2005-10-31
O único dos caminhos para o trono. A candidatura do senhor dr. Mário Soares a senhor presidente da República é a primeira derrota do fulano. Homem que é homem não se candidata. É e já está. Nicky Florentino.
Vincent, v. © Tim Burton. Segismundo.
2005-10-30
Vincent, iv. © Tim Burton. Segismundo.
2005-10-29
Vincent, iii. © Tim Burton. Segismundo.
2005-10-28
Vincent, ii. © Tim Burton. Segismundo.
2005-10-27
Perfil. Übersexual? E isso é bom? ou mau? Segismundo.
Vincent, i. © Tim Burton. Segismundo.
2005-10-26
O que é que é isso?, ó meu! O senhor dr. Mário Soares parece saber tanto às quantas anda o processo referendário sobre a despenalização do aborto que até suscita dó. Paciência não. E clemência ou piedade menos ainda. Até porque, suspeita-se, sobre outras minudências da política pátria o melhor é não querer saber o que o fulano sabe. Pois é quanto basta saber o que ele não sabe. Nicky Florentino.
Can I play with madness. Sintonia ou eco. Aqui. Neste lugar, neste exacto lugar. Como quem corre atrás dele. Ele, o sangue. Ele, espectral, esvaído. Tu. Segismundo.
Palavra do dia. Passos. Segismundo.
2005-10-25
A fuga das galinhas. A inutilidade como ópio é, o mais das vezes, votar. Pois a emancipação, essa, como está o regime das coisas, depende sobretudo da(s) candidatura(s). Nicky Florentino.
O mundo ao contrário. Porra!, porra!, duas vezes. Então o senhor Petit, o tal que andou para aí vertido em lamúrias, a acusar que queriam fazer dele um sarrafeiro, faz parte do elenco da comissão de honra da candidatura do senhor dr. Mário Soares a senhor presidente da República? Nicky Florentino.
They died with their boots on. O Rui, porque é um lambe-botas como deve ser, sabe que é melhor lamber estas botas do que as outras. Segismundo.
Toca e foge. Aconteceu uma urgência. Ele foi. Segismundo.
Entre as brumas. Súbito, o silêncio. O mundo continuava a girar. As margens permaneciam no mesmo lugar, o chão no chão, o mar no mar, o céu no céu. Tudo como antes, portanto. Porém sem vozes, sem ruídos. E a porta aberta. Segismundo.
2005-10-24
Siga a estúrdia! O Luís parodiou. O Filipe não apreciou a paródia do Luís. Mas, ao contrário do que o Luís admite, o problema talvez não tenha sido ter tocado na vaca do Filipe, mas no boi (algures deveria ser escrito Ápis, mas isso, aqui, era conceder ao caso uma sagração que ele não tem). É que, por mais voltas que se dêem, as vacas olham para palácios e os bois chamam-se pelos nomes. RIAPA, isso, é fauna de outra prosápia. Segismundo.
A república palimpsesto. Uma das derivas habituais na província da balbúrdia, quando a balbúrdia incomoda os gentios ou lhes toca os ossos, é clamar ó chefe! Clamar ó deus! ou ó mãe! ou ó pai! já não é moda democrática. Ora, como um mal nunca vem só, à mania de chamar pela salvífica autoridade junta-se, por ora ainda apenas em murmúrio, uma exigência presidencialista. Cá na pátria, porque o povo é mau e sem emenda, os senhores, com as denodadas senhoras donas-de-casa, fazem rearranjos na sala de estar e mandam caiar a fachada da república. O edifício é o mesmo, os residentes são os mesmos, os ácaros, embora arejados, permanecem, mas o mundo, visto do postigo doméstico, parece outro. O que, embora alivie, não constitui redenção suficiente. É que a política é também uma modalidade de entretenimento. Aliás, a política é, desde sempre, um reality show. Onde aqueles que concorrem, todos, têm a mania das mudanças. Para que a casa, o lar doce lar, no mais, fique na mesma. Nicky Florentino.
A
Não oficial e tal. No fundo, no fundo, ela e eles sabem, politicamente o senhor dr. Mário Soares mais não é do que uma personagem de jogo de consola. Nicky Florentino.
