2009-05-31
Se tens caracóis, usas gravatas de seda com motivos quase circenses e és peticionário pela verdade desportiva. O futebol falado interessa-me nada. Para ser sincero, estimo mesmo que se foda. O meu problema é a promessa de mais dois anos de mister Jesualdo Ferreira no Futebol Clube do Porto. Apesar de tudo. E tudo é muito. Intendente G. Vico da Costa.
2009-05-29
cabaret rimbaud
# x. o corpo é um empréstimo que pagamos com a vida. não é importante a jangada. basta uma intermitência no náufrágio para se perceber a metáfora do que nos ultrapassa absolutamente. ninguém morre afogado nessa experiência. o que importa é esquecer. o esquecimento reabre a oportunidade para continuar sem muitas perguntas. as perguntas atrasam a missão comum. já não é tempo de antropologia, já não é tempo de ressaca ou porquês. a civilização precisa de nós e produz-nos para si. há um efeito de comando que nos suscita a vontade, o que faz com que a vontade seja a função e a utilidade pela qual se cumpre uma necessidade sem autor, uma necessidade de ninguém e, porque de ninguém, supostamente de todos e categórica. somos morais e culpados. portanto necessitados de expiação pela conformação. com a intensificação do processo de domesticação, os desejos foram sendo perdidos. estão quase extintos. sobeja a tesão e pouco mais, em contradição com a indústria de querer que conduz cada um de nós, como se a vontade fosse autenticamente nossa e não consequência de uma marca registada que nos puxa pela aspiração que sentimos. o despojamento é a forma única de resistência. para que seja evitada e permaneça o cárcere, chamaram-lhe miséria e loucura. a liberdade passou a ter outros nomes. Edgar da Virgínia.
2009-05-28
conferência apache, xix. a Deolinda é duas em uma, lado á e lado bê. é por isso que, se transita, o lado á dela vai à boleia no veículo do lado bê dela também. a mala de senhora, que passeia pendurada no antebraço, é que é só dela. leo david t.
2009-05-27
One wing isn’t even enough. A vida encerra os presságios em detalhes e a inspiração em aspirações que são modos de exílio cliché. A melancolia é um exercício de longa metragem, de convívio reiterado com a miséria própria. A pouco a pouco aprendi a compreender o tempo, a comprometer-me com ele, a falir através dele. Porque voa, o tempo corresponde-me na medida em que me abandona no chão e falta. Como represália, falto-lhe também, mas não resulta. A única consequência é o futuro e o aumento do meu atraso. Com duas asas a minha deterioração não seria diferente. A viúva.
Liberalis. Na prática pode ser diferente, mas em teoria é possível definir o limite e o reduto da soltura. Por exemplo, assim, “de qualquer forma que interpretemos a liberdade, podemos afirmar que ela está presente em alguma medida – mesmo que não seja na medida que supomos – onde quer que haja o sentimento e a convicção de liberdade”. Quem escreveu isto? Baú (do Segismundo).
a Licínia da segurança social. ela despiu-se. a minha paixão é casta lidl, barata. se queres saco para a levar, pagas, disse ele. ela pagou o preço combinado. ele usou preservativo. o orgasmo foi precipitado. ela não gostou. dispender meio mês de salário para quase nada irritou-a. por não haver livro de reclamações, ela saltou sobre o abdómen dele, calçada com sapatos de salto alto. e exclamou sai vinho da tua barriga, quando, já em equilíbrio esforçado, pisava a flacidez e o conteúdo do escroto dele. O Marquês.
2009-05-26
Medo, tenham muito medo. Hipopotomonstrosesquipedaliofobia. A palavra não é bonita. Também não é feia. Que se foda. É amor à moda antiga. A viúva.
2009-05-25
Entrecosto. O meu zombiezinho querido falou e disse a primeira palavra, jacuzzi. Tão cabrãozinho, armado em Zola. A viúva.
2009-05-22
Teelvisão zás. Manuela Moura Guedes e António Marinho e Pinto. Lindo. O meu zombiezinho querido passou todo o tempo a olhar embevecido o écran. A viúva.
melancolia zündapp
# xxviii. oficiar o coração através de intimação, afixando nele o assunto a tratar, o sangramento para enxugar a culpa. Edgar da Virgínia.
