a ronda, a patrulha discretamente num mercedes branco. Corre atrás dele. Segismundo.
2005-06-23
Pilatos. Para o senhor ministro da Saúde é irrelevante quantos quens esperam para serem vítimas de intervenção cirúrgica. Relevante, sim, para o fulano, é que os médicos não lavem as mãos. Como ele. Nicky Florentino.
Do revisionismo constitucional. Deputar é uma arte. Em Portugal é mais ainda. As criaturas que cirandam pelo parlamento pátrio não apenas ousam rever a Constituição da República Portuguesa como, sublime faculdade, se atrevem a rever a revisão constitucional. É isto o revisionismo. No expoente máximo do respectivo esplendor. Revisionismo de puta corturno. Nicky Florentino.
Bonecos. Aconteceu em Orlando, na Disneyland, um dia. O Tico e o Teco - um com nariz escuro, preto-amora, outro com nariz rosa-fúcsia -, desviaram-se do desfile, recolheram-se sob uma sombra e retiraram as respectivas carcaças de polietileno ou o caraças para ingerirem água. Dois petizes, irmãos, assisitiram à cena e, em consequência, ficaram traumatizados, por terem percebido o logro em que haviam sido enleados. Eram pequenos, mas não eram estúpidos. O Tico e o Teco deviam ser esquilos disneystilizados, não, abrenúncio!, gente fardada a semear o engano e a ilusão. Ora, o mesmo trauma aconteceu-me ontem ao ver um ror de polícias numa coreografia tão assanhada quão fandanga. Mesmo que não lhes sejam raras as causas para o protesto e lhes tenha assistido o juízo, o episódio de ontem foi mais pungente, pior do que um motorista de fórmula um com farda amarela a assomar ao pódio. Nicky Florentino.
Tironaágua. Que conste. Neste tugúrio nada se sabe sobre simpatias com cuecas para segurar um homem. Embora, a nu, se imaginem as antipatias adequadas ao intento. Segismundo.
Can we start again? Recomeçar é um mau, um péssimo princípio. Apenas não é na voz de Stuart Staples. Porque é numa canção que ilude. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xix. Mas as ressacas são coices dentro cada vez mais fortes. Segismundo.
Página do livro das sentenças, xix. Não existe segunda circular ao medo, assim como não há variante aos sinónimos engano e paixão. Segismundo.
Last call
Faltam dois dias
Heaven can wait! No próximo dia vinteecinco de Junho, já estio, algures na cidade pequena, acontecerá a «Convenção Danada I». Oportunidade para comer. Beber. E, antes de cuidar da fome e da sede, danar. Por um motivo. A estúrdia é primeiro. A puta da vida é depois.
Programa da fiesta
Horário | Actividade |
onze.trinta | Recepção e reunião dos parodiantes |
doze.zerozero | Visita a ruínas medievais, com paragem em tasca próxima para beber ginjinha |
treze.quinze | Almoço. Prato principal, polvo à lagareiro ou bacalhau à lagareiro ou naco de vitela grelhado (é conforme a vontade do freguês) |
dezasseis.quinze | Visita a adega particular, para degustação de palhete e espumante |
A quem interessar, informa-se que pode ser manifestado interesse em participar. Para tanto, basta remeter um e-mail, assinalando, a bem da logística das operações, qual dos pratos principais pretende mastigar ao almoço. Como é óbvio, insiste-se, por motivos de salubridade e operacionalidade, o evento não é recomendado a criaturas mansas ou inocentes. Segismundo.
2005-06-22
Quando chega o estio. Homem que é homem, o axioma adequa-se também a quem é homem de Estado, não embala em excursões à Cova da Moura. Vai laurear, sim, para as instalações de uma cervejeira. Nicky Florentino.
Embuste. A doutrina do senhor presidente da República é como o défice das finanças públicas. Existe, mas não se conhece a respectiva envergadura. Para além disso, o fulano não ajuda. Podia ajudar, mas não ajuda. É que tanto apela aos gentios para que cessem as, ai!, ai!, lamúrias quanto denúncia a embustada acção de propaganda da banca pátria em relação à concessão de crédito para aquisição de automóvel. Mas como porra é que alguém pode deixar de se lamuriar em tais condições. Nicky Florentino.
Dúvida. É mais questão de juízo estético do que de juízo puro. Mas o senhor Prof. Doutor Manuel Maria Carrilho é a personagem de uma daquelas fábulas a que, a dispêndio de quatro euros e noventa cêntimos, têm direito os compradores do Expresso, não é? Nicky Florentino.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xviii. E cresce a necessidade de velocidade. Segismundo.
Coordenadas. Algo que se apreende ao longo da puta da vida é que com frequência se está mais próximo do fundo do que da superfície. É por isso que se justifica viver sobre o patrocínio de um gin tónico. E repetir. Segismundo.
Página do livro das sugestões, i. Ouvir Paint it black ou Ruby Tuesday e imaginar os lábios de Angelina Jolie. Segismundo.
Beauty and the beast, ii. O escarcéu que ele armou com a menina que estava à sua esquerda foi também uma lição para a menina que estava à sua direita. É que a desgraçada quase que se extinguiu em desculpas e rubores para ele quando, depois, azar, tocou de modo estridente o seu telemóvel. Segismundo.
Beauty and the beast, i. Ele foi ao cinema. Na sorte dos assentos, calhou-lhe sentar-se entre duas meninas. Durante a projecção do filme, a da esquerda atreveu-se a atender o telemóvel e a começar um diálogo com a respectiva mãe. Teve azar com o sorteio da vizinhança, ela. Segismundo.
Mundo. Ontem ele olhou em torno e pouco, para além das pedras, lhe pareceu matéria tangível, matéria para olhar, coisa real. Decidiu, por isso, ir ao cinema, confrontar-se com a realidade. Segismundo.
