A política como arte bruta. Quando o colégio governamental ou um membro desse colégio não revela escrúpulo ou consciência de que, no exercício da incumbência respectiva, anda a enxovalhar-se e, por propriedade transitiva, a estender o vexame à fauna gentia e a quanto a embrulha simbolicamente, a humilhação pública de tais colégio ou membro é um imperativo republicano. Antes de mais porque, réplica e confirmação da humilhação própria, a humilhação pública é legítima. Grosso modo, a humilhação pública é a devolução amplificada da humilhação própria. Depois porque, ao atingir-se o nível over nine thousand do opróbrio de alguém, aumenta a probabilidade de ser despoletado um rebate de consciência em quem visado ou com responsabilidade, levando quantas criaturas forem a precindirem do fardo do encargo público que torna a humilhação superlativa e corrosiva no plano institucional. Não é garantido que tal reparação suceda ou que seja imediata, porém importa estimulá-la. Tentar. Tentar outra vez. E, quanto necessário, insistir. Na proporção directa da inquietação, da indignação. Se os gentios não podem humilhar os membros da oligarquia de turno, se é feio, se é perigoso, se é insensato, se é inútil fazê-lo, é porque, mais do que não existir, a democracia não é para existir. As ilusões são um problema. Nicky Florentino.