Nos bastidores neuronais de como é que fico a olhar prós. A coerência não é propriedade que o senhor eng.º José Pinto de Sousa estime ou cuide. A quinze de outubro de dois mil e quatro, no âmbito de um debate parlamentar, ele disse “os portugueses não podem confiar num primeiro-ministro que uma vez diz umas coisas, outra vez diz outras”. Agora atente-se no carrossel que desanda na caixa craniana dele. Porque depois o senhor eng.º José Pinto de Sousa disse mais umas coisas.
A trinta e um de outubro de dois mil e oito, no encerramento da xviii cimeira ibero-americana de chefes de estado e de governo, realizada em el salvador, “quando se formou, o fmi formou-se para ajudar e agora mesmo ouvi o presidente [da república] de el salvador dizer que, felizmente, el salvador não tem contratos com o fmi. Isto diz tudo sobre a credibilidade e prestígio que hoje o fmi tem no mundo”. Está bem, foi el salvador como podia ter sido burkina faso.
Em entrevista publicada no diário de notícias a doze de dezembro de dois mil e dez, “não há nenhuma razão para que o fmi entre em portugal, porque portugal não necessita disso! O governo não necessita disso, nós sabemos exactamente o que fazer e não precisamos que alguém nos venha dizer o que devemos fazer”. Pois, porque estava, está claro.
A vinte e oito de janeiro de dois mil e onze, em reacção após o final de mais um debate quinzenal na assembleia da república com a presença do primeiro-ministro, "os jornalistas só falam do fmi, mas portugal não precisa de nenhuma intervenção externa, não precisa de nenhum fmi, nem de nenhum conselho do fmi”. Se alguém acreditava que algum dia o senhor prof. doutor Francisco Anacleto Louçã iria ler uma passagem de um texto publicado na sebenta da entente burgueso-capitalista-exploradora-liberal the economist para demonstrar que o senhor eng.º José Pinto de Sousa não tinha bem noção do que é que estava a apregoar.
A dezanove de março de dois mil e onze, na apresentação aos militantes socialistas da moção que suportava a recandidatura dele a secretário-geral do ps, realizada no porto, “eu não estou disponível para governar com o fmi”. Quase com a solenidade do tipo read my lips, babalu.
Assim fica melhor?, o caso não é para vaselina, ou fica melhor assim?, é para benzina. Muita. O raio é que as concorrências não são menos nódoa e a dissonância cognitiva existe. Nicky Florentino.
said...
Falou pouco mas falou boooniiitoo. Isto é, disse tudo ou quase tudo. Mas "comé dótorzinho: levo ou deixo?", isto é, voto ou não voto? Se votar, vou votar em quem e quê? Se não votar, serei integradado no grupo dos que preferem ir para a praia, não se meterem e/ou interessarem na política, serem contra a democracia ... Se votar em branco, estarei a votar na democracia, a dizer que não tenho ninguém a quem confiar o meu voto e a fazer um voto de protesto. Contra quem, ainda lá vou. A favor de quê é que me ocorrem dúvidas. Porquê? Porque sendo a favor da democracia, sou contra o sistema político em vigor, nomeadamente, os sistemas eleitoral e partidário, o sistema judicial, ...
Assim sendo, voto ou não, eis a questão.