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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2005-12-31


Heaven can wait! Poderia dizer-se que faltam quarenta anos para amanhã. Mas amanhã é mais um lugar do que um tempo. Segismundo.

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Vincent, lxvi. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-30


Perguntou o menino Jesus, iv, ó pai!, e, bem contadas, em aritmética de senhor arquitecto, quantas sereias existem no céu? Segundo a edição de hoje do Expresso, “cerca de um em cada dez portugueses são homossexuais (sete porcento) ou bissexuais (doisvírgulanove porcento)”. Ou seja, traduzindo para a manchete, estampada a cor-de-rosa, “cerca de um milhão de portugueses (novevírgulanove porcento) revelam ser homossexuais”. Por razões de natureza - estranhas, portanto, à estatística -, não há escala para a estupidez. A estupidez, como estupidez, pura, ou é franca ou não é. Ainda bem. Pois assim a estupidez não engana. Segismundo.

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Perguntou o menino Jesus, iii, ó pai!, e as sereias são mamíferas ou ovíparas? Tony Anatrella, o tal padre jesuíta - com nome de personagem da série The Sopranos -, escreveu que a homossexualidade pode ser entendida “como uma realidade destabilizadora das pessoas e da sociedade”. É o que se pode escrever também a propósito da fé. Ou do acentuado arrefecimento nocturno. Segismundo.

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Perguntou o menino Jesus, ii, ó pai!, e as sereias são mamíferas ou ovíparas? Ainda segundo o plumitivo jesuíta, “a homossexualidade não representa um valor social e de forma alguma pode ser uma virtude moral susceptível de contribuir para a elevação da sexualidade”. Mais um equívoco da criatura. A sexualidade, qualquer que seja a sua inclinação, não representa valor social de espécie alguma, assim como não constitui virtude moral. A sexualidade, sob as mais diversas manifestações, é sobretudo um exercício de erro. É por isso que a sua prática implica recorrência, insistência, tentativa. Não para elevar a sexualidade seja a que patamar for. Mas para repetir o orgasmo ou tentar. O demais são consequências colaterais. Contingências da puta da vida. Segismundo.

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Perguntou o menino Jesus, i, ó pai!, e as sereias são mamíferas ou ovíparas?. Segundo a edição de ontem do Público, alguém, um cura jesuíta, opinou nL’Osservatore Romano nestes termos, “a homossexualidade é uma parte incompleta e imatura da sexualidade humana”. A criatura, porém, provavelmente por desconhecimento da matéria e do acto, não acrescentou que a heterossexualidade, com mais ou menos hóstia mastigada, também é isso. Segismundo.

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Vincent, lxv. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-29


Página do livro das interrogações, xii. O que pode uma máscara, everytime you close your eyes *, esconder a um cego? Segismundo.

* verso retirado de “Rebellion (Lies)”, parcela do álbum Funeral, d’The Arcade Fire.

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Vincent, lxiv. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-28


O homem que diz que não disse mas disse. Que o senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva teça propostas e lhes dê publicidade, se são o que são - apenas e só propostas -, não é mal para pátria ou para o governo da desgovernada pátria. O fulano pode articular como muito bem lhe aprouver e o respectivo juízo permitir. E pode debitar os bitaites que entender por bem debitar. Agora, depois, no dia seguinte, armado em cara de pau e em carapau de corrida, vir dizer que não disse o que disse é que é mais complicado. Pois gente de plasticina tem piada em animação stop motion. Não na política da vida real de todos os dias. Nicky Florentino.

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Vincent, lxiii. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-27


Foi vocelência que rogou um senhor secretário de Estado ao Pai Natal? O senhor Prof. Doutor Cavaco Silva não sugeriu um senhor secretário de Estado ao Governo. Disse, em proposição, naquele desprendimento que lhe é reconhecido, que deveria haver um secretário de Estado, um ajudante - no léxico do fulano -, dedicado a uma missão particular. Portanto, ao contrário do que sugeriram algumas vozes assanhadas dos cortejos dos demais concorrentes à honra de senhor presidente da República, não há qualquer problema. Poderá vir a haver problema. Mas, para já, assim como assim, il n’ya pas de problème. Seja como for, o dito cujo teria sido mais ecológico, higiénico e cortez se, aproveitando o ensejo da quadra natalícia, tivesse oferecido a referida proposta, remetendo-a via shortmessageservice para o telemóvel do senhor primeiro-ministro. Que anda para aí algures na pátria, não anda? Ou, como as renas, foi natalizar? Nicky Florentino.

