As longitudes da política em latitude. Fala-se e escreve-se amiúde de direita e de esquerda e sobre o que uma e outra são ou deviam ser. Ainda bem. Não há qualquer problema. É a linguajar que nos entendemos. Acontece, porém, que o mais das vezes o discurso sobre uma e outra é estereotipado e visa sobretudo o jogo ou o entretenimento. Não é que os fenómenos direita e esquerda sejam algo extraordinário, matéria insondável. Nada disso. O problema é sobretudo de lassidão. Para além da manifesta falta de cuidado a calibrar-se o sentido de tais categorias, poucas são as criaturas disponíveis para sofrer a angústia de descobrir o que, de facto e não apenas de paleio, são ou devem ser a direita e a esquerda. Uma das provas disto é a defesa de que a esquerda moderna deve preocupar-se sobretudo com a garantia da igualdade de oportunidades e não ater-se tanto com a redistribuição de rendimentos. É pândego este modo de afirmar a esquerda. Claro que é pungente que tantos gentios lusos creiam na sorte como via para melhorar a sua condição, porque isso é indício de um marasmo atávico que já tem bolor. E claro que a questão básica é esta: a audácia e o esforço devem ser recompensados. Mas até que limite é que o produto das vantagens daí decorrentes não alteram a estrutura de oportunidades e o acesso a essas mesmas oportunidades? Parece que os defensores da esquerda moderna não vêem o que é tão evidente, o embaraço dinâmico entre ganhos e perdas e a hipótese e a probabilidade, depois, no futuro, desses mesmos ganhos e dessas mesmas perdas. Também não é de estranhar. Os tempos não estão para grandes vistas. O nevoeiro anómico é muito. E a miopia e os astigmatismo dos videntes da direita e da esquerda não são menos. Valha-nos o facto de sermos rijos. E irmos sobrevivendo. Com a consciência, claro, que tudo isto merece ser mirado em perspectiva. E o consequente alento. Pois é provável que no Botswana ou no Việt Nam a situação seja muito pior. Quanto ao Vanuatu é caso que ainda tem que ser averiguado. Nicky Florentino.