2009-05-21
conferência apache, xviii. a Deolinda está para o mundo do mesmo modo que a serpente do éden e o bicho da maçã estão para a maçã. leo david t.
2009-05-20
Síndrome de Shatner. Sou moça prendada e digo cona como o meu querido antes de ser zombie dizia caralho. Pouco é o que me incomoda ou inquieta. Mas ontem à noite fiquei um bocadinho apreensiva com as voltas que a vida dá e nos dá. É que fiquei a saber, por exemplo, que a mãe do capitão Kirk é a dr.ª Cameron, a rapariga um bocadinho apatetada da primeira fornada de aprendizes do médico doutor Gregory House, que, mesmo sendo coxo e engolir vicodins como quem come smarties, já apalpou as mamas à dr.ª Cuddy, que é a chefe dele, lá no hospital. Que Winona Ryder casou com um embaixador vulcaniano e é a mãe do Spock, Spock que é o Sylar, o corta testas daquela cambada de prodígios cujo lema é save the cheerleader, save the world, embora com as orelhas tipo agulha, afiladas, e um penteadinho muito à foda-se, capaz de suscitar o impulso de mandar erigir um monumento ao cabelereiro do mister Paulo Bento, não é o Spock velhinho. Que o Júlio César da Xena, a princesa guerreira, é agora o dr. Leonard McCoy, um alcoolatra que injectou não sei o quê no capitão Kirk quando o capitão Kirk não era ainda capitão Kirk, era um gajo com cadastro desde idade tenra e bruto como uma carrada de mato. Que o nome próprio de Uhura é Nyota. Que Sulu é Harold, aquele tonto parceiro de Kumar, que é o dr. Kutner, um dos sobreviventes da fornada segunda de aprendizes do médico doutor já referido, Gregory House, e agora faz parte do staff do presidente mister Obama. E que o gajo que já foi Hulk, Heitor e um vingador do setembro negro por conta da mossad, tudo em anos seguidos, agora é um mau chamado Nero com orelhas à Spock, numa nave meia lula meio escaravelho, muito pior do que aqueles olharapos que se começaram a ver depois de Neo ter engolido o comprimido vermelho e ter percebido o que cona era a matrix, Nero que veio do futuro e usa matéria vermelha para gerar buracos negros, o sacana. Andava eu tão entretida, a viver dentro de uma banda desenhada sem desenhos, e agora não sei o que sou e o que irá ser de mim. Já passa. A viúva.
Escala de Groo, i. O modo melhor de incomodar a estupidez é acomodando-a. Baú (do Segismundo).
o Bráulio da lavandaria. ouviu os passos, o toque de saltos altos na calçada. as mãos dele começaram a transpirar, o vibratto cardíaco intensificou-se. os passos aproximavam-se, sugerindo um andar lânguido, de passerelle, batido na pedra. ele sentia-se um território íntegro, uma biografia a crescer. advinhando a oportunidade, percebeu a compulsão da língua. no flanco oposto da esquina de onde se prenunciavam os passos, saboreava já a calidez dos trinta e sete graus centígrados, a hemoglobina vertida nos lábios. naquela noite, não obstante a menstruação que era capaz de cheirar, não haveria de lavar lençóis. O Marquês.
2009-05-19
Encher preservativos. Os arquivos da estupidez são elucidativos. As pessoas tendem a rir como hienas perante a estupidez alheia quando documentada e exposta. É como ver os assomos de um arquitecto, está tudo lá dentro. E é assim porquê? Não é por a estupidez ser rara, que não é. É por a estupidez espraiar-se sobretudo em regime de reserva, com cautela, em espaços e sob condições que não permitem facilmente as suas identificação e denúncia. A estupidez franca, publicitada, embora também frequente, não é tão frequente e consequente quão a estupidez reservada. O que, por si, é um indício de que a estupidez não é um jorro de desatino incontrolável. A estupidez é capaz de se resguardar. Aliás é quando se sente protegida - o que no caso significa impune - que a estupidez mais tende a ousar ser estúpida e consequente. Sob os modos mais diversos. Isto a propósito de uma professora que não sei o quê sobre educação sexual em exercício lectivo. O que talvez devesse preocupar um bocadinho. Pelo modo como a estupidez foi documentada na circunstância e serviu a denúncia, através de uma gravação áudio feita por uma aluna numa sala de aula (1). E pelo que revela que é necessário fazer também pela educação sexual de quem professa em sala de aula (2). A viúva.
