Fugazi. Ele gosta de distâncias. Os intrusos incomodam-no. Os curiosos também. Tem a mania da discrição, provavelmente por, no carácter, ser bruto. Não tem segredos, mas poupa-se na publicidade. É o que é e, nesse ser, é responsável pelo que é, não pelo que os outros, quem quer que sejam, julgam que ele é. Não tem paciência para voyeurs. Por si, não quer e não permite ser filmado por câmaras de vigilância, menos ainda quando vai a acelerar nas auto-estradas. Esforça-se por ser liberal old fashion. Às vezes é assanhado. Entende que o senhor dr. Jorge Sampaio é um pancrácio. Não é larápio. Não é miliante. Mas usa recorrentemente vernáculo. Não é simpático e entende, mais por mania do que por disposição, que essa propriedade é um direito seu. Não tem fé. Ainda assim, embora pouco, confia. Acha, por roteiro doutrinário e prática, que o Estado é uma besta. Sabe que a democracia não existe. Sabe que a existência de democracia pressupõe a existência de povo. Sabe também que o povo não existe. E que o povo que existe, como existe, individualizado em gentios, é uma besta como o Estado. Ele não está para se incomodar muito com estes pormenores. Faz o seu trabalho doméstico. Não apregoa. Não gosta de ser perseguido. Não tem muita paciência para dar respostas sobre si. Seja como for, admite expor-se. Admite também conceder audiência a criaturas estranhas. Porém responderá apenas a quem se deitar com ele na mesma cama. E, como é óbvio, reserva para si o direito de admissão de quem, por vontade própria, aí se queira deitar também. Assume como orientação que o princípio da socialidade moderna é e deve ser o contrato. Abomina a suspeita avulsa, a paranóia miliciana das senhoras e dos senhores representantes do Estado, os vigilantes do putativo padrão. Não confunde o que é modal com o que é normal. Ele também não simpatiza com escuteiros ou lyons armados ao pingarelho. Deseja apenas distância e latitude em relação à fauna circunstante. Porque é esse, negativo, o primeiro fundamento da liberdade. Apenas depois começa a composição social, eventualmente grei. E demais demónios vozeadores. Segismundo.
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