2007-05-31
2007-05-30
Então bom dia Lisboa, i. Numa das suas apresentações doispontozero ao colégio eleitoral lisboeta, a senhora arq.ª Helena Roseta publicitou ter sete netos. O que quer que ela pretenda, convenhamos, em termos políticos tal anúncio nada acrescenta a um mergulho no Tejo ou à evidência de alguém ser marido da mãe do inocente Dinis Maria. Nicky Floretino.
Da miséria das instituições. É assim com a caixadedepósitos, é assim com as greves. Quando geral não significa uma geral o caso arrasta uma espécie de comiseração deletéria. Segismundo.
A consequência natural. O João está num altar dele, o de sândalo, posto imediatamente à esquerda de Conan, o rapaz do futuro, que está depois de um lugar vago, reservado para colocar o action man do Jack Bauer. E a isso, abrenúncio!, ele não renuncia. Segismundo.
Da minha terra nullius vê-se o recreio. Ninguém merece ser avaliado pelo que escreve. Ou pelo como escreve. Ou pelo que fala ou como fala. Ou pelo que canta ou como canta. Ou pelo que desenha ou como desenha. Ou pelo que dança ou como dança. Ou pelo que come ou como come. Ou pelo que bebe ou como bebe. Ou pelo que vê ou como vê. Ou pelo ouve ou como ouve. Ou pelo que toca ou como toca. Ou pelo que lê ou como lê. Ou pelo que foge ou como foge. Ou pelo que cai ou como cai. Ou pelo que volta ou como volta. Ninguém, ninguém. Ninguém. Segismundo.
Propedêutica. Um, dois, três. Escrever com erros ortográficos. E com erros ortopédicos. Como o almirante aposentado que olha demoradamente a ponte, no que alcança sobre o abismo, emprestando-se contra o horizonte. Ai a saudade das fragatas. Escrever caralho, caralhinho. Escrever com ênfase. Escrever sem desmancho, sem reparo, sem parêntesis. Escrever limonada com açúcar louro. Escrever ns/nr e, depois, somehow you’ve red-rovered the Gestapo circling my heart *. Um, dois, três. Assentar que os erros ortográficos fazem bem à saúde e à putaqueospariu. Isso e o pão escuro, de mistura. Assentar que todas as palavras têm um substituto funcional, proporcional, não um ersatz ou uma mera tangente. E saber que pode escrever-se mas é mais económico fazer desenhos. É assim que melhor se imita Camões. E se é da raça de ser como cão. Porque quem ladra não morre. Segismundo.
* verso da canção «The past is a grotesque animal», parte do álbum Hissing Fauna, Are You the Destroyer? (Polyvinyl Records, 2007), dos Of Montreal.
2007-05-29
Regime, diagnóstico e terapêutica. A ilusão é uma das pedras de toque da democracia. Por isso, tanto a demoscopia quanto a demopedia não propiciam o conhecimento e o arranjo do regime. É que, para além de esquivos e opacos - manhosos, portanto -, os gentios não tomam ensino, tomam engano apenas. Os senhores também. Nicky Florentino.
2007-05-28
Dos dias duros da lavoura dos brutos, xii. Martirizado, cravado na cruz, Cristo rogou ao pai que perdoasse os fautores do seu martírio, invocando a inconsciência dos mesmos. O que a crónica evangélica não expressou foi o manifesto de confiança murmurado por Cristo ao pai na sequência imediata, e o Jack Bauer vem já a seguir para fazer a limpeza. Segismundo.
Stress pós-traumático, iii. Depois de tudo, de ter dito caralho tantas vezes, ele olha para o seu altar, verifica a presença aí do capitão Archibald Haddock, e sente a tranquilidade a emergir em si. Há quem diga coisas muito piores. Segismundo.
2007-05-27
Ó mãe! Decidiu escrever um bilhete e, não venha o diabo tecê-las, colocá-lo na mesa de cabeceira da senhora sua mãe. A caligrafia é irrepreensível. Querida mãezinha, gosto muito de ti e do natal. Também gosto muito do action man com a figura do Jack Bauer. E gostava muito de ter um boneco de voodu para picar o sinhor Rui Santos, aquele fulano que fala, fala, fala, fala, como se tivesse pilhas duracell, na sicnotícias ao domingo à noite e sabe tudo sobre futebol. Já te disse?, mãezinha, gosto muito de ti. Do natal também. E de bolas de futebol. Segismundo.
2007-05-26
2007-05-25
Um cesto de gentes. O povo é a consagração fantasmagórica e política de um colégio de incertos. Por outras palavras, o povo é o espectro de ninguém. É justamente aí, julgar que o povo é alguém, que começa o equívoco democrático. Nicky Florentino.
Dieta de rapazes. Fim de tarde, rés às dezanove horas. Mais cedo ou mais tarde, para cá ou para lá, é enviada uma mensagem com um ponto de interrogação apenas. Quando a mensagem é recebida por ele, a resposta é uma de três, «já.», «vou já.» ou «estou em Lx, ó urso!». Hoje, para variar, não respondeu. Foi. Segismundo.
