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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2006-09-30


Veados com fome. Como escreveu o Filipe, “nada a fazer, os veados atacaram outra vez”. É sempre assim. Têm uma dieta estranha. Segismundo.

Referência



Livro de cheques da Caixa Geral de Depósitos, i. Exorcizar o pai que temos dentro de nós até ao parricídio é suicídio? ou é emancipação? Segismundo.

Referência



Lentes de contacto, ii. Se queres ver a verdade, necessitas crer num criador que tenha mãe. Segismundo.

Referência

2006-09-29


A marca amarela mandarim. A democracia é um regime flan. Nicky Florentino.

Referência



Lentes de contacto, i. Como os abutres, as putas topam-se à distância. Segismundo.

Referência



Escala de Agave, vii. A realidade não coincide com a representação da realidade, não obstante a realidade da representação da realidade. O que significa que, enquanto realidade, nos encontramos algures. Segismundo.

Referência



Batedor. Sob discernimento, basta a consciência de duas coordenadas, si-mesmo e os outros. Tudo o mais pode ser considerado acaso ou distância. Segismundo.

Referência

2006-09-28


Também aqui já passou esse equívoco. Embora elas sejam no mundo l, o nome da série é The L Word. Segismundo.

Referência



Agenda. Hoje, dezoito.trinta, capital, atelier O Marinheiro, ao miradouro de Santa Catarina, Frases para Ter na Carteira. Segismundo.

Referência



Escala de Walden, iii. Se há sociedade, não é civil, é vil. Segismundo.

Referência



Escala de Gray, i. Cada um acontece simultaneamente em vários tabuleiros de xadrez, sob condições diversas. Nuns é peão, noutros é torre, cavalo, bispo, até se esgotarem as identidades possíveis. É em tantos tabuleiros quantas as frentes que o estorvam. E, em diferido, é a composição condensada de todos os confrontos em que participa. No limite de todos esses confrontos está o espelho, a mais precisa de todas as metáforas da carne. Parte-o! Segismundo.

Referência



Estação solidão. A ideia que alguém pode repetir-se até confortar-se no fundo de si-mesmo é apenas um programa para a falência. Segismundo.

Referência

2006-09-27


Pandemónio. Um dos sentidos da tragédia que somos resulta da projecção segundo a qual há muito de outros em nós e vice-versa. Segismundo.

Referência



À esquina havia uma rêz pública que nem tugia nem mugia, porém dizia, i. A intriga é uma modalidade de providência cautelar. Segismundo.

Referência

2006-09-26


O antídoto para o Rousseau que há em todos nós. Agora que foi anunciada pelo Rui a condição de colaborador do Blasfémias do senhor Prof. Doutor Pedro Arroja, merecem ser recordadas as prédicas hilariantes deste na TelefoniaSemFios. Eram uma espécie de catequese lógica, onde o mesmo e único raciocínio batia sempre certo, qualquer que fosse a realidade. A este propósito, a Fernanda resgatou uma entrevista que, outrora, fez à criatura. Durante esse exercício o fulano conseguiu produzir discursos como estes, em amostra. Um, “é precisamente a pensar nos pobres que eu punha a questão da transacção do voto. Se uma pessoa tem direito a um voto mas não quer usá-lo, tem de o deitar fora. Noutro sistema, poderá vendê-lo a alguém que queira votar várias vezes. Já viu quantos pobrezinhos ficavam beneficiados?” Dois, “os negros americanos não estão na sua própria terra”. Três, “vá a África e veja porque é que eles não trabalham. Gostam muito de sexo; nós também gostamos, mas se estivéssemos o dia todo na cama não fazíamos mais nada”. Como surge óbvio, este é o máximo de ciência possível. Limite do qual decorre o seguinte corolário: ai a falta que a cama faz a alguns. Nicky Florentino e Segismundo.

Referência



Memorabilia. Começava assim, I get up, and nothin’ gets me down. Não muito depois vinha o crescendo, I got my back against the record machine
I ain’t the worst that you’ve seen
Oh, can’t you see what I mean?
E em seguida chegava o refrão, Ah, might as well jump. Jump!
Might as well jump
Go ahead an’ jump. Jump!
Go ahead and jump
. Durante alguns instantes da adolescência isto arrepiava e fazia saltar. Porquê?, é o que ele hoje se pergunta, pretendendo pela interrogação descartar-se da culpa. Mas mais. Quando por um qualquer sortilégio aquele som entra na telefonia pela frequência modulada, ele procura de modo precipitado o estacionamento em outros megahertz. A culpa é a memória. E isso, tanto em tormento quanto em pudor, persegue-o. Porquê?, é o que ele ainda hoje se pergunta. Segismundo.