2005-06-21
Credo para a paz perpétua e ai!, ai! Disse o senhor presidente da comissão da União Europeia, “acreditamos que o mundo melhora quando a Europa e os Estados Unidos da América trabalham em conjunto e podemos mostrar resultados”. Com efeito, na possibilidade de mostrar os resultados da acção política está contemplada metade da equação da felicidade da humanidade. Na possibilidade ver, verificar esses resultados reside a outra metade da equação. É por isso que, sendo a ilusão tão mais suportável e confortável, poucos são os que querem abrir os olhos. Nicky Florentino.
Aritmética eleitoral. Em termos fenomenológicos, não espanta que o senhor dr. Álvaro Cunhal se tenha entusiasmado com a célebre final de Wimbledon de milnovecentoseoitenta, entre Björn Borg e John McEnroe. A dialéctica tem os seus intervalos, assim como qualquer senhor secretário-geral do PCP tem os seus lazeres. Extraordinário, seja qual for a tradição fenomenológica considerada, é que a contagem de votos, mesmo no mais exótico dos universos, não seja uma mera operação aritmética. É que, segundo a homologação final, no resultado da eleição para o Departamento Nacional de Mulheres Socialistas foram creditados milnovecentosedezassete votos à lista A e miloitocentosenoventa votos à lista B, quando, antes, no processo de apuramento provisório, haviam sido contados para uma e outra, respectivamente, doismilcentoeoitentaeum e doismilcentoevinteeoito votos. Não é mistério. É apenas o que é. Não se sabe o quê. Nicky Florentino.
Tradições. Disse um senhor vice-presidente do CDS/PP, “não é por actos de cobardia soprados por fantasmas internos escondidos sob a capa do anonimato que nos deixamos abater. A coragem faz parte da tradição do CDS”. Isso, poucos votos e autorizar que se tracem chaparros a gume de moto-serra. Nicky Florentino.
Ex citações. O Rui Pedro pronuncia-se sobre a miséria de que a celebração do ícone de fato amarelo é sintoma. E cita. Segismundo.
O ícone de fato amarelo. Compreende-se que um rebanho de obstinados da causa nacional se reúna no Martim Moniz e desfile até ao Rossio. É uma mania como qualquer outra, arrastar-se pela praia ou ir aos ninhos. Estranho é, isso sim, o fascínio generalizado com o terceiro lugar alcançado por um motorista pátrio no último grande prémio de fórmula um. O problema não é o facto de, tendo ficado a meio da tabela classificativa, o moço ter logrado assomar ao pódio. O problema é aquela farpela amarela trajada pelo fulano. Pois até o Bibendum, feito de pneus brancos, revela mais estilo. Segismundo.
Solstício. Dez graus acima do plano dos anéis de Saturno. Aqui Dione. Lá adiante Epimeteu. Dois corpos. Duas luas. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xvii. E, mais por satisfação do que por pecado, persiste-se em alguns logros. Às vezes, em razão do estilo. Segismundo.
Message in a bottle. Há circunstâncias em que é inútil pronunciar as palavras, se não há em alguém a devolução que, por elas, se procura. Segismundo.
2005-06-20
Cidadão agrilhoado, porém contente. O direito ao voto é como o direito ao trabalho, uma forma de sublimar a violência. Enquanto pelo direito ao trabalho obriga-se alguém à condição de álacre explorado, pelo direito ao voto obriga-se alguém à condição de submisso feliz. Nicky Florentino.
Mecanismos de produção de incerteza política. As eleições, enquanto dispositivo de rateio de honras, são um processo não aconselhável, por ser sobejamente evidente nunca existirem as condições exigíveis a uma igualdade de oportunidades entre as diversas candidaturas. É por isso que, insistindo-se perversamente na sua realização, as eleições preferíveis são aquelas onde se perfila uma única candidatura. E são-no por razões logísticas, ecológicas e, sobretudo, de celeridade. Casos recentes subsidiam empiricamente este juízo. No passado sábado, o senhor dr. José Ribeiro e Castro foi rapidamente eleito e (re)confirmado senhor presidente do CDS/PP. Aliás, antes de acontecer já se sabia, para além de qualquer margem de erro, qual seria o resultado desse sufrágio. Muito diferente aconteceu com o apuramento da maiormaria do Departamento Nacional de Mulheres Socialistas, à qual concorreram duas candidatas. É que duas semanas após a ocorrência da votação, a respectiva comissão técnica eleitoral ainda não confirmou o resultado acontecido. Se é que aconteceu. Pois as eleições são isto, uma puta e desnecessária incógnita. Sempre. Nicky Florentino.
Graça. Para além da pobreza dos outros, a única pobreza suportável é obviamente a pobreza de espírito. Porque é o único desprovimento que não é experimentado pelo pobre como injustiça ou privação. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xvi. E a simpatia para os outros continua a ser propriedade reservada, muito. Segismundo.
Página do livro das sentenças, xviii. É com as mãos que se aprende a perder. Segismundo.
A força do hábito. Se não me amas, por que me queres?, perguntou-lhe ela. Segismundo
If there’s such a thing as love. Ela escreveu fui tua, o epitáfio, no coração dele. E não o matou. O Marquês.
2005-06-19
Pacotes de ignorância nossa. Neste tugúrio desconhecemos o que sejam simpatias para amansar alguém. Desconhecemos também quem seja ou tenha sido o criador do Nicky. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xv. E sabe-se melhor o que não se sabe. Segismundo.
Equilibrium. Ser lágrimas em corpo não atendido e sair, porque quem poderia valer está noutra escala, mais em si, corpo escusado em sono. Segismundo.
2005-06-18
Subsídios para a codificação da sujeição fiscal passiva como intimidade. Hoje o dia foi mau. Talvez por isso houve paciência para ler e meditar sobre
Em escala pragmática. Trintaeoitomilsetecentosesessenta caracteres em propostas e ideias é muito ou pouco? Nicky Florentino.
