2010-02-26
cabaret baudelaire
# viii. uma vida é trânsito demorado, modorra e tédio. por isso, para vivermos, necessitamos de várias vidas ao mesmo tempo, adiantar o espírito a si, sobre si, acelerar o corpo, cedê-lo à expedição e ao impacto. do consolo não merecemos mais do que o que merecemos passar. há muitas modalidades de passagem e volta para além do giro cingulado. recenseio os paraísos possíveis, olho o mapa. vejo a pressa para morte através da turbina que faz desaparecer os traços brancos da estrada que existe só para mim, vejo a gamela de prata onde o cavalo galopa, vejo os campos de flores do mal - papoilas -, os remédios, a inflamação, a ressaca no princípio e antes, depois as dores, o vermute assim no céu como na terra para acompanhar o estatuto. isto são provas de contacto, assento-as. sinto a força a começar a destacar-se dos músculos e dos tendões, já voo. não necessito de tanto. basta-me antecipar-me ao atraso, ter a liberdade dos ponteiros parados ou que regressam. sobra tudo isto da omissão que posso, do confronto que habito e vivo. não seria justo para mim se visse apenas o que e como as coisas são. é a distorção que me concede a soberania que uma vida só não proporciona. Edgar da Virgínia.
2010-02-25
2010-02-24
Miraldino, o relojoeiro (capítulo três). o chumbo interioriza-se dificilmente, necessita de impulso violento, só após propulsão e consoante a direcção é que se aloja no corpo. o impacto da bala não o derrubou, curvou-o apenas. foi torcido, flectido sobre a esquerda, que disparou. o outro caiu primeiro, fulminado. ele prostou-se, com uma mão apoiada no chão e outra sobre o ombro, a tentar estancar a dor com aperto. ouvia-se a respiração pesada dele. tinha a manga ensanguentada, o colete também. os outros afastaram-se rapidamente do local, temendo que, por ouvirem os disparos, as autoridades viessem e, encontrando um cadáver, procedessem à detenção de quantos ali estavam. vai, estou bem, ainda não foi desta, foi só de raspão. vai, eu sigo no vosso encalce, exortou ele o padrinho, que fugisse. já sozinho ergueu-se e cambaleou, pungido. um ardor estendia-se do ombro ao resto do braço, depois ao resto do corpo. após vinte e um passos, não mais, desejando que a polícia não atendesse ao ruído gerado pela peleja, uma mulher aproximou-se dele e estendeu-lhe um lenço. ele improvisou um torniquete. com os dentes segurou uma ponta do lenço, enquanto que com a mão direita apertou o nó. agradeço-lhe. agradeço-lhe por me ter acudido, apresentou ele as graças que sentiu devidas. ela permaneceu impávida, olhando-o. um homem não carece de auxílios de uma mulher, mas, perante as circunstâncias, aconselho-o a tomar o meu ombro como amparo. entenda que estou a prestar-lhe companhia, apenas isso e por nada mais do que por cuidado com o lenço que lhe emprestei, pretendo resgatá-lo assim que esteja diante de um cirurgião, disse ela. relutante e a fraquejar, ele acedeu e encostou-se à mulher. avançaram juntos. perdoe-me a ousadia que vou tomar, entenda que não tenho intenção de abusar, como se chama?, apresentou ele a curiosidade, e o que fazia aqui? não a estou a reconhecer. ela aliviou o amparo num dos passos e, sou aquela que acabou de fazer viúva, respondeu-lhe. O Marquês.
