Miraldino, o relojoeiro (capítulo quatro). o povo pretende-se espesso, feito plebe de todas as classes e lupanares, preparado para as cruezas e as miudezas ditadas por si, ditadas por acção ou por omissão. a chusma é assim, o múltiplo do incerto, nada há a fazer. o outro expunha uma doutrina que ele já ouvira repetidamente e continuou. o problema é quando descem arraiais de certezas e se instalam sem alvará ou favor. a plebe está para a festa, está sempre, da algazarra ao motim. a plebe não é trémula, é mole, e aceita facilmente o credo da revolução como solução. salta para os balcões, invade salões, banqueteia-se na rua. digna filosofia que lhe entregou a soberania, soltou com sarcasmo, e ainda há quem fale em crise do espírito. ele estava alheado. por aquelas palavras ou outras, conhecia aquela ladaínha há muito tempo. tossiu. o outro parou de falar. a mim preocupam-me as horas, a cadência delas, quantas são. o ofício não o soltava para a política. naqueles dias já pensava na excursão a greenwich e cuidava dos preparativos que se impunham. estou atrasado, informou ele, tenho que ir, e foi, tomando o rumo para casa, deixando o outro sozinho na entrada do jardim. O Marquês.