2005-09-30
Ao fim e ao cabo. Nunca é tarde. Nunca é demais. Nunca. Se é, é porque não foi. Segismundo.
Despertar. Acorda-se, descobre-se um túmulo no corpo e nada há para o preencher que não seja ele. Segismundo.
2005-09-29
Página do livro dos googlemas. As ignorâncias não são todas iguais. O desejo de as ultrapassar tão pouco. Por exemplo, querer saber quantas horas de sono tem um koala? é uma boa vontade. Segismundo.
Captações in A Majestade do Xingu*
.......“É noite fechada quando ele chega ao destino. Caminhando pelas ruelas da pequena cidade chega a uma casinhola de tábuas arruinada nos fundos de um terreno baldio. Ali está, a esperá-lo, a família - mulher, oito filhos (outros seis já morreram). Olhem o que eu trouxe, anuncia, feliz. Abre o pacote, mostra o braço. As crianças aplaudem, entusiasmadas; atraídos pelo barulho, outros membros da tribo - vivem todos ali perto - aparecem e decidem fazer um grande banquete naquela noite mesmo. A alegria é geral; o irmão de José, brincalhão como ele só, diverte-se atirando o braço para o ar e gritando, olhem a nossa comida pulando. E aí se estabelece uma discussão, não há consenso sobre a forma de preparar a refeição. Trata-se de uma polêmica recente na história da tribo; antigamente, toda a carne era simplesmente assada nas brasas, mas o contato com o branco, em outros aspectos tão deletério, ensinou a tribo a sofisticar a culinária. Uns querem preparar o braço cozido; outros, querem fritá-lo em banha; e até mesmo a possibilidade de estrogonofe é levantada. Mas a fome é muita, acabam por assá-lo de qualquer maneira e comem-no naquela noite mesmo. Não chega a ser uma lauta refeição; bracinho pouco musculado de sapateiro judeu há meses sem trabalho não é exatamente sinônimo de abundância em matéria de carne”.
* Scliar, Moacyr (1997/2000), A Majestade do Xingu, Lisboa, Editorial Caminho, pp. 76-77.
Agenda, iii. Dezoito de Outubro, Lisboa, Lux, Mark Eitzel. Segismundo.
Agenda, ii. Catorze de Outubro, Torres Novas, Cine-Teatro Virgínia, Danças Ocultas. Segismundo.
Agenda, i. Oito de Outubro, Lisboa, Culturgest, Hermeto Pascoal. Segismundo.
Cartografia da ordem. No primeiro patamar existem as coisas simples, como a ironia, o trapézio, as aporias, os lobos, a queda. No segundo patamar existe a justiça do que se diz e do que se faz. No terceiro patamar existe a solidão. No quarto patamar existem os demais patamares, uma escada e as mãos. Segismundo.
Wacky racer, ciclista de fim-de-semana. Hoje, são trinta e sete os Outonos sobre o escandinavo que ri como o Mutley, mas em aberto. Segismundo.
A aposta que não devia ter acontecido. Nem arte, nem média. Taquepariu! Segismundo.
2005-09-28
Juízos imperfeitos e outros. Segundo notícia estampada na edição de hoje do Público, existe um número significativo de tribunais notoriamente deficientes ou muito maus. Nada que espante. Mas que não espante é uma coisa, que não incomode é outra. Para além desta observação, duas notas. Uma relativamente à oportunidade da notícia. Como os funcionários judiciais e os magistrados andam para aí assanhados - foram até atendidos em audiência por essa sumidade em senhor presidente da República -, a publicitação de tais nódoas, parte provavelmente imputável à respectiva caderneta profissional das referidas espécies, serve convenientemente o Governo. O raciocínio é linear, a preguiça e a incompetência não justificam regalias. O raio do Orçamento do Estado também não. A outra nota é em relação às sequelas da notícia. Estima-se que não demore a exigência da publicação do ranking dos tribunais. Assim como não estugue a demora da defesa da privatização e da desvinculação territorial desses mesmos tribunais. Porquanto qualquer criatura deve ter o direito de recorrer ao tribunal que, em seu juízo, lhe oferece melhores garantias ou mais lhe apraz. Para desgraça da fauna autóctone já é bastante ter de remeter a prole para a escola pública e não haver vouchers. Nicky Florentino.
O signo clássico do regime. O senhor Prof. Doutor Francisco Louçã insurgiu-se contra a candidatura de ignorantes a honras públicas ou de Estado. É óbvio que não é simpático votar-se em alguém que se compromete em não aumentar impostos e, depois, depois de eleito, invoca a respectiva ignorância para fazer o contrário daquilo a que se havia comprometido. Mas quanto a isso, entretanto, nada há a fazer. A hipótese de redenção política é no futuro, no limiar do próximo mandato. Seja como for, os ignorantes têm o direito de se candidatar e de serem eleitos. Aliás, os ignorantes têm o direito de votar. Seja em si mesmos, seja em outros. Assim como têm direito a vociferar aquando envolvidos em manobras de galopinagem. Entre outros motivos porque a ordem política chamada democracia é extremamente generosa, não parcimoniosa, em relação à estupidez. Sabe-se isso desde Platão. Nicky Florentino.
