2012-08-27
Escala de Lecter, i. Comer fígado, imaginar iscas. Segismundo.
2012-08-20
Da legião. Separem-se as águas. Jack Bauer é realidade, Bear Grylls é ficção. No que um é autenticidade e presença, o outro é simulacro e representação. Não obstante em ambos é a urgência de postergar a mortalidade para interromper o fim, remetendo-o à condição desqualificada de cenário ou hipótese, impedindo-o de ser já acontecimento. Sofremos um, a pessoa que é Jack Bauer, e outro, a personagem que é Bear Grylls, com a mesma tristeza e a mesma verdade, a única, a da teelvisão. É isso que nos dói perder, heróis do tempo em que já não há heróis, como se nos escangalhassem a carne e ainda por cima nos privassem da aura dos tarzans que restam. O que mais nos mata não é a fome, é a falta de sentido como aquele que é proporcionado pelos totens vivos em quem podemos acreditar e confiar. Erramos mais vezes sem eles, com a certeza de que isto está tudo a acabar e que vai acabar mal. Não está, não vai já. Estamos apenas ainda na fase de preparação do fim que poderíamos evitar se. Ontem voltei a lembrar-me de Jack Bauer, hoje continua a ser verão. Subsiste o panorama triste. Tudo bem, apenas maça a orfandade. Segismundo.
2012-08-17
Tout est bien, tout va bien, tout va le mieux qu’il soit possible. Ele lá houve corruptores, ele cá ainda não houve oportunidade de apurar se houve corruptos. Mas ele cá houve depósitos bancários, muitos, mais de uma centena, soma grossa. Quem cândido chama-lhe coincidência, harmonia, sequer sente necessidade de incomodar-se com o freio da presunção de inocência. A pátria é ditosa e não pode ser melhor. Nicky Florentino.
2012-08-15
Moriarty morreu?, xii. não quero continuar a mentir, a mentir-te, a reflexão do verbo aturdiu-o, preciso de libertar-me. a raiva impulsionou-lhe a reacção, a confissão não vai libertar-te, estás apenas a fazer-me sofrer, puta, pensou ainda o insulto, não o afirmou. depois libertar-te-ás. ele não conseguiu admitir esse cenário, mas agora estou a sofrer por causa de ti, o momento era avassalador, como se o tempo estivesse estancado e não fosse possível sair dele. antes não sofrias por causa de mim porque a mentira anestesiava-te. acusou-a, puta, de pé, com a voz ainda mais grave, porém sem gritar. sou porque deixei de ser capaz de fingir o que não quero fingir, ela tentou a defesa. uma mentira grande, sempre?, uma combinação de desespero e fúria causou a interrogação. não. amei-te. sentiu o pretérito perfeito do verbo como uma agressão. sentiu-se mal, o ritmo cardíaco acelerado, as mãos suadas. tentou agarrá-la. ela esquivou-se. agarrou-a. larga-me. apertou-a com mais força. puta. O Marquês.
2012-08-13
Página do livro das latitudes, xxx. A felicidade resulta da hipótese perpétua de as coisas correrem mal. Segismundo.
2012-08-08
Moriarty morreu?, xi. a tensão proporcionada pela velocidade acrescenta rapidez ao carro. ouve-se o rugido do motor, como nos filmes. na terceira, gritado embora não como ordem, vira à esquerda. uma hesitação súbita, o sentido era proibido, apenas uma descarga de adrenalina, o pé não aliviou o pedal do acelerador. é mais rápido por aqui? os olhos de ambos focados no limite da rua. talvez, sente-se o vôo, pelo menos evitamos os semáforos e o trânsito das paralelas. O Marquês.
2012-08-06
Dauðalogn. A justificação de um acto ou a defesa dele pela invocação do costume são estúpidas não tanto porque operam por via de um enunciado do tipo porque sim, sim antigo, mas sobretudo por tentar resolver-se a diversidade, a alternativa, através de uma sentença cujo valor decorre presunçosamente de si, estritamente de si, e não de uma regra que permite a avaliação criteriosa dela. Segismundo.
2012-08-01
Moriarty morreu?, x. os corredores, os gabinetes, as paredes, o chão, tudo parece amarelo. hoje vou voltar tarde, desculpa. ela pressentiu o desânimo, tanto o dela quanto o dele, mas foi firme. não faz mal, tem cuidado. já comeste? não te esqueças de comer. um murmúrio, amo-te, para evitar que fosse ouvido pelos outros e interpretado como fraco. eu sei, é bom ouvir isso, não te preocupes, eu espero por ti, eu fico à tua espera. olhou em volta, tudo continuava a parecer amarelo. O Marquês.
2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).