A Aníbal o que é de César. Notado por não poucos, no domingo à noite o discurso de triunfo do senhor prof. Aníbal Cavaco Silva foi um discurso ressabiado e masturbatório, pela soberba e autocongratulação expressas. Naquela varanda, na língua do fulano percebeu-se o frenesim da mão em exercício de cambota, frenesim também com dimensão moralista, a esgaramantear uma laustríbia, como assentou O’Neill. Mas há duas passagens da verborreia que merecem destaque. Uma é a alusão à «vitória histórica». Foi histórica porque aconteceu, não por causa da grandeza da mesma. A massa e o score eleitorais atigiram o nível mais baixo alguma vez logrado por um incumbente que se recandidatou à honra. E a abstenção atingiu o máximo em eleições para senhor presidente da república e, pela primeira vez, o limiar de 50% foi ultrapassado no conjunto do território nacional. Que alguém sinta vibração positiva disto e ouça glórias e hossanas cantadas para si nos pastos celestes merece respeito. A outra passagem que justifica destaque é a menção à «magistratura actuante». A expressão é estúpida, embora não mais estúpida do que outras que saturam o léxico político. Se não é actuante, a magistratura não é - por não poder ser - magistratura, é pusilanimidade. E fica a dúvida sobre o que significa a evolução semântica de «magistratura de influência» para «magistratura actuante». A magistratura de influência que pautou este mandato não era actuante? Seja como for, o facto de o senhor prof. doutor Aníbal Cavaco Silva afirmar que irá agir em benefício de portugal inteiro é sintomático. Fica sempre bem abjurar o bpnismo. Pelo menos por ora, quando já tantos pontapearam o cadáver disso e perceberam a necessidade de ultrapassar o luto por um dos sucedâneos do cavaquismo. Nicky Florentino.