Onde é além? Ele corre. Por Conrad. Por Greene. Por Maugham. Por Stevenson. Uma espécie de exercício. Por mãos e dedos. Exercício de intoxicação. Por páginas. Corre. Que não morre. Para não morrer. Segismundo.
2007-05-24
Ora chupa aqui para ver se eu deixo. A democracia enquanto coisa que tenta existir é um fenómeno complexo. Um caso próximo permite ilustar este facto. Não há muito tempo umas quantas criaturas clamaram pela eleição intercalar da Câmara Municipal de Lisboa. Em tom gongórico, tais criaturas invocaram a necessidade de devolver a palavra aos lisboetas, que, como se sabe, como os demais gentios, quando a baranfunda está instalada, parece que têm o dom da dita, a palavra. Claro que agora começa a perceber-se a improbabilidade da resolução do problema referido através de eleições. E é isto que espanta os simplistas. É que, entendem eles no seu juízo sôfrego, deveria conseguir consertar-se a coisa mediante sufrágio. Era suposto. E era suposto porque nunca lhes assumou ao trambelho que o problema da capital decorre do défice de concertação, conciliação e consensualização das suas elites. É por isso que, não obstante os dois presuntos que possam ser vislumbrados, o problema de Lisboa é e continuará a ser um problema
Por um materialismo de segunda ordem. Qualquer gajo com o mínimo de juízo tende a demarcar-se de conceitos insensatos, como «acção directa», «democracia popular», «espírito objectivo», «formas de luta» ou «neoconservador». Embora admita o construtivismo ou o perspectivismo e conviva com entendimentos tanto esotéricos quanto exotéricos, qualquer gajo com o mínimo de juízo não prescinde da sua condição realista. Atesta-o, por exemplo, a sua necessidade de recorrer a conceitos com sobejas evidência e prova empírica, como «cerejas», «filhodaputa», «maçã», «nêsperas», «pastel de nata» ou «velocidade». Segismundo.
Mysterious ways. Ele chegou a liberal por via improvável, Georg Simmel. Sucede que ele chegou a liberal por acaso e contingência, após ter descoberto que o pai do dito desgraçado foi proprietário de uma fábrica de chocolate. Segismundo.
Dies tenebræ, capítulo sétimo. Estavam hospedados no hotel Dieu. Uma voz, senhor, sou a tua sombra. Havia um espelho partido. Insistiu a mesma voz, senhor, ouviste?, sou a tua sombra. Ali, naquele momento, o reflexo era impossível. Raquel estava deitada e assim permaneceu após a saída de Ruben. Depois, animada pelo radiador, a mancha pequena da parede do quarto alastrou. O quarto escureceu. Tanto que a mancha adquiriu uma terceira dimensão e preencheu todo o espaço, sufocando Raquel. A asfixia foi lenta, para permitir-lhe a consciência sofrida da sua impotência e do seu estertor. Sentiu o corpo falir, a culpa a alojar-se nele e uma dor grave com ela. Também ouviu Jacob rir, sem ouvir. Ainda a mesma voz, senhora, sou... O espelho estava partido. ___________________________________ ninguém, ninguém. E os olhos dela, sem corresponder, sem lágrimas, negros, absolutamente negros, quietos e magoados. O Marquês.
2007-05-23
Suponha-se que é dinamitada a cabeça do senhor dr. Almeida Santos. Partir pedra não é tão mau quanto possa ou usa julgar-se. A este propósito, recorde-se o início do filme O Brother, Where Art Thou?, realizado por Joel Coen. Recorde-se, muito em particular, o friso de prisioneiros a malhar calhau e a cantarolar “Po Lazarus”. O trabalho não liberta, mas é alegria. Foi convocada esta memória para corresponder ao exercício de amparo solicito que o senhor dr. Almeida Santos decidiu emprestar às declarações desassisadas do senhor ministro com mando sobre os aeroportos, aeródromos e radares. Que “o sul tem um problema”, disse ele, o insigne senhor presidente da trupe socialista. Suponha-se, de suponhamos, que dinamitam uma ponte. Ora, depois, como é que é? Sim, como é que é? Como é que é possível atravessar o Tejo?, para ir para a banda do deserto. Sim, como? Mais. Suponha-se, de suponhamos, que um gajo quer ir apanhar um avião a Faro ou quer ir dar uns mergulhos à praia dos Tomates e que uma ponte foi dinamitada. Suponha-se, nada custa. Como é que um gajo se desenrasca? A única alternativa azougada, está mais do que visto, é ir apanhar balanço a Alenquer e levantar voo. Nicky Florentino.
Um porco a passear na margem sul, um aeroporto no deserto, dois presuntos. Pungente é a prosódia quase ovina da palavra jamais pronunciada pelo senhor ministro das obras públicas, transportes e comunicações. Jaméé, jaméééé. Mas de que limbo ou nenúfar é que o senhor eng.º Mário Lino foi resgatado? Nicky Florentino.