2010-02-23
Sei lá. Putaria demasiada para nenhuma puta anunciada, filha da putice abundante, tudo gente séria, de respeito e tal, porque, o que é que tu queres?, a vidinha é mesmo assim. Como é que nos haveríamos de entender? E depois o cabrão diz estou bem com a minha consciência, não tenho problemas comigo. Puta que o pariu, o caralho que o foda, porque a malta conhece-o bem. Até bem demais. O suficiente para não dar um cêntimo pela alminha dele. Ele há gente que se ilude tanto tanto que chama consciência ao que não sabe que não tem. Retórica, gramática e metafísica, tudo revolvido entre as cáries antes de ser soprado para fora com o hálito de iscas temperadas em vinha d’alho. A estupidez vale mais do que qualquer espelho. E são cabrões assim - cabronas também - que se riem, esforçam por rir, com riso postiço, como o carácter que apresentam aos outros. É quando se calam que ressoa o silêncio da infelicidade que têm entranhada. No copo que levam à boca, naquele gesto, segue a ilusão da miséria que são, à mostra. A cerveja fala por eles, abre-lhes os poros, faz-lhes brilhar as pupilas. O cabrão tenta disfarçar, o filho da puta não está sóbrio. Mesmo quando está, o alento dos depoimentos soa a tragédia falsa, a falsidade brota com violência e evidência. É teatro mau, manhoso, rançoso. No exercício da representação, o cabrão, o filho da puta balbucia uma defesa que se percebe imediatamente que é falsa, mas insiste, exige continuar a falar, porque, se interrompido, não é possível conversar assim. O cabrão, o filho da puta quer conversa. Foda-se. Muitas vezes está à escuta para absorver como uma esponja e, depois, diante de outros, derramar o que ouviu, como se fosse elaboração e elucubração dele, como se dominasse informação exótica, que ninguém mais domina, porque ele é o único que não é ignorante e controla cenas complicadas. Não lê, mas diz que lê muito. Não sabe, mas conta que sabe muito. Não conhece, mas ai de quem se atreva a questionar a sapiência e o método de produção de conhecimento dele. Ouviu dizer, constou-lhe, não pode dizer quem lhe disse porque é segredo. Demasiado insuflado, o cabrão, o filho da puta é topado à distância, porém insiste em simular pela presença, pela proximidade. É doença, não é caso mental. É tanta a miséria que o incha que não percebe que os outros cheiram-lhe o medo de que a miséria dele seja percebida. E percebe-se. Bruce Bílis.
2010-02-22
Regras que nunca te dirão, viii. Porquê sofreres e morreres por amor?, se podes morrer por tantos outros motivos infelizes. Segismundo.
2010-02-19
o erro e a pedra
# v. ninguém luta por causas. se há luta, alguém luta por consequências. Edgar da Virgínia.
2010-02-18
Regras que nunca te dirão, vii. A tragédia é um espectáculo dos outros para ti. Que seja em reposição tira-lhe a autenticidade. O que, compreende-se, não é o que mais te convém. Segismundo.
2010-02-17
Miraldino, o relojoeiro (capítulo dois). olho para a ameaça das horas, para o modo como pendem e se precipitam sucessivamente, e fico louco, completamente louco - também não há outra maneira de ser louco, não é? -, não sou capaz de mais do que sentir o perigo prenunciado pela demora a acontecer, e vem aquela emoção avassaladora que irrompe e empurra tudo, como se me encostasse à parede e asfixiasse, estás a perceber?, como se aquele momento fosse simultaneamente a minha sentença e o meu legado, compreendes?, o meu degredo em tempo morto, o que me faz enervar e transpirar, ele tinha o rosto congestionado, o suor escorria-lhe desde a testa, parece que fico com o corpo alagado, o corpo todo alagado, abriu o lenço, passou-o pela face, fico mesmo sem saber o que fazer, autenticamente, fico paralisado, à espera, e a espera angustia-me ainda mais, muito mais, é um sufoco, deliro por causa da febre, imagino três rodas dentadas gigantes, sem função, separadas, como se o tempo já não pudesse fluir no ritmo exacto e próprio do tempo, guardou o lenço, olhou para o pulso esquerdo, e, então, começo a ter medo que as horas caiam desamparadas, puxou a manga do casaco para cobrir o relógio, não sei se estás a perceber, já não é o tempo a morrer e a arrastar-me com ele, é a incerteza, a incerteza sobre o momento, a incerteza que se estende a partir daí, a incerteza sobre tudo, sobre a minha hora, qual será ela, uma angústia brutal. aconteceu silêncio por alguns instantes, está na hora, o padrinho entregou-lhe a pistola e assentou a mão livre sobre o ombro dele. é agora?, ele vacilou. é, confirmou o outro, que já havia recolhido a mão e começara a afastar-se. O Marquês.