2005-10-23
Tchau, adeus ou vai-te embora. É este o slogan da campanha a favor da deposição dos senhores candidatos, todos, a senhor presidente da República. Ou isso ou, então, que a gripe dê nos cisnes que cantam. Nicky Florentino.
2005-10-22
Black sabbath. Hoje, acaso acreditasse em deus, ele seria toda a lassidão que o louvasse, descanso, preguiça, nenhum gesto, nenhuma palavra, nada, apenas nada. Mas não foi. Ele estava em ofício. Estava em pecado. Livre. Contra o mundo. A afastar o mundo. E a teelvisão. E a multidão. E os outros. A solidão urbana. Segismundo.
Página do livro dos excursos, viii. A repetição de erros pode constituir um problema ou a um problema conduzir. A repetição de esperanças também. Segismundo.
Estatuto. Às vezes, apesar da vontade, alguém não consegue ser herói. Segismundo.
2005-10-21
Afinal havia outro. “Estão a tentar fazer de mim um sarrafeiro”, disse o senhor Petit, fulano jogador da bola e a quem, pelo atestado jeito, o colégio dos daqui, com danada modéstia, exorta a candidatar-se a senhor presidente da República. Pelo dito, menos qualificado do que os outros não parece ser. Talvez lhe seja ainda omisso o imperativo de consciência. Mas isso, como aconteceu aos demais, também se arranja. Nicky Florentino.
Compensação e voar baixinho. É obsceno o tempo que ele demorou na volta, na segunda queda do pêndulo entre a cidade pequena e a cidade grande. Segismundo.
Da visão nunca suficiente. O altar é um dos lugares onde acontecem as vítimas. Nesse lugar, aliás, podem acontecer diversos tipos de vítima. Mas nenhum mais pungente do que aquele que acontece no altar sacramental. Antes fosse sacrificial, portanto, o altar. Pois aí a dor é evidente, assinalada pelo sangue derramado. E um regalo para os olhos. O Marquês.
2005-10-20
Reserva cinegética. Nem o senhor dr. Mário Soares é fixe ou recomendado para a caldeirada nem o senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva é chaputa ou rodovalho. Um e outro, depois de tudo o que foram, hoje parecem apenas aves de arribação. A dar às asas. E a tentar convencer os incautos gentios que não padecem da gripe dos ovíparos penados. Nicky Florentino.
Texasvilla, i. A candidatura, tipo pescada, do senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva à honra de senhor presidente da República é a primeira vitória do senhor dr. Mário Soares. Nicky Florentino.
Do recontro ao reencontro. A menina bonita do bêémedéblio saiu abrupta e assanhada do veículo. Protestou. Protestou veementemente. Chegou mesmo a lamuriar-se. Já não há cavalheiros, porra, desabafou ela. Ele nada disse. Não estava com paciência para diálogos. Estava atrasado. Ela também. Mas esse pormenor ele só o percebeu depois, quando ela, a menina bonita do bêémedéblio que saiu abrupta e assanhada do veículo, entrou na sala. E, boa tarde, ruboresceu. Segismundo.
Palavra do dia. Memória. Segismundo.
2005-10-19
Dolce vita. Na volta de uma das suas segundas casas, havia nele um consenso. Dois n’Internazionale. O resto é cartilagem. Segismundo.
Excitação do dia. Este é o único poema que ele memorizou.
Se perguntarem: das artes do mundo?
Das artes do mundo escolho a de ver cometas
despenharem-se
nas grandes massas de água: depois, as brasas pelos recantos,
charcos entre elas.
Quero na escuridão revolvida pelas luzes
ganhar baptismo, ofício.
Queimado nas orlas de fogo das poças.
O meu nome é esse.
E os dias atravessam as noites até aos outros dias, as noites
caem dentro dos dias - e eu estudo
astros desmoronados, mananciais, o segredo*. Segismundo.
* in Helder, Herberto (1994), Do Mundo, Lisboa, Assírio & Alvim, pp. 40-41.
Na jukebox. “Proclaim your joy”, parcela do álbum The Invisible Man, de Mark Eitzel. Segismundo.
2005-10-18
Porque a vida é uma única canção, Song of the mole.
he was so pissed off he was dying
he would only play hall and oates
he said if my days are numbered
i'm going to blast the world with hall and oates
so with his finger on the button he
shook his walls and windows with his wounded pride
it was my youth he thought was burying him
i became the soldier that puts the sword in his side
he listened for my footsteps every day
it was almost like i was in his veins
he wanted my footsteps to go away
it was almost like i was in his veins
i was the ghost he hated - he called me the mole. © Mark Eitzel. Segismundo.
