Subsídios para a codificação da sujeição fiscal passiva como intimidade. Hoje o dia foi mau. Talvez por isso houve paciência para ler e meditar sobre
o artigo a crónica do senhor Prof. Doutor João Carlos Espada, estampada na edição de hoje do
Expresso. Nela reporta o fulano que foi a banhos de civilização e cavalheirismo, a lugares onde quem quer ser servido à mesa deve usar
blazer e gravata -
smoking, embora excessivo, é indumentária também tolerada. Tornou o dito fulano à pátria e, entre criaturas cobertas por
jeans e
t-shirts, leu vozes. Não uma. Não duas. Mas três. Exactamente, três vozes. Duas delas delas assanhavam-se, embora com a moderação típica dos cavalheiros e dos juízos encharcados de razão, em relação à hipótese de liquidação do sigilo fiscal. A voz interior do plumitivo e tardio beato, prenhe de quanta tolerância pode um espírito tolerante, alinha obviamente pela dita verdade. Aliás, é mesmo de suspeitar que, concordará ele, é de civilização e de refinado cavalheirismo dever ao Estado, porém não temer. Quanto mais não seja porque basta ir à missa - mastigar a hóstia é acto optativo, mas recomendado - e usar
blazer e gravata para se estar isento das demais laicas, continentais e
nihilistas virtudes cívicas, entre as quais não subsidiar a evasão fiscal.
Nicky Florentino.