matar por amor, iii. dizem que quando se sai de um lugar como aquele, que nos comeu tantos anos, que nos roeu e mastigou demoradamente a alma, costuma lançar-se um olhar para trás, para fazer um balanço e uma promessa de não retorno ali. é mentira. falo por mim, é mentira. saí e não senti necessidade de rever o que já tinha gravado em mim. ainda hoje sinto que os meus olhos têm tatuado dentro a imagem daquelas paredes, dos muros, das grades. sinto que tudo isto permanece imprimido na retina dos meus olhos. é com eles que me mostro e vivo permanentemente a minha culpa. por vezes, isto custa, ó se custa, custa como o caraças, julgo que estou amaldiçoado. mas pouco depois percebo que não. compreendo-me. estás a perceber?, compreendo-me. quando saí não olhei para trás porque não senti necessidade de lavar a culpa. talvez os outros tenham precisão disso, eu não, não tive. tenho noção perfeita do que fiz. fosse hoje, volvido todo este tempo, voltaria a fazer o mesmo. não me arrependo, não me arrependo do que fiz. O Marquês.