Distância. Ele ou não sabe ou não quer saber das desgraças domésticas alheias. Tão pouco compreende porque o julgam interessado em reportagens sobre tais desgraças. É que ele estima muito que algumas das criaturas entretidas a jogar o jogo da miséria se fodam. Literalmente. Ou em qualquer outro sentido adequado. Segismundo.
2005-10-17
Página do livro das interrogações, xii. Progressão orbital simétrica, é isto a fuga? Segismundo.
Palavras que rimam. Tu e ausência. Segismundo.
Boletim metereológico. Se chover, Schove. Segismundo.
Homo homini lupus. No instante da despedida, todas as noites, abraçava-a. Abraçava-a justamente, num empréstimo de inocência ao gesto que o gesto não tinha por não poder ter. Pois dentro dele troava e corria-lhe infrene no sangue o desejo de a morder. Foi por isso que um dia, depois do terno beijo de adeus, até amanhã, lhe devorou a traqueia. O Marquês.
2005-10-16
Sabes?, sometimes I wish I had a screwdriver. Por princípio não se deve simpatizar com um cocktail cujo nome é sugerido por gente com ofício de bate-chapas ou serralheiro mecânico. Vodka laranja é vodka laranja. Não é uma chave para parafusos com cabeça fendada. Segismundo.
Quando os amigos já não sabem o que é o sábado à noite esquecem o que é domingo de manhã. A esta hora, madrugada, nem andar de bicicleta nem ir ver jipes. Segismundo.
2005-10-15
Carnincréu. O outro, não acredito em segredos. Ele, mas acreditas em deus? O outro, acredito, acredito em ofícios e serviços secretos. Ele, eu, secretos, secretos, acredito apenas nos de porco preto, embora já tenha acreditado mais. Segismundo.
Porque entre os mortos e os feridos há sobreviventes. Aqui, neste lugar sem chão, paredes e tecto, acontece-nos como ao Filipe. Mas ao contrário. Em azulibranco. Segismundo.
Excitação do dia. “Às vezes as coisas desatam a crescer numa espécie de sentido ao contrário. Desenvolvem-se em dois planos, movem-se em lugares diferentes. Entre eles bate um coração, uma alma, um motor. Aqui é que estão a unidade e o sentido - o senso, o contra-senso” *. Segismundo.
* in Helder, Herberto (1979, 1987), Photomaton & Vox, Lisboa, Assírio & Alvim, 2.ª Edição, pp. 88-89.
Live fast, die young. O princípio que vale para todos os dias foi um filme. Segismundo.
Concertinas sexta-feira à noite. Se danças, se ocultas. A melodia na pele. O eco na carne. Segismundo.
2005-10-14
Lugares. Bataclan, não se sabe porquê. Segismundo.
Ser e star. Se é, talvez esteja. Segismundo.
Saltos livres. Rapaz de raros rogos, ele roga apenas chão. Para ter onde cair. Segismundo.
Tu que mandas apagar o teu nome. Sei onde dormes, disse ele. Segismundo.
2005-10-13
Agenda. Hoje, Coimbra, TAGV, vinteeuma.trinta, Françoiz Breut + Bastien Lallemant. Segismundo.
Preliminares. Vai-se a uma agência bancária solicitar explicações. Por que é que? Porque sim, respondeu o diligente funcionário, sem esboçar um sorriso sequer. Começou assim o caso. Segismundo.
Da dança com os leopardos de Kafka às danças de salão. Gradualmente algumas práticas adquirem consistência, tornando-se rituais. Nada a objectar. Mas não muito depois, após a cristalização dos gestos em instituição, é provável o problema. Porquanto corrido algum tempo tende a acontecer que o que motiva essas práticas já não é a vontade original, mas a necessidade de preservar a coreografia ritual, a ilusão encenada da vontade original. Segismundo.