Corrigenda. Um de Novembro,
A política já não é o que era e vai tudo dar a aquilo. Ele, Fátima F., não, Christiane F., isso é que, depois de livro, foi um filme, mas aquele a que estás a fazer referência é o Emmanuelle, o dois, talvez o quatro, não sei. O outro, e o que é que isso tem a ver com Felgueiras? Ele, provavelmente, nada. Segismundo.
Demónios em
Encontro imediato. Olá, disse. O que poderia ter sido acaso transformou-se em caso. Começou assim. Segismundo.
Palavra do dia. Sangue. Segismundo.
Vitalis. O que é a vida?, em rigor a vida é twist and shout. Segismundo.
Manobras em pêlo, vi. Dorian Grey desfia o jornal com as suas garras, sem dispensar tempo à leitura. Segismundo.
2005-09-27
Futurar e confirmação. Em política, as sondagens eleitorais são ecografias, ressonâncias que permitem estimar o que vai acontecer. Dado o povo não existir como afirmado, soberano, através de projecções vão-se entretendo as ânsias dos gentios e atenuando as dúvidas quanto ao futuro. Pelo que é sobretudo por motivo lúdico que, no dia das eleições, os gentios vão às urnas confirmar, com o seu voto, o resultado previamente anunciado nas sondagens. O povo não acontece antes das eleições, o povo acontece depois. Aliás, o povo não suporta a democracia. Acaso suportasse, a tragédia seria mais trágica. Sem margem de erro. Nicky Florentino.
Palavra do dia. . Nicky Florentino.
Da vala comum. Explica o Bruno, “e assim se vão cavando as comunicações privilegiadas entre valas e estrelas”. Segismundo.
Captações in A Majestade do Xingu*
“O senhor conhece a história, doutor? Do judeuzinho que era nada? É assim: estão dois judeus, um muito rico e um muito pobre, rezando na sinagoga. Diz o judeu rico, batendo no peito: Deus, eu sou nada! Eu sou nada, Deus! E o pobre, aproveitando a deixa, e também batendo no peito, um peito magro, cavo, peito de tuberculoso: e eu também sou nada, Deus! Ao que o rico respondeu, com desprezo: olhem só quem quer ser nada”.
* Scliar, Moacyr (1997/2000), A Majestade do Xingu, Lisboa, Editorial Caminho, p. 122.
Agenda. Um de Novembro, Lisboa, Caixa Económica Operária, Jarboe. Segismundo.
Página do livro das interrogações, xi. Podemos não ser o que somos? Segismundo.
Página do livro das interrogações, x. Podemos ser o que não somos? Segismundo.
Boletim pós-sonho. E acordou como naqueles dias em que acorda morto. Disposto a sobreviver a si. Disposto a vencer-se. Segismundo.
Sonho com mariposa. Raramente os sonhos lhe acontecem com resolução suficiente para lhe serem memória em acordado. Esta noite, porém, aconteceu-lhe um desses sonhos nítidos, como se fosse vida. Alguém o chamou. Meu menino, disse. Sorriu-lhe. Passou-lhe a mão pela face, acabando, em modo mais do que maternal, a segurar-lhe o queixo. Olhou-o. Perguntou-lhe se queria uma limonada. Ele aceitou. Bebeu, deliciado, a limonada. Quem o chamou continuava a sorrir para ele, como se lhe guardasse o gesto. Por instantes, ele concentrou os olhos no copo. Quando tornou a olhar para quem lhe sorria, para agradecer a limonada, viu apenas uma borboleta branca, numa coreografia de espanto, como se estivesse a fazer-lhe sinais, como se o estivesse a conduzir. Ele começou a chorar, mortificado por uma sensação de atraso inultrapassável. Foi quando acordou. Segismundo.
Brindes nocturnos. Derrapagem vertiginosa em rotunda, primeiro, Joanna Newson, depois. Segismundo.
2005-09-26
Campanha. A eleição é um modo de iludir uma ordem gregária. Por outras palavras, a eleição, enquanto instrumento, é um logro político. O que significa que as eleições autárquicas são a via para a confirmação de três logros. Nicky Florentino.
Invejanossa. Aqui, neste tugúrio, inveja-se o modo de dizer a inveja da Susana. Segismundo.
Dia dos juízos comuns
feather by feather... É o que ele vê. Não o que ele ouve. Segismundo.
O ataque, iii. Onde a mania da poligamia não tem expressão, a contabilidade de qualquer caso matrimonial é simples, um, dois e vice-versa. Daí que, na eventualidade de distúrbios domésticos ou conjugais, isto devesse ser evidente para qualquer vítima de núpcias, inclusive as senhoras mal casadas e despeitadas. Pelo que, se há problemas em casa ou fora dela, das duas uma. Ou alguém se muda. Ou alguém tranca as portas. Seja para impedir a saída. Seja para impedir a entrada. Segismundo.
O ataque, ii. Um rapaz compreende que o mundo possa ser ao contrário, o avesso. Compreende até que o possam ameaçar com a difusão de uma mentira que ele já utilizou como ameaça para defender quem tinha culpa. Nada disto é inquietante. Inquietante é que, neste derrame de misérias, ele esteja inocente. Segismundo.