Titular. Lê-se a entrevista do senhor Prof. Doutor Manuel Maria Carrilho estampada na edição de hoje do Expresso e não se percebe em que passo é que, conforme sugerido por títulos, o fulano diz, a dizer, que os jornalistas são débeis mentais ou que o senhor Prof. Doutor Carmona Rodrigues é indigente. No Expresso, mais do que em qualquer outro pátrio periódico, é uma dificuldade do caraças desenhar títulos. Nicky Florentino.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xiv. E subsiste um estranho fascínio pela polpa dos pêssegos, pela cor das cerejas e pelo perfume das nêsperas. Segismundo.
2005-06-17
Vale tudo. O fulano em senhor secretário de Estado da Administração Interna concedeu uma entrevista ao Jornal de Notícias de Vila Real, embora, parece, tenha acautelado uma revisão sua da dita antes de ser estampada. A última edição do referido periódico foi colocada nas bancas sem que o fulano tenha feito a tal revisão. Vai daí ordenou - ou executou qualquer outro gesto de mando - a retirada de tal edição dos escaparates. Reviu a peça. Foram reimpressas doze páginas do jornal. E voltaram os exemplares, devidamente corrigidos, a estar à disposição nos postos de venda habituais. Parece que, embora não confie no que diz em entrevista, a criatura ainda permanece em senhor secretário de Estado da Administração Interna. E não se comove ou detém com pudores. Sejam eles de política, sejam eles de juízo. Nicky Florentino.
Instantes da vida real. La Bête de Lascaux, primeiro, e L'Instant de ma Mort, depois, ambos de Maurice Blanchot. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xiii. E eterniza-se o libelo, falso, continuas a ser o mesmo
Manúbrio do esterno. Ela rogou, mas ele não acedeu. Nada escreveu. Sobre o que queria escrever estava nas suas mãos. A traqueia dela. E deixou afundar os polegares. O Marquês.
2005-06-16
Rir é o melhor remédio. Depois da entrevista do senhor arquitecto do Expresso no Expresso, um texto de Vasco Pulido Valente de quando era pequeno no Público. Nicky Florentino.
Derradeiro juízo. Weber percebeu a existência de dois tipos de fixação enquanto dispositivos de orientação e de calibre da acção política, a responsabilidade e a convicção. Grosso modo, a diferença entre uma e outra é a diferença que passa entre a coerência e a obstinação. Nicky Florentino.
No areópago das
“E, já agora, tenham vergonha e ponto final!”, quez, quezzz. O senhor Prof. Doutor Manuel Maria Carrilho, enquanto homem com família, é o néon-realismo em figura de gente - néon-realismo é uma espressão apanhada por sugestão do Afonso. É isso que, na sua pequenez, o engrandece
Brutti, sporchi e cattivi. Disse o senhor dr. Manuel Monteiro, “defendo que Portugal, que é um país de emigração, deve ser aberto a todos, mas só àqueles que vierem para cá para viver de acordo com as nossas leis”. Sim!, porque bandidos já bastam os que cá nasceram, não anexou ele à declaração. Provavelmente porque tal silêncio lhe pareceu legítima defesa. Nicky Florentino.
Pela lei e pela grei. Num agregado de cachopos o nível é sempre o mesmo, histriónico. Mesmo quando às gargalhadas sucedem os berros. E as lágrimas. Seja como for, essa sucessão é quase sempre o primeiro anúncio da reposição da ordem republicana. Hoje, naquele lar, tau!, ai!, ai!, ui!, ui!, foi-o também. Segismundo.
Once upon a time. As pequenas bestas devoradoras, apesar de pequenas, são tão bestas, tão bestas, que até devoram gelo. Apenas por gozo. Pela satisfação de o derramarem no chão da cozinha e de o utilizarem como projéctil de arremesso nas suas tropelias. É por isso que vão sofrer. Agora. Meteram-se com o
Incompletude. A palavra não existe. Mas existe a sensação. Quando ele, furtado à guarda, a olha, emprestada a si, apenas a si. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, xii. Mas os caminhos são cada vez mais estreitos. Segismundo.
2005-06-15
Sempre a perder, se não é a doer. Em política, o lado de fora é uma ilusão. Se há vontade de rasgar, de abrir, a lâmina corta apenas por dentro. É por isso que mudar implica sangue. E poucos estão disponíveis para ver o próprio sangue derramado. Daí que a democracia seja, por só poder ser, um regime indolor e, por conseguinte, de curto alcance. Apenas nas promessas em que se ilude e os gentios são enleados a democracia não é um regime assim. Tão frouxo. Nicky Florentino.
Questão de método. Em caso de dúvida, a espera é o pior dos cenários. Segismundo.
Página do livro das inefabilidades, iii. O corpo, cavado no sono, ressuscita com o perfume que vem no corpo-alma que lhe apetece. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, x. E sabe-se manobrar as mais diversas alfaias agrícolas. Segismundo.
2005-06-14
O Leviatão visto por cima. As senhoras e os senhores do Governo procederam a mais de mil nomeações. Era necessário. Gente para os gabinetes funcionarem como devem funcionar, disse o senhor primeiro-ministro. Nada a objectar. Apenas os ingénuos ou os frouxos de espírito admitem que um qualquer Governo da pátria pudesse resumir-se aos governantes. Não. A cabeça da besta são muitas cabeças. Nicky Florentino.
Página do livro das inefabilidades, ii. O corpo sobre o qual as mãos moram, guardando-o no sono e enxotando os demónios que lhe nascem dentro. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, ix. E apetece reler toda a obra de Borges. Segismundo.
2005-06-13
Stop. Para alguns a morte é um mote político. Sugere uma urgência de reflexão, uma espécie de oportunidade de reinício, de recondução ao destino. As gentes são de tal modo
Página do livro das inefabilidades, i. A mão que se alcança e toca sem reciprocidade no gesto. Segismundo.