Referência



Le Bataclan Asylum, # ii. Devido à falta de provas, o dossier da investigação permanecia aberto. Ora, segundo a superstição local, nenhum cadáver deveria calhar ao respectivo ataúde antes de as culpas estarem apuradas. Onde é que ele está? Através de uma janela percebeu que, atrás, no quintal, havia peças de lingerie agitadas no estendal da roupa. Pareciam espectros alados, sem corpo, animados pelo demónio, embora o demónio não tenha jurisdição sobre este tipo de paisagem bucólica. Ele já não é ele, é somente os seus vestígios. E os seus vestígios estão no quarto redondo, lá em baixo, na cave dos hóspedes. Desceu as escadas e entrou naquele círculo umbroso, rendez-vous de carne fétida. Não obstante as trevas, recusou a lanterna. De Prometeu não quero o fogo, quero o fígado. Sentia o corpo cansado, os ossos a latejar. As asas, apertadas sob o blazer, pesavam-lhe, como se tivesse sido derrubado sobre si o colégio de todas as suas culpas. Carregava o corpo opresso, como se posto num capítulo de sentença certa. Nenhuma esperança, nenhuma penitência. Apenas o ódio, o ódio aos sofridos e aos legisladores. Morte aos que cospem moral!, não a morte da espera, mas a morte dada, este pensamento sulcava em voz alta dentro da sua cabeça. Contemplou por instantes a agonia de um caranguejo que estava sobre a cómoda, no qual havia sido cravado um punção. Uma mancha líquida, muco das miudezas do crustáceo, alastrava e pingava sobre o chão. Que morram! Que morram os fiéis!, que morram os esperançosos!, que morram os caridosos! Apertou uma das pinças do caranguejo até sentir as cartilagens cederem. Esmagou aquela matéria na mão, cerrando brutalmente os dedos sobre ela. Lá para fora!, todos lá para fora! Afastou as criaturas de curiosidade necrófaga do quarto e começou a observar a cena, perscrutando entre as sombras indícios que lhe permitissem deslindar o caso. O Marquês.

Referência

2006-09-25


À luz das velas e sob o lema we’ll always have vichysoisse. Numa das suas homilías de domingo à noite, o senhor Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa decretou a inexistência de autarcas eleitos pelo PND. Agora consta que aceitou um convite dos fulanos para ir jantar. A criatura é capaz de tudo. Desça ou não desça Cristo à terra. Calçado ou descalço. Nicky Florentino.

Referência



Espécie de aproximação ao fim do mundo. Um elemento de uma tendência do BE - só isto, assim posto, é um programa equivalente a ir à lua e voltar sem tirar os pés do chão -, a propósito da peregrinação fandanga que a dita seita andou a fazer pela pátria, considerou que “o que levou os trabalhadores a cumprimentar Francisco Louçã à saída das fábricas é o mesmo espírito que permitiu ao Hamas chegar ao poder na Palestina”. Que o espírito da referida seita nunca foi muito santo sabia-se. Neste pormenor, as alucinações por si projectadas não enganam. O que não se sabia é que o seu destempero de alma era tão cosmopolitanamente alucinado. E para isso não há paciência, seja ela santa, seja ela increia. Nicky Florentino.

Referência



Da inquietude. Admitida a ironia, o desassossego é o regime vital. Os actos e as relações regulam-se por dispositivos falíveis, sobretudo a suspeita, a confiança e o café. Nunca a fé. Segismundo.

Referência



Cem anos ao serviço do ensino e da investigação em Portugal é muito tempo. Disciplina mais inútil do que a sociologia não há. O que não significa que a utilidade da generalidade das outras disciplinas seja maior do que a utilidade da sociologia. Assente isto, adiante. Segundo um anúncio estampado na página dezanove da edição de ontem do Público, o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, coisa da Universidade Técnica de Lisboa, cismou e confeccionou um curso de mestrado em sociologia que, no segundo semestre, propõe duas unidades lectivas que sabeláomeninoJesusoqueraiosão. Uma ostenta o tópico ultrafísico «Estruturas Latentes e Construção de Teorias». A outra cobre-se com o rótulo trágicondas «Sistema de Vida das Populações Marítimas». Aos eventuais interessados, que oxalá não sejam poucos, informa-se que o prazo de candidaturas corre até à próxima sexta-feira. Segismundo.

Referência



Sol de outono. Viu-se. Mais um subsídio para a demonstração que as sereias são criaturas mamíferas e não ovíparas. E, ai, ai, que saudades havia do umbigo da senhora dona Manuela Moura Guedes. Segismundo.

Referência

2006-09-24


Página do livro dos googlemas. Alto!, ó degraça, párem as máquinas! Porque não há atalho mais autêntico para este tugúrio do que o desejo de saber pormenores sobre esse mistério chamado dissonância cognitiva de sabão em pó. Segismundo.

Referência



Pêndulo dos maus dias. Às vezes, ele acorda ainda mais noir. Quase mata pelo silêncio. Pela escuridão também. Segismundo.

Referência

2006-09-23


Equinócio blues. Tudo se precipita quando deixamos de ser capazes de imaginar. Subitamente, o que é real, tudo, é convocado para o chão. E, aí, somos obrigados a conviver com a realidade. Corpo a corpo. Ressaca a ressaca. Realização a realização. Regresso a regresso. Porque desvios, nesta estação, não há. Segismundo.

Referência

2006-09-22


Excitação do dia. O quarto diapsalmata de Kierkegaard versa assim. “Os homens são absurdos. Nunca usam as liberdades que têm e estão sempre a reclamar as que não têm”. Segismundo.

Referência



Página do livro dos confortos, i. A memória inspira a consciência da repetição. Com os erros, pelo menos, é assim. Segismundo.