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(1) Com jeitinho, o big brother em panáudio, posto nas mãos de cada uma e um de nós, talvez um dia venha a ser capaz de foder cada uma e um de nós também.
(2) Aliviar as tensões da líbido é bom. A cópula é nossa amiga. A masturbação também. E sexualmente não há prova melhor do que a experiência, enquanto vivência e ensaio, tipo seja o que deus quiser, sem que deus tenha puto a ver ou a haver do assunto. Com umas conversas prévias, claro, para desbravar a matéria e a prática. Porque, sendo prazenteiras - sobretudo a prática -, tais matéria e prática têm as suas consequências. Algumas delas bastante desagradáveis. Estar avisado disso não faz mal. Como mal não faz resolver a tesão. Como se não houvesse amanhã ou depois. Porque há. Convém apenas estar preparado.
2009-05-18
ctrl alt del. Quem ama tende a projectar o amor abaixo do osso, para o poder levar até ao fim, além da morte. É por isso que o amor é um assunto ortopédico e fatal. A viúva.
2009-05-17
As mulheres sabem para onde vão e para onde querem ir, fumam e choram, como eu, por causa de um Jesualdo mais um ano, quando o problema podia ficar resolvido já, sem acidentes e sem pacientes
Orson Welles, The Lady from Shanghai, 1947.
2009-05-16
Memória dos dias do fim. Antigamente, antes da oportunidade de descobrir a prosa do senhor prof. doutor João Carlos Espada e do senhor prof. doutor João César das Neves, um gajo tinha dificuldade em alcançar publicações periódicas decentes e, por conseguinte, orientações edificantes. O mais aproximado disso que havia a circular na cidade pequena, recomendado por um ror de marcas de máquinas de lavar roupa, era a revista Gina e o almanaque Groo, the Wanderer. Isto e os jornais desportivos. A Bola saía às segundas, quintas e sábados, o Record saía às terças, sextas e domingos. Da periodicidade da Gazeta dos Desportos não vale a pena fazer a arqueologia agora. Seja como for, quando, no princípio da primeira aula da manhã, um gajo clamava este filho da puta e riscava com raiva a efígie do Boniek, a abalroar o João Pinto dos prognósticos só no fim do jogo e a aproveitar para atentar contra a verdade desportiva, cena exposta a colunas várias na capa do jornal desportivo do dia, uma quinta-feira, um gajo era expulso da sala por um professor de português em regime de substituição - seguramente um benfiquista ressabiado -, mas sabia que podia ir tomar o pequeno-almoço no bar, o que fazia tranquilamente, com o jornal desdobrado e consciente de que a regra do golo em hectare alheio render o dobro no cômputo de cada eliminatória dos troféus da eufa não valia em jogos de final. Basel não era a casa dos outros, a dos que jogaram com camisola amarelo Simpson. Filhos da puta. O Platini, agora gordo e todo muito fairplay e contra a batota, era um deles. Marcado para o resto da vida. A tristeza não foi em vão. Baú (do Segismundo).
2009-05-15
Quando é que, se é para acabar, isto acaba? O problema é escatológico. O que não impede a pergunta: o capitalismo é um sistema dissipativo longe do equilíbrio? Nicky Florentino.
Come on pilgrim, ii. A coerência da doutrina e da catequização da madre e santa igreja católica apostólica romana é bonita. Um moço ou uma moça não podem usar preservativo porque lhes apetece trucatrucar. Deus não aprecia latex, gosta mais de castidade ou, se tiver mesmo que ser, contaminação. Mas snipers da gnr instalados na torre da basílica velhinha da cova de iria já pode ser (*). Deus tolera o chumbo, parece. Provavelmente porque é benzido e, tipo anjo da guarda, guardado para a segurança de outros. Fornicar em segurança, ó, isso?, é que é mau. A viúva.
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(*) vide diário de notícias, n.º 51.173, 14.março.2009, p. 29.