Colecção vampiro. Que liberal é que admite que as sentenças sejam categóricas ou modais? e não, como devem ser, casuais. No que à liberdade concerne, ó João, não me fodam com probabilidades, margens de erro, intervalos de confiança, variâncias, qui quadrados, médias, modas ou medianas, fodam-me com «cada caso é um caso». E, claro, com juízos casuais a posteriori, não com juízos gerais a priori. Segismundo.
Νύξ. Há quem tente mudar a vida e diga mudar de vida. Há quem tente, porém é vã a tentativa, assim como é vão o esforço nela investido. Ninguém muda de vida. Ninguém muda a noite. A ronda é única, a mesma. Segismundo.
Reset. Há demasiado Kens no mundo. O problema é cleanico, portanto. A bomba!, a bomba! é a terapêutica adequada. Depois da explosão, as vítimas, a salubridade. Segismundo.
2007-05-22
Maladia. O corpo. Nem dança nem confiança. A febre nele, a febre apenas, a febre. Nem passos nem compassos. A febre, a febre apenas. Segismundo.
Escala de Bergson, i. A sanção disciplinar do riso e dos motivos do riso é um dos sintomas da estupidez franca. Sendo que da estupidez franca ao fim da picada a distância tende a não ser grande. Quem diz distância diz demora. Segismundo.
2007-05-21
Dos dias duros da lavoura dos brutos, xi. Jack Bauer é a personificação da urgência. Tanto que, mais do que ser um serviço de urgência, ele vive adiante no tempo. O facto de andar sempre vestido de escuro é sintoma disso mesmo. Próximo de Jack Bauer está sempre um velório. Quando não está, ele provoca-o. Segismundo.
Cassetete nunca será não. Não é verdade que à noite todas as putas sejam pardas. Segismundo.
2007-05-20
Confirma-se. O Futebol Clube do Porto ainda é uma puta instituição. Apenas uma puta instituição é capaz de inibir o efeito consecutivo de bacilos futebolísticos como o mister Co Adriaanse e o mister Jesualdo Ferreira. Segismundo.
2007-05-19
Das formas discretas de identidade. Cada um de nós é um cadáver sem consciência da respectiva condição. Por isso entretemo-nos e ao entretenimento chamamos vida. Ou seja, cada um de nós sente alacremente viver, quando é estupidamente vivido. Segismundo.
Crónica de uma vida et cætera, iv. Deus tentou segurá-la, mantê-la ali. Ela furtou-se a essa tentativa. E, sem se afastar, disse-lhe, sabes?, agora o meu corpo vai a maçãs. O Marquês.
2007-05-18
Consequências do efeito bolha. Para além da dissonância cognitiva, uma das consequências do efeito bolha é a inflação da estupidez. Por isso, pronunciar a condição de senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa como sendo o terceiro posto da hierarquia senhorial pátria ou é não conhecer puto da realidade política autóctone ou é estar gaseado ou é querer armar ao pingarelho ou é estultícia franca. Nicky Florentino.
Verdade ou consequência. O senhor dr. António Costa pronunciou as seguintes palavras, “Lisboa não precisa de mais dinheiro, precisa é de ser gerida com rigor e com competência”. Presumindo que assim seja, o fulano candidata-se a senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa porquê? Nicky Florentino.
Excitação. Não interessa o antes, não interessa o depois. O Paradoxo escreveu, “ora para mim que sou liberal isto parece-me óptimo, mas agora explicar isto a conservadores, católicos, benfiquistas e gajos/as que querem fazer a vida negra ao ex-, através do Direito -, só porque lhes puseram os cornos”. Segismundo.
Princípios elementares e alcance de juízo. O rebanho parlamentar socialista - Weber sabia o que fazia ao apodar de rebanho os colégios parlamentares - entende e determinou que, havendo obras em autoestrada, deverá continuar a pagar-se portagem. Nada a obstar. Mas o respectivo preço deveria ser corrigido atendendo à alteração, para pior, das condições do serviço prestado. É de crer, aliás, que este princípio elementar, que parece não tanger o juízo das senhoras e dos senhoras socialistas em deputação, até a amiga de Wolfowitz perceberia. Segismundo.