O ataque, i. Um rapaz compreende que exista quem queira muito, quase tudo, tudo. Não compreende é que lhe façam exigências. E que, confundindo-o com alguém outro, o ameacem. Com leis, gente de leis e tudo. Para isso falta-lhe a paciência. E, nestes dias, a simpatia. Segismundo.
Manhã. O problema não é a mensagem remetida. O problema é o destinatário escolhido. Segismundo.
Palavra de todos os dias. Desassossego. Segismundo.
2005-09-25
Instrumentos de redenção. Belle Chase Hotel, à sexta-feira à noite. Fanfare Ciočarlia, ao domingo à tarde. Segismundo.
Visões. Um cão em agonia, fresca, na estrada. Facto e metáfora. Segismundo.
Mau acordar. Há dias que não deviam começar. Porque o cheiro da manhã é o cheiro de um dia que vai doer. Segismundo.
2005-09-24
Página do livro das sentenças, xxviii. Há apenas uma muleta que serve o levantamento do corpo por si mesmo, a raiva. Segismundo.
Fall. A vertigem é a consumação da hipótese da queda, sem remissão. A queda é apenas uma estação, um voo. Segismundo.
Asfalto flat. A velocidade é um desafio que o corpo joga consigo mesmo, projectado para o limite da sua própria ultrapassagem. Segismundo.
2005-09-23
Melhoramentos. Não sei se é eminência, como afirma o Martim. Mas é uma mania como qualquer outra,
Natureza quase morta. Corpo derrubado em aguarela, água de Outono. Segismundo.
Sub til. Ele, subtileza? Ela, sim, subtileza. Ele, desculpa, mas subtileza não é virtude de rapaz. Ela, mas, olha!, é exigência de mulher. Segismundo.
Concurso. Vence quem matar mais ceguinhos. O Marquês.
Leitor cínico. Mordeu e roeu duas vezes o mesmo título, Balada da Praia dos Cães. Segismundo.
2005-09-22
Ruptura sintagmática. Para a senhora juíza que apreciou agora o caso da senhora dr.ª Fátima Felgueiras, esta “encontrava-se ausente, alegadamente, para o Brasil”. Como é evidente qualquer criatura em juízo deve ser cautelosa. Portanto, não havendo prova retumbante que a senhora que se esquivou para a outra banda do Atlântico estivesse, de facto, no Brasil, aconselhado é que isso fique registado apenas como alegação. É sempre possível que a dita cuja não estivesse domiciliada no Brasil, mas que estivesse a apanhar banhos de sol numa qualquer plataforma petrolífera do mar do Norte ou que andasse a pairar às cavalitas da sonda que está a rondar Saturno e respectivos arredores. Portanto, até aqui, as coisas são o que são. E a cautela, como a canja, jamais é demais. Onde o rabo da porca é torcido, em jeito de rosca de parafuso, é no raio da proposição escolhida pela senhora juíza. Porquanto encontrar-se ausente para…, seja por via de alegação ou de qualquer outro mistério, é má gramática. Ou isso ou, em Portugal, os sintagmas já não são o que eram. O que não é motivo de espanto ou de espavento. Até porque Chomsky lá terá a sua culpa. Nicky Florentino.
Grandezas s(ave)-o(ur)-s(ouls). Hoje começa o vigésimo nono Outono do lobinho nódoa. Segismundo.
Mauvais sang. Ela, achas que os nomes são antes das coisas? Segismundo.
Quidentidade? Nem é peixe, nem é carne, nem é pão. Segismundo.
Dieta. Quarteto Borodin. E companhia. Segismundo.
2005-09-21
Forr(obod)ó. Ninguém deve ou merece ser exemplo para quem quer que seja. A senhora dr.ª Fátima Felgueiras não é menos ou mais do que qualquer outra criatura. Ainda assim, todo o episódio que envolve a fulana, seja a dita cuja inocente ou o raio que a parta, parece um tango dançado por uma brigada de paralíticos sem qualquer sentido rítmico. Ou seja, o espectáculo punge. E suscita nojo. Mau é, prévio, não existir motivo para as exéquias. Devia haver. Ou isso ou, então, não é verdade que o ridículo mata. Nicky Florentino.
Inspector trompe l’œil. Ela, há alguém em quem sejas capaz de acreditar? Ele, eu não sou de credos. Ela, há alguém, então, em quem sejas capaz de confiar? Ele, confiar em que termos? Ela, confiar em absoluto. Ele, não se confia em absoluto. Ela, percebes o que eu quero dizer... Ele, não, já não há alguém em quem seja capaz de confiar assim. Ela, porquê? Ele, porque fiz perguntas. Segismundo.
Roteiro e desassossego. Ela, como é que consegues viver com tantas dúvidas? Ele, fazendo perguntas e confiando. Ela, e isso resulta? Ele, não sei. Segismundo.
Regresso à pátria. Os corpos são móveis, podem transitar. Mas incide sobre ele um segundo efeito de gravidade que os impele para um lugar chamado casa.
2005-09-20
Página do livro das sentenças, xxvii. Algo está mal quando os dias se sobrepõem às noites. Segismundo.
Todos os dias quando não são. Almoço como se fosse jantar. Até ao fim. A vida são estes intervalos. Que, depois, têm continuação. Sem nunca se falar de mulheres. Porque, verdadeiramente, a vida são outros assuntos. Não pormenores que se amam. E desamam. Segismundo.