Come on pilgrim, i. Segundo o cardeal hondurenho que presidiu à cerimónia de celebração de mais um aniversário da aparição mariana de treze de maio na cova de iria, “o homem necessita de um gps espiritual” (*). Sem pretender ser ordinária, quaisquer que sejam as necessidades do homem, o que um homem precisa para guiar a alma é cona e cu. Ou o caralho. Nada muito sofisticado, dependente de satélites pendurados no céu ou a pairar sobre azinheiras ou de coisas maravilhosas, tipo fé ou google hearth. A viúva.
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(*) público, n.º 6981, 14.março.2009, p. 8.
cabaret rimbaud
# ix. surtos de demência. o corpo sobressalta-se, sofre o mistério da deliquescência. instala-se na carne uma acumulação excessiva de empates. o corpo perde, o corpo perde-se. o peso recai sobre ele, tornando-o mais grave. o processo é doloroso. a administração da safra é intravenosa. a sensação de respirar não é a mesma. os espasmos sucedem-se. a alma dói. a alma dói outra vez, sob o compasso das sístoles. a ferida ressuscita-nos. a ferida ressuscita-nos. as manchas são naturais. Edgar da Virgínia.
2009-05-14
Vital, Vitalino e vitalização. Como é triste a pátria cujos gentios e plumitivos julgam que existem apenas duas soluções políticas para o sarilho que a pátria é, «a maioria absoluta» e «o bloco central». Porque, não sendo verdade, havendo mais soluções políticas - entre elas e emigração -, quase ninguém as vislumbra e menos alguém as admite prováveis ou possíveis. Portugal é o que é e o que os portugueses fazem por merecer. Nicky Florentino.
Diálogos, x. Se o tom exigido era académico, por causa do paradigma e da tradição, eu escrevia muitas vezes a palavra Kontrakultur nos meus ensaios. Se lia os rascunhos de tais ensaios, por que é que não escreves contra cultura?, em português, perguntava-me ele. Até que uma vez escrevi contra cultura, não Kontrakultur, e pedi-lhe para ele rever o texto. É pá, tinhas razão, ó querida, isto assim parece cona cultura, disse ele, com riso de hiena. Fick Dich, disse eu, como se lhe estivesse a agradecer. Não foi logo à primeira, foi à segunda, que ele percebeu que eu não tinha dito Danke schön. A viúva.
conferência apache, xvii. nisto de voar sobre azinheiras, porque não é de ficar à sombra de uma, a Deolinda não é uma aparição, é uma avantesma (*), nos dias treze e nos outros dias todos. leo david t.
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(*) pode trocar-se o vê por bê que não faz mal. a Deolinda é também uma abantesma.
2009-05-13
The roaring twenties. Apesar de tudo, isto está mais ou menos na mesma, fodido. Andamos a ler os mesmos livros, a ouvir os mesmos discos, a ver os mesmos filmes, a andar nos mesmos lugares, a escrever e a dizer as mesmas coisas, ainda que com palavras diferentes. Para diferença é pouco. Para semelhança também. Foda-se, zombiezinho, por que é que eras tão igual aos outros? Agora, quando estou com eles - o que, pelo que referi, acontece muitas vezes -, estou sempre a lembrar-me de ti. A viúva.
o sinédrio das abjurações, iv. o poder cai, disse Sztompka, enquanto chafurdava entre mousse de chocolate e vinho e café entornados que tingiam a toalha posta sobre a mesa, o poder não sobe. ou, assim é que é correcto dizer, o poder mantém-se, os poderosos, aqueles que detêm o poder, dominam enquanto dominam e depois caem. não são os subordinados que sobem. Werner ouviu Sorokin a rir. não me parece que tenha sido uma piada. o que ele disse soa-me a verdade, disse Werner, o poder é um malefício necessário. é um jogo, em que uns perdem e outros ganham. o ganho de uns é consequência da perda de outros e não o contrário. Sorokin levantou uma mão e, esquece a política, isto é uma orgia, concentra-te, reagiu. a reflexão política e a discussão que suscita produzem equívocos e dissonâncias, acrescentou Sorokin, separam, dividem, mais do que unem. havia uma mulher deitada sobre o soalho, no meio da sala, untada com gordura do jantar. tinha as mãos emprestadas à masturbação. parecia em agonia. ela diz que ele é o marido ideal, acreditas? aprecia a sua alegria, disse Sorokin, apontando a senhora Sztompka, que entretanto se juntou à outra mulher. agora havia duas mulheres estendidas no chão a beijarem-se e a acariciarem-se reciprocamente. a cena era crua e sensual. isto é grotesco, clamou Sorokin, aplaudindo de pé o que via. não o suficiente, interrompeu-o Werner, que se levantou, brandiu o atiçador de brasas que havia recolhido do rebate junto à lareira e, com o lado do gancho pequeno, arpoou violenta e repetidamente o corpo das mulheres, transformando os gemidos de gozo delas em gritos lancinantes. perante os corpos desfigurados, Werner consertou a melena com a mão esquerda e após arrumou o atiçador no suporte respectivo. é tarde, estou cansado, vou retirar-me. agradeço-te o jantar e o sarau, Sztompka, foi agradável. amanhã continuamos a discussão. iluminado pelas labaredas da lareira, o corpo de Werner cresceu nas paredes, como sombra. ao mesmo tempo, concentrado nos corpos destroçados, Sztompka despejou mais mousse de chocolate e vinho sobre o peito e a camisa. os poderosos caem, repetiu, assobiando uma onomatopeia que sugeria queda, acompanhada por um gesto com o polegar virado para baixo em movimento descendente. Sorokin, ajoelhado e debruçado, lambia os corpos ainda cálidos das mulheres. O Marquês.