2005-10-12
Lápide e dar. Tente-se o detalhe. O que significa a vitória eleitoral da senhora dr.ª Fátima Felgueiras? Os significados são vários e simultâneos, quase nenhum abonando em favor da salubridade da pátria. Mas há um significado que é lisonjeiro. No plano jurídico há o princípio da presunção da inocência. O princípio é estúpido - como quase todos os princípios tendem a ser -, mas é preferível ao princípio antípode, perfilhado tanto pela generalidade da ralé quanto pelos jacobinos com vestimentas ornamentadas com folhos e rendas e que, consoante o caso ou o pormenor, entendem nisso ter conveniência. Pelo que, não obstante as quantas almas indignadas e que julgam ter acontecido a desgraça, certo é que o povo de Felgueiras demonstrou uma virtude salomónica, celebrando tempestiva, no tempo que é devido, e politicamente a ainda inocência da dita fulana. Seja como for, em termos políticos, o espectáculo de alcandorar novamente a mencionada criatura na honra de senhora presidente da Câmara Municipal foi pungente. A lapidação teria sido mais bonita. Mas o povo, como cordeiro que mais ordena, decidiu dar-se ao seu destino. Não demorará a recomeçar a balir e a clamar ó da guarda! É essa, a desilusão, a única constante nos gentios. Nicky Florentino.
Fugazi. Ele gosta de distâncias. Os intrusos incomodam-no. Os curiosos também. Tem a mania da discrição, provavelmente por, no carácter, ser bruto. Não tem segredos, mas poupa-se na publicidade. É o que é e, nesse ser, é responsável pelo que é, não pelo que os outros, quem quer que sejam, julgam que ele é. Não tem paciência para voyeurs. Por si, não quer e não permite ser filmado por câmaras de vigilância, menos ainda quando vai a acelerar nas auto-estradas. Esforça-se por ser liberal old fashion. Às vezes é assanhado. Entende que o senhor dr. Jorge Sampaio é um pancrácio. Não é larápio. Não é miliante. Mas usa recorrentemente vernáculo. Não é simpático e entende, mais por mania do que por disposição, que essa propriedade é um direito seu. Não tem fé. Ainda assim, embora pouco, confia. Acha, por roteiro doutrinário e prática, que o Estado é uma besta. Sabe que a democracia não existe. Sabe que a existência de democracia pressupõe a existência de povo. Sabe também que o povo não existe. E que o povo que existe, como existe, individualizado em gentios, é uma besta como o Estado. Ele não está para se incomodar muito com estes pormenores. Faz o seu trabalho doméstico. Não apregoa. Não gosta de ser perseguido. Não tem muita paciência para dar respostas sobre si. Seja como for, admite expor-se. Admite também conceder audiência a criaturas estranhas. Porém responderá apenas a quem se deitar com ele na mesma cama. E, como é óbvio, reserva para si o direito de admissão de quem, por vontade própria, aí se queira deitar também. Assume como orientação que o princípio da socialidade moderna é e deve ser o contrato. Abomina a suspeita avulsa, a paranóia miliciana das senhoras e dos senhores representantes do Estado, os vigilantes do putativo padrão. Não confunde o que é modal com o que é normal. Ele também não simpatiza com escuteiros ou lyons armados ao pingarelho. Deseja apenas distância e latitude em relação à fauna circunstante. Porque é esse, negativo, o primeiro fundamento da liberdade. Apenas depois começa a composição social, eventualmente grei. E demais demónios vozeadores. Segismundo.
Isso e dissonância cognitiva. Na última edição do Expresso, alguém escreveu que a homossexualidade é tanto um erro histórico quanto um erro conceptual. Chama-se João. E não, não foi o patusco doutor Espada. Segismundo.
O veneno mora ao lado. Paulatinamente aprende-se a utilizar com propriedade o pronome tu. Até que acordar passa a ser ao lado de alguém com nome. Segismundo.
2005-10-11
A galeria exemplar. A propósito desta aposta do Nicky. Conhecidos há apenas três parâmetros de hominidade, James Bond, Jon Stewart e o senhor dr. Miguel Beleza. O que remanesce ou são exemplares frouxos da espécie ou são mulheres. Portanto, contas de outro rosário. Segismundo.
Segredo. Tivoli. Segismundo.
A gente que nada percebe de futebol e sentencia. Degraça maior do que os gentios gozarem da prerrogativa de voto é esses mesmos gentios julgarem-se habilitados para o comentário
Excitação do dia. “O mundo repõe-se na qualidade de enigma jamais decifrado” *. Segismundo.