Um pedido estranho. Fala-me de Rimbaud, rogou-lhe ela. Segismundo.
E(c)lipse. O corpo arrefece. Há nele algo mais do que matéria, osso e carne. Não se vê a sua solidão. Não se vê nele a companhia. Apenas se percebem as respectivas distância e proximidade. O corpo arrefece. Continua a arrefecer. Não tem enredo. Não tem amparo. Não quer amparo. O corpo arrefece. Nele dissolve-se o veneno. Não se dá. Também não resiste. Frio, veste-se. Veste-se sem asas. Ainda assim voa. O corpo arrefece. Para, depois, a ressaca, o coice, acontecer como agasalho. Contra o chão. O corpo arrefece. O outro corpo, quente, é apenas o biombo do corpo que arrefece. Segismundo.
2005-09-19
A seu bel prazer. Sobre este chão pátrio que a terra não há meio de tragar, com frequência o exercício de manifestação tende à expressão da estupidez. Não é necessário que os manifestantes sejam estúpidos. Em Portugal, a inércia e a lógica desse exercício tendem ao limite referido. É por isso que, por cá, também com igual frequência, a estupidez tende a corresponder à estupidez. Exemplo disso mesmo é considerar-se a participação de uns quantos magalas num corsel manifestante um risco para a unidade militar ou o raio que parta. E isto sem que essa espécie de inexistência política alcandorada em chefe supremo das forças armadas sequer ter tugido ou mugido. Ainda se tolera que tudo isto - a pátria e o Estado da pátria - mais não seja do que uma paródia republicana. O que é intolerável é a falta de pudor com que os senhores parodiam. E gozam. E coçam para dentro. Nicky Florentino.
Onomatopeia ao fim do terceiro capítulo. Hoje, pouco depois das quinzeetrinta, o José pôs-se a fazer barulho, suspeita-se que muito, de contentinho. Ele há fins que dão para isto. Segismundo.
A vontade de ignorar. Há o que não se sabe. Há o que se sabe. E há o que não se quer saber. Para algumas ignorâncias, porém, tal não querer saber é já tarde. Segismundo.
Luz boreal. Por si, só por si, o quadro não é interesante. Mas ver, naqueles corpos quase espectrais, nocturnos, a culpa a ceder à sedução eterniza a noite. E faz o norte. Segismundo.
Na jukebox. “Deep dark well”, parcela do álbum Transistor Radio, de Matt Ward. Segismundo.
2005-09-18
Sein und Zeit. A mesma textura. O mesmo perfume. O mesmo tom. A mesma têmpera. As mesmas arestas. O mesmo sopro. A mesma suspensão. A mesma fome. A mesma vontade nos gestos. Não a mesma música. Não o mesmo lugar, exacto. Mas os olhos, os mesmos, abertos. Segismundo.
Manhãs nocturnas. Chega-se tarde, madrugada alta, a uma cidade grande e estranha, invicta. Antes das palavras, um sorriso, um abraço. Há um corpo que torna a ser saturno, sem sol. Segismundo.
2005-09-17
Agenda. Onze de Novembro, Lisboa, Zé dos Bois, Lou Barlow. Segismundo.
Até onde podemos ir? Há limites, o chão e o céu, embora dentro de casa o céu seja o tecto. Segismundo.
Uma questão de confiança. Tornará a ser seu confiante depois de reencontrar lágrimas naqueles olhos. Não antes. Segismundo.
2005-09-16
Desencontro de manápulas. No final de um debate televisivo, o senhor Prof. Doutor Manuel Maria Carrilho não apertou a mão ao senhor Prof. Eng.º Carmona Rodrigues. Qualquer que seja o significado do gesto, num pormenor o candidato da seita do PSD à Câmara Municipal de Lisboa levou vantagem. Ficou dispensado de, depois, lavar as mãos. Nicky Florentino.
Página do livro dos equívocos, hors série. Ad nauseam não é ad nauseum. Recado de um José para o O Marquês. Segismundo.
Agenda. Doze de Novembro, Lisboa, Aula Magna, Devendra Banhart. Segismundo.
Dança. Por que é que volta?, por que é que não vai?, porque, não obstante padeça de instinto amador, não tem rédeas. Ou isso ou ao contrário. Segismundo.
Fazer a revolução. Quando uma mulher pergunta o que fazer? é óbvio que esqueceu algumas das utilidades do seu corpo. Segismundo.
Página do livro das sentenças, xxvi. O lugar da culpa são as mãos. Segismundo.
Efeitos colaterais. Que algumas mulheres estejam mal casadas é a vida. Que algumas mulheres se sintam despeitadas por os respectivos maridos andarem a pular a cerca é igualmente a vida. Até aqui, este limite, tudo é compreensível. São fenómenos que acontecem nas telenovelas e nos filmes. Agora que alguém seja incomodado por mulheres mal casadas e despeitadas - o plural, só por si, é medonho - é que é a puta da vida. Segismundo.
Cedo erguer. A manhã é um lugar diferente quando começam a acontecer coisas que não estavam inscritas na agenda. Como se não houvesse
Estação das quedas. Depois da teoria, os saltos. Livres. Segismundo.