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De charrete teria sido mais laico, republicano e socialista. No cumprimento da sua agenda de galopinagem, o senhor dr. Mário Soares e a respectiva comitiva foram visitar o empreendimento de fins múltiplos de Alqueva. Para tanto, a criatura e a seita de acólitos foram transportadas em veículos da EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas de Alqueva, SA, uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos que tem como objectivos conceber, executar, construir e explorar o referido empreendimento. Pelo que, perante esses objectivos, surge plausível que a boleia a tais excursionistas foi seguramente uma manobra de exploração. Nicky Florentino.

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Texasvilla, iii.b. Se o senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva é um apalpa-folgas? Nicky Florentino.

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Texasvilla, vi. Se o senhor dr. Manuel Alegre é uma bigorna? Nicky Florentino.

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Texasvilla, iii.a. Se o senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva é um mandril? Nicky Florentino.

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Vincent, lxii. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-26


Texasvilla, v. Se o senhor Jerónimo de Sousa é um berbequim? Nicky Florentino.

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Texasvilla, iv. Se o senhor Prof. Doutor Francisco Louçã é um triciclo? Nicky Florentino.

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Texasvilla, vii. Se o senhor dr. Mário Soares é uma gambiarra? Nicky Florentino.

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Vincent, lxi. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-25


The nightmare before christmas. Em política, a auto-flagelação, a exposição da própria miséria, o queió de alguém a si-mesmo é sempre um gesto pungente e é feio, não é bonito. Nicky Florentino.

A remissão para o vídeo foi pilhada aqui, ao Tiago, e aqui, ao João.

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Porque o natal é quando alguém quiser. Não há espírito como o espírito natalício do João. Nicky Florentino.

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It’s christmas time in hell. O Filipe escreveu sobre os crucígeros. Assim, “não admira que muitos destes desgraçados sejam hoje violentamente assertivos, que arrumem pessoas em frascos sem uma sombra de dúvida. O meu consolo é que o povo que não os ouve está sentado à mesa a comer bacalhau com couves servido por uma mãe com um crucifixo ao peito”. Segismundo.

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Vincent, lx. © Tim Burton. Segismundo.

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A mão que embala o fruto da natividade. © Max Ernst. O Marquês.

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2005-12-24


Sem olhos para o presépio. Em termos políticos, nada ou pouco interessa saber quem é belenense desde pequenino ou vai para Belém por qualquer acidente eleitoral. Pois a questão relevante acontece noutro lugar, o lugar onde se morre, Jerusalém. Nicky Florentino.

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Outro natal. Mais do que anunciação, aqui, em sequência, um, dois, três, é o enunciado oracular de uma danação, de uma outra mulher, prenha por Zeus. Segismundo.

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Futebol é mais do que natal. Advento não interessa. Quaresma, sim, interessa. Porque, com a camisola justa, marca golos. Segismundo.

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Vincent, lix. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-23


Exit, take dois. A mãe perguntou-lhe voltaste? no exacto momento em que ele, definitivo, tornava a sair de casa. Segismundo.

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Vincent, lviii. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-22


Há quem diga que não. Que isso é apenas hidráulica, não físico-química. Segismundo.

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Memória de um quase cego que quer tornar a ver. Aquelas luzes azuis, intermitentes, pequenas, no chão, a assinalar as passadeiras, lembras-te? Segismundo.

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Vincent, lvii. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-21


Vincent, lvi. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-20


Vincent, lv. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-19


Vincent, liv. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-18


Vincent, liii. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-17


Na jukebox. Tom Waits, “Chocolate Jesus” in Mule Variations. Segismundo.

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Vincent, lii. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-16


Grei e alegria. O que é a pátria? A pátria é a paisagem, a fauna e a flora do rectângulo vistas do quadrado. Nicky Florentino.