Referência

2006-09-21


Uma casa na pradaria. O ror de senhores engravatados reunidos - com pompa e circunstância - no Beato, ontem, a anunciar soluções para a pátria, é um fenómeno semelhante à reunião de bruxos de Vilar de Perdizes, porém em fancy. Como é da praxe, acusaram o Estado de isto e de aquilo e, en passant, também a sociedade civil. Mas o que é mais curioso na iniciativa é que, tão convictos de si e do seu juízo, não manifestaram intenção de sufragar o seu programa terapêutico em eleições. Não, isso não. A seita é salvífica. Por isso dispensa-se desses resíduos e estorvos que fazem a escassa democracia que vai havendo. Ou seja, eles sabem, eles resolvem. Tipo o Jardel a voar sobre os centrais. Neste caso, no entanto, sem os centrais, sem os laterais e sem o guarda-redes e com a camisola do Sport Clube Beira-Mar. Só mais um pormenor. Os ditos senhores estão habituados a jogar no relvado. Mas chamam-lhe green. Porque, assim, rima melhor com management. Nicky Florentino.

Referência



Spare apart. Numa outra encarnação, adolescente, ele foi um especialista em spare parts. Notava referências e memorizava-as, como se fosse um catálogo ambulante. Hoje já quase não tem memória desse domínio. Não constitui mal. Quase toda a vida foi suplente de si e, por isso, apre(e)ndeu que está constantemente a aproximar-se da sua próxima morte. É sobretudo isso, agora vivido tanto como culpa quanto sentença, que o separa da insânia boulevard em que caminha todos os dias. Segismundo.

Referência



Vertigem outonal. No limite, subsiste a dúvida sobre se a vida é mais sonata ou mais rapsódia. Que é sonata não há dúvida, a vida é plural em modo e em ritmo. Que é rapsódia não há dúvida também, a vida é repetição de segmentos de outras vidas comuns. Segismundo.

Referência



Equinócio de photomaton. Cede a cruz. O Outono chega. Segismundo.

imagem © Bert Stern

Referência

2006-09-20


A improbabilidade da democracia. No âmbito da modernidade tentou compatibilizar-se um princípio de autorização directa, nos termos da qual o colégio de eleitores soberano mandata uma selecção de eleitos como representantes políticos, com uma composição social complexa, assente em sequências imbrincadas de dependências mútuas e recíprocas. Se durante alguns períodos a compatibilidade entre estas duas lógicas foi uma ilusão aceite, há muito tempo que essa ilusão surge insustentável. A contradição entre a autoridade única e a pluralidades de poderes, para além de se ter intensificado, tornou-se evidente. Chesterton, aliás, resumiu com elegância o caso: “a democracia, um ideal que é simples em demasia, foi vãmente aplicada a uma sociedade que é complexa até ao ponto da loucura”.* Percebe-se, pois, porque o regime dito democrático é implausível. O labirinto montado sobre os processos sociais não permite uma relação directa e imediata entre o povo e os representantes do povo. Nicky Florentino.

* G. K. Chesterton (1932), “Industrialism and democracy”, in Illustrated London News, 16 de Julho.

Referência



Excitação do dia. Esta é a primeira frase de um pequeno artigo de G.K. Chesterton, com o título “Government and the rights of man”, publicado no final de Julho de milnovecentosevinteeum. “Nunca vislumbrei por que é que um homem que não é livre de abrir a sua boca para beber deve ser livre de a abrir para falar”. Segismundo.

Referência



aO Marquês


Pedagogia. Deviam constituir leitura obrigatória, desde tenra idade, as descrições do suplício de Robert-François Damiens, personagem que falhou a morte de Louis XV, le Bien-Aimé, conforme reproduzidas no início de Surveiller et Punir, de Foucault. Segismundo.

Referência

2006-09-19


Nem esotérico, nem exotérico, mas outra porra qualquer. Na condição de senhor gestor do programa operacional «Sociedade do Conhecimento», alguém escreveu a seguinte frase, “no quadro da evolução global de Habermas há cada vez mais espaço para a identidade dos territórios e das organizações”, inclusa num artigo estampado na página oito da edição de hoje do Público. Repita-se, “no quadro da evolução global de Habermas há cada vez mais espaço para a identidade dos territórios e das organizações”. Que raio de mistério é que esta frase pretende deslindar?, ã? Segismundo.

Referência



Capítulo do juízo. Grosso modo, na alocução que tanta celeuma gerou, Bento XVI disse que o juízo é com deus e, portanto, com ele, o juízo, também devem ser aqueles que temem deus. Tirando a alusão à mediação divina, nada a objectar. É que o juízo está para a fé do mesmo modo que os elefantes estão para a cordilheira pirenaica. Às vezes coincidem. Apenas isso. Mas adiante. O juízo recomenda-se, o fio do alfange - por motivo da fé ou do toucinho - não. É assim seja em que circunstância for. Haja deus ou haja o senhor Prof. Doutor João César das Neves ou o senhor Prof. Doutor João Carlos Espada ou qualquer outro filho dilecto ou disléxico do espírito santo. Aliás, a mensagem que o sumo pontífice pretendeu transmitir é tão básica que não se vislumbra a necessidade de citar um imperador bizantino ou um aborígene. Seja como for, a criatura em Papa pode citar quem bem lhe aprouver. Assiste-lhe esse direito, não por assistência ou providência divina, mas por direito escrito pelo juízo e com sangue dos livres. Para além disso, em juízo, de nenhuma citação vem qualquer mal ao mundo. Da fé é que nunca se sabe o que raio de lá vem. É essa a bronca. Segismundo.