2005-09-15
Hobbes já não existe. A banalização da manifestação enquanto modo de expressão é sintomática de um ror de males políticos. Quando as instituições, nos seus ritmos ritualizados, não funcionam ou funcionam intempestivamente muitas das afirmações ou tomadas de posição são transportadas para a rua, transformando todos os chãos em palco de uma novela, sofregamente explorada pelos media, em particular pelas televisões. Na prática, os poderes são cada vez mais impotentes. E o Estado, que não é Estado, é cada vez mais uma espécie de personagem fandanga. Sem rei. E sem rock. E o povo, esse, que nunca foi povo, revela-se alacremente turba. Em política, é isto a tragédia. Nicky Florentino.
Paint it black. Se a Rita é, tumtum, pumpum, The Stones Roses, a Susana é, ai, ai, Leonard Cohen. E a Sara, zás!, lembra que existe um maldito chamado Gainsbourg cujo primeiro nome, simpatia, é impronunciável aqui, neste tugúrio. Segismundo.
O voo como ofício. Ele não quer ser rapaz de trapézio. Quer ser rapaz de queda livre. Segismundo.
Para elas há sempre mais alguém. Ela, e eles? Ele, aqui não há eles. Segismundo.
Economia da simpatia. Como tudo o que exige dedicação, o ódio consome tempo. Isso é recurso que ele não tem. Paciência tão pouco. Por isso, perante tais circunstâncias, desprezo, menos do que rancor, é o quanto ele é capaz de dispensar. Não é a mesma coisa. Mas serve. Segismundo.
Dialéctica do desamor. Tese, my heart is an apple. Antítese, I’ve got you deep in the heart of me. Síntese, I think I need a new heart*. Segismundo.
* D'The Arcade Fire a'The Magnetic Fields.
Chão de fidúcia. O que se estriba sobre a mentira, para além da hipocrisia, é o engano, não a confiança. Segismundo.
E se depois? No amor, quando alguém diz agora já é tarde é porque não apre(e)ndeu o passado e teme o futuro. Segismundo.
O jogo dos enganos. Com frequência finge-se o corpo. Com frequência finge-se que se resiste ao corpo. Com frequência abusa-se tanto de um quanto de outro desses fingimentos. Provavelmente é um modo inconsciente de suicídio lento. Segismundo.
2005-09-14
O regresso do fim do mundo. Dia dezoito de Novembro, vinteeumaetrinta, Village People e Boney M., no Pavilhão Atlântico. É isto seja o que deus quiser. Segismundo.
Foto tipo passe. O corpo esgota-se e condensa-se nas mãos, não, nunca, na face. Segismundo.
Tentação. Não é o fio que balança, o colar, que provoca a vertigem. Mas o corpo, como forja, que se insinua. Segismundo.
Resistência. Um rapaz está preparado para quase tudo, excepto para mortificar-se pela culpa das outras e dos outros. Segismundo.
Fazer o fim. Uma operação de desamor jamais deve ser interrompida. Segismundo.
Dicionário de como as coisas são, i. Amor é sinónimo de dor. Ou seja, amor é dor de dentes depois de se comer (ou beber) chocolate (quente). O Marquês.
2005-09-13
Página do livro dos googlemas. Há honra nisto, melodia dos filhos do dragão, mas não deixa de ser equívoco. Segismundo.
Brancura. Não padecemos de competência suficiente para dar a explicação rogada pelo Francisco. Mas, confirma-se, daqui era também branco o que se via. Segismundo.
Página do livro das sentenças, xxv. De todas as faculdades que não se aprendem, o amor é aquela que mais mortifica. Segismundo.
O fundo. Para além dele, ninguém sabe. Ninguém vê. A superfície não avisa. O plano interior, inclinado, esconde. Segismundo.
Ciência. Como se disputa vital fosse, discutiam sobre o instrumento que mais facilmente permite alcançar a carne. Se a agulha de uma seringa, se a lâmina de um bisturi. A discussão prolongou-se, ad nauseam, sem que sentença ou consenso lograssem. Estavam entretidos neste vaiquenãovai científico quando Donato, num assomo positivista, propôs que, em derradeiro modo de escrutínio, fosse ensaiado um exame empírico, de modo a que, com prova substantiva, material, dos factos, sem apelo, fosse possível sentenciar-se que instrumento mais facilmente permite alcançar a carne. O método decidido foi o método comparativo. Na mão direita de um indivíduo cravar-se-ia uma agulha. A mão esquerda do mesmo indivíduo seria rasgada por uma lâmina. Para além disso, tanto a agulha quanto a lâmina teriam que ser esterilizadas. Reunidas as condições, Donato encerrou-se no laboratório, coadjuvado por três assistentes e observadores. Entrou o indivíduo escolhido. Na sua mão direita foi cravada uma agulha. A sua mão esquerda foi rasgada por uma lâmina. Os resultados foram inconclusivos. Embora instrumentos diferentes, feita a verificação, ambos pareceram aceder em igual tempo à carne. Houve necessidade de continuar a experiência. Em mais mãos direitas foram cravadas agulhas. Mais mãos esquerdas foram rasgadas por lâminas. A partir de determinado momento, porém, o que motivava Donato ja não era a senda da verdade. O que o movia era o esgar dorido dos que, ai, ai, emprestavam as mãos à ciência. O Marquês.