Despojos de uma passagem. Hoje ele acordou com o corpo sob ruínas. Junto à cama, derrubados, estavam dois livros. Bukowski e Yeats passaram por ali. E caíram. Como se estivessem mortos. Segismundo.
For whom the bells tolls. A morte é um lugar. Morrer é um verbo. Intransitivo. Como amar. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, viii. E, à noite, ir ali ou acolá é sinónimo de trânsito de jipe pelo pinhal. Segismundo.
A estória mais triste do mundo. Ela não o amava, mais. Ou assim. O Marquês.
2005-06-12
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, vii. E ao sábado à noite já não se vai caçar coelhos com o carro. Segismundo.
Rhyme'n flow is in tha house. Cinco meninas em roda, cercadas. Uma finge não estar ali. Empresta um ritmo lento e sincopado ao corpo. Encontra os olhos com o chão, como quem ensaia a sua ausência. Outra delas coloca uma mão à frente para evitar o encosto frontal com os rapazes em torno. Guarda-se. Protege-se. Evita-os. A menina sonsa parece ter o diabo no corpo. Solta-se com lascívia sobre um dos rapazes. Talvez namorado. Talvez rapaz apenas. Ele corresponde de modo desajeitado. Uma outra das meninas lança os braços para cima, coreografa gestos de sevilhana com as mãos e jinga as ancas como quem está a pedi-las. Dança só consigo. Mas não dança só para ela. Dança também para os outros. A última das meninas não se incomoda que os rapazes se rocem no seu corpo. Ela empresta-o. Deixa que eles lhe toquem. O apalpem. O sintam. É no seu cerco que os rapazes se acumulam. Como se fossem uma alcateia. É o apelo da carne. É o apelo da natureza. Ela e eles. Depois, já tarde, a música cessa de jorrar. As luzes claras inundam a pista. E a geografia dos corpos altera-se. Elas, todas, vão-se embora. Eles ficam. Segismundo.
2005-06-11
Pélago. Hoje há uma afirmação, Elvis is alive, que, taquepariu, não pode ser feita. Segismundo.
Agenda. Dia vinteetrês, Santiago Alquimista, vinteetrês horas, La Caravane Passe. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, vi. E já se é mais do que Cristo foi. Segismundo.
Porque a vida é uma única canção, I wish I had an evil twin.
I wish I had an evil twin
running ’round doing people in
I wish I had a very bad
and evil twin to do my will
to cull and conquer, cut and kill
just like I would
if I weren’t good
and if I knew where to begin
down and down we go
how low no one would know
sometimes the good life wears thin
I wish I had an evil twin
my evil twin would lie and steal
and he would stink of sex appeal
all men would writhe
beneath his scythe
he’d send the pretty ones to me
and they would think that I was he
I’d hurt them and I’d go scot free
I’d get no blame and feel no shame
’cause evil’s not my cup of tea
down and down we go
how low one would not need to know
all my life there should have been
an evil twin. © The Magnetic Fields. Segismundo.
Our house, in the middle of our street. Súbito, uma vontade inteira de nada. E de ninguém. Apenas um lugar. Apenas uma cidade. Apenas dois corpos do mesmo corpo. Cravados. Um corpo no outro. E ambos na solidão. O mesmo corpo. Segismundo.
Página do livro das sentenças, xvii. A vida não é esperar que. Segismundo.
2005-06-10
A política da distribuição das honras iguais. Há uma lógica evidente nas condecorações presidenciais. Se é outorgada a ordem de mérito ao INATEL também tem que ser concedida semelhante honra à senhora jornalista Leonor Pinhão. De igual modo, se o senhor Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa merece a ordem do infante D. Henrique, igual merecimento têm o senhor dr. José Mourinho e a esquadra quatrocentoseum da força aérea portuguesa. É por isso que o dia dez de Junho é, por só poder ser, o dia do coiso e tal. Nicky Florentino.
O esplendor de Portugal. Diz-se. Um dos maiores problemas de cá é o Estado. O Estado necessita de ser mais maneirinho, manobrável. Em aparência e pela cartilha das boas vontades, reduzir o Estado é a solução para o problema. Porém, a pretensão de apequenar o Estado é apenas uma forma de fingir a debelação do mal. Na prática, é pretender resolver o problema não na respectiva origem, mas nos sintomas consequentes. Tal intenção surge de tal modo estouvada que é equivalente a corrigir algo na imagem que o espelho reflecte, sem melindrar o objecto que é reflectido. Neste caso o Estado é o reflexo, a pátria é aquilo que é reflectido. E essa é justamente a
Fim-de-semana estragado.
Faculdade do (des)entendimento, iv. Ele, bola de berlim. Ela, para mim? Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, v. E, dentro, subsistem as vozes acordadas, em tagarela permanente. Segismundo.
Paisagem nocturna com fauna sinistra, ii. Uma chusma de povo. E hordas de crias de povo. Segismundo.
Paisagem nocturna com fauna sinistra, i. Uma chusma de povo. Povo suado de ócio. Segismundo.
2005-06-09
Sobre a aristocracia democrática. Mais do que os efeitos da canícula sobre o juízo - sobejamente recenseados por Humboldt e Montesquieu -, a banalização, à Calimero, do que é a (in)justiça, permite declarações a roçar o rançoso. Desta vez as vozes exaltadas e que clamam justiça pertencem a algumas das criaturas em deputação. Tais vozes, aliás, chegam a alardear a hipótese de a novel legislação sobre subvenções e o raio que parta ser causa de uma degradação da estirpe das senhoras e dos senhoras que venham a assomar a honras públicas. A ideia, no alarme que sugere e pelo excesso que toma, é tonta. Claro que é de admitir que a raça de tal gente possa piorar. Mas, se o discernimento não for relapso, é evidente que não pode piorar assim tanto. Nicky Florentino.