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Vincent, li. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-15


Se esta escola é pública. © Simon Larbalestier. Nicky Florentino.

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Vincent, l. © Tim Burton. Segismundo.

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She moves in mysterious ways. Maria esperava. Esperou até ao instante em que se cansou de esperar que, assim, sem mais, por divina infusão, o bucho lhe inchasse em surpresa, prometendo gente nova ao mundo. Desesperou Maria. Desesperada foi encontrar José e, na carpintaria, contou-lhe que, ao contrário da arcanja anunciação, nada lhe brotava dentro. José, com jeito de marçano, serrote, formão e martelo pousados sobre a bancada, quase rendido, perguntou, e o que é que nós podemos fazer? Maria, num assomo de juízo e audácia, respondeu a solução, podemos provar a inexistência de deus. E foi entre tábuas, sobre serradura, ali, sem romance, sem qualquer testemunho ou mandato divino, com começada dor e a espasmos de carne e natureza, que aquele que viria a chamar-se Jesus, a vergôntea de David, foi concebido. O Marquês.

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2005-12-14


Ida e volta de um decreto-lei. O senhor dr. Mário Nobre Soares julga que, em caso de veto do senhor presidente da República, um decreto-lei volta à Assembleia da República. Não, não volta. É que, por mais voltas que tenha dado, o raio do decreto-lei, se é decreto-lei, nunca de lá saiu. Nicky Florentino.

Referência



Da (re)composição. Qualquer princípio é uma intercepção. No mínimo, um encontro entre origem e continuidade, entre inquietude e consequência. Segismundo.

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Vincent, xlvix. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-13


Excitação. “Tout homme peut dire véritablemente; mais dire ordonnément, prudemment et suffisamment, peu d’homme le peuvent. Par ainsi, la fausseté qui vient d’ignorance ne m’offense point, c’est l’ineptie. J’ai rompu plusieurs marchés qui m’étaient utiles, par l’impertinence de la contestation de ceux avec qui je marchandais. Je ne m’émeus pas une fois l’an des fautes de ceux sur lesqueles j’ai puissance; mais sur le point de la bêtise et opiniâtreté de leurs allégations, excuses et défenses ânières et brutales, nous sommes tous les jours à nous en prendre à la gorge. Ils n’entendent ni ce qui se dit ni porquoi et répondent de même : c’est pour désespérer. Je ne sens heurter rudement ma tête que par une autre tête, et entre plutôt en composition avec le vice de mes gens qu’avec leur témérité, importunité et leur sortise. Qu’ils fassent mois, pourvu qu’ils soient capables de faire. Vous vivez en espérance d’échauffer leur volonté, mais d’une shouche il n’y a ni qu’espérer ni que jouir qui vaille” (Montaigne, Michel de (1588, 1965), “De l’art de conférer”, in Essais III, Paris, Éditions Gallimard, p. 192). Segismundo.

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Vincent, xlviii. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-12


O alternativo que realça o mau que há nos outros não é necessariamente bom. O senhor Prof. Doutor Francisco Anacleto Louçã tem um dom. Não convence ou convence pouco, porque nisto da política não está para se acreditar apenas no que um fulano diz. Mas consegue colocar a respectiva concorrência à honra de senhor presidente da República a proferir disparates de envergadura monumental. Aconteceu antes ao senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva. Aconteceu hoje ao senhor dr. Manuel Alegre Duarte. Portanto, se outra virtude o dito cujo não tiver, fazer emergir a tibieza e o que punge politicamente nos outros é competência que se lhe reconhece estugada. Daí a mais, que o faça merecer ser para além do que é, é que é mais complicado. O senhor Prof. Doutor Francisco Anacleto Louçã anda nisto há tanto tempo que, por direito e persistência, é já um deles, dos tais, que o Estado polaroid alcandorou em aristocrata. Nicky Florentino.