2005-09-12
Workshop sobre a democracia perspectivada a partir do nono círculo. Esta noite, na teelvisão, supostamente uma das escotilhas do espaço público, aconteceu um simulacro de debate sobre as autarquias locais. A maior parte do tempo foi investido em conversa sobre a corrupção. Algo entre o patético e, embora todos estivessem sentados, o peripatético. Não necessariamente uma tristeza. Nicky Florentino.
Diálogo em silêncio que não se ouve. Elavoz, sabes?, repetes o erro. Elecorpo, suspeito que sim, mas há erros que têm que ser confirmados. Segismundo.
Página do livro das sentenças, xxiv. Há gestos que não são salvíficos, apenas salvam, resgatam uma das vítimas. Segismundo.
A forma
O enunciado da fraqueza em gesto. Ela tomou-lhe os braços, para um abraço longo. Ele emprestou-lhes o cerco. Ao mesmo tempo que uma tranquilidade chegou, outra partiu. Segismundo.
Sequência. Depois de Last Days, de Gus Van Sant, Magnolia, de Paul Thomas Anderson. Não se sabe porquê. Segismundo.
2005-09-11
Página do livro dos googlemas. Este tugúrio é um cadafalso para incautos. Os mais desprevenidos vão na senda de objectivos como, qual a diferença entre ânus e cloaca?, uma viagem perversa xxx, cartoon da Manuela Moura Guedes, marujos do alto mar, agremiação dos senhores casados ou simpatias para amansar alguém. É a isto que se chama desorientação. E piores conselhos. Segismundo.
Página do livro das latitudes, ix. O corpo escorre, desperdiça loucura. O veneno estanca-a. Segismundo.
Dia dos juízos
2005-09-10
You've got mail. O João Pedro recebeu correio de simpatia. A mensagem tem um significado qualquer. Qual?, não interessa. Era mesmo só para chatear. Segismundo.
Referências cardeais. Ela, para onde vais? Ele, não sei, depende do plano da queda. Segismundo.
O corpo como máquina de combate. Sem precaução, sem demora. O corpo lançado para diante, para o contacto, para o excesso. Também para a morte, morte lenta. Sem tempo para admitir dúvidas. Sem tempo para escutar os ecos. Sem tempo para a ironia e para ser vítima de si mesmo. Segismundo.
2005-09-09
Não há listas
A senhora
Da
Gesto fraco. A esquiva do corpo é manobra a que ele quase já não recorre. Segismundo.
2005-09-08
Ocidental praia lusitana. Cerimónia pública a propósito da implosão de duas torres em Tróia. Transmissão teelvisiva. Presença do senhor primeiro-ministro a fazer figura de urso presente. Esta normalidade pátria, taqueapariu, não mata. Mas devia. Era remédio santo. Ou isso ou la marabunta. Nicky Florentino.
Visto de... O artigo do José estampado na edição de hoje do Público é um exercício... sabe-se lá. Ele, o José, não se espanta, pelo menos com espanto que despolete a indignação, com o que aconteceu em New Orleans. Espanta-se e indigna-se, ao ponto de classificar como hipócrita, é com o espanto dos que se espantaram e indignaram com o que aconteceu. Está bem. Cada um com as suas manias. Nicky Florentino.
A fama e o proveito. A existência física de putos não é fenómeno que o incomode. Até determinada distância de si e dos seus haveres ele consegue tolerar tais criaturinhas. Porém, tudo isto é apenas narrativa quando as pequenas bestas devoradoras e respectiva companhia começam a guinchar, o que faz a distância quase nunca ser suficiente, ou quando devoram o Tulicreme. Nessas circunstâncias, ele transmuta-se. E confirma-se o tio mau. No caso, o silêncio foi fácil de reestabelecer. O Tulicreme é que não. O dinheiro todo dos putos, voluntariamente disponibilizado sob ameaça, não chegava para comprar uma embalagem de duzentas grama. Aconteceu a bronca. O tio mau ficou danado. E isso nunca é bom augúrio. Segismundo.
Palavras, para que se querem? Na qualificação é regra ser-se temerário. Ilustração, a propósito da atribuição de um prémio a Antony, o Mercury doismilecinco, na edição de hoje do Público é feita alusão à sua “singular voz disfuncional”. O resto, obviamente, não é osso de ouvido. É cartilagem. Segismundo.
Manobras em pêlo, v. Dorian Grey, cat on a hot tin roof, encaracolada na sua lassidão, sob o sol. Segismundo.
Anjo guardador. Há coisas que um rapaz não devia fazer. Por exemplo, ameaçar dar publicidade a uma mentira para evitar a difusão de uma verdade. Ele fez. Consequentemente, a verdade continua reserva, íntima, de poucas criaturas. Mas o gesto trouxe-lhe uma estranha sensação. Ele não sabe se de Fausto. Ou se de Cristo. Também não é assunto que o apoquente. No instante em que a dúvida lhe assomou ao juízo ele respondeu, que se foda. Segismundo.