Sim porque não, revisitação. O senhor Prof. Doutor Freitas do Amaral confessou que concertou com o senhor primeiro-ministro as declarações sobre o tratado constitucional europeu prestadas por si. Qualquer que seja a intenção subjacente à manobra, este expediente de manhoso é a puta da desfaçatez em acto. Nicky Florentino.
Captações, hors de série. La recherche de la fecalité, transcrita abaixo, é uma parcela da peça radiofónica, de Antonin Artaud, Pour en finir avec le jugement de dieu.
“Là ou ça sent la merde
ça sent l’être.
L’homme aurait très bien pu ne pas chier,
ne pas ouvrir la poche anale,
mais il a choisi de chier
comme il aurait choisi de vivre
au lieu de consentir à vivre mort.
C’est que pour ne pas faire caca,
il lui aurait fallu consentir à ne pas être,
mais il n’a pas pu se résoudre à perdre
l’être,
c’est-à-dire à mourir vivant.
Il y a dans l’être
quelque chose de particulièrement tentant pour l’homme
et ce quelque chose est justement LE CACA.
(ici rugissements.)
Pour exister il suffit de se laisser à être,
mais pour vivre,
il faut être quelqu’un,
pour être quelqu’un,
il faut avoir un OS,
ne pas avoir peur de montrer l’os,
et de perdre la viande en passant.
L’homme a toujours mieux aimé la viande
que la terre des os.
C’est qu’il n’y avait que de la terre et du bois d’os,
et il lui a fallu gagner sa viande,
il n’y avait que du fer et du feu
et pas de merde,
et l’homme a eu peur de perdre la merde
ou plutôt il a désiré la merde
et , pour cela, sacrifié le sang.
Pour avoir de la merde,
c’est-à-dire de la viande,
là où il n’y avait que du sang
et de la ferraille d’ossements
et où il n’y avait pas à gagner d’être
mais où il n’y avait qu’à perdre la vie.
o reche modo
to edire
di za
tau dari
do padera coco
Là, l’homme s’est retiré et il a fui.
Alors les bêtes l’ont mangé.
Ce ne fut pas un viol,
il s’est prêté à l’obscène repas.
Il y a trouvé du goût,
il a appris lui-même
à faire la bête
et à manger le rat
délicatement.
Et d’où vient cet abjection de saleté?
De ce que le monde n’est pas encore constitué,
ou de ce que l’homme n’a qu’une petite idée du monde
et qu’il veut éternellement la garder?
Cela vient de ce que l’homme,
un beau jour,
a arrêté
l’idée du monde.
Deux routes s’offraient à lui:
celle de l’infini dehors,
celle de l’infime dedans.
Et il a choisi l’infime dedans.
Là où il n’y a qu’à presser
le rat,
la langue,
l’anus
ou le gland.
Et dieu, dieu lui-même a pressé le mouvement.
Dieu est-il un être?
S’il en est un c’est de la merde.
S’il n’en est pas un
il n’est pas.
Or il n’est pas,
mais comme le vide qui avance avec toutes ses formes
dont la représentation la plus parfaite
est la marche d’un groupe incalculable de morpions.
«Vous êtes fou, monsieur Artaud, et la messe?»
Je renie le baptême et la messe.
Il n’y a pas d’acte humain
qui, sur le plan érotique interne,
soit plus pernicieux que la descente
du soi-disant Jésus-christ
sur les autels.
On ne me croira pas
et je vois d’ici les haussements d’épaules du public
mais le nommé christ n’est autre que celui
qui en face du morpion dieu
a consenti à vivre sans corps,
alors qu’une armée d’hommes
descendue d’une croix,
où dieu croyait l’avoir depuis longtemps clouée,
s’est révoltée,
et, bardée de fer,
de sang,
de feu, et d’ossements,
avance, invectivant l’Invisible
afin d’y finir le JUGEMENT DE DIEU”. Segismundo.
Faculdade do (des)entendimento, iii. Ele, bola. Ela, de berlim? Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, iv. E continua a haver duas almofadas na cama. Segismundo.
Domesticidades. Estavam cinco criaturas dormentes sobre a cama dele. Na circunstância havia um óbvio desvio ecológico. Que fazer?, interrogou-se ele. Pegou no livro que fôra buscar e dirigiu-se à cozinha. Ali chegado insistiu na pergunta, que fazer? Não demorou em raciocínios. Compôs num prato meio litro de gelato, o que remanescia da investida das pequenas bestas devoradoras. Juntou-lhe bolacha baunilha, línguas de gato e, remate, uma banana. Depois de se alimentar, tornou à empreitada, ao trabalho. E esqueceu que estavam cinco criaturas dormentes sobre a sua cama. Quando se foi deitar, havia já quase três horas de sol, elas ainda lá estavam. Dormentes e sobre a cama dele. Tantas quantos os dedos de uma mão. Patrocinar sem contemplações o transbordo das criaturas para o respectivo leito foi o que ele decidiu fazer. E assim fez. Até que as mães lá de casa, sobressaltadas com o barulho provocado pela manobra, apareceram a reclamar. Uma perguntou-lhe o que é que ele estava a fazer. A outra, essa, miava com manifesta irritação. Pouco depois apareceram os pais. Também para tomarem conta da ocorrência. Mas, provavelmente pelo género de si, amanhecidos em paz. Em silêncio. Segismundo.
Página do livro das sentenças, xvi. Há noites que em nocturno, a piano, são um autêntico desperdício. Segismundo.
Faltam dezasseis dias
Heaven can wait! No próximo dia vinteecinco de Junho, já estio, algures na cidade pequena, acontecerá a «Convenção Danada I». Oportunidade para comer. Beber. E, antes de cuidar da fome e da sede, danar. Por um motivo. A estúrdia é primeiro. A puta da vida é depois. A quem interessar, informa-se que pode ser manifestado interesse em participar nos trabalhos da paródia (na caixa dos comentários). Como é óbvio, por motivos de salubridade e operacionalidade, o evento não é recomendado a criaturas mansas ou inocentes. Segismundo.