2009-05-12
Página do livro das pedagogias, iii. As metástases são um problema evidente da conjectura criacionista. Baú (do Segismundo).
2009-05-11
Veste-te, olha a vergonha, diz o despido para o nu e vice-versa. A senhora dr.ª Elisa Ferreira é recandidata a senhora eurodeputada e, depois, lá para o outono, há-de ser candidata a senhora presidente da câmara municipal do porto. A prática é aristocrática. O que ela quer ser ninguém sabe muito bem. O que revela muito do que é o processo de recrutamento político em portugal, assim como o processo de constituição de listas de candidatura dos partidos políticos autóctones. Sendo isto facto merecedor de reparo, o senhor dr. Paulo Rangel, que concorre à honra de senhor eurodeputado por conta de outra agremiação política, entendeu que a intenção da senhora dr. Elisa Ferreira e da malta do ps é ignominiosa e, vai daí, meteu os lábios no trombone para dizer o juízo dele. Quanto mais não seja porque a criatura sabe do que fala. É que o senhor dr. Paulo Rangel é senhor deputado da nação, mais concretamente senhor chefe da bancada parlamentar do psd, e ao mesmo tempo é candidato a senhor eurodeputado. Isto pode ser, este cúmulo é bonito. O que a senhora dr.ª Elisa Ferreira quer fazer é que é feio e deslustra a categoria senhorial de que uma e outro fazem parte. Nicky Florentino.
Manchas, iii. O meu plano principal é o bê. O á é o plano do comportamento adequado. Láudano para as dores, farinha maizena para crescer. Lavar as mãos antes de ir para a mesa, lavar os pés antes de ir para a cama. Verde código verde ao balcão. O meu dealer é moral. A viúva.
2009-05-10
Tetra pack. Ser campeão nacional de futebol três vezes consecutivas com o mister Jesualdo Ferreira é o que é. Intendente G. Vico da Costa.
A festa é bonita, pá, embora haja sempre um gajo chamado Jesualdo e a culpa para meter em alguém
Charles Vidor, Gilda, 1946.
Charles Vidor, Gilda, 1946.
2009-05-08
projecto mayhem
# iii. como se este tempo fosse de esperas. não é. transeuntes. aconselho-lhes o fim. a narrativa da presença, quase uma história da comparência, e o programa da sua superação. exorto-os ao fim, à violência que o fim exige. o tédio impede o futuro, a anestesia social e as ficções que lhe estão associadas estendem o presente. insisto, alerto-os. o exercício da crítica, o ensaio, o manifesto, a acção. incentivo-os, o fim será nosso. o sistema resiste, resiste como organismo entranhado na carne, feito corpo. a doutrina é mais do que o enunciado de uma possibilidade, é a necessidade expressa e o apelo do impacto. o capitalismo sustenta o regime, a indústria sustenta o regime, a vigilância sustenta o regime. pronuncio o fim de modo a acordá-lo na paixão de quem passa. lapidar automóveis, lapidar tudo o que é móvel, tudo o que, pela dinâmica, ilude ou permite iludir o fim. o fim é o horizonte pelo qual a revolução é redentora. a força precipita-se para aí, a violência cresce sem se ver. é necessário implodir a ordem, porque a ordem sustenta a ilusão da animação. o tédio persiste, sem remoção. os corpos resistem brandos, presentes. a presença é alienação, o fim é emancipação. o sobressalto começa. haveremos de acabar, acabar todos. somos muitos, haverá sempre quem sobreviverá. não pode haver sobreviventes. haverá sobreviventes. o fim consumir-nos-á. a insubmissão estorva a revolução, porque suscita dúvida, segregação. o fim é um processo de arrumação, é a operação ontológica definitiva. haverá sobreviventes. é para eles a crónica possível destes acontecimentos. Edgar da Virgínia.