Boys will be boys. Um rapaz está preparado para quase tudo, excepto para ser
A vida é um ror de equívocos, mas há bolos. Há sempre alguém que sabe coisas sobre ele que ele não sabe. A puta da vida é assim. Por isso, quando, depois de o interpelarem, ele diz não, não, reforçado, os outros espantam-se. E, ávidos, querem saber por que é que não. Claro que não há explicação. Muitas vezes também não há paciência para explicar por qual raio é que não. É como o gosto madrugador, pá!, traz aí outro, se faz favor, por pastéis de nata. Segismundo.
2005-09-07
O grão pedagogo republicano. O senhor presidente da República foi visitar uma escola. Embalado, decidiu dissertar sobre a ética republicana. O que é que raio é republicano na ética é que não se sabe. Também não faz mal. A escola há-de ensinar. Ou isso ou a puta da vida. Nicky Florentino.
Stranger in a strange land. Ontem, por duas vezes ele mostrou-se aos olhos da morte e ela negou conhecê-lo. Deixou-lhe apenas o sangue como prova da sua passagem próxima. Segismundo.
Páre, escute e olhe. Às vezes acontece a vontade de mandar foder tudo, incluindo a menina que pergunta insistentemente passa-se alguma coisa?, está tudo bem? Mas não é necessário apostar nesse limite. Como disse Luiz Pacheco em entrevista à última edição do Jornal de Letras, Artes e Ideias, “foder não é indispensável. Deixar de ver e de ouvir é que é pior”. Segismundo.
2005-09-06
In slide. O sono quebrado. O corpo junto. Movimento pendular em ritmo de raiva. A chuva, agasalho para a nudez que traz, dissolve-lhe o veneno. Cala as vozes. A vida torna ao padrão. Ao engano certo. Segismundo.
Redenção. Há uma alameda de liquidâmbares em Serralves. Mesmo quando chove. Segismundo.
Manobras em pêlo, iv. Dorian Grey descobriu a chuva e que, apesar da sua assanhada insistência, a chuva lhe escapa entre as garras. Segismundo.
Rentrée. Regressou o João, a quem o Luiz Pacheco chamou “uma espécie de índio chupista”. Seja lá o que isso signifique, é bonito, simpatia parece não ser. Segismundo.
Cruzamento (faraway, so close!). Lugar improvável. Companhia implausível. Pergunta, eras tu? Resposta, não, não era. Mas talvez fosse. Segismundo.
Página do livro dos excursos, vii. Deus não existe. Mas, acaso existisse, a chuva seria uma das vias pelas quais
Sombra de paixão. . O Marquês.
2005-09-05
Perdições. O senhor dr. Mário Soares decidiu candidatar-se a senhor presidente da República. Há apenas duas hipóteses de derrota para o fulano. Uma, a óbvia, aconteceria caso, na contenda eleitoral, lograsse menos votos do que qualquer uma das outras candidaturas que venham a concretizar-se. A outra, a lição, aconteceria caso o senhor Prof. Doutor Cavaco Silva não se candidatasse e deixasse o senhor dr. Mário Soares, sozinho, a jogar ao pau com os ursos. Nicky Florentino.
Página do livro dos googlemas. Esta sequência, ganza pólen foda-se, conduz ao lugar mais implausível. Aqui. Segismundo.
Manobras em pêlo, iii. Dorian Grey salta, pula e desnovela. Segismundo.
Quem vê caras não vê corações. Alguém olhou-o. Não gostou de o ver. Não gostou de o perceber naquele lugar. Mas tal desgosto era por motivo menor. O outro, o motivo maior, que havia, o desgraçado não o sabia. Não tinha que saber. Segismundo.
Dia dos juízos
and girl you just a no good dick*. Segismundo.
* Yeah Yeah Yeahs.
2005-09-04
Identidade opaca. Fazem-lhe muitas perguntas. Muitas vezes as mesmas perguntas. O cerco parece um universo de incógnitas e dúvidas. Mas a nebulosa de interrogações converge para curiosidades menores, que pouco ou nada revelam sobre ele. Quase ninguém sabe que ele já reparou moto-serras. Quase ninguém sabe que ele já manobrou tractores com as mais diversas alfaias agrícolas. Quase ninguém sabe que ele já voou, literalmente, pela avenida da cidade pequena, perdido entre botijas de gás butano. Quase ninguém sabe que ele cresceu com uma raposa como animal de estimação. Quase ninguém sabe que ele jogou futebol. Ninguém sabe que ele sabia quando o avô morreu lá em casa. Quase ninguém sabe que ele ouve vozes que mais ninguém ouve. Quase ninguém sabe que ele discute futebol. Quase ninguém sabe que ele se desperdiça por paixão. Quase ninguém sabe que ele esteve envolvido nas operações ph. Quase ninguém sabe que ele vai frequentemente ao outro lado e volta. Quase ninguém sabe o que ele ainda faz por amores mortos. Quase ninguém sabe o que para ele vale o riso do Sueco. Quase ninguém sabe do que resultou a cicatriz que ele tem na testa. Quase ninguém sabe o que, pela madrugada dentro, para ele vale a aceleração do jipe do Jaiminho pelos pinhais. Quase ninguém sabe que alguém já esteve a fazer uma entrevista a um tubarão na banheira da casa dele. Quase ninguém sabe que ele já viu veados, Bambis, a comer coelhos, Tambores. Quase ninguém sabe que ele já foi rico. Quase ninguém sabe o que para ele vale o sorriso de uma pessoa que ele não diz. Quase ninguém sabe que, na escola, ele não gostava de ser o bom exemplo. Quase ninguém sabe que ele gosta de utilizar expressões vernaculares. Quase ninguém sabe que ele não é quem parece ser. Quase ninguém sabe o que ele faz. Quase ninguém faz perguntas sobre estes segredos. Provavelmente ele também não responderia. Segismundo.