2010-02-16
Página do livro dos googlemas. A perseguição, é a perseguição, a ignomínia. Mas não nos deixaremos vergar. Ou asfixiar. Ainda há-de chegar o dia em que nenhuma pedra restará. Sous les pierres de curling, la plage. Portanto é simples, ou a liberdade de expressão ou o inverno olímpico. Isto não é um exercício peripatético. Segismundo.
Talvez. Contingência, não coincidência. Numa prateleira, Bellow junto a Berlin, Herzog encostado a Four Essays on Liberty, edições originais, os anos sessenta em que ele nunca esteve e de que nunca saiu para contar como foi. Também nunca quis, embora nunca seja palavra demasiada no que concerne a quereres. Retornando à observação do caso, os géneros estavam misturados sem ele saber porquê. Não foi ele que aproximou Bellow de Berlin, que soem ter paradeiros distintos. A distância não é de prateleira, é de estante, o que no caso significa também parede. Sem averiguações, decidiu manter o erro, aproximando-o agora do único dinheiro que ele respeita, uma nota de quinhentos escudos onde escreveu nec unum hoc scio, me nihil scire, relíquia exposta na coluna da estante que está mais próxima da porta. Ele, que deseja cada vez mais ser um cão, gosta das coisas simples. O resto que se foda. Segismundo.
2010-02-15
Envelope nove sempre. A atitude fundamental de quem liberal em relação ao estado é a suspeita, deve ser a suspeita. Se pode - e o estado pode muitas vezes -, cuidado com o estado. Cuidado sempre, nunca desarmar a suspeita, nunca aliviar o alerta. O estado garante sempre menos do que é apregoado. Por isso, por precaução, além do que é fundamental, não permitir que se faça isto e aquilo em nome da ordem, da racionalidade, da solidariedade ou da vantagem comum porque mais cedo ou mais tarde o abuso e o domínio manifestam-se e impõe-se através da ordem, da racionalidade, da solidariedade ou da vantagem comum, que se concretizam como necessidade e utilidade através do estado. Nesse momento é já tarde para dizer-se não. Não às bases de dados com informação pessoal, não ao cartão único, não ao chip na chapa de matrícula do automóvel, não às câmaras de videovigilância, não a tudo o que diminui determinados riscos. A diminuição de riscos faz-se através da criação de riscos novos. Pelo que, se assim é, são preferíveis os riscos velhos, conhecidos e reconhecíveis. Suspeita, alerta permamente, defconquatro, não defcontrês. O estado é uma besta. O cerco tardo-moderno combate-se com o anonimato e pela lentidão, pela renúncia aos gadgets individualizados que permitem a ligação ininterrupta à rede e a identificação hic et nunc, dizendo não ao gps, ao telemóvel e aos cartões de fidelização, aderindo ao dinheiro vivo, optando pela errância, pela presença, pela representação mínima. Se liberal, ser cidadão não é dar o aval ao estado ou a qualquer entidade com escala de granel, instituições bancárias, empresas de distribuição de produtos classificados como essenciais. Qualquer liberal não está com um pé atrás em relação a qualquer instituição com dimensão e alcance superior à família, está com os dois pés. Até porque, por experiência, sabe que há familiares, mães, pais, irmãs, irmãos, filhas, filhos, que não interessam e não são confiáveis. Morto deus, à cautela não é recomendável matar o estado. Mas para o bem de cada um - cada um sabe melhor do que ninguém qual é esse bem -, importa suspeitar do estado. Agora mais do que nunca. Porque o enleio do estado traz a ilusão de que é nada. Quando é tanto. Cada vez mais. Uma vezes fingindo ser segurança, outras vezes fingindo ser vereda para a felicidade. Não por acaso a besta não se denuncia como besta. Nicky Florentino.