Saudades do ópio, i. Que se fodam os que fumam. Também os que fumam às vezes. E os que queriam fumar mas a mamã não deixa. Que se fodam, muito, os que fumam à crava. Que se fodam os que não fumam ou nunca fumaram. Não interessa o quê. Que se fodam os que querem casar, os casados e os solteiros. Que se fodam os que se querem divorciar, os divorciados e os separados de fresco ou de longa duração. Que se fodam os que dão sangue, os que não dão sangue, os que não dão sangue mas gostavam de dar e os outros. Que se fodam os que têm sangue azul e os que têm sangue de barata. Que se fodam os que têm sangue frio. Também os que têm o sangue na guelra. E os que têm o marcador de plaquetas baixo. Que se fodam todos. Que se fodam os heterossexuais e os homossexuais e os abstémios e os castos. Que se fodam, não que se entendam. Que se fodam os femininos e os masculinos e os advérbios de modo. Que se fodam os predicados. Que se fodam os toureiros e a aficción. Que se fodam os que clamam contra as touradas. Que se fodam os que pretendem abrir a tumba onde supostamente jaz a carcaça de Dom Afonso Henriques. Que se fodam os que concordam com esse propósito e os que discordam. Que se fodam os que autorizam e os que não autorizam. Que se fodam os legisladores, os administradores, os autarcas e os regedores. Que se fodam os candidatos a. Que se fodam os peregrinos e os que fazem caminhadas. Que se fodam os que vão ao ginásio. Que se fodam os sedentários e os que se sentam na missa. Que se fodam os rapazes das motorizadas e os cabrões que às quatro da manhã estacionam o carro na estrada e vão calmamente arregaçar o prepúcio à berma. Que se fodam os que não sabem pronunciar Dvořák. Que se fodam os gatos que velam gatos mortos na estrada, em frente às pastelarias. Que se fodam os histriónicos na sala de cinema, que relatam à querida sentada ao lado a acção que está a passar adiante, na tela. Que se fodam os que não desligam o telemóvel na sala de cinema. Que se fodam os que nunca foram à ópera ou ao São Carlos. Que se fodam os que nunca foram ao oceanário e nunca mergulharam no Atlântico. Que se fodam os que estão de dieta e os que não estão mas deveriam estar. Que se fodam as meninas da caixa que se enganam no troco. Que se fodam os ciclistas e os camionistas. Que se fodam os que tabelam o preço do gasóleo. Que se fodam os que não sabem o que um gajo faz e querem saber. Que se fodam os simpáticos. Que se fodam, são tantos, os que querem salvar o mundo. Que se fodam os que nunca atiraram uma pedra, primeiro ou em seguida. E os que nunca fizeram tocar uma campainha e, depois, fugiram. Que se fodam os senhores doutores e os senhores engenheiros. Que se fodam os exactos. Também os que sabem manipular o excel. Que se fodam os sentenciosos, os hesitantes e os indiferentes. O elenco é extenso, tau!, que se fodam todos. Não, quase todos, apenas. Porque os portageiros da autoestrada não têm culpa. Segismundo.
Da mortificação dos inúteis. Mortificar sociólogos deveria ser um desporto olímpico. Segismundo.
And as your last breath begins, you find your demon’s your best friend. A liberdade é o exercício dos limites, os próprios incluídos. Segismundo.
2007-05-17
Antwerpen. É uma candidatura ao senado belga, porém cosmopolita. Tanto que aos casados e aos moles de todo o mundo a menina Tania Derveaux dispõe-se a fazer o fellatio via Second Life. Nicky Florentino.
Da aristocracia democrática. Não são poucas as criaturas por aí que confundem república com réplica e cingem a respectiva acção política à emulação de si. Compreende-se, pois, que, em termos políticos, Portugal seja um fosso. Nicky Florentino.
Dieta de bacalhau. Várias vozes já aludiram ao cenário em que o provável futuro senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa irá sentir no osso as consequências da lei número doisbarradoismilesete, de quinze de Janeiro, que define o novel regime de finanças das autarquias locais. Mas o mais relevante no caso do putativo senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa não é isso. É, sim, o ensaio telúrico a que uma criatura com feitio - que perfil é outra coisa - jacobino será obrigada. Ou não há quem recorde aquele sorriso de desprezo soberano do senhor dr. António Costa à seita de edis que enxameou o auditório de um programa teelvisivo chamado Prós & Contras que tratou das misérias municipais desta ditosa pátria? Nicky Florentino.
2007-05-16
Edgar, o demónio vivo, em quatro capítulos para condição e identidade.
Edgar, o polícia reformado
Edgar na prisão
Edgar, o homem do talho
Edgar no inferno
Stress pós-traumático, ii. A normalidade, que para qualquer mãezinha é a conformação com a moda ou um desvio pequeno em relação à mediana, não é um gajo querer ser, quando for grande, o Rui Reininho ou, em alternativa, uma locutora de continuidade da teelvisão. Segismundo.
A expiação do ciúme. Estavam no centro da sala, exactamente no centro, porque a forma da sala era circular. Ele segurava-a com firmeza. Uma mão sobre as suas costas proporcionava que, durante a dança, encontrassem os torsos. Ele liderava os passos. Quase todos observavam o casal com emoção. A sala era faustosa. Irrompiam figuras celestiais e ornamentos magníficos da parede, celebrando, com detalhe e a talha dourada, a opulência própria das armas da estirpe dela. As janelas eram rasgadas de baixo a alto e guardadas por cortinados bordados esplendorosamente. Quase todos observavam o casal com emoção. Friedrich Kurtz era o único presente sem padecer esse abalo emotivo. Por isso, quando o candelabro de cristal que iluminava a sala se abateu sobre os dançantes, perante a consternação quase total, mais do que qualquer outra pessoa, Friedrich aproximou-se dos corpos prostrados sob o lustre. O sangue estendeu-se em mancha sobre o soalho, contornando-lhe os sapatos. Os corpos, dela e dele, iam ficando exangues. Ele jazia. Ela, chocada, ventilava com dificuldade evidente, através de sopros cortados e curtos. Sem que alguém se apercebesse, simulando socorro, Friedrich separou-lhes as mãos. Depois retirou do peito dela um pendente do candelabro que aí se havia cravado, ao mesmo tempo que lhe deixou perceber a sua presença ali. O corpo dela estremeceu, como se indiciasse uma tentativa de esquiva. Os seus olhos arregalaram-se. Sem esforço, Friedrich manietou-a, fingindo continuar o seu cuidado. Depois debruçou-se sobre ela e murmurou-lhe sim, fui eu, meu amor, não foi um acidente. E, vigiando-lhe a agonia, guardou-a até expirar. O Marquês.
