Sei lá. Putaria demasiada para nenhuma puta anunciada, filha da putice abundante, tudo gente séria, de respeito e tal, porque, o que é que tu queres?, a vidinha é mesmo assim. Como é que nos haveríamos de entender? E depois o cabrão diz estou bem com a minha consciência, não tenho problemas comigo. Puta que o pariu, o caralho que o foda, porque a malta conhece-o bem. Até bem demais. O suficiente para não dar um cêntimo pela alminha dele. Ele há gente que se ilude tanto tanto que chama consciência ao que não sabe que não tem. Retórica, gramática e metafísica, tudo revolvido entre as cáries antes de ser soprado para fora com o hálito de iscas temperadas em vinha d’alho. A estupidez vale mais do que qualquer espelho. E são cabrões assim - cabronas também - que se riem, esforçam por rir, com riso postiço, como o carácter que apresentam aos outros. É quando se calam que ressoa o silêncio da infelicidade que têm entranhada. No copo que levam à boca, naquele gesto, segue a ilusão da miséria que são, à mostra. A cerveja fala por eles, abre-lhes os poros, faz-lhes brilhar as pupilas. O cabrão tenta disfarçar, o filho da puta não está sóbrio. Mesmo quando está, o alento dos depoimentos soa a tragédia falsa, a falsidade brota com violência e evidência. É teatro mau, manhoso, rançoso. No exercício da representação, o cabrão, o filho da puta balbucia uma defesa que se percebe imediatamente que é falsa, mas insiste, exige continuar a falar, porque, se interrompido, não é possível conversar assim. O cabrão, o filho da puta quer conversa. Foda-se. Muitas vezes está à escuta para absorver como uma esponja e, depois, diante de outros, derramar o que ouviu, como se fosse elaboração e elucubração dele, como se dominasse informação exótica, que ninguém mais domina, porque ele é o único que não é ignorante e controla cenas complicadas. Não lê, mas diz que lê muito. Não sabe, mas conta que sabe muito. Não conhece, mas ai de quem se atreva a questionar a sapiência e o método de produção de conhecimento dele. Ouviu dizer, constou-lhe, não pode dizer quem lhe disse porque é segredo. Demasiado insuflado, o cabrão, o filho da puta é topado à distância, porém insiste em simular pela presença, pela proximidade. É doença, não é caso mental. É tanta a miséria que o incha que não percebe que os outros cheiram-lhe o medo de que a miséria dele seja percebida. E percebe-se. Bruce Bílis.