cabaret baudelaire
# viii. uma vida é trânsito demorado, modorra e tédio. por isso, para vivermos, necessitamos de várias vidas ao mesmo tempo, adiantar o espírito a si, sobre si, acelerar o corpo, cedê-lo à expedição e ao impacto. do consolo não merecemos mais do que o que merecemos passar. há muitas modalidades de passagem e volta para além do giro cingulado. recenseio os paraísos possíveis, olho o mapa. vejo a pressa para morte através da turbina que faz desaparecer os traços brancos da estrada que existe só para mim, vejo a gamela de prata onde o cavalo galopa, vejo os campos de flores do mal - papoilas -, os remédios, a inflamação, a ressaca no princípio e antes, depois as dores, o vermute assim no céu como na terra para acompanhar o estatuto. isto são provas de contacto, assento-as. sinto a força a começar a destacar-se dos músculos e dos tendões, já voo. não necessito de tanto. basta-me antecipar-me ao atraso, ter a liberdade dos ponteiros parados ou que regressam. sobra tudo isto da omissão que posso, do confronto que habito e vivo. não seria justo para mim se visse apenas o que e como as coisas são. é a distorção que me concede a soberania que uma vida só não proporciona. Edgar da Virgínia.