Arendt já não olha para o carrossel. Não é problema insólito ou do outro mundo as almas postas no governo pátrio guinarem o discurso como um condutor embriagado. Não é a primeira e é provável que não seja a última vez que alguém que declara manifestar-se com autenticidade tenta dar o dito por não dito. Ainda assim a manobra constitui um problema, é uma sombra, indício do uso da mentira. Mesmo entre a canalha gentia a mentira alheia, aquela que se sofre, não tem cotação elevada. Se a mentira é sobre o confisco em curso e o prolongamento do mesmo, a situação agrava-se. Ninguém gosta de ser espoliado e, ao mesmo tempo, enganado. Em política não há redenção, os desenganos sucedem aos enganos, as desilusões sucedem às ilusões e assim sucessivamente. Nunca faltam os enganos e as ilusões. É o efeito de espiral animado pela disposição ao trauma que impulsiona a relação entre os estratos aristocrático e gentio, fazendo aquele parecer extracto - dom sugerido pela condição oligárquica - e este peça de lombo, na concepção de açougueiro do senhor primeiro ministro. Pode ser que ele não se abrase na proporção em que os gentios sentem que andam a ser talhados. O que, como a história é como é, estima-se hipótese remota. Puta que é, a paciência tende a ter limites. Nicky Florentino.