* in Helder, Herberto (1979, 1987), Photomaton & Vox, Lisboa, Assírio & Alvim, 2.ª Edição, p. 145.
Corpo. O horizonte é este. E os passos que contra ele se conseguirem são as coordenadas. Segismundo.
O que é nacional é bom e uma merda também. As eleições autárquicas são eleições locais. Afirmar isto parece redundante. Porém, não é. Ontem à noite, no canal primeiro da estação teelvisiva pública, aconteceu um putativo debate sobre os resultados das eleições autárquicas. Sobre o tópico pouco foi dito. Entre outros motivos porque, salvo raros lapsos, ninguém assumiu as eleições autárquicas como eleições locais. Eleições que acontecem no chão paroquial, mais do que qualquer outras. Não porque o que seja politicamente relevante seja exclusivamente autóctone ou aconteça apenas sob o campanário do sítio. Mas porque o que aí é politicamente relevante tem tradução e significação local, mesmo se produzido e original de outras escalas de composição social, inferiores ou superiores. Perceber isto é fundamental. Para não debitar conversas do tipo, á o PS perdeu porque houve voto ressabiado contra o Governo e tal. Não sendo de desconsiderar este eventual efeito, é fundamental reportá-lo ao respectivo plano político de referência, autárquico. Aliás, insistir em interpretar o resultado das eleições autárquicas numa plataforma de referência que é estranha à gramática de produção do fenómeno é equivalente a olhar para o fenómeno como um qualquer bovino tresmalhado, fora da manada, olharia para os jardins suspensos da Babilónia. Com a escala errada. E sem sensibilidade analítica. Verificado isto, como é óbvio o resto da conversa dos inteligentes na teelvisão, o mais das vezes, não ajudou. O Doutor Joaquim Aguiar tentou. Quem o acompanhou no flanco também. Mas quase toda a conversa resvalou para o registo de entretenimento, para a escala capital e para a perspectiva cavaleira. Pungente. Enfim, a teelvisão exibiu a versão jacobina e rendada da boçalidade do senhor Major Valentim Loureiro e do impudor da senhora dr.ª Fátima Felgueiras. Quase ninguém notou. Pois não. Na latrina o horizonte imediato é pouco relevante. Significativo é o cheiro. Pelo que, no instante, emigrar é a única solução salubre. Nicky Florentino.
2005-10-10
As aparências iludem. A política é um jogo diferente dos outros. Ao cabo de cada contenda eleitoral raramente é evidente o resultado em termos de vitória e de derrota, pois, para além da contagem dos votos, há a considerar também as aparências. E o que aparenta é quase sempre tão aparente que, por vezes, é isso mesmo a realidade. Ninguém sabe. E não vem daí mal maior ao mundo. O mundo é assim mesmo. Portugal é ainda melhor. Nicky Florentino.
Rain on. Chove lá fora, sobre o corpo. E, à distância, dentro, soa, and freedom is the only law
shall we dance...* Segismundo.
* in The Magnetic Fields (1999), “World love”, in 69 Love Songs.
Cápsula. O corpo quebrado, quase todo, excepto na vontade. Segismundo.
Palavras que rimam. Chuva e Porto. Segismundo.
2005-10-09
Depois da espera. O site http://www.autarquicas.mj.pt, finalmente, já deixou de ser uma merda. Nicky Florentino.
Espera, iv. O site http://www.autarquicas.mj.pt é uma merda. Nicky Florentino.
Espera, iii. O site http://www.autarquicas.mj.pt é uma merda. Nicky Florentino.
Espera, ii. O site http://www.autarquicas.mj.pt é uma merda. Nicky Florentino.
Espera, i. O site http://www.autarquicas.mj.pt é uma merda. Nicky Florentino.
Zero amarelo. O senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva disse na teelvisão que os resultados das eleições autárquicas de hoje não são passíveis de uma leitura nacional. Não foi sempre assim o juízo do fulano. Há quem recorde que ele outrora andou para aí a rogar aos gentios da pátria que mostrassem um cartão amarelo ao Governo. A criatura já teve, pois, melhores dias, mesmo que nunca tenham sido bons. Nicky Florentino.
2005-10-08
Ausência. Ausência é uma forma morna de estar. Segismundo.