Referência

2006-09-16


A continuação do fim do mundo. Hoje cai o segundo dos três mosqueteiros. Cai consoante a sua vontade, onde deseja e com quem deseja, em reciprocidade. Os outros serão testemunhas do caso. Firmarão rúbrica e atestarão a queda. Caem com ele também, todos. Embora, para que conste, dois dos três mosqueteiros, o Jaiminho e o rapaz a quem as semanas nunca correm bem, ainda resistem. E ele com eles. São três os náufragos, agora. Também prometidos à queda. Apenas não se sabe quando. E por quem. Segismundo.

Referência



Le Bataclan Asylum, # i. Sabes?, conhecia-o desde antes ele ser cadáver. As putas estavam no recobro. Lá fora, o vento revolvia as poucas folhas de nespereira caídas no chão. Era o prenúncio do outono. A luz já mais baça. O sol tépido, indolente. A monotonia das voltas e do ritmo dos corpo. Setembro é assim. E então ele não era melhor do que é hoje. Apenas por esse pormenor, e porque morto, o digo saudoso. Soavam murmúrios. Talvez fosse o ruído dos insectos em torno da carne, o festim da putrefacção. Talvez. Vencia a penumbra. O soalho rangia sob os passos. Notava-se uma película de pó a cobrir a cómoda. Passara algum tempo. Sim, talvez. Mas isso, agora, pouco importa. Quanto tempo?, muito?, pouco?, dias?, semanas?, meses? O carácter nunca foi propriedade que o tivesse abonado. Voltara o regime da cidade. Para além disso, a necessidade permanente de coordenadas obrigava a precisar o momento da ocorrência. Se havia caso, era fundamental encontrar resposta para a interrogação quando? Quando é que aconteceu?, quando é que aconteceu exactameente? Isso é um mistério. Por conveniência, ignorância ou temor, nenhuma das putas se constituiu testemunha capaz de esclarecer o que havia acontecido. A dúvida tornou-se administrativa. Morreu. O requiem, a oração de todas as mágoas por finados, demorou. E, enquanto demorou, repetiram-se lágrimas e lamentos, das putas e das outras, as carpideiras venturosas. Sim, morreu, mas temos que esperar a certificação do seu óbito. O Marquês.

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2006-09-15


Aquele que não tem a outra face. O senhor Ratzinger, em Bento nãoseiquantosmasmaisdoqueumadúzia, é o toucinho que nos estava a fazer falta. Em termos de dieta e civilização, portanto, valham-nos as madames dos truques. É que as putas, mesmo quando citam um qualquer imperador bizantino, são o que são. Não enganam. Elas não citam por citar, mas para excitar. É essa a sua cruzada, é essa a sua جهاد, foder o próximo com o seu consentimento. E isso, sim, é contribuir para a harmonia ecuménica. Segismundo.

Referência



Ó! as vésperas, já ninguém as canta. Deus de perto?, a miopia não permite e, por isso, salva do erro. Segismundo.

Referência



Página do livro das sentenças, xxxiii. A cumplicidade é uma modalidade de intimidade. A intercepção não é a sua força. É a sua consequência. Segismundo.

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2006-09-14


O regime das ilusões. Reitere-se. A democracia como existe - porque como é dita e propagandeada é outro caso - tem mais a ver com poder do que com povo. E se por algum motivo é admissível assumir a democracia como instituto de poder do povo é sobretudo porque, sob esse regime, os gentios têm o poder de se iludir em mandadores quando são mandadeiros. Nicky Florentino.

Referência



Rosebud e após, ii. Em Harper, no Connecticut, havia um estranho que embirrava com Marx não tanto por ser o fomentador primevo do comunismo quanto por ser judeu. Tinha uma paixão assolapada por relógios antigos e um passado infame. Morreu numa torre, sozinho. Segismundo.

imagem © Orson Welles (do filme The Stranger)

Referência



Rosebud e após, i. A liberdade é um modo de risco. Por isso, em liberdade, acolhem-se os estranhos. Segismundo.

imagem © Orson Welles (do filme Touch of Evil)

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We’re gonna trek this shit around
And make this place a heart to be a part of
*

O mundo é um lugar cheio de muitos outros, iii. Os outros, ainda bem que há outros. Porque parte da resolução do mundo consegue-se pela sua eliminação. Designadamente daqueles que confundem o que é normal com o que é modal. Segismundo.

* versos do tema «Next exit», dos Interpol, incluído no álbum Antics (Matador Records, 2004).

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2006-09-13


Cruz canhoto. O Nuno notou o caso. Mas isso de o senhor eng.º José Pinto de Sousa, em figura de senhor primeiro-ministro, se benzer é apenas o sinal de outro pacto que o fulano fez. Não com a oposição. Mas com a posição. Nicky Florentino.