Programa (provável) da fiesta
Horário | Actividade |
dez.trinta | Recepção e reunião dos parodiantes |
onze.trinta | Visita a ruínas medievais, com paragem para beber ginja |
treze.zerozero | Almoço. Polvo à lagareiro (com açorda) |
dezasseis.zerozero | Visita a adega, para degustação de palhete |
2005-06-08
Sim porque não. O senhor Prof. Doutor Diogo Freitas do Amaral veio dizer coisas íntimas, suas, apenas suas, de dentro de si, relativametne ao processo relativo ao referendo sobre o tratado constitucional europeu. Umas quantas personalidades vieram censurar o fulano, porque, entendem, não é bonito o dito cujo ter posições suas, pessoais, que não são conformes às suas posições enquanto senhor ministro dos Negócios Estrangeiros, parcela do décimo sétimo Governo constitucional. Aparentemente, a censura ao fulano é atinada. Mas as mesmas vozes teriam levantado semelhante censura e libelo? se a desgraçada criatura em senhor ministro dos Negócios Estrangeiros tivesse emitido uma opinião pessoal coincidente com a do senhor ministro dos Negócios Estrangeiros. Nicky Florentino.
Elasocialistas. O sufrágio aconteceu nos pretéritos dias três e quatro do corrente mês. Ainda hoje, porém, subsistem dúvidas sobre qual das senhoras que se candidataram a senhora presidente do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas venceu. Isto de contar votos, seja entre homens, seja entre mulheres, está visto, é um ofício que não é como os outros. E que, prova após prova, se confirma flagrantemente falível. É por isso que não é recomendado começar a democracia pelos votos. Nicky Florentino.
Do jeito do Manuel que é Maria. Segundo a edição de hoje do Público, a cerimónia de apresentação da candidatura do senhor Prof. Doutor Manuel Maria Carrilho à honra de senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa terá sido mais pungente do que, antes, a má vontade permitiu sugerir. Confirmou-se. Politicamente o fulano não existe. É apenas um anexo, o homem por trás da mãe do Dinis. Dinis que é ainda o único inocente nesta farsa. Ambulante. E em videograma. Nicky Florentino.
Dialogia. Neste lastro de nada, com a temperatura própria para côcos e abacaxis, há um único
Página do livro das interrogações, vii. Quantas vezes é possível dizer não? sem que esse dito seja uma negação. Segismundo.
Regras para um mundo
O
Faculdade do (des)entendimento, ii. Ele, Corvette. Ela, sorvete? Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, iii. E a dissertação de doutoramento, como desde o princípio, está quase acabada. Segismundo.
2005-06-07
Nesta ditosa pátria de aventuras. Que o senhor primeiro-ministro, por motivos e fundamentos que não vêm ao caso, tivesse anunciado um plano de austeridade com o objectivo de sanear as finanças públicas é fenómeno passível de compreensão. O Governo, como qualquer governo, existe também para se justificar. O que é estranho e, portanto, suspeito é a candura com que os gentios, putativas vítimas, parecem ter amochado. Pois não é da sua condição não destilarem indignação em relação às decisões tortuosas dos senhores. Daí que o assentimento popular em relação às medidas governamentais propostas talvez não seja tão assentimento quanto isso. Talvez seja, isso sim, indiferença, por antecipadamente os gentios terem um plano de alívio para os problemas gerados pela acção do Governo. Que vai desde a intensificação da evasão fiscal até às demais esquivas que a puta da imaginação permitir conceber. Nicky Florentino.
Os projectos do marido da Bárbara Guimarães. A efígie (em jeito pingarelho) do candidato socialista a senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa, bordada por uma legenda que alardeia a sua superlativa capacidade de planeamento, foi abundantemente exposta em outdoors pela cidade capital. Pretende a enxameada propaganda que, com ele - o senhor Prof. Doutor Manuel Maria Carrilho -, os projectos têm princípio, meio e fim. É o que está à vista. Para além de haver uns quantos placards a estorvar e a incomodar gentios autóctones, agora ao fulano pareceu excessiva a exposição da respectiva fronha. Vai daí ordenou a remoção de oito dezenas de outdoors. O que confirma que, com ele, os projectos, a começar pelos da sua candidatura, têm, de facto, um fim. Mesmo se esse fim é acabar, por ter começado, mal. Nicky Florentino.
Sin city. O corpo segue em sentido descendente. Para a pena capital. Embrulhado na
Faculdade do (des)entendimento, i. Ele, spam. Ela, spa? Segismundo.
Página do livro das interrogações, vi. A segunda vez é repetição? ou é hábito? Segismundo.
Horto do incêndio. Sangue quente e canícula bruta. O corpo não foi feito para isto. Menos ainda o juízo. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, ii. E afina-se a tolerância. A vontade de estrangular putos que fazem barulho no restaurante deixa de despoletar ao quinto guincho. O segundo é suficiente. Segismundo.
Maus hábitos. Quando vai deitar-se, ele diz bom dia ao pai. Segismundo.
Verdade ou consequência. Ele, tempo um, não vai doer-te. Ela, tempo dois, ai, ai, está a doer-me. Ele, tempo três, aguenta. O Marquês.
2005-06-06
Se a realidade é osso. Disse o senhor dr. Jorge Coelho, “os portugueses são todos iguais e o país não tem condições de nivelar as coisas por aquilo que são hoje os direitos dos trabalhadores da administração pública”. Por qual raio é que o que é facto de sempre demora tanto a revelar-se evidência e a assomar ao juízo dos senhores? Nicky Florentino.
