Ou há moralidade ou comem todos. Em termos políticos, no âmbito da ordem democrática a hipocrisia tem uma função simultaneamente económica e simbólica, possibilita a ilusão e, por via da ilusão - resolvendo ainda que não necessariamente sempre e para sempre qualquer dissonância cognitiva -, permite aos gentios poupar em atenção e preocupações, permite que se dediquem ao rengorrengo da vida. Ao mesmo tempo permite às senhoras e aos senhores da oligarquia fazerem igualmente pela vidinha. É a harmonia possível que resulta das desigualdades em situação de abundância. Mas a hipocrisia tem um custo, pelo menos em situação de austeridade ou escassez. E esse custo corresponde à necessidade de um módico de autenticidade e de decência, não paliativo, correctivo. O que é difícil. Porque também custa em dinheiro. Daí que não surpreenda que quem mais tem e a matilha serventuária no plano político sejam quem mais dificuldade tem em contribuir para o que não existe e sente não existir, portugal. O problema é que só ou sobretudo a hipocrisia já não chega. A retórica da pátria über alles - um dos esplendores da hipocrisia - já não convence. Ninguém gosta de ser fodido, menos ainda ser mais fodido do que os outros - o célebre problema da privação relativa. A mania da justiça e da solidariedade dá nisto. Nicky Florentino.
Mónica said...
um esclarecimento: "ser fodido" quer dizer "ser mau" ou quer dizer "ser enganado"?
tanto uma coisa como outra tb cansa não é?
o q tá a dar é ser invisivel...
said...
"Vão-se foder" é, de facto, mais intímo do que "vou foder-te", pela simples razão de que os "gentios", não podendo concretizar a segunda, só podem desejar a primeira, com votos de um "Bom Natal" e "Feliz Ano Novo". FMI!!!! dá do dá do dá do dá ....