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Das maravilhas modernas. Marx julgava que a miséria seria a antecâmara da salvação. Enfiados até ao último cabelo em indigência, os miseráveis viveriam sob condições de vida de tal modo pungentes que, muitos e saturados da própria desgraça, um dia olhar-se-iam ao espelho, não gostariam do que estavam a ver e, como consequência, erguer-se-iam em turba revolucionária e, com clamor, refundariam os fundamentos da ordem gregária. O roteiro, reconheça-se, é plácido e fundado em boas intenções. Mas nunca se concretizou como estimado pelo Karlitos. Aliás, a resiliência do processo capitalista é tanta que consegue nutrir-se das suas próprias contradições. Chega ao cúmulo de ser através de expedientes capitalistas que se acode às desditas causadas pelo processo capitalista. Há lá maravilha maior? Nicky Florentino.

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Uma questão. Comentou. Não sabia se aqueles tais, disse-os, eram gays ou metrosseexuais. Ele, porém, não conseguiu perceber o que é que isso interessava. Segismundo.

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Brave new world. O mais da vezes, inovar é inventar ilusões. Ilusões que, por um lado, se instituem como necessidade a carecer de satisfação e, por outro lado, podem ser satisfeitas por um preço. Segismundo.

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Dromocratas de todo o mundo, uni-vos! Há segmentos extensos da Áum em que, porque não pode ser de outro modo, se circula a velocidade inferior a cinquenta quilómetros por hora, numa faixa de rodagem apenas, sem separador em relação à faixa oposta e sem berma. São as obras... O valor da portagem a pagar, esse, valha-lhe o santíssimo sacramento, é o mesmo, esteja a auto-estrada assim ou não esteja assim. Á!, as obras... Os senhores da Brisa - Auto-estradas de Portugal S. A. que vão gozar com a senhora que os pariu. Segismundo.

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Ele está no meio de nós, ii. Enquanto hipótese, deus não é um produto dois-em-um. Também não é um bónus. É tão só um acrescento, um suplemento. É por isso que, assim, sem estímulos, sem vantagem anunciada, não vamos lá, ao encontro dele. E como ele não vem cá, tem mais do que fazer, a única via possível de acesso ao seu plano é o desdobramento, a dupla personalidade. Uns quantos, mais impacientes, no entanto, abandonam a demanda de deus. Porque basta-lhes o Napoleão que, aquando naquele encalce, encontraram em si. Segismundo.

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Ele está no meio de nós, i. Uma das características fascinantes da ideia embrulhada de deus é o facto de o encontro de deus por alguém pressupor o encontro desse alguém por si mesmo. Segismundo.

Referência

2006-09-12


Ouroboros. Embora dito em discursos mais ou menos assanhados ou protocolares, o «poder local» não existe. Não existe «poder» porque é escassamente potente ou impotente. E não existe «local» porque é sequestrado e apropriado por uma teia estreita, que reúne os comissários políticos eleitos e os capatazes de terreno associados, figuras cruciais na galopinagem e na garantia dos processos de patrocinato e do populismo de campanário que configuram e sustentam uma parte significativa da política local. Neste sentido, perante a plausível e provável insignificância das autarquias locais, não se entende o escarcéu que com frequência envolve esses entes administrativos, muito em particular os municípios. Que raio é que justifica a tamanha relevância das seitas autárquicas no concerto político pátrio? Sim, que raio? Sobretudo a distribuição dos despojos públicos e o modo como ela se processa. Vale tudo. Bem, tudo talvez não valha, mas vale quase tudo. Desde a providência cautelar até à manigância ou à barganha feita com a maior desfaçatez, todo o acto de um senhor autarca é susceptível de conquistar densidade política. Como as manias dos gentios e as contingências telúricas não se compadecem com um ordenamento político de escala superior, há que fazer pela vida, que bastas vezes é a vidinha. Compreende-se que assim seja. No chão, o interesse público é o interesse do público. E o público é aquele, o dito povo, a paróquia, as gentes da terra, com as suas precisões e as suas urgências. Para além disto, tanto o Governo quanto as oposições, consoante as conveniências - que é o mesmo que dizer o tempo ou o espaço -, tendem a nutrir o lodo dos fossos municipais. Pelo que, como não há meio de vir o próximo dilúvio, é com esta fauna e esta paisagem que temos que viver. Ainda bem. Porque, diz-se, aprende-se com os erros. Aliás, a primeira base assimilada e invocada por qualquer senhor autarca ou governante é esta: errar é humano. E, assim, de modo tão simples, está dada a volta ao problema. São todos inocentes. E uma cambada de queridos. O problema só torna a ser problema quando, a partir de determinado limiar, queridos passa a ser particípio passado e deixa de ser adjectivo. Raramente a demora relativa a tal transmutação é longa. O colégio de gentios que elege os eleitos conhece-se e, portanto, conhece-os. Sabe quem eles são e do eles que são capazes. Circunstancialmente prefere iludir-se. De outro modo seria incapaz de tolerar a sua própria insustentabilidade. Ninguém está para padecer esse tipo de perturbações na sua psique e na sua carne. Uma vez mais, ainda bem. Em política, sob alienação a autofagia é menos dolorosa. Quase como não acontecesse. Mas mais tarde ou mais cedo, os gentios sobressaltam-se e fingem-se cidadãos. São capazes, inclusive, de genuína indignação. Ainda assim, não de tanta que cheguem a indignar-se consigo, por, no limite, estarem a morder-se a si-mesmos, como bestas que mordem a própria cauda. Nicky Florentino.

Referência



Caixa das almas. A arqueologia da ideia de deus permite percebê-lo, a deus, como imposto. O que, por assim ser, acaba por legitimar a hipótese da evasão fiscal. Segismundo.

