Homo videns. Isto são coisas que se vêem, deus todos os dias, mais ou menos vestido de branco ou em pó ou vestido como uma mulher que vai de visita a familiares que moram longe, para frequentar cerimónia e solenidade. Porquê? Chamam-lhe devoção à nossa senhora da hora da nossa morte, morte pequena. É justo? É espectáculo, um estupefaciente de cada vez, como as contas do rosário. A coreografia de um ícone encarnado vale o mesmo que um concerto de música ligeira, um jogo de futebol, uma tourada. Passa também na teelvisão, para sagração superlativa, como um sopro de administração intravenosa, embora, cosa mentale, não seja necessário partilhar a agulha. É a cruz que se pode actualmente, são a esperança e a salvação que vêem e vêm por aí. O papa, a criatura e o que ela representa, não é para cegos. O que ele diz ou pode dizer aqui, regina sacratissimi rosarii fatimæ ora pro nobis, sabe a arco velho e a língua morta. Quando chegar o fim-de-semana já passou. Cada qual tornará ao estupor das drogas leves e dos dias ordinários, à recriminação e à vergonha da histeria da chusma, ambulatória incluída. Não é por acaso que, na pátria, o imposto sobre o valor acrescentado há-de ascender e outros tributos serão agravados. A fé, a fé de todos os dias, sem deidades, tem um preço e paga-se antes da morte. Nisto somos todos peregrinos. E disto, pasto e dealer, nenhum deus cabrão nos livra. Segismundo.
fotograma © Werner Herzog, Bad Lieutenant: Port of Call - New Orleans.
said...
Vejo que o Albergue anda meio abandonado mas que o danado do Segismundo continua em forma.