Dies tenebræ, capítulo sétimo. Estavam hospedados no hotel Dieu. Uma voz, senhor, sou a tua sombra. Havia um espelho partido. Insistiu a mesma voz, senhor, ouviste?, sou a tua sombra. Ali, naquele momento, o reflexo era impossível. Raquel estava deitada e assim permaneceu após a saída de Ruben. Depois, animada pelo radiador, a mancha pequena da parede do quarto alastrou. O quarto escureceu. Tanto que a mancha adquiriu uma terceira dimensão e preencheu todo o espaço, sufocando Raquel. A asfixia foi lenta, para permitir-lhe a consciência sofrida da sua impotência e do seu estertor. Sentiu o corpo falir, a culpa a alojar-se nele e uma dor grave com ela. Também ouviu Jacob rir, sem ouvir. Ainda a mesma voz, senhora, sou... O espelho estava partido. ___________________________________ ninguém, ninguém. E os olhos dela, sem corresponder, sem lágrimas, negros, absolutamente negros, quietos e magoados. O Marquês.