Domesticidades. Estavam cinco criaturas dormentes sobre a cama dele. Na circunstância havia um óbvio desvio ecológico. Que fazer?, interrogou-se ele. Pegou no livro que fôra buscar e dirigiu-se à cozinha. Ali chegado insistiu na pergunta, que fazer? Não demorou em raciocínios. Compôs num prato meio litro de gelato, o que remanescia da investida das pequenas bestas devoradoras. Juntou-lhe bolacha baunilha, línguas de gato e, remate, uma banana. Depois de se alimentar, tornou à empreitada, ao trabalho. E esqueceu que estavam cinco criaturas dormentes sobre a sua cama. Quando se foi deitar, havia já quase três horas de sol, elas ainda lá estavam. Dormentes e sobre a cama dele. Tantas quantos os dedos de uma mão. Patrocinar sem contemplações o transbordo das criaturas para o respectivo leito foi o que ele decidiu fazer. E assim fez. Até que as mães lá de casa, sobressaltadas com o barulho provocado pela manobra, apareceram a reclamar. Uma perguntou-lhe o que é que ele estava a fazer. A outra, essa, miava com manifesta irritação. Pouco depois apareceram os pais. Também para tomarem conta da ocorrência. Mas, provavelmente pelo género de si, amanhecidos em paz. Em silêncio. Segismundo.