Esprit d'État. O senhor dr. Alberto João Jardim chamou bastardos, para não lhes chamar filhos da puta, a uns incertos quaisquer. E o senhor presidente da República não tem apetite para se pronunciar sobre o caso. Ainda bem. Assim os gentios têm a oportunidade de perceber o que é isso o Estado e como funciona. Pois, em política, quando a estupidez é franca, o silêncio, mesmo que pareça antídoto, é a cumplicidade que faltava. Nicky Florentino.
Quando o povo é da casa. Na passada sexta-feira, o senhor secretário-geral da trupe socialista foi a Setúbal pregar às hostes. E teve que ouvir os protestos dos assanhados militantes, “mal!, mal!, mal!”, quando explicou que vai cortar mas com jeitinho as subvenções que calham em honra a quem dispensou tempos da sua desgraçada vida à engraçada causa pública. O que significa que os dos PS, enquanto granel, cantam a várias vozes. O que, em política, não é recital bonito. Nicky Florentino.
Programa para a redução da despesa pública. Disse o senhor presidente do PSD, “considero errado que a receita do Governo esteja virada para o ataque aos funcionários públicos, porque o mal não reside neles, reside sim num Estado grande demais”. Ou seja, a solução é cortar fronteiras à pátria e salgar abundamentemente o território dispensado. Assim, poupando no chão, estreita-se o Estado. E preserva-se, feliz e contente, toda a fauna burocrática. Nicky Florentino.
Zodíaco para susceptíveis. Ele é capricórnio. E não é de hoje. Segismundo.
Aos trintaequatro é tudo como antes ou melhor, i. E já não há memória de quando se usou pijama pela última vez. Segismundo.
Reposição da ordem no mundo. Hoje há sopa de agrião, para o menino, disse, com sarcasmo pesado, a mãe dele, quando pronunciou o menino. Segismundo.
Rebenta corações, ii. Cada bala mata um. Segismundo.
Rebenta corações, i. pim! pam! pum! Segismundo.
2005-06-05
Royal flush.
tique taque
tique taque
tique taque
tique taque
tique taque
tique taque
tique taque
tique taque
tique taque
pum!
Segismundo.
2005-06-04
Agenda. Até dia vinteeseis, Fundão, Festival da Cereja. Segismundo.
2005-06-03
Ecce homo. Se seis anos de entretenimento no Banco de Portugal são motivo de pensão de reforma, o senhor ministro das Finanças, beneficiário de tal honra, é provavelmente a pessoa mais indicada para decidir sobre tal matéria e questiúnculas afins. Isso, trepar coqueiros, beber iogurtes e gritar como o Tarzan. Ou seja, é ele o homem certo. Mas não o preço. Nicky Florentino.
Na poupança é que está o ganho. O senhor dr. Luís Filipe Menezes está disposto a evitar despesas supérfluas durante a próxima campanha eleitoral autárquica conquanto o principal concorrente, a candidatura socialista, a isso aceda também. A disposição do fulano é frouxa. Pois poupança relevante, com impacto ecológico significativo, era a sua não recandidatura. Nicky Florentino.
Hoje. Ele está com vontades. Apetece-lhe cozinhar. Coisas simples. Ou coisas requintadas. Apetece-lhe dizer foda-se. Muitas vezes. Se se justificar, ele admite repetir. Apetece-lhe comer Häagen Daz. E bolacha baunilha. E fazer açorda. Apetece-lhe correr. Rir com o Sueco. Chamar nomes às gajas. Reler Musil. Apetece-lhe ir ao castelo. Fazer barulho. Falar alto. Beber Sagres preta. E Bushmills. Falar com o Jaiminho. Gozar as lamúrias do Silva, o Jorge, o rapaz a quem as semanas nunca correm bem. Os amores são filhadaputa. Dizer mal do senhor presidente da Câmara Municipal. Da senhora presidente da Assembleia Municipal também. Pegar na espingarda de pressão-de-ar, enfiar o capacete de mineiro e, à noite, atirar aos passarinhos. Apetece-lhe cheirar salsa. Beber café. Um, dois, três, mais. Que sejam bons. Apetece-lhe conspirar. Mandar cinzeiros ao chão. Jogar matraquilhos. E flippers. Contar estórias de quando as balizas eram sob os bancos baixos do jardim em frente ao café Central. No jogo, dois contra dois, os enleios, as fintas, os passes, os remates tinham que ser precisos. Para que os taxistas, estacionados ali ao lado, não apanhassem e escondessem a bola. Os cabrões. Contar as estórias das operações ph. Das barreiras fatais. Da fisgada que ia deixando cego o outro puto. Das flechas com os canocos do pântano. Do pântano que já não há. Da guerra total. Dos kiowas. Das noites inteiras a jogar à batota e a ouvir música maluca. Apetece-lhe escutar as estórias do Zé Vitório. Dizer que o Sokota não vale uma merda. Que o senhor primeiro-ministro anda armado em antónio. E que Portugal é uma latrina onde o ar há muito tempo se tornou nauseabundo. Apetece-lhe reler dois ou três álbuns do Spirou. Rir. Tocar djambé. Ou baixo. Chamar lobinho nódoa ao lobinho. Ir à feira do livro. Ir à Cave Real. Ir à Gare comer chamuças e beber imperiais e comer pudim de queijo. Falar sobre Simmel. Ou Montaigne. Acelerar. Fazer rodopios. Puxar o travão de mão. Porra!, já não há aquele piso de paralelos. E ir ao cinema. Sozinho. Sem ninguém mais na sala. Apetece-lhe passar pelo jardim das flores de aço de onde se vê o mar. Apetece-lhe ir à Zé dos Bois ouver Fish & Sheep. Apetece-lhe evoluir de jipe, à noite, pelos pinhais. Apetece-lhe chatear as sobrinhas mais velhas. Irritá-las, mesmo. E depois devolvê-las às respectivas mães. Para poder chatear a mãe. E não ouvir as suas reclamações. Apetece-lhe falar, falar, falar. Fazer combinações. Mas, se ele é quem é, vai ficar quieto e calado. Mandar foder isto tudo, a puta da vida. E
Captações, xxx. Em Macunaíma o Herói sem nenhum Caráter.