Cortejo fúnebre. Em Portugal, chamar dia de reflexão à véspera de qualquer eleição é um pleonasmo. Tal dia não é dia de reflexão alguma. A reflexão pressupõe uma capacidade de devolução que a generalidade dos gentios, senhores de si, dispensa. Pelo que o dia seguinte ao dia de reflexão, the day after, é apenas o dia da ressaca. Que coincida com o dia de depositar o voto em urna é o que se chama
2005-10-07
O martírio dos pacientes. É um alívio saber-se que a paciência terá que suportar por pouco mais de um trimestre a honra da presidência da República emprestada ao senhor dr. Jorge Sampaio. Mas, desgraça!, há depois. E o que o horizonte anuncia promete não ser suplício menor à paciência. Nicky Florentino.
Página do livro dos googlemas. Aqui não há fotografia de George Simmel socialista. Porque George Simmel é sem é, é Georg, e, aleluia!, aleluia!, não foi socialista. Segismundo.
Cinismo e simpatia. Ele está a ponderar comprar, para oferecer à menina, um daqueles brinquedos para as crianças roerem. Segismundo.
Always the blue. A noite é a maior de todas as sequências, o royal flush. Segismundo.
A viciosa. No cerco ela era conhecida por dois nomes, filha da senhora e, a outra hipótese, menina. Fora criada conforme as regras da sua brasonada condição. Ainda noviça, foi acompanhada por uma perceptora que teve a missão de fazer mulheres as três últimas gerações da prole feminina da família. Era sua missão ilustrar-lhe a alma das artes próprias de fêmea, ensinar-lhe o hábito da temência ao todo-poderoso e vigiar-lhe a integridade. Não se sabe quando e onde, que circunstâncias e demónios, lhe despertaram o corpo para a viciosidade. Em segredo, a moça entregava-se à virilidade de quantos rapazes e homens a oportunidade, não tanto a discrição, lhe permitia. Numa ocasião, porém, maior foi o descuido e o falatório começou a estender-se. Sem conhecimento do que já se dizia, a mãe iniciou uma preocupada vigilância sobre a filha, cada vez mais mulher, em corpo, ideias e manias. Aconteceu que, com tal roda, um dia a mãe a surpreendeu em flagrante, nela cravada a varonil carne do filho da maior autoridade do lugar. A mãe, insigne beata, colapsou, vítima de apoplexia e vergonha. Sim!, sou eu!, minha mãe!, gritou ela, quando a mãe avançou pelos aposentos dentro, incrédula e de olhos arregalados para melhor confirmar a desdita. A velha tombou, cerce. E a filha, tomada de espasmos, riu, riu, prendendo ainda mais em si, orgulhosa, empinada em gozo suplementar, o motivo que fez a sua mãe cair. O Marquês.
2005-10-06
O povo é um colectivo cujos elementos têm uma placa de platina na cabeça. Ver isto e ler isto. Nicky Florentino.
Urgência. Neste tugúrio ninguém prega seja a democracia, seja a república. No plano político, há outras urgências. Para começar - que, em rigor, não é começo, mas continuação -, a liberdade é quanto basta. E o juízo, condição de responsabilidade, também. Nicky Florentino.
Esta ditosa pátria é uma leira, não uma república. Disse o senhor dr. Jorge Sampaio, “os dirigentes políticos, na sua esmagadora maioria, são pessoas sérias e íntegras”. Em que informação se estriba o fulano para tal afirmação fazer não se sabe. Aliás, é provável que a maioria do colégio de gentios a que ordinariamente se chama povo confie em sentença contrária. Pelo que, a bem do raio da República que existe fingida, da eficácia das instituições e da moral da grei, os dirigentes politicos devem ser as primeiras vítimas da paranóia republicana a que o fulano tratou de emprestar má doutrina e dar cerimonial publicidade. Todos em fila indiana a confessar, tintim por tintim, como é que têm o que têm e o que não têm mas que, vai-se sabendo, é deles também. Entre outros motivos porque, como sustentou a bisonha criatura em senhor presidente da República, “a inversão do ónus da prova nada colide com o direito de defesa e muito menos o esvazia”. É quando se chega aqui, ao osso, que a grassa estupidez da proposta é mais evidente. Nicky Florentino.