I can fly, but I want his wings. Sim, ele sabe onde existe o curso de cromoterapia. Mas está mais interessado num curso de saltos. Cair será um dos seus ofícios. Segismundo.
2005-09-03
Alter ego. . Segismundo.
Agenda, iii. Seis de Novembro, Lisboa, Aula Magna, Young Gods. Segismundo.
Agenda, ii. Vinteeseis de Setembro, vinteeduas, Lisboa, Clube Lua, Smog. Segismundo.
Agenda, i. Seis de Setembro, Lisboa, Lux, Andrew Bird. Segismundo.
2005-09-02
Heaven restores you in life. Vindo das Janelas Verdes ou de qualquer outra origem, sangue e iPod são os ingredientes que qualquer vida devia ter. Segismundo.
Domicílio dos dias incomuns. Insânia boulevard. Gestos exactos. Sem culpa. Sem lágrimas. O veneno tudo enxuga. A ressaca será depois. Segismundo.
Página do livro das interrogações, ix. Qual é o limite da renúncia? Segismundo.
A maternidade enquanto doença. As mães fazem muitas perguntas. Repetidas. As mesmas. E por algum motivo extra-genético, estranho, ainda não determinado, é-lhes difícil admitir o não filial como resposta. Segismundo.
Página do livro dos excursos, vi. Em acto, a virtude decorre de um conjunto limitado de elementos. Um desses elementos é admitir como primeiro princípio orientador da vida ter poucos princípios. Os restantes elementos são as faculdades que permitem diferenciar, articular e seleccionar os outros e as coisas, seja em ordem de razão pura, seja em ordem de razão prática ou de confiança. Segismundo.
2005-09-01
Os vertigem-men da pátria. O senhor dr. Mário Soares já disse alfa. O senhor dr. Mário Soares já disse ómega. Em relação ao mesmo tópico. O senhor dr. Santana Lopes também é assim. Um e outro deslizam entre alfa a ómega num lapso de tempo semelhante ao que qualquer veículo utilitário necessita para evoluir dos zero aos cem quilómetros por hora. Boa marca. Entre ambos, a única diferença politicamente relevante é que um deles já conseguiu ouvir concertos para violino de Chopin. E essa iniludível vantagem é motivo para todas as invejas. Sabe-se lá se não é por esse obscuro motivo que o senhor dr. Mário Soares se alcandorou novamente como candidato à honra de senhor presidente da República. Nicky Florentino.
Dancing days. O senhor dr. Mário Soares pode candidatar-se à honra que muito bem lhe aprouver. Mas, na lotaria democrática - a puta da vida é assim mesma! -, it takes two to tango. O que significa que, apesar da sua venerável e vetusta idade, pode ser que se foda por não saber dançar. Nicky Florentino.
O único animal que. O senhor dr. Soares nem é fixe, nem é fox, é foxtrot. Nicky Florentino.
A origem. Até pode ser que não tenhamos mais princípios. Mas este, para reinício, não parece mal. É do Francisco. Segismundo.
Página do livro dos googlemas. Ó cambada de incautos. Neste tugúrio, o que é que poderia dizer-se sobre royal albert hall - espectros?, ou sobre qual a diferença entre imigrar e emigrar?, ou sobre a paróquia e suas pastorais na grande metrópole?, ou sobre enigma dos malabaristas?, ou sobre jovens adventistas do sétimo dia/JA?, ou sobre ilusionismos grátis?, ou sobre danados que fodem o próximo? Nada, obviamente. Segismundo.
O conselheiro acidental. Expôs um caso. No final, sem pedir conselho, mas tomado no embalo retórico, formulou uma pergunta, o que é que tu farias? O outro, mandava foder o gajo. Ele, e se não fosse um gajo?, se fosse uma gaja? O outro, se fosse uma gaja, o caso muda de figura... mandava foder o gajo e fodia a gaja. Ele, sem contemplações? O outro, sem contemplações e, já para avisar, sem remorsos. Segismundo.
Um contra todos. Frequentemente a mesma pergunta. Sempre a mesma resposta. Ou não ou o silêncio da omissão. Segismundo.
Nortoutono. Falha o sono pelo sétimo dia consecutivo. Sente-se o corpo a estalar. As vozes ainda estão caladas. Tudo ao contrário. Os gestos sem vacilo. As mesmas coordenadas. Vêem-se sete províncias, sete torres, sete portas. E apenas uma saída. Não é por aí. Segismundo.
Partida, largada, fugida. Do conforto estúpido, de quieto, sai-se por uma de duas vias, a velocidade ou o veneno. Roda a roleta. Duas portas. Uma saída. Nenhuma delas para o engano. Segismundo.
Na jukebox. “Crackerjack fool”, tema do álbum Hazed Eyes, I will Lead You, de Josephine Foster. Segismundo.
2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).