2007-05-15
Eixo lx, ii. O senhor dr. António Costa foi anunciado como o candidato do PS à Câmara Municipal de Lisboa. Vai para vencer uma eleição intercalar, não para administrar um município. Está bem. Nicky Florentino.
Eixo lx, i. O senhor secretário-geral da seita socialista, o senhor eng.º José Pinto de Sousa, acompanha a doutrina da exorbitação: o município de Lisboa é uma unidade administrativa muito muito muito muito muito muito muito muito muito, mas mesmo muito muito muito muito muito muito muito muito muito importante. Tanto que justifica enxertia no governo da pátria. Compreende-se. No que concerne à capital dita mais a bolha decorrente da dissonância cognitiva do que o trambelho. Lisboa é tão tão tão tão tão tão tão tão tão, mas mesmo tão tão tão tão tão tão tão tão tão importante que a única estranheza é o senhor eng.º José Pinto de Sousa não ter-se proposto ao holocausto autárquico, candidatando-se, ele mesmo, à honra de senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Nicky Florentino.
Pastoral napalm, iii. A partir de determinado limiar, a verdade é um recurso fortalecedor. Pronuncia-se a verdade, prenuncia-se a força. Segismundo.
Pastoral napalm, ii. A verdade é constituída pela força, o que é outro modo de enunciar a natureza como ela é, bruta e brutal. Segismundo.
Pastoral napalm, i. Quando o que nos aproxima uns de outros é mais a proximidade do que a distância a intimidade torna-se impossível. A sociedade, belicosa ou contratada, também. Segismundo.
2007-05-14
Página do livro dos googlemas. O que quer que isto seja, sociologia a fuga das galinhas, parece o que é. Segismundo.
Dos dias duros da lavoura dos brutos, x. Jack Bauer é o máximo de teoria e prática possíveis por unidade de tempo comprimido. Daí que a forma terapêutica que admite, a única, seja a de supositório. É bruthard a respectiva posologia. Segismundo.
Acção!, começou a lição de alienação. Sábado à noite, a cidade dos arcebispos, um conde. Segismundo.
2007-05-12
Recreio das inquisições, ii. Da fuga interessa o seu interior, o corpo que vai. O mundo e a natureza são o outro lado, as coordenadas do capítulo, o cerco onde o corpo de aloja e de onde o corpo parte. Não para si, para dentro de si. Segismundo.
continueremo a crederci il sale della terra. Este pode ser o princípio da declaração: a justiça é um prejuízo. Rawls que se foda. Dworkin também. E Walzer. Que se fodam por junto ou à vez é indiferente. Mas não necessarimente eles, o que declararam, isso, sim. Assente este princípio, adiante. A terra deseja-se salgada, como a carne. Para isso as lágrimas não bastam. E o sangue não serve, é doce. Por isso, justiça porquê? e para quê? A justiça é uma invenção. Mais do que uma invenção, é uma ficção e, como todas as ficções, não é fungível. A liberdade, sim, é um dispositivo radical, animal, constituído por natureza. A sua fungibilidade decorre da força, do privilégio da força. Os livres são superiores neste sentido, são acima da regra, a sua regra, qualquer que seja, porque respondem à sua necessidade, não pela sua propriedade ou pelo seu juízo. Aliás, não por acaso, as necessidades distribuem-se. Os leopardos e os lobos são à noite, os falcões são sob a têmpera do sol. Como as suas carnes, os seus sangues são diferentes. Continuamos diferentes. E é sobre esta diferença, que no limite é a diferença de necessidades, que se funda a liberdade. E, qualquer que seja o tempo, a solidão com ela. Segismundo.
2007-05-11
A improbabilidade do entendimento. Este facto é difícil de entender pelos mortais, sociólogos incluídos. A sociologia é um cadavre esquis, uma inutilidade, portanto. O mundo rebola com ou sem sociologia e, melhor, com ou sem sociólogos. O que, no longo alcance desta sentença, significa que a sociologia e os sociólogos não têm um estatuto excepcional. Jack Bauer há só um. Segismundo.
Escala de Heidegger, i. Em grande medida, ser é repetição. O que permanece por deslindar é o motivo da repetição. Por que é que alguém se insiste?, repete-se porque é?, para ser?, para acertar-se? Segismundo.