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O círculo da solidão. Alguém aproxima-se de deus conquanto fuja de si. Segismundo.

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2006-09-11


Porque um teelvisor é um pára-brisas com personagens animadas. A senhora jornalista Fátima Campos Ferreira, a dominatrix do programa Prós e Contras, pareceu-me uma criatura de Bosch. Ou isso ou eu estava a ver um documentário qualquer sobre a reprodução de cetáceos no Odisseia. Nicky Florentino.

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Sê livre!, solta o guarda-lama da esquerda que há em ti! Esta noite, na edição de um programa de entretenimento chamado Prós e Contras, o senhor dr. Mário Soares, ao mesmo tempo que batia com a mão no peito, à esquerda, sobre o coração, disse que era socialista, que acreditava no socialismo e que o mister Blair, abancado no número dez de uma rua qualquer da old Albion, não é socialista. Também não disse qual é a raça do fulano. Provavelmente teria que abrir a sua famigerada gaveta. Nicky Florentino.

Referência



Passerelle. Hoje, o senhor dr. Marques Mendes aludiu aos “caprichos ideológicos de esquerda”. Também podia ter aludido aos sapatos de salto alto. Ficava-lhe igualmente bem e à altura. Nicky Florentino.

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Ai!, ai!, não faças isso que vai ser proibido. Uns quantos senhores presidentes de Câmara Municipal decidiram recorrer à venda de créditos futuros, por forma a que, entretanto, os respectivos municípios logrem um encaixe financeiro de monta. Como este expediente será proibido na versão do futuro regime de finanças locais que está a ser trabalhado na Assembleia da República, o senhor secretário de Estado adjunto e da Administração Local acusou a manobra dos senhores autarcas como “fraude à nova lei”. Ora vamos lá a ver... É facto sobejamente evidente que tal manobra é uma forma manhosa de os senhores autarcas contornarem os limites legais ao endividamento municipal. Mas que o senhor secretário de Estado agite como farol e prescrição de actos a aludida nova lei é coisa que não lembra ao belzebu. É que a novidade de tal lei é tanta que sequer está em vigor. E, portanto, qualquer nova lei que ainda não é lei vale menos do que uma porra juridicamente. Nicky Florentino.

Referência



Ways of worldmaking. A repetição ad nauseam é uma forma de conquista, não uma forma de anestesia. Segismundo.

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Ground zero. Neste tugúrio, o famigerado argumento está classificado como pontapé de Kant. Cite-se. “Há apenas um Deus e há apenas um argumento por meio do qual é possível compreender a sua existência com a percepção daquela necessidade que aniquila, em absoluto, toda a oposição; um juízo ao qual mesmo a natureza do objecto poderia imediatamente conduzir. Todas as outras coisas que são, quaisquer que sejam, poderiam também não ser. Por conseguinte, a experiência de coisas contingente não pode fornecer nenhum argumento que sirva conhecer a partir daí a existência daquilo que é impossível que não seja. É apenas no facto de a negação da existência divina ser, completamente, nada que reside a diferença entre a sua existência e a das outras coisas. A possibilidade interna, a essência das coisas, são apenas aquilo cuja supressão extermina todo o pensável. Nisto, por conseguinte, consistirá a nota própria da existência do ser de todos os seres. Procurai nisto a comprovação e, se pensais não a poder encontrar, então retirai-vos deste atalho impraticável para a grande estrada real da razão humana. É totalmente necessário que nos convençamos da existência de Deus; mas não é assim tão necessário que a demonstremos” (in Kant, Immanuel (1763, 2004), O Único Argumento Possível para uma Demonstração da Existência de Deus, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, p. 156). Esta última frase é de tal modo categórica e ecuménica que há quem, embora súbdito de outro livro, a assente de modo semelhante. O motivo, esse, as setenta virgens à espera no paraíso, porém é diferente. Porque o que releva em um e outro casos não é tanto a plausibilidade da existência de deus ou das setentas virgens à espera no paraíso, mas sobretudo a necessidade de. De, que se foda, qualquer coisa. Qualquer coisa que. Segismundo.

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2006-09-09


Lost in translation. Hoje, formalmente, o Expresso deixou de corresponder ao modo Berliet avantajado da escala broadsheet para passar a corresponder ao modo berliner, tipo John Kennedy, elegante e engraçadito. Agora, para merecer o título de vítima, falta-lhe o tiro na cabeça apenas. Que o Lee Harvey Oswald do Expresso não demore. Ou será que já lá está dentro? Segismundo.

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2006-09-07


Fala-me do burro, fala-me da água. Ó comum, tu excitas-te com a prosa de especialistas em igualdade de género? Segismundo.

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Títulos que fazem uma vida, mas não todos os dias, liii. Der einzig mögliche Beweisgrund zu einer Demonstration des Daseyns Gottes. Segismundo.

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Nunca alguém o viu mas. No limite, deus é uma ideia repetida apenas, uma ideia reificada pela sua repetição aquém desse limite. Segismundo.

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Programa breve. Investigar a associação entre os sete anões e os pecados capitais. Um por um. Um e só um por cada um. Segismundo.