# iii. como se este tempo fosse de esperas. não é. transeuntes. aconselho-lhes o fim. a narrativa da presença, quase uma história da comparência, e o programa da sua superação. exorto-os ao fim, à violência que o fim exige. o tédio impede o futuro, a anestesia social e as ficções que lhe estão associadas estendem o presente. insisto, alerto-os. o exercício da crítica, o ensaio, o manifesto, a acção. incentivo-os, o fim será nosso. o sistema resiste, resiste como organismo entranhado na carne, feito corpo. a doutrina é mais do que o enunciado de uma possibilidade, é a necessidade expressa e o apelo do impacto. o capitalismo sustenta o regime, a indústria sustenta o regime, a vigilância sustenta o regime. pronuncio o fim de modo a acordá-lo na paixão de quem passa. lapidar automóveis, lapidar tudo o que é móvel, tudo o que, pela dinâmica, ilude ou permite iludir o fim. o fim é o horizonte pelo qual a revolução é redentora. a força precipita-se para aí, a violência cresce sem se ver. é necessário implodir a ordem, porque a ordem sustenta a ilusão da animação. o tédio persiste, sem remoção. os corpos resistem brandos, presentes. a presença é alienação, o fim é emancipação. o sobressalto começa. haveremos de acabar, acabar todos. somos muitos, haverá sempre quem sobreviverá. não pode haver sobreviventes. haverá sobreviventes. o fim consumir-nos-á. a insubmissão estorva a revolução, porque suscita dúvida, segregação. o fim é um processo de arrumação, é a operação ontológica definitiva. haverá sobreviventes. é para eles a crónica possível destes acontecimentos. Edgar da Virgínia.
2009-05-07
Ai. Há-de haver algum motivo para um jornal estampar uma fotografia do iv governo constitucional para ilustar uma notícia que evoca o ix governo constitucional (vide i, n.º 1, 7.Maio.2009, p. 26). Política não é. Nicky Florentino.
2009-05-06
Manchas, ii. Das hipóteses da morte, escolho a que me acontece com menos frequência, o êxtase do tédio, uma espécie de layoff da cona emocional, ou sentimental, não sei bem. O que sei é que não tenho uma rua. Talvez devesse ter. A viúva.
2009-05-05
Fate to fatal. Há uma parte demasiado óbvia da dor, a parte exterior, a manifestação, que não interessa. Em rigor, a parte exterior da dor não é dor, é consequência da dor. Ainda assim, mantendo o registo das parcelas, a parte significante da dor é a parte oculta, o corte ou o golpe interior, que dilacera, que rasga, que traça, que fode à bruta ou devagarinho e que o sistema nervoso central processa como cesura, cumprindo o centro como círculo e o círculo como centro. Tão fatal como gritar, para, pelo efeito, emprestar substância e manifesto à dor. Não dói. Não mata. É apenas. Como a verdade. A viúva.
2009-05-04
Manchas, i. Não tenho uma rua, mas, se tivesse, na minha rua haveria uma loja com écrãs plasma e lcd expostos na montra, a montra recuada para o interior da loja no comprimento de um rebate, rebate onde durante as madrugadas mornas haveria um rapaz, com um ombro encostado à parede, a olhar os écrãs, a ver a programação teelvisiva, a consumar o desabrigo e a solidão que as cidades pequenas permitem. A viúva.
2009-05-01
errata d’helder, xi. página cinquenta e um, linha dezassete, onde se lê psicologia deve ler-se posologia. Edgar da Virgínia.
2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).