O próximo cuidado. Uma voz. Antigamente tudo era claro. Havia imagens nas águas que corriam com demora, aí apenas. Não havia outras imagens. O que se podia alcançar era alcançado pela percepção. Os olhos desenhavam um círculo e, a partir daí, sucedia-se essa forma, infinitamente. Não que estivesse nas coisas, no mundo, não. Sucedia-se através da percepção, projectando-se círculo após círculo, primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, até ao limite ou além. Hoje estes mesmos elementos são uma ficção sobretudo. Tudo é mais claro do que antigamente. Tudo é mais circular também. Agora a claridade e o círculo são uma entidade única, o avesso do mesmo corpo. A luz fecha-o. A sombra continua a persegui-lo. Não há saída. É ainda a mesma voz. Segismundo.
2007-05-10
Quando não há tempo para contemplações. Escolhe-se a banda sonora, evacua-se a alma, acelera-se. Da viagem retém-se a canção em que comedy rima com tragedy. E que, em volta, o mundo é um sopro, um instante. Segismundo.
Come on pilgrim. Os peregrinos são uma das pragas sazonais que se abatem sobre os caminhos e arrabaldes da cidade pequena. Encharcados de fé, movem-se desencontrados com os conceitos de fila indiana e passeio ou berma. Este ano, aos corpos habituais, juntam-se as viaturas de apoio à peregrinação. O que significa que por estes dias há dois tipos de estorvo no alfalto. Segismundo.
Über alles in der Welt. Os electrodomésticos arrumados são um perigo. Nunca se sabe onde estão e em que circunstâncias nos podem assaltar. Quem diz os electrodomésticos diz os outros. Segismundo.
2007-05-09
Porque todo o fim tem o seu princípio. Um dia perceber-se-á que Sarkozy - como qualquer outro senhor grande - é uma espécie de marcador tumoral. Escutar-se-ão, então, quando cheirar a féretro, não os hinos ou os hossanas, os elogios autênticos, que são os fúnebres. É sempre assim. Nicky Florentino.
Pós-graduação em «como manter a alma alegre e branca no paralelo Doutor Espada & Doutor Neves sem tentar o suicídio ou o genocídio ou fumar canabis num restaurante por conta da venda da terrina de limoges da mamã vendida ontem na feira da ladra quando o papá foi no bmw visitar a amiga dele à Comporta mas disse que tinha ido a uma reunião de negócios a Sacavém?». Segunda edição em formação avançada em «ética para situações limite». Assim expresso, onde é que anda o Jack Bauer quando necessitamos dele?, isto é já de si um mundo inteiro. Mas saber que a formação referida é “dirigida a profissionais de vário ramos que lidam com pessoas cujos estilos de vida são caracterizados pela violência, pela ausência de limites e de contenção perante si mesmos, perante os outros e perante o ambiente e o mundo criado” e é “orientada para a resolução de situações profissionais concretas, desenvolvendo as capacidades de lidar com as situações limite e com as pessoas que nelas se encontram” é mais do que ver um porco a passear no campo e pensar em dois presuntos. Trinta horas de aula, duas semanas - de catorze a vinteecinco do corrente mês -, horário pós-laboral. Por conta, olha as maiúsculas, da Escola de Pós-Graduação e Formação Avançada da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa. Foda-se. Segismundo.
Antifonias. Ele sabe Pierre Boulez no Centro Cultural de Belém. Longe, ele imagina-se Houdini, ele deseja-se Mandrake. Hoje morrerá assim. Segismundo.
O ultimatum nunca mais acaba. Como o João, há quem tenha um alcance mais ciente sobre o caso e ateste que o contingente de agentes da polícia judiciária mobilizados a granel sob o princípio para o Allgarve e em força, com o propósito de deslindar o desaparecimento de uma criança, é excessivo e desonroso. E é isto porquê? Porque, o João explica também, faz o Allgarve parecer o arquipélago das Maldivas. O facto de ainda se desconhecer o paradeiro da criança e ser necessário envidar esforços na sua detecção, claro, pouco releva na equação do caso. Pelo que, ao efeito bolha, produzido pelas atenção e cobertura mediáticas, associadas à voracidade e à paranóia voyeur da seita gentia, há a juntar a subordinação pátria, decorrente da contingência diplomática de a criança desaparecida não ter efígie famélica, ser carregada de melanina e oriunda de uma província qualquer subsariana. Ou seja, desapareceu uma criança, relações internacionais. Há alguém que, a propósito do mesmo caso, pense em dois presuntos? Segismundo.
Diário de um açougueiro, iv. Muitos agentes da polícia judiciária em missão no Allgarve, um porco a passear no campo e, claro, dois presuntos. Segismundo.
Este rectângulo é um sarcófago com céu azul. O estado é uma besta. Tanto que, até nos actos de confirmação da respectiva bestialidade, surpreende. A explicação é simples. Está a ser digerida na forja das almas das criaturas em deputação um diploma jurídico que visa garantir e proteger os direitos dos não fumadores. Mas, ó cum caralho, caralhinho, o mesmíssimo diploma, que quer salvar-nos pela higienização dos restaurantes, tolera a realização de concertos do George Michael num estádio em Coimbra e da Suzy Quatro na aula magna em Lisboa, assim como o lançamento de um álbum com composições inéditas dos Delfins não se sabe bem onde e valha-nosdeusporpermitiregarantirestaignorânciaamén. Segismundo.