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2006-09-06


A marcha das chagas. Em termos coreográficos, a marcha ambulante dos desocupados do BE pelo emprego é semelhante às procissões das romarias. Aliás, tais procissões, mais andor para ali, mais banda filarmónica para acolá, são todas iguais. O mais em que diferem é no raio do padroeiro alcandorado na padiola e nos bordados e nos dourados dos pendões que vão adiante, na condução da marcha. Quanto às alminhas, essas, são sempre as mesmas, chãs e ávidas de salvação. Por si e pelos outros. Porque a esperança, embora logro, surge-lhes um puta colosso. Nicky Florentino.

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Isso Portugal, o movimento por todos nós e os outros. O senhor presidente da República hospedou brevemente em Belém o porta-voz de uma seita fandanga reunida sob o padrão Compromisso Portugal, para ouvir o que o dito fulano lhe tinha a comunicar. Consta que a seita reunir-se-á em convenção ainda este mês com o propósito de salvar o país e que tem umas ideias e tal. Porém parece haver dois problemas associados a este caso. Por um lado, não é bom sintoma o facto de esse ror de fulanos com gravata laçada ao pescoço se auto-apodar movimento, como o movimento operário. Se querem movimento, comprem um carrossel ou um pião. Por outro lado, ao baixar-se o limite da franquia de acesso ao senhor presidente da República, no futuro todas as seitas fandangas, se assim o desejarem, têm o direito de ser ouvidas pelo senhor em chefe de Estado. Desde a Azinhaga dos Bezouros até Vilar de Perdizes, há por aí muitas agremiações de gente a debitar terapêuticas para o problema chamado Portugal, processando tal débito com altruismo e afeição à pátria não inferior ao das criaturas da mobida chamada Compromisso Portugal, ié! Nicky Florentino.

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Santo Agostinho passou por aqui. As coisas são o que são e não são o que não são. Segismundo.

imagem © René Magritte (Ceci n’Est pas une Pomme, óleo sobre painel, 1964).

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Rather ripped. Corpo recusado, desistido, silo de ausência e falência, toda a tristeza condensada naquela carne. Assim estava ela quando o estuprador se aproximou. O Marquês.

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2006-09-05


O rasto de uma mulher chamada Ingrid. Segundo o Carlos, uma instituição pomposamente cifrada como Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia - Ejército del Pueblo teve direito a banca na festa do Avante! É a isto que se chama más, muito más, companhias. Nicky Florentino.

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Va bene ou talvez não. Já em idade de ter juízo, o coitado de um tal Agostinho tornou-se beato e, pior, manso. Em grande medida, foi uma espécie de antecipação neoplatónica de Pangloss, mas em desgraça superior, curvado com maior ângulo a um absoluto divino que, por delírio ou mania, lhe deu para vislumbrar. Foi já sob condição beata e mansa que, no capítulo décimoprimeiro do livro sete de Confessiones, escreveu coisas como esta, Et inspexi cetera infra te, et vidi nec omnino esse nec omnino non esse: esse quidem, quoniam abs te sunt, non esse autem, quoniam id quod es non sunt. * Depois pôs-se a malabarismos, versando sobre a corrupção das coisas. Sustentou ele que a corrupção das coisas até pode ser coisa má e tal, mas porque deuspodetudo assim dispôs, as coisas, na sua concertação plena, todas e por tudo, compõem o bem. Daí o famigerado corolário, há males que vêm por bem. Talvez. Mas o problema na equação do mundo não é mais os males do que é os bens. Sim, bens, no plural. Porque isso do bem, enquanto categoria suprema - e, portanto, putativamente inequívoca -, é como a chuva. Se chove, é provável que a novidade fique viçosa, mas não se vai para a praia apanhar sol. Berlin explica. Segismundo.

* “E observei as coisas abaixo de ti e vi que nem em absoluto são, nem em absoluto não são: na verdade, são, porque procedem de ti, mas não são, porque não são aquilo que tu és” (in Confissões, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2004, p. 159).

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Página do livro dos googlemas. Vamos lá a ver, quantos Duartes maus existem no país?, isso não sabemos. Mas aconselhamos a não batizar filhos com a graça de Gilberto ou com a graça de Valentim. Antes Benevenuto ou assim. Segismundo.

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Ai!, as coisas más todas com o mesmo nome. Não era necessário. Mas ele decidiu chamar Deolinda à hérnia que o incomoda. Para não se enganar. Segismundo.

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Nutricionismo. Dependendo do modo dorido como são capturadas, as carnes vermelhas são ou não são a dieta do equilíbrio. O Marquês.

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2006-09-04


Senão das culpas. Claro que com dores a estalar na cervical ninguém se sente leopardo ou falcão. Tão pouco se imagina isso. Em tais circunstâncias, quanto muito, alguém evolui de culpado para deitado. Segismundo.

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O horto das culpas, ii. Sabe-se que o caminho seguido é o caminho certo conquanto o corpo com o qual e pelo qual caminhamos nos convoque a sensação de ser leopardo ou falcão, as formas de solidão dos soltos, respectivamente na terra e no céu. Segismundo.

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O horto das culpas, i. A maçã é um dos caminhos eternos da redenção. Porém é-o sob condições, que são um tempo, um intervalo. Entre o momento de quase madura, apenas um fio de véspera, e o momento de quase caída no chão, o limite da suspensão, a maçã está para nós como nenhum outro elemento, como nenhuma outra alfaia posta para a fome ou para a sede. Segismundo.