2010-02-12
Curso breve de pragmática política, ii. Governamentalização, uma palavrinha tão portuguesa quão portuguesas são as palavrinhas saudade e desenrascar. Nicky Florentino.
lizardo
és lesto a chorar salinger porque morreu. no entanto, se nunca desejaste imitar caulfield, choras o quê?, a literatura ou a vida? és cobarde. o luto é sempre por ti, tu que sobreviveste sem ser, sem seres capaz de ser quem não idolatravas. fingido. escreveste medo, uma introdução - não escreveste mas faz de conta que sim - desconhecendo o que é o centeio autêntico, sem o disparar em direcção à mão de um amigo, sem sofreres o remorso disso e continuares como se nada tivesse acontecido. há muito tempo que se sabe que ao pequeno almoço preferes pão de forma sem côdea, marca bimbo, torrado e barrado com manteiga light sem sal - dizes é por causa do colesterol, fiz análises. bimbo, estás a ver a coincidência?, porém muitas vezes compras de outra marca porque a bimbo é mais cara. és pobre em todos os sentidos. comes peixe, comes banana, sem imaginares o que seja a perfect day for bananafish. choras salinger por acaso, porque viste a notícia na televisão. mas a verdade é que não choras, limitas-te a revolver a miséria que há afundada dentro de ti, num exercício patológico de afirmação de uma identidade que não é tua. és cobarde, fingido e ignorante. não sabes quem é salinger, julgas apenas que fica bem a demonstração de comoção porque os beatniks ainda estão a morrer. os beatniks?, vai-te foder, pá. és um merdas. continua para aí agarrado à tua sobrevivência de parasita encostado à mama, subvencionado por conta do estado providência e da administração pública. és um coitado, sabes perfeitamente a tua condição - és incapaz de te olhares ao espelho -, e choras agora para tentar a redenção de quão coitado és? vai-te foder, pá. morre também. ninguém irá chorar-te porque salinger morreu ou porque lennon foi assassinado. és quem és, um merdas. a tua morte corresponderá à descarga de um autoclismo. a água que te há-de levar não será a das lágrimas. Edgar da Virgínia.
2010-02-11
O regime, o governo e o outro lado, a pátria deles e a prole dela. Os gentios querem um filme diferente, querem sempre, mais democrático, dizem eles. O problema é que não basta mudar os protagonistas ou - limpeza mais a fundo - os actores, é necessário alterar o enredo, modificá-lo. Caso contrário a história continuará a mesma por outras faces. Que é o que os gentios julgam que é um filme diferente. Nicky Florentino.
Prairie my heart. No fundo, no fundo, que se foda, isto não foi e não é um blogjob. Segismundo.
2010-02-10
A boyzada. Fazer a vontade ao chefe - até porque a vontade é a do chefe -, servir o chefe maior - até porque serviço é serviço e o chefe é sempre o chefe maior. Salazar está morto e enterrado, os cérebros de oblato que ele calibrou é que não. Chamam-lhes mentalidade. É uma hipótese. Outra hipótese é chamar-lhes moços de frete, democratizados devidamente através de tirocínio nas jotas, esqueleto institucional onde se aprende a jogar às manigâncias para quando se for grande. Devidamente formados na crápula, oficiar à crápula, intrujar, sabujar, é o que eles mais sabem da vida. O que não é necessariamente mau. Auferem em conformidade com o fato ou o vestido que trajam por causa da gravidade da incumbência, não em conformidade com a competência ou o carácter. Nicky Florentino.
Miraldino, o relojoeiro (capítulo um). o Miraldino está morto, coitado, foi assassinado. e tu?, como estás? ela não revelou espanto ao ouvir a notícia, olha, porquê?, mato o tempo como posso. O Marquês.
2010-02-09
Curso breve de pragmática política, i. Confunde-se massificação com democratização, confunde-se privatização com liberalização, porquê não haveria de confundir-se também governo com mando e controlo remoto? Nicky Florentino.
Quem não deve não teme. E estima muito que se foda quem julga que, porque quem deve não teme, a informação sobre aspectos particulares da vida de alguém pode e deve ser exposta sem consentimento expresso da pessoa a quem tal informação respeita. Segismundo.