If you could read my mind. Uma canção é uma canção apenas. Mesmo quando alguém se sente o fantasma soprado pela voz de Johnny Cash. Segismundo.
2007-05-08
Hobbes na vigia. Povo é povo, turba é turba. Isto expresso assim, porém, não significa que seja fácil apartar uma entidade, o povo, da outra, a turba, porquanto o que as distingue não é a essência, é o estado. Ou seja, o povo e a turba são a mesma massa, o colégio de gentios, em manifestação diferente. O que significa que o corpo d’les citoyens também é o corpo d’la racaille. A besta pequena de cive é plurifacetada. Sob o verniz republicano, a escória licantropa. É por isso que o povo não é, nunca foi, de confiança. Nicky Florentino.
Weather systems. O tempo não está para intendências, pastorais ou recados. A temperatura também não. Segismundo.
A morte de Darwin. Foda-se, os Human League ainda são vivos? Segismundo.
O limbo também. Quero que o limbo se foda. Desde que sei o que é o limbo e o que é o purgatório, sempre quis. Quis que o limbo e que mais umas quantas criaturas. Não foram e são sempre as mesmas, o elenco foi e vai variando, mas muitas vezes foram e são as mesmas. Às vezes vejo-as. Que se fodam. Autêntica e literalmente, que se fodam. O limbo também. Segismundo.
A caravana. Pode perguntar-se, pois pergunta-se tanta coisa, o que vale mais?, o riso de Δημόκριτος? ou o choro de Ηράκλειτος? No entanto ele nem segue o sopro alegre do filho de Άβδηρα nem segue as lágrimas do filho de Έφεσο. Segue a sombra de Διογένης, cidadão de Κυνικός e imaginado do mundo. Não é bom caminho. Segismundo.
2007-05-07
Da problematologia. Sobre a situação actual na Câmara Municipal de Lisboa importa notar que o problema resulta mais das respectivas condições - sobretudo das que decorrem do edifício jurídico e da constelação cultural que regula a política local - do que das criaturas implicadas ou do processo político municipal estrito. Desde o modo como são constituídos os órgãos municipais até à tutela moral que o senhor presidente do PSD decidiu exercer sobre os autarcas eleitos por conta do seu emblema, passando pelo facto de a maior parte das almas dos colégios político e jornalístico do espectro grão pátrio trabalharem ou residirem em Lisboa - e, portanto, tenderem a exorbitar o plano autárquico da capital, erigindo-o em fenómeno político de dimensão nacional -, tudo isto explica mais a baranfunda vigente e a efervescência mediática que a envolve do que os actos e os ditos dos senhores edis. Incluído aquele senhor não sei quantos Batista - quem raio é que é o fulano? - que debita o discurso socialista autorizado. Nicky Florentino.
Arrière. Claro, para entender o comportamento recente do senhor eng.º Carmona Rodrigues ajuda saber porquê e como é que se joga rugby. Nicky Florentino.
A bolha e o plasma. Olha!, olha!, exclamou com histeria ao mesmo tempo que apontou com o indicador para o écran, é o Superhomem - perceba-se: Christopher Reeve -, antes da cadeira de rodas... e de morrer. Segismundo.
Dos dias duros da lavoura dos brutos, ix. Em acção, Jack Bauer não é apenas a capacidade integral de um laboratório do CSI e respectivas personagens, é também uma besta com um telemóvel permanentemente funcional. Segismundo.
Capítulo. Culpas?, há duas, a formada e a informada. A culpa formada é a culpa banal, aquela que foi sancionada por outros e publicitada para outros. A culpa informada é a culpa anterior, a que quase ninguém vê, a íntima, a sua, a que se ilude ou dispersa pelo suicídio, para evitar vestígios comprometedores. Segismundo.
2007-05-06
Mundo e vidências. Raramente a política é entendida como política. Compreende-se que assim seja. Que raio é a política? Pois. A política é política. Mas, para além da redundância, é uma complicação do caraças. É mais fácil metaforizar a política. Política, a arte; política, a ciência; política, a guerra; política, a porca; política, a selva; política, o circo; política, o jogo; política, o teatro. Na prática, a incapacidade de entender a política nos seus próprios termos, em termos políticos, conduz a entender a política como se. Esta translação tem uma virtude, no sentido em que permite decifrar a ordem política segundo uma gramática reconhecida. Por exemplo, as metáforas bélica e lúdica permitem entender os avanços e os recúos, os ataques e as defesas, as estratégias e as tácticas, as forças e as equipas, os combatentes e os jogadores, tudo no plano político. No entanto, ao permitirem entender a política como guerra ou como jogo, tais deslocamentos metafóricos produzem um efeito perverso, não permitir entender a política como política. Pelo que, no mesmo processo em que se julga deslindar o caso político, o excesso de intimidade ou de simpatia em relação a determinada mundivisão extrapolítica ilude-o. Daí que, em termos políticos, não faça sentido apodar o senhor dr. Alberto João Jardim de animal político. A zoofilia é outro departamento. Nicky Florentino.