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Laterais. Disse o senhor Jerónimo de Sousa, “Cavaco Silva parece estar sempre no lado errado da legalidade”. Por outras palavras, perigoso, de tirar o sono, fora-da-lei, Dalton, o fulano não é. Mas também não é o Lucky Luke ou o Rantamplan. É tão só da aba direita. O lado que, embora conforme a Constituição da República Portuguesa, parece, não é bom para alguém se assoar. Porque, seguro, o lado certo do direito é o avesso. Nicky Florentino.

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Trompe l’œil. No universo de prosa e mundo que é Война и мир, algures, foi escrito por Лев Николаевич Толстой, notre corps est une machine à vivre. Segismundo.

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Vincent, xlvii. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-11


Página do livro das companhias, vi. Behind the hatred there lies... Anamnese, verso eco, reminiscência de uma canção, talvez traço simples, sublinhado do que acontece como acontece. Segismundo.

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Vincent, xlvi. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-10


Tangências. O olho esquerdo ainda embaciado, a acordar lentamente da cegueira. A memória, as palpitações, a suspeita. O fingimento que se sabe. Conhece-se a sua coreografia. A encenação da mentira. Tudo repete o seu fim, a respectiva sequência. Mas, no regresso, em casa ainda havia maçãs. O pecado é o mesmo. Quase pela mesma fruta, quase pelo mesmo pão, quase pela mesma carne, quase pelo mesmo sangue. Pelo mesmo engano. Segismundo.

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Vincent, xlv. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-09


Deixai vir a mim as criancinhas. O que é que raio disseram ao senhor Prof. Doutor Cavaco Silva que ele tinha que dizer aos jovens?, hoje, na declaração final, na teelvisão. Nicky Florentino.

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Sein und Zeit. Ontem, na teelvisão, quando se abalançou afoito para aquela espécie de declaração final que concedem aos dois entrevistados ou o raio que eles são ali, o senhor dr. Mário Soares declarou de rompante, “eu sou um presidente”... Ele é o que é. E quanto a isso não é necessária extensa prosa. Mas o que suscita reparo é que o fulano poderia ter dito «eu fui» ou «eu serei», os dois tempos disponíveis para utilizar correctamente com o complemento directo por ele pretendido. Mas não. O que ele disse, voraz, certo, como se fosse, como se não tivesse tempo para não ser, foi «eu sou». Não, ele não é senhor presidente da República. Ele foi. E provavelmente não voltará a ser. Pelo que, aleluia!, aleluia!, o caso também pouco parece ser uma questão de ainda. O que será um descanso para ele. E é e será um sossego para a restante fauna pátria. Nicky Florentino.

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Porque albergue nem é santa casa nem é da misericórdia. Os daqui, deste tugúrio, são e querem-se maus. Serem maus não é propriedade de que se orgulhem. Mas são assim. Rancorosos. Sem simpatia. E, em relação a tais virtudes, ciosos e preconceituosos quanto basta. Por tudo isto, beneficiam de um lustro fosco que se esforçam por preservar. Daí que, ó Luís, não houvesse necessidade de desgraça maior, manchar este buraco negro, locus infectus, com branco glória e honra. É que, para além de desmerecida pelos daqui, tal manobra afecta a esforçada reputação e a cotação da casa. Segismundo.

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Vincent, xliv. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-08