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Ai! a loiça. O mundo é uma peça frágil. Aos estranhos chamamos anjos ou outros. Às vezes perguntamos-lhes o nome. Porque, where’s my tommy gun?, na nomeação, incluindo a dos bovinos, não há inocência. Segismundo.

imagem © Mervyn LeRoy (do filme Little Cæsar)

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Sonho a preto e branco. Havia uma lâmina. Havia carne. Mas o sangue não era vermelho. O Marquês.

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2006-09-03


Diz-me o tamanho do que dizes pensar... O palanque onde o senhor dr. Marques Mendes fez o discurso de encerramento de uma coisa chamada Universidade de Verão do PSD tinha a seguinte inscrição: pensar em grande. É a isto que se chama gozar com o chefinho. Nicky Florentino.

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Escala de Macunaíma, i. Ser no mundo é ser sem tença. Segismundo.

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2006-09-02


Non es tempus, bacharel! Imbarquemini in batel quia judicastis malitia. * O que é que o Futebol Clube do Porto - e a sua participação em competições supranacionais - tem a ver com o que os senhores da filial número um do Benfica fazem ou deixam de fazer? Que porra de regra é essa segundo a qual uma entidade que não é vista ou achada num caso sofre sanções porque uma entidade terceira não sei o quê? Sim, em que critério de civilização ou de desporto ou de juízo assenta essa regra? Como é que é possível tergiversar perante tamanha estupidez? O senhor dr. Gilberto Madaíl o quê? Á... É com um documento onde está inscrita chantagem tão hípica que os senhores da FederaçãoPortuguesadeFutebol pretendem invocar o interesse público... Está bem. Sim, sim, é portuguesa de Portugal. Sim, claro, é a mesma merda, o costume. Cavalos?, sim, cavalos, há cá cavalos. Puro sangue, os lusitanos. E também há galos de Barcelos. O quê? Não, não, não... isso não. Mas temos vassouras. As nossas bruxas andam de vassoura. Sim. Sim, sim, de vassoura. Não. Não, não, isso não. Varrer é outra coisa. Varrer é outra coisa. Nicky Florentino.

* palavras do diabo ao corregedor, parte da cena nona da peça Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente.

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O mundo é um lugar cheio de muitos outros, ii. Camaratas do Niagara. Dizia assim e que era assim porque eram massas de água deitada e cataratas, isso, era mal dos olhos. Segismundo.

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Always around. Alguém tem-se por suficientemente divino quando olha para deus e vê a evidência de nada. Segismundo.

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2006-09-01


Drama por um tal Vicente. Não sei quem raio é o senhor Fiúza, nome que rima com enfusa. Assim como não sei que papéis é que o fulano exibiu esta noite na teelvisão. Também não quero saber. Isso são minudências. Pois, passe a diferença de género, ele é a nossa Lois Lane. Nicky Florentino.

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Após calypso. E as pernas?, ó meu deus, para que servem as pernas num jogo de futebol a quem veio da banda de Alcochete? Nicky Florentino.

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As alforrecas têm a faculdade do sono? Em entrevista estampada na edição de ontem do Diário de Notícias, o senhor dr. Mário Soares disse que não é uma anémona impressionável. Aquando a última campanha eleitoral para alcandorar em senhor presidente da República o fulano que se seguia, o senhor dr. Mário Soares também disse que não dormiria descansado caso o senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva triunfasse na contenda. O que significa que o senhor dr. Mário Soares não anda a dormir descansadinho. Nicky Florentino.

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Página do livro dos googlemas. Mistérios, o mundo é tantos mistérios. Exemplo, regras de singular e plural porque do cão, pães, mãos, portões. Segismundo.

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O mundo é um lugar cheio de muitos outros, i. Mas quem é que caralho confunde navalhas com navalheiras? Segismundo.

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Nenhum luto merece ser repetido. Toca a finados, que é um toque bonito. Mas O Independente não tinha acabado já? Segismundo.

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Sai uma conveniência charlesa, com o devido patrocínio, para o que está para dar e o está para vir. Normalização do futebol português? Evitar sanção da FIFA? Interesse público? Interesse público uma porra. Conveniência. Conveniência e desfaçatez. Se não fosse o impacto ecológico negativo da manobra, os responsáveis, todos, deviam ser deportados para a tundra e obrigados a banhar os testículos nas águas correntes do Yukon. Até virem os salmões para desovar. Com a santíssima esperança, louvado seja Darwin, que, antes disso, um rebanho de ursos pardos aparecesse junto à margem. Segismundo.

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Les misérables. Os que não têm força sabem que algo, e não pouco, se joga quando se diz, quando se enuncia, quando se nomeia algo. Pois é uma força, tanto de fracos quanto de fortes, dizer o que é ou o contrário do que é. Claro que, por defeito, no jogo chamado mundo os fortes tendem a ter mais argumentos e argumentos mais fortes. Pelo que, mesmo na fraqueza, os fracos tendem a perder. Se não a bem - isto é, a mamar alacremente nas tetas da alienação e a clamar aleluia -, a mal. Segismundo.

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Todas as mães têm o seu quê de senhora da agonia. Mais ou menos, as mães sofrem. Não tanto pela maternidade, mas sobretudo pela mania que têm da maternidade. O Marquês.

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2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).