A improbabilidade da democracia. No âmbito da modernidade tentou compatibilizar-se um princípio de autorização directa, nos termos da qual o colégio de eleitores soberano mandata uma selecção de eleitos como representantes políticos, com uma composição social complexa, assente em sequências imbrincadas de dependências mútuas e recíprocas. Se durante alguns períodos a compatibilidade entre estas duas lógicas foi uma ilusão aceite, há muito tempo que essa ilusão surge insustentável. A contradição entre a autoridade única e a pluralidades de poderes, para além de se ter intensificado, tornou-se evidente. Chesterton, aliás, resumiu com elegância o caso: “a democracia, um ideal que é simples em demasia, foi vãmente aplicada a uma sociedade que é complexa até ao ponto da loucura”.* Percebe-se, pois, porque o regime dito democrático é implausível. O labirinto montado sobre os processos sociais não permite uma relação directa e imediata entre o povo e os representantes do povo. Nicky Florentino.
* G. K. Chesterton (1932), “Industrialism and democracy”, in Illustrated London News, 16 de Julho.