Porque amanhã é sempre tarde demais. Em política, como no mais da vida, há dois modos de orientar a acção, pelos factos, a via empírica, e pelos princípios, a via lírica. Nenhum desses modos é chão garantido para o bom sucesso. O que tem como consequência que cada par de corpo e juízo seja simultaneamente uma bússula, o plano de pontos cardeais e o vector que sobre esse plano se projecta pelas direcções e pelos sentidos possíveis. Como corolário, decorre desta consequência que não há caminho antes dos passos, o único instrumento de orientação suficientemente calibrado para qualquer território ou lastro. O que significa que tanto a via empírica quanto a via lírica são linhas que permitem aceder ao limite, à máxima exuberância possível dos gestos, marrar contra o comboio. Quem se orienta pelos factos tende, depois, a apre(e)nder a dureza quase diamantina do comboio. Quem se orienta pelos princípios tende, depois, a apre(e)nder que há manias que geram dor de cabeça. É por isso que a democracia, no que é, é a plataforma feliz de aprendizagem da própria estupidez, tanto em escala singela quanto em escala gregária. E feliz porque, em paralelo, pelos erros, não obstante os erros, a propaganda da causa democrática infunde a esperança, anunciando a existência de futuro, bastando, para confirmar tal horizonte, a reparação posterior dos erros. É em relação a esta hipótese que os augúrios não são os melhores. Uma lenda conta que um tal Cristo logrou o mesmo, concedendo futuro barato - o nome do perdão redentor - a quem, em confissão, admitisse os seus erros e se dispusesse a penitência consonante. Acabou esse tal Cristo cravado num cepo crucífero. E calhou-lhe semelhante sorte porque o futuro é inevitavelmente a repetição, seja em áspero, seja em afinado, de um erro anterior, o custo diferido de um determinado investimento, o colhimento sem domínio do boomerang antes lançado. É por isso, por o passado ser também e ainda futuro, que o antes destina o depois. E é sempre assim. Como facto. Como princípio. E como fim. Nicky Florentino.

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Vincent, xliii. © Tim Burton. Segismundo.

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Medida exacta. A dor dos outros, o sangue deles, justifica e cauciona o drama, não a tragédia. Se acontecer tragédia é porque houve excesso, acidente. Portanto, aconteceu comédia e não gozo. O Marquês.

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2005-12-07


O silêncio como instrumento de engano. O senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva parece mais certo, mais preciso, mais coerente, mais constante no que diz do que os outros concorrentes à honra de senhor presidente da República. Mas tal parecença não corresponde à singeleza dos factos. Num cruel exercício de prospecção arqueológica, o Filipe tem exposto os alfas e os ómegas, os ditos e dos desditos do fulano. Ora, se é esta a inelutável realidade, por que é que não é evidente o frenesi de tambor de máquina de lavar roupa suja da criatura? Porque os silêncios demorados do senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva permitiram o esquecimento dos seus ditos e, por esse esquecimento, iludiram as respectivas cambalhotas. Enquanto que em relação aos demais candidatos a senhor presidente da República, desgraça, há um ror de tempo que há memória fresca do que dizem, porque não se calaram durante tanto tempo ou falam demais. Nicky Florentino.

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Exibição. O que se faz em corpo, faz-se em manifesto. Segismundo.

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Enigma clássico. A dúvida sobre o ritmo justo para a reportagem da tragédia, o tetrâmetro trocaico? ou o trímetro iâmbico? Segismundo.

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Vincent, xlii. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-06


Renascença anunciada. Após o desvanecimento da cegueira - que demora para além das estimativas -, está prometida uma leitura adventícia, chamada Apocalipse. Segismundo.

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Vincent, xli. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-05


Se não são Dulcinea ou Rocinante. Dois senhores, o senhor Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva e o senhor dr. Manuel Alegre Duarte, candidatos a senhor presidente da República estiveram na teelvisão. Nenhum se pareceu el ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha. Nenhum se pareceu Sancho Panza su escudero. Para além de espectros de si-mesmos, afinal, o que é que eles são? A histerese, a anunciação da desgraça anunciada. Nicky Florentino.

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Texasvilla, ii. Um debate é um debate, não é uma espécie de entrevista a dois mansos. Nicky Florentino.

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Vincent, xl. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-04


Promessa insuficiente. No que a democracia consegue ser para além de enunciado, porque menos do que enunciada, o drama é inelutável. Nicky Florentino.

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Vincent, xxxix. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-03


Lugares. Barcelona. Braga, Jorge Sousa. Ida e volta. London. Natal. Segismundo.

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Sob o signo de capricórnio madrugado. Às vezes, entre a translucidez, durante o jogo dos enganos, sob o domínio dos espectros e das vozes, na quase cegueira, surge um desejo de sombra, não um desejo de luz, transparência, verdade. A ilustração magoa, fere. Na penumbra apalpa-se, as mãos são o volante. Segismundo.