“Nisto Jiguê bateu na cabeça e exclamou:
- Achei!
Os manos levaram um susto. Então Jiguê lembrou que eles podiam ir na Europa também, atrás da muiraquitã. Dinheiro, inda sobravam quarenta contos do cacau vendido. Macunaíma aprovou logo porém Maanape que era feiticeiro imaginou, imaginou e concluiu:
- Tem coisa milhor.
- Pois então desembuche!
- Macunaíma finge de pianista, arranja uma pensão do Governo e vai sozinho.
- Mas pra que tanta complicação si a gente possui dinheiro à bessa e os manos podem me ajudar na Europa!
- Você tem cada uma que até parece duas! Poder a gente pode sim porém mano seguindo com arame do Governo não é milhor? É. Pois então!
Macunaíma estava refletindo e de repente bateu na testa:
- Achei!
Os manos levaram um susto.
- Que foi!
- Pois então finjo de pintor que é mais bonito!
Foi buscar a máquina óculos de tartaruga um gramofoninho meias de golfe luvas e ficou parecido com pintor”. Segismundo.
The go-between. A Inês
Ainda por anoitecer. Madrugada alta. Um gato preto à porta da casa dele. No rebate. Não fugiu. Um augúrio. Depois nêsperas e pêssegos. E confirmar o presságio. Ainda falta muito para o mundo acabar. Segismundo.
Modo de
2005-06-02
O naufrágio da jangada de pedra. O Estado da pátria não é recomendável. A pátria também não. Os senhores revisores da Constituição da República Portuguesa, pelo raio da redacção falha de trambelho que deram aquele artigo, não dão mais do que dão. Para não destoar. Valha-nos a emigração. A única das vias divinas para sair deste túmulo chamado Portugal. Nicky Florentino.
Les uns et les autres. Uma das recentes propostas do senhor eng.º José Sócrates apontava no sentido de fulminar, cerce e de imediato, as subvenções vitalícias dos senhores. Que era para ser. Cortar a eito. Doa a quem doer. À macho. Mas agora parece que o fulano tergiversou. Genuflectiu. Amochou. Pois uns quantos senhores deputados trataram de manifestar o seu incómodo. Que não era confortável constatarem que as respectivas expectativas seriam goradas. Que não era bonito e bom sentirem-se demasiado defraudados. Por isso, consta, a coisa vai ser melhor composta. Conforme a puta da conveniência dos senhores. A cicuta, essa, é apenas para os gentios. Que esperneiem. Que espumem da boca. Que se sintam demasiado defraudados. Que chupem e embrulhem. Vive-se em democracia. E isso, a indisposição, é um direito inalienável que lhes assiste. Nicky Florentino.
Misplaced childhood. Porque ontem foi o primeiro de Junho, uma luminária qualquer do CDS/PP propôs a criação do “dia mundial da criança por nascer”. É isto a puta da ansiedade infrene. Não saber esperar a parição. Nicky Florentino.
Good vibrations. Qual é o nome daquelas bolas robustas pendentes, tipo pêndulo, usadas em manobras de demolição? Hoje, ele está para isso, destruir, desintegrar, escavacar. Mas, mania, insiste em entregar-se a esse ofício apenas com o nome exacto da sua identidade. Não antes. Segismundo.
O custo da simpatia. Tantos são os motivos para não se ser simpático. Estes, a transpiração e as mãos sujas com óleo de carro alheio
Página do livro dos excursos, ii. O problema não é o corpo reclamar a noite. O problema é o corpo e a noite serem uma mónada. Substância vertida num engano de ausência. E sentir isso acordado. Dentro. Num interior de encanto negro. Que simultaneamente mata e vivifica. Segismundo.
2005-06-01
Hol anda. Um, dó, li, nee. Nicky Florentino.
Honra de morte lenta. Segundo o senhor ministro dos Assuntos Parlamentares, o fim das subvenções vitalícias dos senhores com
Na jukebox. “Hidden place”, da Björk, sobre “A forest”, dos The Cure. Porque, mania, maus, gostamos de dar música. Enganada. Segismundo.
O meliante que pode ser que se foda por não saber dançar. Um filhodaputa qualquer, provavelmente cachopo, riscou-lhe o carro. De uma ponta à outra. Há indícios da identidade do fulano. Não há certezas. Sabe-se apenas que, se se confirmar, conseguiu um amigo para o resto da vida. Dos bons. Segismundo.
Deep throat. Venha quem vier. O senhor Prof. Doutor João Carlos Espada. O senhor Prof. Doutor João César das Neves. O senhor Prof. Doutor Fernando Rosas. Ou o diabo a cavalo pintado a tinta da china. Mark Felt não é Linda Lovelace. Ponto. Segismundo.
Em casa
Vox maiêutica. Ontem, na Aula Magna, foi bonito ouvir o Filipe e o Rui, em coro, com outros, a fazer uuummmmmmmmm, um friso de besouro, para que o Antony cantasse sobre. Segismundo.
Under soft black stars. Há vozes que não se conseguem repetir, estão incrustadas num, naquele corpo. Num corpo simultaneamente ali e ausente. Numa carne simultaneamente facto e imaginação. Numa vibração ao mesmo tempo mortal e incrível. Numa voz que cala as outras e é sempre exterior. Segismundo.
BDSM. Olhou-o. Tornou a olhá-lo. De cima para baixo. Confirmou-o manietado e prostado. Depois assestou violentamente o látego sobre o lombo do vicioso submisso. Até o sangue lhe nascer da carne rasgada. E o sémen por si derramado ser tingido por esse vinho tinto de sangue. O Marquês.
2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).