Idílio. Crescemos sob uma película de medo, porque, conforme disposição maternal, isso nos protege de chatices. Não saímos da casca. Dobramos a língua. Ainda assim o senhor funcionário público, anónimo como todos os outros, olha-nos com a autoridade da suspeita oficial. Dizemos sim senhor, muito obrigadinho, porque não trincamos a hóstia. E acrescentamos mas... O mas fica suspenso, porque, é-nos dito do outro lado balcão, não há mas nem meio mas. Mas - afinal há um mas - há o livro amarelo. O senhor funcionário público, que nos olha com a autoridade da suspeita oficial, fica fodido. Subitamente, metamorfose maravilhosa, descobre e revela em si simpatia e diligência que não tinham sido notadas anteriormente. Avisa, sorrindo, que não pode ceder a esferográfica porque necessita dela para o seu trabalho e não tem nenhuma outra que possa emprestar. Não faz mal. É provável que, mais providenciado, o chefe tenha. E o chefe tinha. Segismundo.