2007-05-05
Recreio das inquisições, i. Cada um necessita do mundo e da natureza para confrontar-se consigo e, ao perceber-se tanto aí cativo quanto daí destacado, confirmar a respectiva culpa. Segismundo.
2007-05-04
Diário de um açougueiro, iii. Porque já viu veados a comer coelhos, um gajo julga que já chegou ao limite das aparições e das desvelações. Porém apenas um défice de humildade lhe permite tal julgamento. Porque há quem veja um porco a passear no campo e, zás!, imediatamente, apenas por indução da gula, consiga vislumbrar dois presuntos. Dois presuntos. Isto, sim, é uma visão estranha. Segismundo.
O princípio. Disse William Blake, em Dead Man, realizado por Jim Jarmusch, if the doors of perception were cleansed, everything would appear to man as it is: infinite. Segismundo.
2007-05-03
Equação Lx. Parece que há um problema político na Câmara Municipal de Lisboa. Um problema político, não um problema de política. Pois para isso, um problema de política, era necessário haver política. Mas não há, há políticos apenas. E, claro, os escrúpulos e os melindres do senhor dr. Luís Marques Mendes. Nicky Florentino.
A ideologia é uma bolha. Segundo a TSF, um nuestro hermano qualquer da Media Capital informou que a contratação do senhor dr. Joaquim Pina Moura ficou a dever-se aos seus contactos na alta finança e na alta política. Coitadito. E o desgraçado a julgar que poderia ter tido alguma coisa a ver com a sua carteira ideológica. Nicky Florentino.
Vertigo. Queres ser humano?, autenticamente humano?, uno, dos, tres, catorce, sê o Maradona! Segismundo.
Diário de um açougueiro, ii. Parece que vai haver eleição intercalar para a Câmara Municipal de Lisboa. Ou seja, uma eleição intercalar, um porco a passear no campo, dois presuntos. Segismundo.
2007-05-02
A doutrina colibri. Pelo que parece, em Portugal não há nacionalistas, nacionalistas autênticos. É que, de acordo com o maioral da seita do PNR - o patusco senhor dr. José Pinto Coelho -, o senhor secretário-geral do PCP deveria ir encontrar-se com el comandante Castro, a Cuba. Quando um nacionalista considera que o facto de alguém ser comunista se sobrepõe ao facto de esse mesmo alguém ser português, está tudo dito. A nacionalidade pela qual o desgraçado do nacionalista se bate, sieg hiel!, não existe. Nicky Florentino.
Ida e volta. Onde não há ou há pouco estado de direito, como é o caso de Portugal, há a tentação a apelar-se à vergonha como freio dos desmandos, desvarios ou devaneios dos outros. O que, bem vistas as coisas, é apenas um modo estranho de permanecer em casa. Nicky Florentino.
Do universo ao diverso. O que nos deve proteger, seja do senhor dr. Joaquim Pina Moura enquanto senhor presidente não executivo de não se sabe bem o quê, seja do senhor dr. Alberto João Jardim a recrear-se no terreiro insular adjacente ou em comícios, seja de crianças ou de fumadores em restaurantes, seja dos escrúpulos ou dos melindres morais de quem quer que seja - o senhor dr. Luís Marques Mendes incluído -, é o estado de direito. O e-s-t-a-d-o d-e d-i-r-e-i-t-o. Mas o que nos deve proteger deles, ó maravilha das maravilhas!, é também o que os deve proteger de nós. Nicky Florentino.
Escala de Goffman, ii. Algo que se aprende ao aprender-se a liberalidade é uma certa indecência, a indecência de não considerar mais a pessoa do que os seus actos ou os seus ditos. Assim evita-se a natureza, não se evita o drama. Segismundo.
You can dance, but you can’t hide. Um dos efeitos da cegueira é uma necessidade a que habitualmente não se atende, medir as rotinas pelo número e pelo sentido dos passos. Segismundo.
Escala de Duchamp, i. A verdade é que isto, ela aponta o desenho de uma maçã, não é verdade e é justamente por isso, da representação, que decorre o seu efeito de veracidade. Segismundo.
2007-05-01
Diário de um açougueiro, i. Na teelvisão alguém chamou “girafa em forma de ponta de lança” a Peter Crouch. A expressão ecoou-lhe com estrondo dentro do crânio. Tanto que, não muito depois, começou a ver um porco a passear no campo e, súbito, súbito, pensou em dois presuntos. Segismundo.
Roteiro por Quine. Às vezes respondemos ao abismo com uma interrogação, qual é a nossa natureza?, e o horizonte permanece. Por instinto, permanecemos com ele. Segismundo.
A charanga macha que vai aos mortos. Na cidade pequena o primeiro de Maio é o primeiro de Novembro. A fanfarra dos bombeiros sai à rua, bombardeia o silêncio com o ritmo e o estrépito do bombo e das caixas, os rapazes cadeiam os passos em marcha, sobem até ao cemitério, velam os corpos aí depositados. Majoretes não há. Segismundo.
2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).