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Vincent, xxxviii. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-02


Para que serve um senhor presidente da República em Portugal? Diz-se que o regime pátrio é semi-presidencialista. Se é, é pouco. E é tão pouco semi quão pouco é presidencialista. Quase nada adianta recordar que alguém já ensaiou um reporte analítico para o caso, forjando a expressão presidencialismo de primeiro-ministro. Na sua configuração estritamente política, o problema é de outra ordem e condensa-se numa diferença, a diferença entre o que faz e o que pode fazer o senhor presidente da República. Faz o que faz, mas pode fazer mais, muito mais. É por isso que, para além da emigração e do suicídio, na circunstância não há solução política para a desgraça vivida, apenas paliativos. Do tipo abstenção. Ou do tipo abstenção fingida inteligente, sob a forma de voto em branco. Porque a desdita da pátria, timbrada a ferro no sangue luso, é certa. E dela não há manobra evasiva que valha. Nicky Florentino.

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Alegria. Ao senhor dr. Manuel Alegre não lhe apeteceu votar o Orçamento do Estado. O motivo expresso é canhestro e mal amanhado. Não colhe, portanto. O fulano, se não suspendeu ou renunciou ao mandato, devia comportar-se como um senhor deputado. Entre outros motivos porque é por isso que ainda aufere. Não para corresponder ao que lhe dá na real veneta de senhor candidato a senhor presidente da República. Nicky Florentino.

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Vincent, xxxvii. © Tim Burton. Segismundo.

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2005-12-01


Buuuuuuu! O caso não é fácil. Disse o senhor dr. Mário Soares que, na eventualidade de não ser eleito senhor presidente da República, tem “o dever de colaborar com o presidente eleito”. É este tipo de disponibilidade altruísta que assusta. Nicky Florentino.

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O insone que dorme a sesta. Em política, porque importa o riso importa também a coerência. O senhor dr. Mário Soares anunciou em Beja, “eu também não dormirei com Cavaco em Belém”. O tom pungido que se suspeita em tal declaração, independentemente da sinceridade com que foi proferida, não sugere credo suficiente. Pois os gentios sabem que as coisas são o que são. Seja o senhor Prof. Doutor Cavaco Silva o próximo senhor presidente da República ou não, crê-se que o senhor dr. Mário Soares não deixará de dormir. Aliás, provável é que ele continue a dormir a sesta, instituição sua, seja em que circunstância for. Se dormirá descansado, isso, não se sabe. Ainda assim, refira-se, cansado é que talvez ele não durma. É da vitalidade. Nicky Florentino.

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Exemplo de auto-contradição performativa. “Confiem em vocês mesmos e em mais ninguém”, disse o senhor dr. Mário Soares. Nicky Florentino.

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O mundo ao contrário. Compreende-se que, cá na pátria, ainda existam crucifixos em sala de aula de escolas públicas. Não se compreende é que, se é para fazer tabula rasa do enunciado da Constituição da República Portuguesa, tais crucifixos não estejam invertidos. Nicky Florentino.

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Reader’s digest. Aqui neste tugúrio somos por alguns, embora não muitos, preconceitos. Talvez que a leitura de Bilhete de Identidade, da senhora Doutora Maria Filomena Mónica, possa suscitar o riso. Mas, como notou o João Pedro, se a dita cuja publicita lá por uma página qualquer que teve um affair com um sociólogo grego desgraçado chamado Nicos Mouzelis, já não há mais com que se possa rir mais. Até porque a curiosidade dos daqui não alcança alcova tão longe. Segismundo.

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O diabo está no meio de nós. O Vaticano não é um Estado como os outros. Parece que alguém por lá, encharcado de divino espírito santo, redigiu um documento que postula que fulanos com inclinação homossexual não deverão ser admitidos como candidatos à ordenação sacerdotal. Nisto, o que releva não é a posição putativamente discriminatória em relação a quem tem determinada orientação sexual. O que releva é que, relativamente a alguém obrigado ao celibato - que na prática obriga esse alguém a fingir que é eunuco -, se entenda que a orientação sexual afecta a pregação e a manipulação das hóstias. Vindo de onde vem, não é de descartar a hipótese de ser mais uma boa nova. A natureza existe. Segismundo.

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Vincent, xxxvi. © Tim Burton. Segismundo.

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2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).