2010-02-08
Escala de K., ii. Queres ser alguém?, não necessitas de procurar a culpa, não faltará quem esteja disponível para a atribuir a ti. Segismundo.
2010-02-05
Página do livro dos googlemas. Ó mãezinha, houve quem tenha chegado aqui por andar à procura de devotos de Jack Bauer, mãezinha. Por uma vez acertaram, mãezinha, aqui somos isso. Segismundo.
o erro e a pedra
# iv. não há tragédia, há tragédias. não há razão, há motivos. Edgar da Virgínia.
2010-02-04
Regras que nunca te dirão, vi. Serás necessariamente muleta de cada fraco que levantares, inclusive no caso de o fraco que levantares seres tu. Segismundo.
2010-02-03
a Natércia da retrosaria. ela regressou passados dois ou três minutos, não mais. havia enxugado as lágrimas e parecia disposta a relevar o comportamento dele. o matrimónio era um sacramento, resolúvel apenas pela morte. podia ser anulado, mas naquele caso não havia motivo abrigado pelos preceitos do direito canónico que permitisse admitir tal hipótese. tão pouco essa eventualidade surgiu alguma vez entre os raciocínios dela. portanto haveria de padecer até que a morte a apartasse dele, conforme ditado pelo arbítrio divino e pelos votos trocados no altar. deves-me respeito, o respeito que, por natureza, as mulheres devem aos homens. para além disso não esqueças que, para o bem e para o mal, casámos em comunhão geral de bens. ela passou as mãos pelo avental e assentou-as na bancada, virada de costas para ele. no rosto dela havia indícios de desistência, não por conformar-se com a situação, mas por admitir que qualquer alternativa seria pior. ela seria falada e apontada como exemplo de mulher fraca, incapaz de suportar o marido e o feitio dele. eram sabidos os problemas dela com o asseio, os miúdos andavam frequentemente encardidos, iam à escola e à catequese assim, e os seus dotes de cozinheira não eram celebrados. a mãe dela até folgou quando o forasteiro se interessou pela filha, tendo-lhe dado licença para que, antes que ele se negasse, algum acidente e a vergonha os obrigasse a juntar. penitenciou-se perante deus por incentivar o deboche da filha, mas, entendia a velha, fazia-o por intenção maior e haveria o altíssimo de, na misericórdia dele sem tamanho, concordar com ela. pior do que ela não ter jeito para cozinhar era ela com aquela idade continuar alheia a homem e, por consequência, nela ninguém pretender verter a semente da espécie. a mãe desejava-a combinada com um homem, qualquer que fosse, para que ela arrumasse a vida. apesar de tarde para a vontade da mãe, o casamento consumou-se e, conforme referido, ela sentiu-se casada e junto dele sob a condição de apenas a morte ser o apartamento de ambos. ele passou um pedaço de pão na borda do prato da sopa. ela virou-se subitamente, cravou o garfo da salada na cara dele, atingindo-lhe o nariz e um dos olhos. a faca de trinchar a carne afundou-a nas costas dele. O Marquês.
2010-02-02
Domínio senhorial. O problema maior dos incumbentes é terem sido insurgentes. Por o sorteio eleitoral lhes ter sido simpático, julgam-se eleitos para o mando quando a natureza - antes de qualquer metafísica - os fez ingratos, simplesmente ingratos, sem grandeza equiparada à autoridade que lhes foi emprestada. Senhoras e senhores sem serem senhoras e senhores, exploram subterfúgios e manobras de intrujice para iludir a pequenez a que estão alçados. Chamam-lhe república. Poderiam chamar-lhe charco. Nos charcos também há nenúfares. Nicky Florentino.
As alfaias não estão no descanso, o matadouro aceita ajudantes, iii. Quanto a ofícios, antes das putas foi deus. Por ter-se dado, deus é a puta primordial, a puta antes das putas. Compreende-se que haja quem pretenda que somos todos filhos dele. Parece que sermos irmãos do unigénito é honra que não passa de moda. Segismundo.
2010-02-01
2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).