2011-01-27
Da vitória moral em política. Os votos não conferem imunidade. Não são o sabão que lava a honra ou a oração que redime os erros cometidos. Os votos são um crédito político que serve para distribuir incumbências através de um concurso eleitoral. Os votos nada revelam sobre a dignidade, a honestidade ou a pureza de quem quer que seja. O mesmo sobre a infâmia, a canalhice ou a imundície. Se alguém triunfa eleitoralmente sobre outrem, isso não é uma vitória do bem sobre o mal. Aliás, se há vitórias políticas de tal tipo, a vitória do bem sobre o mal não acontece necessariamente através dos votos ou do exercício de voto. O populismo rende votos. A demagogia rende votos. O patrocinato e o clientelismo rendem votos. A corrupção e a violência rendem votos. Mas, claro, há sempre almas imaculadas que revelam espanto por cheirar a cavalo na estrebaria. Porque os cavalos são os outros. Nicky Florentino.
Casa. Ir, a trouxa atrás. Das Unheimliche, como propôs Freud. A pátria merece-nos órfãos. Partir é regressar ao útero, começar fora o que já não é possível continuar dentro. Dentro, caralho. Segismundo.
2011-01-26
Recapitulação. Parece que descobriram para aí uma novidade, uma fronda de gentios insatisfeitos em termos políticos e que, não obstante, revelam disposição a participar eleitoralmente. Votam em branco e em candidatos iconoclastas ou que não pertencem às hagiografias partidárias. As almas sem memória ou com memória curta não são capazes de recordar o eanismo e a coisa em que se alojou durante a metade segunda da década de oitenta do século passado. A renovação democrática, o prd, quem se recorda que meta o dedo no ar. Portanto não espanta que a fronda subsista, possivelmente com mais corpos dados ao manifesto, porque permanecem os motivos da mesma. A oligarquia instalada no estado e nos órgãos maiores dos partidos políticos ou circulante entre aí e as sinecuras públicas, os conselhos de administração de empresas de capital público ou com cotação na bolsa e os escritórios de advocacia. A récua clientelar. E o lastro de corrupção, a arbitrariedade, a impunidade e os custos correspondentes, que desarticulam e oneram a acção das entidades públicas. Como há intervalos de ilusão - assim como há apatia e desafeição em relação à política -, também há momentos de desilusão. Pelo que de quando em quando uma mole significativa de gentios sobressalta-se, expressa-se e deixa de ser fácil sustentar a ilusão contra a evidência. O mal é constante, a consciência ou a expressão da consciência de tal mal é que é intermitente. Não é por acaso que o raio tem tendência a agravar-se. Nicky Florentino.
2011-01-25
A Aníbal o que é de César. Notado por não poucos, no domingo à noite o discurso de triunfo do senhor prof. Aníbal Cavaco Silva foi um discurso ressabiado e masturbatório, pela soberba e autocongratulação expressas. Naquela varanda, na língua do fulano percebeu-se o frenesim da mão em exercício de cambota, frenesim também com dimensão moralista, a esgaramantear uma laustríbia, como assentou O’Neill. Mas há duas passagens da verborreia que merecem destaque. Uma é a alusão à «vitória histórica». Foi histórica porque aconteceu, não por causa da grandeza da mesma. A massa e o score eleitorais atigiram o nível mais baixo alguma vez logrado por um incumbente que se recandidatou à honra. E a abstenção atingiu o máximo em eleições para senhor presidente da república e, pela primeira vez, o limiar de 50% foi ultrapassado no conjunto do território nacional. Que alguém sinta vibração positiva disto e ouça glórias e hossanas cantadas para si nos pastos celestes merece respeito. A outra passagem que justifica destaque é a menção à «magistratura actuante». A expressão é estúpida, embora não mais estúpida do que outras que saturam o léxico político. Se não é actuante, a magistratura não é - por não poder ser - magistratura, é pusilanimidade. E fica a dúvida sobre o que significa a evolução semântica de «magistratura de influência» para «magistratura actuante». A magistratura de influência que pautou este mandato não era actuante? Seja como for, o facto de o senhor prof. doutor Aníbal Cavaco Silva afirmar que irá agir em benefício de portugal inteiro é sintomático. Fica sempre bem abjurar o bpnismo. Pelo menos por ora, quando já tantos pontapearam o cadáver disso e perceberam a necessidade de ultrapassar o luto por um dos sucedâneos do cavaquismo. Nicky Florentino.
