A república palimpsesto. Uma das derivas habituais na província da balbúrdia, quando a balbúrdia incomoda os gentios ou lhes toca os ossos, é clamar ó chefe! Clamar ó deus! ou ó mãe! ou ó pai! já não é moda democrática. Ora, como um mal nunca vem só, à mania de chamar pela salvífica autoridade junta-se, por ora ainda apenas em murmúrio, uma exigência presidencialista. Cá na pátria, porque o povo é mau e sem emenda, os senhores, com as denodadas senhoras donas-de-casa, fazem rearranjos na sala de estar e mandam caiar a fachada da república. O edifício é o mesmo, os residentes são os mesmos, os ácaros, embora arejados, permanecem, mas o mundo, visto do postigo doméstico, parece outro. O que, embora alivie, não constitui redenção suficiente. É que a política é também uma modalidade de entretenimento. Aliás, a política é, desde sempre, um reality show. Onde aqueles que concorrem, todos, têm a mania das mudanças. Para que a casa, o lar doce lar, no mais, fique na mesma. Nicky Florentino.