cabaret rimbaud
# x. o corpo é um empréstimo que pagamos com a vida. não é importante a jangada. basta uma intermitência no náufrágio para se perceber a metáfora do que nos ultrapassa absolutamente. ninguém morre afogado nessa experiência. o que importa é esquecer. o esquecimento reabre a oportunidade para continuar sem muitas perguntas. as perguntas atrasam a missão comum. já não é tempo de antropologia, já não é tempo de ressaca ou porquês. a civilização precisa de nós e produz-nos para si. há um efeito de comando que nos suscita a vontade, o que faz com que a vontade seja a função e a utilidade pela qual se cumpre uma necessidade sem autor, uma necessidade de ninguém e, porque de ninguém, supostamente de todos e categórica. somos morais e culpados. portanto necessitados de expiação pela conformação. com a intensificação do processo de domesticação, os desejos foram sendo perdidos. estão quase extintos. sobeja a tesão e pouco mais, em contradição com a indústria de querer que conduz cada um de nós, como se a vontade fosse autenticamente nossa e não consequência de uma marca registada que nos puxa pela aspiração que sentimos. o despojamento é a forma única de resistência. para que seja evitada e permaneça o cárcere, chamaram-lhe miséria e loucura. a liberdade passou a ter outros nomes. Edgar da Virgínia.