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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2010-02-15


Envelope nove sempre. A atitude fundamental de quem liberal em relação ao estado é a suspeita, deve ser a suspeita. Se pode - e o estado pode muitas vezes -, cuidado com o estado. Cuidado sempre, nunca desarmar a suspeita, nunca aliviar o alerta. O estado garante sempre menos do que é apregoado. Por isso, por precaução, além do que é fundamental, não permitir que se faça isto e aquilo em nome da ordem, da racionalidade, da solidariedade ou da vantagem comum porque mais cedo ou mais tarde o abuso e o domínio manifestam-se e impõe-se através da ordem, da racionalidade, da solidariedade ou da vantagem comum, que se concretizam como necessidade e utilidade através do estado. Nesse momento é já tarde para dizer-se não. Não às bases de dados com informação pessoal, não ao cartão único, não ao chip na chapa de matrícula do automóvel, não às câmaras de videovigilância, não a tudo o que diminui determinados riscos. A diminuição de riscos faz-se através da criação de riscos novos. Pelo que, se assim é, são preferíveis os riscos velhos, conhecidos e reconhecíveis. Suspeita, alerta permamente, defconquatro, não defcontrês. O estado é uma besta. O cerco tardo-moderno combate-se com o anonimato e pela lentidão, pela renúncia aos gadgets individualizados que permitem a ligação ininterrupta à rede e a identificação hic et nunc, dizendo não ao gps, ao telemóvel e aos cartões de fidelização, aderindo ao dinheiro vivo, optando pela errância, pela presença, pela representação mínima. Se liberal, ser cidadão não é dar o aval ao estado ou a qualquer entidade com escala de granel, instituições bancárias, empresas de distribuição de produtos classificados como essenciais. Qualquer liberal não está com um pé atrás em relação a qualquer instituição com dimensão e alcance superior à família, está com os dois pés. Até porque, por experiência, sabe que há familiares, mães, pais, irmãs, irmãos, filhas, filhos, que não interessam e não são confiáveis. Morto deus, à cautela não é recomendável matar o estado. Mas para o bem de cada um - cada um sabe melhor do que ninguém qual é esse bem -, importa suspeitar do estado. Agora mais do que nunca. Porque o enleio do estado traz a ilusão de que é nada. Quando é tanto. Cada vez mais. Uma vezes fingindo ser segurança, outras vezes fingindo ser vereda para a felicidade. Não por acaso a besta não se denuncia como besta. Nicky Florentino.


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