Captações in A Majestade do Xingu*
.......“É um pó branco. A aparência é inocente, mas o pajé não tem dúvida: ali está concentrada uma tremenda energia, uma energia superior à de todas as suas plantas, todas as suas rezas, todas as suas fumigações. E como sabe disso? Por causa da brancura, aquela implacável brancura. O pajé é obrigado a admitir: nunca viu algo tão branco. A lua não é tão branca quanto esse pó, as nuvens não são tão brancas quanto esse pó. A carne de peixe (e de peixe o pajé gosta muito, pagam-lhe em peixe muitas curas, peixinhos pequenos no caso de doenças pouco graves, peixes grandes quando recupera moribundos, e há um enorme peixe, capaz até de engolir uma pessoa, reservado para o grande milagre que ainda fará, ressuscitando um morto) não é tão branca. Nem o homem branco é tão branco, porque os brancos na verdade não são brancos, uns são brancos, outros são mulatos, e Noel, a pele de Noel é rosada. O branco do olho talvez seja quase tão branco quanto esse pó - mas quem dá importância ao branco do olho? Para o pajé, o branco do olho nada diz, a não ser quando se tinge de amarelo, o que é mau sinal, sinal de doença grave”.
* Scliar, Moacyr (1997/2000), A Majestade do Xingu, Lisboa, Editorial Caminho, p. 136.
Agenda. Vinteedois de Outubro, Lisboa, Centro Cultural de Belém, vinteeuma horas, Toots Thielemans. Segismundo.
John Cale está velho. Escrever isto, John Cale está velho, é fácil. Escrever isto de modo a que não sugira depreciação é difícil. A escolha recai sobre a hipótese difícil. Não vale a pena virar o acetato. John Cale está velho. Segismundo.
2005-10-05
A noite acorda demónios. Amorzinho foi o que lhe chamou no instante do abraço. Ele estremeceu, em silêncio, por dentro, sozinho. E não foi dormir. Segismundo.
Manobras em pêlo, hors série. A gata tigrada olha atentamente o documentário sobre leopardos que passa na teelvisão. Segismundo.
Amice, ad quid venisti? Alguém lhe disse que ele era um gajo porreiro. Ele sorriu e perguntou o motivo do raio desse juízo. Num lapso inferior à duração da combustão da cabeça de um fósforo, esse alguém começou a insultá-lo, insistindo também em mandá-lo para o caralho, pá! Ele não foi. Afastou-se apenas e foi espreitar o frenesi dos putos envolvidos no gaming, Quake III. E, quando foi, foi a pensar se a amizade era motivo suficiente para, naquele instante, isentar aquele patusco de dois socos no focinho. Foi, mas talvez não devesse ter sido. Segismundo.
Cinco de Outubro já era. A república não existe onde existe tanta rês pública. Nicky Florentino.
2005-10-04
Comensalidades. Durante o almoço de hoje, uma das sobrinhas dele destilou indignação por ele não ter ousado captar uma prova do desgraçado acaso de ter jantado no mesmo restaurante que uns tais D'zrt. E mostrou denodado desprezo por, na mesma ocasião, ele ter partilhado mesa com os Blind Zero. Há
O império dos sentenciadores. Existindo tamanho dissenso sobre o que é a realidade, é surpreendente que alguém sentencie com facilidade sobre o que teria sido se. Segismundo.
Formalismo. O corpo dele tem uma disposição estranha para uma forma de sono que se encontra e guarda nos seus braços. Segismundo.
2005-10-03
Até ao infinito ou mais além. É de tontos rogar que em eleições autárquicas os gentios votem contra o Governo ou qualquer outra entidade etérea do género. Mas o senhor dr. António Almeida Santos, insigne senhor presidente da trupe socialista, como é de cautelas, no passado sábado, atalhou ao contrário, como quem goza com a tropa. “Não nos precipitemos. Com tanto desfavor, este Governo precisa de confiança e da gratidão do povo português”, disse o fulano. Como diz o outro, o céu é o limite. O trambelho é que não é certamente. Nicky Florentino.
O lugar das setenta virgens que esperam pelos mártires. Perguntaram ao senhor Prof. Eng.º António Carmona Rodrigues quantos vereadores estimava ele que viessem a ser eleitos pela respectiva lista. Dezasseis é a hipótese mais simpática. Mas, pelo observado, a criatura não é de escasso sustento ou de contentar-se com pouco. Vai daí respondeu, “o céu é o limite”. É deixá-lo ir. Nicky Florentino.