Rating da república. Ou o caralho. Importa perceber o sentido da venda de dívida pública, ultrapassar um limite. Quando o activo que há para alienar é o passivo isto é capaz de significar que a foda não é pequena e que, visto numa perspectiva macha, a operação destina-se a suscitar a ejaculação à parte que compra, não à parte que vende. Não obstante há a esperança de que seja a gosto e contento de ambas as partes, tão bom para uma quanto para outra. Pois está claro. Mais do que foda galada, é foda por conta, nomeadamente porque conta da estupidez. O galo virá depois, para cantar, após a cabeçada. Bom seria se fosse no train à grande vitesse. Porque continuar a marrar na parede é pouco moderno. Bruce Bílis.
2011-01-23
À secção de charcutaria, ii. O senhor prof. doutor Fernando Nobre afirmou que só se desferissem um tiro que o atingisse no toutiço o impediriam de alcançar o trono do palácio de belém e o arminho e as honra que correspondem a tal assento. Nada mau enquanto competência e cultura políticas. Sabe como é possível deter o frenesim ambulatório de um zombie em peregrinação eleitoral. Nicky Florentino.
À secção de charcutaria, i. Enquanto candidato a senhor presidente da república, o senhor prof. doutor Fernando Nobre nunca superou dois óbices, o apelido de salsicha e o jeitinho de escuteiro sem fronteiras. Nicky Florentino.
2011-01-22
Rabbit, run. Ele, amanhã, com este frio, vou votar com umas orelhas de coelho. Achas que as vão considerar material de campanha?, porque são. Ela, coisinho, em modo e tom repreensivos, prolongando o i de inho como se fosse uma loba depois de exibir o esmalte dos caninos da maxila, a excentricidade tem limites. Ele, não sejas tão Lucy coelheira. Ela, não sejas tão Donnie Darko. Ou gaja da playboy. Segismundo.
2011-01-20
علي بابا. Se a desinência do teu nome é condicional, querias o quê?, sobreviver? Segismundo.
2011-01-18
Sub ovium pellibus lupi. Às vezes perde-se o sentido da simplicidade, descura-se a serventia dos clássicos. O desatino e a estupidez tendem a singrar por tais carências. Tornando à ponderação e ao escrutínio pelo juízo - cuidados que nunca são demasiados -, entende-se que mercado corresponde à situação em que oferta e procura se encontram dispostas à troca. Assim entendendo, havendo entre oferta e procura não tanto a disposição à troca de ambas quanto o propósito especulativo da primeira, que sentido faz chamar - ou continuar a chamar - mercado à usura? Em termos de economia política, que sentido faz iludir - ou continuar a iludir - a potência da avareza? Pelo efeito da afluência distribuída, não haveria a intensificação das trocas fomentar a paz e consolidar a harmonia? Nicky Florentino.
2011-01-13
Motivo à vista. O que se vê é o que se vê. Em alcance próximo ou distante, o mundo dá para quase tudo. A miopia e o astigmatismo ajudam. Mas conseguir ver no escuro é que seria do caralho. Abrir os olhos, pá, é para românticos. Segismundo.
2011-01-11
sometimes charlie stevens goes to memphis
§ ii.
be classic. blood and dirt, those are the elements needed to achieve something as a republic. joão w. g.
2011-01-06
Nada a declarar. Deste êxodo não há saída. Vigie-se a récua. Considere-se a abstenção como opção política. Janeiro é um mês cruel. Importa não vacilar. Nicky Florentino.
2011-01-04
E onze. Demasiados volantins esperam a queda do um que substituirá o zero. A paisagem não muda, a paisagem não pode mudar. Em baixo é em baixo. Segismundo.
2011-01-01
sometimes charlie stevens goes to memphis
§ i.
things you must know about life, darling, zombies don’t run, zombies don’t talk. keep trying. joão w. g.
2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).