Todos os nomes e mais alguns. O senhor dr. Ruben de Carvalho, cabecilha da lista da CDU à Câmara Municipal de Lisboa, chamou mentiroso ao senhor Miguel Coelho, uma das eminências da pardas seita socialista da capital. Reacção deste, “chamou-me mentiroso? Pode chamar-me o que quiser, já me chamou patusco...” Está visto, entre os socialistas, o axioma quem não se sente não é filho de boa gente não vale para todos. Alguns isentam-se. Aliás, o senhor Prof. Doutor Manuel Maria Carrilho já disse como as coisas são, “cada um fala por si”. Desgraça é cada um não falar também só para si. Nicky Florentino.
Não há promessas grátis. Que alguém tenha percebido a paixão que fulgurizava o senhor Prof. Doutor Manuel Maria Carrilho por o fulano ter deglutido um mil-folhas é como o outro. Há oráculos assim. Agora que o mesmo fulano emita a seguinte sentença, “a maior parte das promessas que eu fiz não custam dinheiro”, ainda que seja de pragmático, não lembra o diabo ou o caraças. É o mesmo que a criatura dizer que vai à lua ou ao jardim zoológico sem levar a respectiva senhora sua esposa. Quem é que, para além do Dinis Maria, o inocente doméstico, acredita? Nicky Florentino.
Sabedoria de pragmático. O João Pedro, em entrevista estampada na edição de hoje do Público, perguntou ao senhor Prof. Doutor Manuel Maria Carrilho, “no voto deve ou não ser factor de ponderação o facto de o senhor ser do PS e o Governo ser do PS?”. Resposta do fulano, “o que sei de sociologia política eleitoral é que a multiplicidade de factores é de tal ordem que só histórias narrativas posteriores é que lhe podem dar um sentido”. Ou seja, das duas uma. Ou o senhor Prof. Doutor Manuel Maria Carrilho sabe nada ou quase nada de sociologia política eleitoral, seja lá isso que o for. Ou o Pedro está desgraçado. Nicky Florentino.
Paradeiro. A Sara antes habitava neste domicílio. Agora?, é mesmo assim, não se sabe. Segismundo.
Palavra de todos os dias. Ironia. Segismundo.
Paranóia maternal. Ontem, ao almoço, ele comeu pouca canja de arroz. Comeu uma maçã, depois. E saiu. Hoje, ao almoço, ele pouco comeu da sopa de agrião. Falou também pouco. E saiu. A mãe dele, muito perspicaz, não percebeu o que não era para perceber. Por isso inventou. O menino deixou de gostar de sopa. Feita pela mãezinha. É este o boato que circula. Segismundo.
Eclipses e serralharia. O outro, e viste o eclipse? ou estavas a dormir? Ele, não, não estava a dormir, espreitei o eclipse. O outro, com quê? Ele, com os óculos utilizados para soldar a acetileno. O outro, com o quê? Segismundo.
2005-10-02
Dúvidas que assaltam. É esse e o senhor professor Bambo, Bambu ou o raio que o parta. Segismundo.
Página do livro dos googlemas. Rogamos penhoradamente desculpa, mas sobre simpatias para foder, aqui, neste tugúrio, nada sabemos. Também não sabemos quem seja o senhor tapioca mestre sexual. Segismundo.
Le dernier combat. Todos os dias o mesmo, contra a evidência do corpo. Segismundo.
Sem bandeja. Ela, depois de ele lhe servir um café, tem veneno? Ele, isso é pormenor que só se fica a saber depois; se cair para o lado, é porque tinha. Segismundo.
2005-10-01
Demos. O que aconteça em Amarante, Felgueiras, Gondomar ou Oeiras, é a democracia a acontecer como acontece. Nicky Florentino.
Corrigenda. Dezoito de Outubro, Lisboa, Santiago Alquimista, vinteeduas horas, Mark Eitzel. Segismundo.
Agenda.
Formula 51. O Zé Vitório almoça hoje na Lareira do Casal, em Amiais de Baixo, e ele, taquepariu!, não pode comparecer. Segismundo.
Res existência. Resistir não é evitar o colapso. É erguer-se após cada queda. E nunca esperar o sol. Segismundo.
2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).